Bloco Vulcão, a história viva dos carnavais de Maceió
Nos anos da década de 1930, Maceió iniciava o período considerado como a época de ouro do carnaval alagoano. Nos clubes e nas ruas as marchinhas dominavam, mas o frevo pernambucano já se fazia sentir, principalmente executado pelas orquestras dos blocos que percorriam as ruas da cidade.
O Banho de Mar à Fantasia da Avenida da Paz arrastava multidões para as manhãs dos domingos anteriores ao carnaval. Por lá desfilavam blocos, troças, ranchos e mascarados. Do sábado de Zé Pereira até a terça-feira gorda, a festa se transferia para a Rua do Comércio, incluindo a Praça dos Martírios, onde acontecia também o corso.
Nos bairros, o principal carnaval acontecia em Bebedouro, na ainda Praça Santo Antônio, que viria a ser a Bonifácio Silveira e Coronel Lucena Maranhão.
A segurança da folia era feita por patrulhas das diversas corporações militares de Alagoas. Além da Polícia Militar, soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica acompanhavam a folia para evitar que os grupos de foliões ligados a estas instituições exagerassem no entusiasmo momesco.
Após o carnaval, os militares da Polícia Militar de Alagoas reclamavam por não terem a oportunidade de participar da festa. Foi essa insatisfação que levou, em 1936, um grupo de músicos da Banda da corporação a propor a criação de um bloco que desfilasse após o carnaval para atender os militares que trabalharam durante o evento.
A iniciativa foi liderada por José Francelino Teixeira, Sinfrônio Marinho, José Ernesto, Isaac Galvão Cruz, Alípio Rodrigues e Natanael Azevedo.
Assim nasceu o Bloco Vulcão, que imediatamente recebeu o batismo ao som do hino Vulcão em Chamas, de autoria de um dos seus fundadores, Isaac Galvão. Seu filho, o maestro Jalmeri Galvão, comandou vários carnavais em Alagoas anos depois.
Ouça aqui Vulcão em Chamas, hino do bloco Vulcão em arranjo e execução de José Gomes Brandão, que coordena o Projeto Divulgando Compositores Alagoanos (veja AQUI):
Segundo José Amâncio Filho, em seu livro Fatos para uma História da PMAL, o pessoal da Banda do Exército resolveu também criar um bloco e respondeu com o Tromba D’água, mas não durou muito. Posteriormente, já nos anos 50, esse bloco ressurgiu com o nome de Bomba Atômica.
Com a proibição do carnaval no período da Guerra, início dos anos 40, os blocos paralisaram suas atividades. O Vulcão somente voltou a desfilar em 1947, já reconhecido oficialmente como um bloco da PMAL. O então comandante-geral, coronel Osman Lopes, atendendo ao pedido de um grupo de oficiais, designou o coronel Sampaio para coordenar a volta do bloco às ruas.
Voltou para se consagrar como um dos maiores e melhores blocos daquele período áureo, que se estendeu até meados da década de 1960. Foram vários títulos conquistados. Puxando o cordão, tinha sempre à sua frente foliões como os coronéis Suruagy, Mário Sampaio e Serafim Dutra. Nesta época, seus estandartes eram confeccionados pelo artista e operador cinematográfico Durval Suruagy de Lira.
A concentração do bloco era na Rua Santo Antônio, na Ponta Grossa, em frente à residência do popular Manoel Caixão.
Depois de uma nova ausência dos nossos carnavais, em 1974 o coronel José Maia Fernandes resolveu reacender as chamas do Vulcão e entregou a responsabilidade à equipe da 5ª Secção do Estado Maior Geral.
Por curto tempo o bloco voltou às ruas. Nesse período, Vulcão ganhou de Edécio Lopes o seu novo hino, Toque de Reunir. Foi gravado pela Banda Vulcão com a interpretação de Reginaldo Oliveira.
(Ouça aqui).
Após alguns anos de inatividade, o bloco voltou desfilar no início dos anos 90, quando o ainda tenente José Maxwell Santos era Chefe da Assessoria de Comunicação Social da PMAL. Ele procurou a organização do evento Maceió Fest e conseguiu fazer o bloco participar do que foi o maior carnaval fora de época de Alagoas. Maxwell também criou o Projeto Vem Ver a Banda Tocar.
Em 2003, já incluído na programação do Jaraguá Folia — que organizava desfiles de blocos da quinta-feira até o domingo —, o Vulcão voltou a desfilar novamente no domingo de Banho de Mar à Fantasia, agora na Pajuçara, como idealizou Edécio Lopes em conversa com Edberto Ticianeli.
O Jaraguá Folia não conseguiu manter evento sendo realizado em quatro dias, ficando somente com desfiles na sexta-feira na Avenida da Paz e Rua Sá e Albuquerque, mas o Vulcão permaneceu na Pajuçara nos domingos pela manhã, resistindo bravamente e fazendo uma festa cada vez maior.
Vulcão é o bloco alagoano mais antigo ainda em atividade, verdadeira testemunha dos vários momentos dos nossos carnavais. Mantém-se fiel aos seus objetivos, sempre arrastando atrás do seu estandarte os foliões que fazem o carnaval mais seguro do estado, a família da Polícia Militar de Alagoas.
Fontes:
– Fatos para uma História da PMAL, de José Amâncio Filho, 1976.
– Sesquicentenário da Polícia Militar de Alagoas: 1832 – 1982. De Elisabeth de Oliveira Mendonça, 1983.
Esse é o melhor bloco de carnaval q existe aqui em Maceió. É essa tradição ñ pode morrer.