Av. Maceió e a Rua Buarque de Macedo, as vias que surgiram de uma Estrada de Ferro
Conheça Buarque de Macedo e Walter Ananias, que foram homenageados nesta Estrada

No tempo das viagens a pé ou em lombo de animais, caminhava-se por veredas abertas nos matagais. Com o passar dos anos, os percursos mais utilizados ganhavam o status de estradas, normalmente mais alargados pelo uso das carroças e carros de boi.
Foi assim que Maceió viu surgir várias estradas, como a de Bebedouro, com um trecho conhecido como Estrada do Mutange, Estrada Norte, Estrada do Trapiche da Barra, Estrada de Rodagem do Jacutinga, que partia da Praça Jonas Montenegro, atual Praça do Centenário, e se estendia até Bebedouro, descendo a Ladeira do Calmon.
Assim também surgiu a Estrada de Ferro entre Jaraguá e o Centro da capital, uma via marginal à ferrovia, que teve seu traçado registrado em planta de 1881 e obras iniciadas no ano seguinte. Era o projeto da Alagoas Railway Company Limited. Os trens prosseguiam por onde atualmente está a Estação Ferroviária e continuavam pelo Largo de São Benedito (Praça do Pirulito) e Parque Rio Branco, prosseguindo no percurso utilizado até os nossos dias.
Aos poucos, os trechos dessa Estrada de Ferro foram recebendo habitações e galpões. O segmento que se formou acompanhando os trilhos entre Jaraguá até as imediações da atual Av. Comendador Leão ficou conhecido como Rua do Rato. Depois, parte dessa via, entre a Capela de Santa Cruz — aquela igrejinha em frente ao Cemitério de Jaraguá — e as imediações da Av. Comendador Leão foi denominada como Rua Santa Cruz.
Sua continuação era a Rua do Oitizeiro, cujo registros de sua existência remontam a 1877. Provavelmente se estendia até a Praça 13 de Maio, antigo Largo da Senzala, que tinha área nos dois lados dos trilhos. A denominação de Praça 13 de Maio lhe foi conferida pela Lei nº 53 de 2 de março de 1899. Em 1957, a maior parte dessa Praça foi ocupada pelo Centro Social Sesc-Senac, uma instituição voltada para os comerciários.
Depois dessa Praça, a via passava a ser denominada como Rua da Aurora e assim continuava até a Estação da Rua Barão de Anadia. Há registros dela, em 1917, começando na Estrada Nova, atual Av. Comendador Leão, como se tivesse incorporado a Rua do Oitizeiro. Lembrando que a Rua Cyrilo de Castro, na Levada, já foi também Rua da Aurora.
Fazia parte desse trecho da Estrada de Ferro a famosa Ilha das Cobras, que aparece nos mapas de 1881 e de 1927. Era uma Ilha do Riacho Salgadinho, situada aproximadamente onde hoje está o PAM Salgadinho. Quem habitava na “Estrada de Ferro” em suas proximidades, morava na Ilha das Cobras.
Rua Buarque de Macedo e seu verdadeiro patrono
A partir de 1929, o trecho da Estrada de Ferro entre o Riacho Salgadinho e a Estação Central, na Rua Barão de Anadia, passou a ser denominado como Rua Buarque de Macedo.
O historiador Félix Lima Júnior, em seu livro Memórias de Minha Rua, identifica a Rua Buarque de Macedo como a antiga Ilha das Cobras e apresenta o seu patrono:
“Manoel Buarque de Macedo Lima, pernambucano, era engenheiro, bacharel em Matemática e doutor em Ciências Jurídicas e Administrativas pela Universidade de Bruxelas, membro do Instituto de Engenharia de Londres. Nasceu em Recife no dia 1º de março de 1837. Foi Ministro da Agricultura, no primeiro ministério Saraiva (março de 1880). Morreu em São João Del Rei, Minas Gerais, em 29 de agosto de 1881”.
Sabe-se dele, também, que em Alagoas foi deputado provincial na 13ª Legislatura, de 1860 a 1861. Em Pernambuco, da mesma forma, representou seus eleitores na Assembleia Provincial e, na Geral, entre nas legislaturas de 1867 e de 1878.
A distância temporal entre a morte dele em 1881 e a homenagem no final da década de 1920 chamou a atenção do HISTÓRIA DE ALAGOAS, que aprofundou a pesquisa para tentar descobrir a razão deste tributo tão tardio.
O que foi encontrado pode ser a correção de um equívoco histórico.
O Conselheiro Manoel Buarque de Macedo casou-se, em 1857, com a também pernambucana Lydia Cândida de Oliveira — casada passou a assinar como Cândida de Oliveira Buarque de Macedo (16 de setembro de 1841-23 de dezembro de 1924) e tiveram oito filhos. O quarto deles foi Manoel Buarque de Macedo Filho, que nasceu em 19 de abril de 1863, em Recife, e faleceu em 28 de julho de 1926, no Rio de Janeiro. Este casou-se com a amazonense Francisca Marques Lisboa Coutinho — Francisca Buarque de Macedo após o casamento (26 de abril de 1862-16 de junho de 1933) — e trouxeram ao mundo 14 filhos.
Quando seu pai faleceu, tinha apenas 14 anos de idade. Consegui matricular-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro com a ajuda de familiares.
Saiu de lá engenheiro, como o pai, Manoel Buarque de Macedo. Passou a ser tratado como Dr. Buarque de Macedo. Era considerado um destaque na engenharia nacional, o que o levou a ocupar importantes cargos e prestar serviços nos vários governos do país.
Foi por três vezes diretor da Lloyd Brasileiro, uma empresa que explorava o transporte por navios. Ocupou o cargo de diretor presidente da Companhia Brasileira de Transportes de Carvão, da Companhia Carbonífera Riograndense e da Companhia Minas de Carvão do Jacuhy. Nos últimos anos de vida presidiu as suas Companhia Brasileira de Exploração do Porto e Companhia Cais do Porto, no Rio de Janeiro. Foi ainda, por três décadas, secretário da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Quando faleceu, foi objeto de várias homenagens. Uma delas, um busto, foi inaugurado em 1º de março de 1927 no jardim em frente à Estação de São Diogo, no Rio de Janeiro.
Em 27 de outubro de 1932, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro recebeu um ofício do comandante da Marinha, Octávio de Gusmão Fontoura, solicitando que aquela instituição interferisse junto ao governo do Estado do Rio de Janeiro para alterar o nome da ilha Mocanguê Pequeno para Ilha Buarque de Macedo, onde ficavam as oficinas e os diques da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, ali construídas por Buarque de Macedo e consideradas como “as mais completas e perfeitas oficinas de construção naval da América do Sul”.
Justificou-se o comandante, lembrando que Manoel Buarque de Macedo, além de “ser uma glória da engenharia da nossa pátria, foi o criador da Marinha Mercante Nacional e da nossa navegação de longo curso, educando a mocidade que hoje constitui a classe dos nossos náuticos, perfeitamente equiparável aos oficiais mercantes das Nações mais adiantadas”.

Estrada de Ferro, futura Av. Buarque Macedo na década de 1920. Ao fundo a torre do Hotel Bella Vista, na Praça dos Palmares
Em 9 de novembro do mesmo ano, o comandante Fontoura enviou carta à diretoria da Lloyd Brasileiro com outra proposta. Sabedor que a palavra Mocanguês, das ilhas Grande e Pequena, significava Gêmeas, Mabaças, e que isso impedia a mudança do seu nome, indicou então que as instalações daquela empresa passassem a ser as Oficinas Buarque de Macedo.
Como se percebe, o dr. Manoel Buarque de Macedo foi merecedor, após a sua morte em 1926, de expressivas homenagens, permitindo-se especular que a denominação de uma via em Maceió nos anos seguintes tenha sido motivada por tributo a ele e não ao seu pai, falecido em 1881.
Av. Walter Ananias, antiga Av. Maceió
A mudança da Ilha das Cobras para Rua Buarque de Macedo no final da década de 1920 indicava que aquele trecho da Estada de Ferro já estava razoavelmente habitado e urbanizado para ser associado a uma personalidade tão importante, independente de ser o pai ou o filho.
Em 1932, o outro trecho ferrovia, após o riacho Salgadinho, onde existiam as ruas do Oitizeiro e Santa Cruz, também recebeu do poder público o batismo de uma via mais importante, passando a ser tratada como Av. Maceió.
Ainda no início de 1932, a Prefeitura da Capital autorizou em Jaraguá, a 20 metros da Av. Maceió, fossem instalados os tanques para depósito de inflamáveis da Standard Oil e ao seu lado um alambique para aguardentes. Os moradores protestaram e os jornais fizeram campanha contra essas estruturas, temendo explosões e incêndios. Continuaram por lá durante muito tempo.
Nessa época, também já existiam ali vários armazéns e depósitos das importantes usinas alagoanas ou da indústria algodoeira, que inaugurou ali, em 30 de abril de 1936, “uma possante prensa hidráulica”. Pertencia à Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro S/A, a SANBRA.
Com o crescente número de automóveis nas vias que cruzavam com a Av. Maceió e a Rua Buarque de Macedo, ali surgiram graves acidentes com os trens, a exemplo do que ocorreu às 11h50 do dia 20 de março de 1940, no encontro da Av. Comendador Leão com a Av. Maceió. A locomotiva nº 316 da Great Western, que se aproxima de Jaraguá, colidiu violentamente com o automóvel de placa 056 da Companhia de Fiação Norte de Alagoas, deixando feridos Eólo Ribeiro de Alencar e Pedro Duarte de Mendonça.
Outro problema dessas ruas eram os alagamentos provocados por fortes chuvas. O transbordamento do Riacho Gulandim causou transtorno por muitos anos aos moradores dos bairros de Jaraguá e do Poço.
Quem foi Walter Ananias?
Em 1997, o vereador Walter Pitombo Laranjeiras propôs e a Câmara Municipal aprovou que a Av. Maceió fosse rebatizada com o nome de Av. Walter Ananias. A Lei nº 4.647, de 29 de outubro de 1997 foi então sancionada pela prefeita Kátia Born.
O homenageado era um alagoano de Maceió nascido em 26 de agosto de 1937, filho do pernambucano Paulo Ananias de Barros e de Carmina Ananias de Barros, esta nascida em Palmeira dos Índios. Casaram-se em 25 de fevereiro de 1933.
Walter Ananias era economista e foi professor da disciplina Organização de Empresas na Escola Técnica de Administração de Alagoas.
Casou-se em 11 de abril de 1965 com Tânia Maria Pimentel Cavalcante. Nessa época era comerciante e residia na Av. Duque de Caxias, 366. Há registro de que foi proprietário do Engenho Gurganema em Marechal Deodoro.
Paulo Ananias, seu pai, cuidava do departamento responsável pela coleta de lixo da Prefeitura de Maceió até a Companhia Beneficiadora do Lixo, COBEL, entrar em funcionamento.
A COBEL foi criada em outubro de 1964 no governo de Luiz Cavalcanti. O capital inicial era de Cr$ 10 milhões. Seu registro como empresa é de 25 de setembro de 1967, mas entrou em fase de experiência em maio de 1968, quando o governador era Lamenha Filho. Tinha como diretor-presidente Paulo Rafael. Estava implantada em Cruz das Almas, no Km 13 da Rodovia Norte. No seu projeto de 1964 constava que a Usina Industrializadora do Lixo de Maceió seria implantada no Barro Duro com capacidade para industrializar diariamente 66 toneladas de lixo, produzindo 5.600 toneladas de adubo orgânico por ano.
A COBEL, no começo da década de 1970, era dirigida pelo ex-prefeito de Palmeira dos Índios, Jota Duarte. A partir de 1972, teve como diretor presidente Luiz Henrique Amorim Rocha. O diretor técnico já era Walter Ananias. Foram nomeados pelo governador Afrânio Lages. O prefeito de Maceió era João Sampaio.
Walter Ananias foi o responsável por introduzir em Alagoas o beneficiamento de lixo pelo método bioquímico criado pelo professor Oswaldo Gonçalves Lima.
Em 23 de novembro de 1979, a Lei nº 2.644, autorizou o município de Maceió a receber o controle acionário da COBEL. Era uma Sociedade de Economia Mista envolvendo o Estado, Prefeitura e outras entidades (Companhia Progresso de Alagoas, Cooperativa dos Usineiros e Plantadores de Cana e a Cooperativa dos Fumicultores), que doaram à Maceió Cr$ 5 milhões em ações. O prefeito era Fernando Collor.
Walter Ananias permaneceu por décadas à frente da COBEL. Faleceu em Maceió no dia 21 de janeiro de 1997.
A COBEL foi extinta em 22 de janeiro de 2003 e os seus serviços são atualmente de responsabilidade da Autarquia de Desenvolvimento Sustentável e Limpeza Urbana, a Alurb.
Caramba! Sou de Alagoas e sinto muita falta de materiais como esse. Parabéns!
Se houver algo para indicar como leitura…
Ótimo documentário, de grande valia para nós professores que somos desprovidos de livros de história de Alagoas.
Até hj, atravessa carro nessa linha de trem,
O tempo voa!
Muito interessante saber como era Maceió e como estar hoje. Parabéns. Que sejam publicados mais histórias sobre nossa Alagoas, sobre Maceió e nossos bairros. Estão de parabéns
Documentário sensacional envolvendo um pouco da história de Alagoas.
Muito bom adorei
Extremamente necessário conhecer nossas origens.
Eu amo essas máterias. Os históriadodes deviam editar mais histórias, publicar fotos de nossa antiga maceió. Parabéns amei!
Parabéns, Ticianeli.
Ticianelli, é sem dúvida o maior historiador de Maceió, sempre leio seus artigos. Moro na Walter Ananias há 30 anos e adoro suas matérias como também seu site no you tube.