Caeté, a primeira usina da América do Sul a surgir de uma cooperativa
Em “O Banguê nas Alagoas” (1949), Diégues Júnior revela que a unidade fabril que muitos anos depois viria ser a Usina Caeté, em São Miguel dos Campos, Alagoas, foi o Engenho São Miguel, um dos pioneiros na exploração das terras férteis do vale do rio de mesmo nome.
A primeira referência a esta fábrica de açúcar está no mapa de João Teixeira Albernaz II, de 1626 ou 1627, onde é citada como “engenho dos Rochas Snõrs deste Rio” (Senhores). O rio é o “Rio de São Miguel abŭdãte de mtas couzas” (abundante de muitas coisas).
Instalado na margem esquerda do rio, foi adquirido pelo português Antônio Barbalho Feio, que recebeu ali uma sesmaria com cinco léguas de terras. Pouco tempo depois, entre 1633/35, já estava de posse do comerciante holandês Marten Meyendersen (também grafado em outras fontes como Martys Mendes), que o comprou sem estar moendo. Tinha somente a casa de purgar e as caldeiras da moenda. Foi todo restaurado por ele. Registro de 1640 informa que não moeu naquele ano.
Diégues Júnior também afirma ser o Engenho São Miguel “o mesmo Sinimbu ou Sinimbi, com que aparece em outras referências contemporâneas, inclusive no mapa divulgado por Barleus (edição holandesa), em que tanto o rio como o engenho trazem o nome de Sinimby. […) A dedução de tratar-se do mesmo engenho fazemo-la ainda em virtude de encontrarmos no mapa de Vingboons o São Miguel situado no mesmo ponto em que existiu o engenho Sinimbu”.
O mapa de Alagoas produzido por Caspar Barlaeus (ou Gaspar Barléu) foi publicado em 1647. O atlas de Johannes Vingboons foi compilado por volta de 1665.
Em 1655, o governo da Capitania de Pernambuco registrava que os engenhos de Alagoas estavam “a monte e arruinados”, entre eles o São Miguel, identificado como sendo o “engenho de Tomé da Rocha”, que pagava 1,5% de “pensão” sobre o açúcar produzido.
Os engenhos de Alagoas não eram muitos. Segundo Moacyr Sant’ana (Contribuição à História do Açúcar em Alagoas), em 1630 Alagoas tinha 14 engenhos. Nove anos depois, mais dois entraram em funcionamento.
Nos registros históricos, novas informações sobre o Engenho Sinimbu somente são encontradas no século XVIII, quando foi adquirido, antes de 1786, pelo casal Lourenço Bezerra da Rocha e Ana Lins, que também tinham propriedades em Porto Calvo. Com a morte de Lourenço Bezerra em 1786, Ana Lins e suas filhas Mariana e Antônia Arnalda foram morar nas terras do antigo Engenho São Miguel.
Quatro anos depois de ali se estabelecer, a viúva portocalvense casou-se com o Capitão de Ordenanças Manuel Vieira Dantas, próspero comerciante de Penedo. Dessa união Ana Lins teve os seguintes filhos: Francisco Frederico Vieira da Rocha, Manuel Duarte Ferreira Ferro, Ignácio de Barros Vieira Cajueiro, João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, Ana Luiza Vieira Sinimbu e Francisca de Paula Vieira Lins.
No livro São Miguel dos Campos, de 1964, a jornalista e escritora Guiomar Alcides de Castro afirma, em aparente conflito com as informações anteriores, que o Engenho foi adquirido, em 1799, por Manuel Vieira Dantas.
O Engenho Sinimbu, que foi palco, em Alagoas, de lutas heroicas durante a Revolução Pernambucana, em 1817, e a Confederação do Equador, em 1824, permaneceu com a família Rocha Vieira até 1912, quando foi vendido para os irmãos João e José César Teixeira. Foram seus últimos proprietários.
A partir de 1943, o velho banguê e suas terras passaram a fazer parte do empreendimento que se transformou na moderna Usina Caeté.
Surge a Cooperativa
Em janeiro de 1944, a Revista Brasil Açucareiro publicou o artigo “Engenho Banguê”, do alagoano de São Miguel dos Campos João Soares Palmeira — nascido em 2 de julho de 1898, era neto do Comendador Miguel Soares Palmeira e de Julieta Júlia Palmeira e filho de Mário Palmeira, um dos maiores fornecedores de cana de São Miguel —, revelando o dilema dos históricos senhores de engenho, que vinham sendo engolidos pelas Usinas: “morrer ou transformar-se”.
No mesmo texto, o bacharel João Soares Palmeira, que em 14 de fevereiro de 1940 havia sido nomeado pelo Governo de Alagoas representante dos Banguezeiros e Fornecedores de cana do Estado para o Conselho Consultivo do Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA, informava que em São Miguel dos Campos os seus 12 colegas produtores de açúcar se negavam a perecer e reagiam criando a Cooperativa dos Plantadores de Cana de São Miguel dos Campos Ltda com o intuito de erguer uma usina.
Explicava que nessa associação de interesses “cada propriedade mantém suas características próprias. Continuará com a mesma estrutura, com os seus donos, colonos, foreiros, parceiros, e etc. Cada uma delas disporá do solo como bem entender, quer plantando cana, como também vegetais alimentícios para o consumo doméstico e abastecimento das populações próximas”.
Continuou: “Apenas cada propriedade estará ligada à vizinha pelos laços de solidariedade e de comunhão de interesses. Grandes os benefícios que resultarão deste novo sistema. As canas produzidas sobre modernas práticas, em culturas mecanizadas e adubadas, serão transportadas em estradas melhores a uma usina de propriedade comum, darão em resultado maiores lucros a serem repartidos pelos associados”.
A criação da Cooperativa, que contou com a decisiva participação de Manoel Messias de Gusmão, Rui Palmeira e Espiridião Lopes de Farias, era uma reação dos canavieiros alagoanos às taxações instituídas em 1938 pelo Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA.
A assembleia de fundação aconteceu no dia 16 de agosto de 1943 no salão de honra do Hotel Ipiranga, em São Miguel dos Campos, — estabelecimento de propriedade de Miguel Marques de Moura —, e sua ata foi lavrada por José de Medeiros Apratto.
Às 11h teve início a reunião com a presença dos seguintes plantadores de cana: João César Teixeira, José Lourenço da Graça, Aurélio Vilanova Lopes, João Cavalcante de Albuquerque Pessoa, Rodrigo Carneiro de Almeida, José Marcos da Rocha e Silva, Agnaldo Cavalcante de Albuquerque Pessoa, Manuel Cavalcante de Albuquerque Pessoa, Fausto Palmeira Ferro, Rodolfo César Teixeira, Francisco Inácio de Araújo Jatobá Júnior e Abelardo Lopes.
João Soares Palmeira, que visitava a família em São Miguel dos Campos, foi convidado a participar da reunião e presidiu os trabalhos. Após breve pronunciamento sobre a importância da decisão que ali seria tomada, João encaminhou nove quesitos para decisão da assembleia:
1º Considerando o recebimento de cana, se o embarque de açúcar, onde acham que deva ser instalada a usina?
Resposta: a usina deverá ser instalada no Engenho Caxacumba (Caixacumba), com isso ficará equidistante dos engenhos de um e de outro lado do vale.
2º Existe possibilidade de adquirir uma área de terra de 200 braças em quadro? Com água para a fábrica?
Resposta: sim, o fornecimento da água para a usina poderá ser feito pelo Engenho Caxacumba (Caixacumba), cujas terras são cortadas por um córrego perene de regular volume, podendo ainda ser captada a água do Rio São Miguel, que também atravessa a referida propriedade, distando apenas 300m do local onde será construída a usina.
3º O problema da lenha?
Resposta: ficou deliberado que a lenha para a usina será fornecida mediante concorrência; no caso, porém, de se verificar a impossibilidade do fornecimento pelo modo acima citado, os cooperados se obrigarão a contribuir com a quantidade de combustível proporcional à sua quota, ressalvados aqueles cujos meios de transporte e distância sejam considerados antieconômicos.
4º Que bonificação deve ser dada aos fornecedores cujos partidos distem mais de três e menos de seis quilômetros da fábrica?
5º Aos que distam mais de seis e menos de doze e aos demais de doze até dezoito?
Resposta: a assembleia resolveu que fossem dadas bonificações para os transportes de cana em distâncias superiores a três quilômetros, deixando a critério da administração da cooperativa o quantum da bonificação.
6º Quais os que desejam fazer parte da Cooperativa?
Resposta: João César Teixeira (Engenho Sinimbu), Aurélio Vilanova Lopes (Engenho Retiro), José Lourenço da Graça (Engenho Canabrava), João Cavalcante de Albuquerque Pessoa (Engenho Furado – Santo Antônio do Furado, Rodrigo Carneiro de Almeida (Engenho Conceição), José Marcos da Rocha e Silva (Engenho Coité), Agnaldo Cavalcante de Albuquerque Pessoa (Engenho São Sebastião), Manuel Cavalcante de Albuquerque Pessoa (Engenho São Manoel), Fausto Palmeira Ferro (Engenho Góis), Rodolfo César Teixeira (Engenho Baixa Grande), Francisco Inácio de Araújo Jatobá Júnior (Engenho Tibiriça) e Abelardo Lopes (Engenho Poço).
7º Que limites têm os seus engenhos?
Resposta: Sinimbu com 1867 sacos de produção, Retiro com 933, Canabrava com 533, Furado com 750, Conceição com 800, Coité com 360, São Sebastião com 313, São Manoel com 577, Góis com 1267, Baixa Grande com 1267, Tibiriçá com 400 e Poço com 152 sacos.
8º A que distância do lugar escolhido?
Resposta: A distância aproximada dos engenhos ao local no qual será construída a Usina é, na opinião dos presentes, a seguinte: Baixa Grande 14 quilômetros, Góis 10 quilômetros, Poço 9 quilômetros, Furado 6 quilômetros, São Sebastião 6 quilômetros, Conceição 4 quilômetros, Sinimbu 3 quilômetros, Coité 3 quilômetros, Retiro 2 quilômetros, Tibiriça 2 quilômetros e Canabrava 1 quilômetro.
9º Qual a distância do lugar escolhido ao porto?
Resposta: O lugar escolhido para a fábrica dista do porto da cidade de São Miguel dos Campos, na margem esquerda do rio homônimo, apenas dois quilômetros, podendo o transporte de açúcar a partir desse porto ser feito em canoas, por via fluvial, até o ponto de ancoragem das barcaças no povoado Sebastião Ferreira, situada a 6 quilômetros da sede do município.
A reunião deliberou ainda que um dos presentes — foi escolhido João Cesar Teixeira — deveria procurar entendimento com o dr. Antônio de Moura Castro, proprietário do Engenho Caxacumba (Caixacumba) para tratar da cessão da área destinada à construção da Usina. Por proposta de José Lourenço da Graça, foi aprovado que também se delegaria a Rui Palmeira poderes para abordar Moura Castro.
Não foi possível conhecer os resultados das tratativas com o futuro desembargador Moura Castro, entretanto, considerando que todos os registros colocam a usina como construída no Engenho Sinimbu, pode-se concluir que a cessão da área não aconteceu.
A instalação e eleição da diretoria da Cooperativa se deu no mesmo Hotel Ipiranga às 10h de 21 de setembro de 1943 com a presença de Rui Palmeira e sob a presidência de Hildebrando Menezes, diretor de divisão do Departamento de Assistência ao Cooperativismo em Maceió.
A primeira diretoria foi assim composta: presidente, João Cavalcante Albuquerque Pessoa; secretário, Rodrigo Carneiro de Almeida. Conselheiros: José Lourenço da Graça, Agnaldo Cavalcante Albuquerque Pessoa e João Cesar Teixeira. Conselho Fiscal: Abelardo Lopes, Aurélio Vilanova Lopes e Fausto Palmeira Ferro; suplentes: José Marcos da Rocha e Silva, Rodolfo César Teixeira e Francisco Inácio de Araújo Jatobá Júnior.
A pedra fundamental da Usina Caeté foi lançada em 24 de janeiro de 1944 com a presença de Neto Campelo Júnior, presidente da Associação Profissional da Indústria do Açúcar de Engenho de Pernambuco, acompanhado de numerosa comitiva. De Alagoas, participaram Mário Gomes de Barros, presidente da Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas, Ormindo Monte, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar de Engenho de Alagoas, Pedro Rocha e Rui Palmeira, presidente e diretor-gerente, respectivamente, da Cooperativa Central dos Banguezeiros e Fornecedores de Cana de Alagoas.
Eustáquio Gomes de Melo, Alfredo Oiticica, Onélio de Carvalho, Raul Dias Cardoso, Gastão Oiticica, João Barreto Falcão e o jornalista Zadir Cassela também participaram do evento. A benção foi do monsenhor Adelmo Machado, vigário da Diocese de Alagoas.
Padre Júlio Albuquerque, pároco de São Miguel dos Campos, ao usar a palavra lembrou que no mesmo local onde seria erguida a Usina Caeté, nascera a heroína Ana Lins. Segundo o religioso, esse fato também animou os banguezeiros a se constituírem em sociedade.
O projeto da Usina nasceu em 1939, tomou forma em setembro de 1943 e foi concretizado no dia 26 de janeiro de 1946, quando inaugurada a fábrica instalada a dois quilômetros da sede do município de São Miguel dos Campos. Começou a moer nesse mesmo mês.
O capital foi constituído pelos banguezeiros fundadores na Cooperativa dos Plantadores de Cana de São Miguel dos Campos Ltda (Cr$ 630.000,00) e contou com substanciais empréstimos do Instituto do Açúcar e do Álcool (Cr$ 2.500.000,00) e do Banco Nacional de Crédito Cooperativo (Cr$ 8.000.000,00). Dois anos depois o capital era de Cr$ 7.000.000,00.
A participação dos banguezeiros foi a seguinte: Abelardo Lopes (Engenho Poço), CR$ 100.000,00; José Lourenço da Graça (Retiro e Canabrava), Cr$ 40.000,00; Fausto Palmeira Ferro (Góis), Cr$ 60.000,00; João Cesar Teixeira (Sinimbu), Cr$ 50.000,00; Aurélio Vilanova Lopes (Retiro), Cr$ 50.000,00; Rodrigo Carneiro de Almeida (Conceição), Cr$ 50.000,00; João Cavalcante Albuquerque Pessoa (Furado), Cr$ 60.000,00; Agnaldo Cavalcante Albuquerque Pessoa (São Sebastião), Cr$ 50.000,00; Manuel Cavalcante de Albuquerque Pessoa (São Miguel), Cr$ 50.000,00; José Marcos da Rocha e Silva (Coité), Cr$ 40.000,00; Francisco Inácio de Araújo Jatobá Júnior (Tibiriça), Cr$ 40.000,00; Rodolfo César Teixeira (Baixa Grande), Cr$ 40.000,00.
O maquinário não era novo. Tinha sido adquirido da Usina Água Cumprida, em Camaragibe, e disposto numa estrutura capaz de absorver facilmente qualquer atualização tecnológica. Teve como coordenador técnico da montagem José Fireman. A compra de equipamento já usado foi motivada, principalmente, pelo período de guerra mundial.
Quando inaugurada, tinha a expectativa de produzir 30.000 sacos de açúcar por dia ainda na safra de 1945/46, mas poderia atingir 100.000 sacos quando tivesse todo seu potencial utilizado.
Os principais desafios no início eram: “Melhoria dos canaviais com introdução de canas nobres; emprego de fertilizantes; irrigação e mecanização”.
No ato de inauguração, o interventor do Estado de Alagoas, Edgar de Góis Monteiro, discursou anunciando que a ponte sobre o Rio São Miguel, que construiria em breve, beneficiaria a Usina.
No mesmo evento, Barbosa Lima Sobrinho, presidente do IAA, reconheceu que “as associações de usineiros se tornaram uma grande força. As Cooperativas de industriais de Pernambuco e de Alagoas figuram entre as maiores empresas comerciais do país e são modelos pela maneira como se organizaram e pela segurança de suas atividades”.
Destacou também o fortalecimento dos fornecedores de cana, informando que já se agrupavam em 16 associações de classe e classificou o surgimento da Usina Caeté como um marco da aproximação das “duas classes”: “é a fusão delas, como certeza de extinção de um antagonismo secular”.
Antigos senhores de engenhos, que corriam o risco de se transformarem em fornecedores de cana, continuariam a produzir açúcar, mas não mais num banguê. A Usina Caeté foi anunciada como a primeira usina cooperativada do país. Outros veículos de comunicação a apresentavam com a primeira da América do Sul com essa composição proprietária.
Também estavam em São Miguel, durante a inauguração, Moacyr Ferreira, Alfredo de Maya e João Soares Palmeira, da Comissão Executiva do IAA. Breno Pinheiro e Nelson Coutinho eram funcionários graduados do mesmo Instituto.
O corte da fita simbólica foi realizado às 9h da manhã. Em seguida a Usina recebeu a benção do padre Júlio de Albuquerque. Os visitantes, depois de percorrerem a fábrica, foram recebidos no Engenho Prata, da família Palmeira, para um almoço.
A comitiva esteve ainda na Usina Sinimbu e à tarde participou de homenagem a Barbosa Lima Sobrinho na União Beneficente Miguelense. À noite, realizou-se um baile.
No dia seguinte, já em Maceió, no Bela Vista Palace Hotel, Barbosa Lima Sobrinho voltou a ser homenageado, desta feita pelos usineiros, plantadores de cana e banguezeiros de Alagoas, que expressaram sua gratidão ao presidente do IAA, que foi saudado por Alfredo Maya, presidente da Cooperativa dos Usineiros de Alagoas.
Em 1948, a diretoria da Usina Caeté era composta por João Cezar Teixeira, presidente; Júlio Soriano Bomfim, gerente; e Otacílio Marques de Sá, secretário.
Primeiros problemas
Em 3 de outubro de 1952, a Usina Caeté, em requerimento ao IAA, reconhecia que tinha baixo rendimento industrial (não adquirira maquinaria adequada) e que não conseguiria moer toda a sua cana de açúcar, provocando prejuízo na ordem de Cr$ 1.790.000,00. Solicitava autorização para repassar a cana dos seus associados para a Usina Sinimbu e um estudo para reequipamento material da fábrica. A Cooperativa considerava então que “sem o amparo do IAA, não poderia (…) evitar o agravamento da situação em que se encontra e, assim [esperava] receber do IAA o indispensável apoio” (Brasil Açucareiro).
O baixo rendimento industrial é citado em números pelo Serviço Social e Financeiro do IAA, que concordou em transferir as canas dos fornecedores para a Usina Sinimbu, constando que esta conseguia retirar 103 quilos de açúcar por tonelada de cana esmagada, enquanto que a Caeté ficava somente em 84 quilos (em outro relatório do IAA, esse número era citado como entre 74 e 76 quilos). Essa limitação tecnológica levava a usina a produzir somente o açúcar demerara, enquanto que as outras 11 usinas em Alagoas já ofereciam o açúcar cristal.
Naquele ano, a Caeté tinha uma quota, definida pelo IAA, de 70.200 sacos de açúcar (produzia somente 26.000 sacos) e era autorizada a se abastecer com 12.380.600 quilos de cana própria e 38.144.600 quilos de cana de fornecedores, num total de 50.525.200 quilos. Entretanto, nas safras anteriores (1949/50, 1950/51 e 1952/53) tinha moído apenas canas de fornecedores nos seguintes volumes: 21.003.720, 21.004.000 e 15.347.603 quilos, respectivamente.
Tinha com o IAA, a partir de 12 de julho de 1952 e por cinco anos, contrato de financiamento de entressafra e apontamento da fábrica no valor de Cr$ 1.500.000,00, que eram pagos com a retenção de Cr$ 10,00 por saco de açúcar produzido, contando com a garantia de penhor agrícola. Como não ia moer, não poderia honrar o financiamento.
Em paralelo, a Cooperativa também solicitava socorro ao Ministério da Agricultura para resolver suas pendências com o Banco Nacional de Crédito Cooperativo. O ministro pediu ao IAA que fosse analisada com “simpatia” a “situação grave da referida Cooperativa, uma vez que todos os seus cooperados entregaram tudo o que possuíam de propriedades, todo o seu patrimônio, na melhor demonstração de boa fé…”.
Fim da Cooperativa
Os mesmos problemas que deixaram a Usina sem moer em 1952, permaneceram até 1955, quando voltou a funcionar após conseguir mais um empréstimo. Entretanto, as dificuldades financeiras continuavam a crescer, decretando o fim da Cooperativa.
A Caeté, que passou a ser patrimônio da Companhia Melhoramento Vale do São Miguel S/A, foi vendida em 1961 a José Cabral Toledo, o Zeca Toledo, também proprietário da Fazenda Bananeira, segundo o conceituado historiador miguelense Ernande Bezerra de Moura.
Em 1965, foi repassada para o Grupo Carlos Lyra e transformada, em 23 de setembro de 1966, numa sociedade anônima fechada.
Grupo Carlos Lyra
Carlos Benigno Pereira de Lyra Neto era um dos netos do empreendedor Coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra, que em 1894 instalou a Usina Serra Grande em São José da Lage. Seu pai, dr. Salvador Pereira de Lyra, assumiu a gerência da Serra Grande em 1926 e foi responsável pela implantação, naquele município, da primeira Usina Hidroelétrica de Alagoas.
Salvador Lyra, que deu nome a um importante bairro de Maceió, foi casado com Conceição Sepúlveda Diniz de Lyra, com quem teve os seguintes filhos: Carlos Lyra, João Lyra, Fernando Lyra, Margarida de Lyra Pessoa de Melo (esposa do industrial Fernando Pessoa de Melo) e Lúcia de Lyra Brito (esposa de Paulo Didier de Brito).
O Grupo Carlos Lyra começou a surgir em 1951 com a aquisição da Algodoeira Lagense S/A. Com sede em São José da Lage, comprava, processava e vendia algodão, milho, mamona e café.
Carlos Lyra, que nasceu em Recife no dia 20 de junho de 1925, tinha 26 anos de idade quando assumiu a presidência da Algodoeira Lagense. Era formado em engenharia química pela TRI-STATE University Indiana (USA).
A expansão do Grupo se deu com a aquisição ou montagem de várias empresas, como consta no site da empresa:
1958 – Lagense Adubo (não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra);
1965 – Usina Caeté S/A – São Miguel dos Campos. Alagoas;
1976 – Varrela Pecuária Ltda, em São Miguel dos Campos, Alagoas;
1979 – Usina Caeté S/A – Unidade Marituba, em Igreja Nova, Alagoas;
1983 – Garanhuns Refrigerante Ltda (Coca-Cola) em Garanhuns, Pernambuco. (não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra);
1984 – Indiana Agrícola Ltda, em Barreiras, Bahia (Não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra);
1986 – Sotan – Sociedade Táxi Aéreo do Nordeste Ltda, em Maceió, Alagoas;
1986 – Usina Caeté S/A – Unidade Cachoeira, em Maceió, Alagoas;
1989 – Costa Norte Transportes S/A, em João Pessoa, Paraíba (não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra);
1989 – Refrescol – Indústria de Refrigerantes S/A (Coca-Cola), em João Pessoa, Paraíba (não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra);
1991 – Profertil – Químicos e Fertilizantes S/A, em Santa Luzia do Norte/AL, Candeias/BA e Recife/PE (não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra);
1992 – Fábrica da Pedra S/A – Fiação e Tecelagem, em Delmiro Gouveia, Alagoas;
1994 – Rádio Pioneira Delmiro Gouveia Ltda. AM e FM, em Delmiro Gouveia, Alagoas;
1996 – Lagense S/A Holding do Grupo Carlos Lyra, em Maceió, Alagoas
1996 – Usina Caeté S/A – Unidade Volta Grande, em Conceição das Alagoas, Minas Gerais;
2000 – Usina Caeté S/A – Unidade Delta, em Delta, Minas Gerais;
2001 – WWRent provedor de sites, em Maceió, Alagoas (não pertence mais ao controle acionário do Grupo Carlos Lyra); e
2007 – Usina Caeté S/A – Unidade Paulicéia, em Paulicéia, São Paulo.
É este grupo que atualmente detém o controle da Usina Caeté, empreendimento que nasceu de uma cooperativa fundada em 16 de agosto de 1943.
Excelente matéria sobre a história da Zona da Mata de Alagoas; parabéns, Ticianeli!
Veio a fita quando trabalhei no grupo Carlos lyra.saudosa usina cachoeira.