Cineteatro Floriano Peixoto, o Cinema do Quartel da Polícia Militar de Alagoas
O primeiro cinema alagoano com a denominação de Floriano Peixoto começou a funcionar em Maceió, na Rua do Comércio em 1913. Foi o antecessor do Cinearte, depois Cine São Luiz.
O cine teatro Floriano Peixoto abordado nesta pesquisa foi inaugurado em 24 de maio de 1938 e funcionou por muitos anos nas dependências do Quartel Geral da Polícia Militar de Alagoas, no Centro de Maceió, recebendo posteriormente a denominação de Cinema Marechal Floriano Peixoto.
Sua entrega ao público ocorreu no mesmo dia em que se inaugurou o retrato de Getúlio Vargas na sala do comando da Polícia Militar, então dirigida pelo capitão do Exército Theodoreto Camargo do Nascimento, como registrou o jornal carioca Beira-Mar, de 18 de junho de 1938.
No ato de aposição da foto, que teve a participação de várias autoridades, entre elas o interventor Osman Loureiro, o comandante da PMAL explicou que a data de 24 de maio foi escolhida por comemorar “o heroico feito de Tuyuty”, lembrando a Guerra do Paraguai e seu líder, o general Manuel Luís Osório, a quem associou Getúlio Vargas por possuírem “bravura pessoal”.
Também esclareceu que a inauguração do “Cine-Theatro” era uma homenagem ao “Marechal de Ferro”, e que era uma iniciativa “deste comando, dentro de suas próprias economias”.
Após o interventor descerrar a bandeira nacional que cobria o retrato de Getúlio Vargas, todos se dirigiram ao cine teatro onde assistiram “à passagem de um cinejornal, um ‘short’ [curta] e um desenho animado”.
“A impressão de todos os presentes foi a melhor possível, pois as acomodações do cinema do Regimento, apesar de modestas, são bastantes confortáveis“, avaliou o jornal Beira-Mar.
Ainda foi servida uma taça de Champagne no Cassino dos Oficiais e em seguida o Regimento Militar desfilou pelas ruas de Maceió.
Segundo Félix Lima Júnior, no livro Pequena História da Polícia Militar de Alagoas, o local era parte do antigo Asilo de Mendicidade.
Jornais da época confirmam que no final de janeiro de 1935, “ultimou-se o serviço de adaptação da parte da frente, ala esquerda, do antigo Asylo de Mendicidade, em sede de Departamento de Saúde Pública, adaptação esta constante de oito grandes salões, duas salas destinadas ao laboratório e farmácia, gabinetes sanitários, etc”. Mais tarde, esse espaço ficou conhecido como Hospital da Polícia Militar.
Félix Lima Júnior relatou ainda que no prédio do antigo Asilo de Mendicidade, “foi preparado salão especialmente para conferências e exibições cinematográficas”.
O Asilo da Mendicidade, que foi inaugurado em maio de 1887, teve ainda um dos seus espaços utilizados pelo Corpo de Bombeiros. Outra área atualmente é ocupada pelo Comando do Policiamento da Capital.
Capitão Theodoreto Camargo do Nascimento
O capitão Theodureto Camargo foi um dos militares que apoiou a Revolução de 1930 e no ano seguinte, quando ainda era 1º tenente, assumiu o comando da Força Policial do Estado de Sergipe.
Teve também participação nas ações em São Paulo para derrotar os contrarrevolucionários de 1932. Comandou o 1º Batalhão da Força Pública de Sergipe em terras paulistas.
Sua promoção a capitão ocorreu em novembro de 1933.
Tomou posse como comandante da Polícia Militar de Alagoas, como tenente coronel PM em 10 de setembro de 1936 e permaneceu nesta função até 18 de dezembro de 1940.
Segundo o escritor e jornalista Valdemar de Souza Lima, o comandante Theodureto Camargo foi quem deu condições e estimulou a PM e seus oficiais a enfrentarem o cangaço.
Partiu dele a sugestão ao governo para a criação do 2° Batalhão da Polícia, com sede em Santana do Ipanema, cujo comando foi confiado ao major José Lucena de Albuquerque Maranhão.
Como Lampião continuava a agir sem maiores impedimentos, Theodureto chamou Lucena a Maceió para tentar identificar o dedo misterioso que impedia o fim do bando de Lampião. A pressão deu resultado e os cangaceiros foram surpreendidos e fuzilados na Grota do Angico, em Sergipe, no dia 28 de julho de 1938.
De volta ao cinema
No dia 9 de outubro de 1944, o jovem Josafá Alves de Oliveira entrou no Cine Royal para ser entrevistado pelo seu proprietário, Sebastião Ferreira Santos (era conhecido como Sabararu), que também explorava outas três salas de exibição: Ideal, Cinearte e Rex.
Josafá foi contratado como aprendiz e não demorou a ser um dos projetistas da empresa, trabalhando também nos outros cinemas quando havia necessidade. “Quando a máquina quebrava, era eu quem consertava. Foi assim que aprendi tudo sobre projeção”, lembrou um dos profissionais mais capacitados deste ramo em Alagoas.
Em 1953, com a morte do operador do cinema da Polícia Militar, Antônio Vieira Braga, Josafá foi convidado para substituí-lo. Nesse mesmo ano foi aprovado e admitido como soldado PM. No ano seguinte já era cabo e em 1960 fez o curso para sargento combatente, sendo promovido em 1961.
Durante esse período, continuou cuidando das projeções do cinema Floriano Peixoto e manteve por algum tempo, também, sua função de operador do Cine Royal, que funcionava em um prédio atrás do Teatro Deodoro.
“Vivi no cinema um período em que tínhamos que ter muito cuidado e atenção. As fitas eram de celulose e pegavam fogo facilmente. Se não fôssemos práticos, o cinema podia incendiar. Isso aconteceu comigo no Cinearte, que depois foi o Cine São Luiz. Eu apaguei o fogo, emendei as fitas e o filme continuou”, recordou o hoje reformado sargento Josafá.
The End
O Cine Floriano Peixoto sofreu várias reformas em sua história e na última delas, realizada pelo comandante coronel Paulo Ney, em outubro de 1978, recebeu 250 novas poltronas. Estas instalações mantinham a destinação original de também funcionar como auditório do Quartel Geral da Polícia Militar do Estado de Alagoas.
Segundo a jornalista e escritora Elisabeth de Oliveira Mendonça, em seu livro Sesquicentenário da Polícia Militar de Alagoas, de 1983, no Floriano Peixoto eram exibidos “os filmes que passaram pelo Cinema São Luiz, um dos melhores da cidade”.
No período em que publicou o livro as sessões aconteciam às quartas-feiras (às 19h30), sábados (20h20) e domingos (15h e 19h30).
O acesso ao salão de exibição se dava com a apresentação de uma carteira de identificação. Para manter o cinema, havia um pequeno desconto mensal nos vencimentos dos militares.
No início dos anos da década de 1980, o responsável pelo cinema era o Cb PM Adeildo Mendonça.
O “Cinema do Quartel”, como também ficou conhecido, funcionou até 1998, quando os custos com aluguel de filmes inviabilizaram a existência daquela sala de exibição.
Segundo o oficial PM e jornalista Silvio Teles, em seu livro “Briosa: a história da Polícia Militar de Alagoas no olhar de um jornalista“, houve ainda uma tentativa de reativação do cinema durante o período em que corporação foi comandada pelo coronel José Rubens de Freitas Goulart. O cinema foi reformado entre 2007 e 2008, mas não voltou a funcionar.
No início de 2014, parte do prédio do antigo cinema foi ocupado pela estrutura do 1º Centro de Saúde da Capital, que deixou de funcionar em seu endereço tradicional na Praça das Graças. O convênio entre a Secretaria Estadual de Saúde e a Polícia Militar de Alagoas permitiu a utilização do prédio do Hospital da PMAL e do cinema tendo como retribuição a oferta de serviços médicos e ambulatoriais para os policiais militares e seus familiares.
Ironicamente, com estas mudanças, o edifício recuperou a sua destinação inicial: oferecer serviços médicos e ambulatoriais. Mas os equipamentos do “Cine-teatro Floriano Peixoto” continuam lá, lembrando que o grande salão já foi palco de emoções que somente o cinema é capaz de produzir.
*Agradecimentos ao coronel Maxwell Santos e ao capitão Marcionilo do Espírito Santo Neto pela contribuição na localização de informações e personagens.
Parabéns ao autor pelo resgate da memória de um passado extraordinário que fez parte de minha vida. Assisti à varios filmes naquele cinema.
O nome do cinema, foi a garantia do sucesso! Abç
Estou curtindo ler essas histórias!!
Obrigada