Augusto Malta, o alagoano que melhor fotografou o Rio de Janeiro

Praça XV de Novembro (antigo largo do Paço), no Centro do Rio, em 1906, fotografada por Augusto Malta
Augusto Malta

Augusto Malta

O fotógrafo Augusto César Malta de Campos nasceu em Mata Grande, Alagoas, no dia 1º (14) de maio de 1864. Era filho do escrivão Claudino Dias de Campos e Blandina Vieira Malta de Campos.

Seu pai queria que ele seguisse a carreira religiosa e o colocou para morar com o padre Antonio Marques de Castilho. Deixou o estudo religioso e a convivência com o padre em 1886 e foi se alistar no Exército em Recife, onde serviu até ser dispensado do serviço obrigatório.

No ano seguinte, voltou ao Exército como cadete sargento. Vivia-se no país o crescimento dos movimentos republicanos e Augusto participou deles ativamente.

Em maio de 1888 ainda estava no Recife e há registros de sua participação nas manifestações a favor da abolição da escravatura.

Desembarcou no Rio de Janeiro nos últimos dias de 1888, já com 24 anos de idade. Trabalhou como auxiliar de escrita da Casa Leandro Martins, na rua dos Ourives, atual rua Miguel Couto. Foi ainda guarda-livros desta mesma empresa.

Tomou parte dos acontecimentos de 15 de novembro de 1889, que resultaram na proclamação da República. Foi um dos signatários do termo de juramento lido na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, dando posse ao governo provisório republicano.

Logo após esse período de conflitos históricos, Augusto Malta esteve em Alagoas a passeio. Quando voltou ao Rio de Janeiro, trouxe seus irmãos Alfredo e Joaquim Pópolo. Outros dois irmãos, Fernando e Teófilo, chegaram um pouco depois.

Foi casado com sua prima Laura Oliveira Campos, com quem teve cinco filhos: Luthgardes (1896-?), Arethusa (1898-1913), Callisthene (1900-1919), Aristocléa (1903-1934) e Aristógiton (1904-1954). Todas as filhas do casal morreram de tuberculose.

Laura Oliveira Campos faleceu em 1906 e Augusto Malta passou a viver maritalmente com Celina Augusta Verschueren (1884 – 19?). Celina tinha sido a babá dos seus filhos trabalhava e chegou à sua casa com apenas 15 anos. Com ela teve mais quatro filhos: Dirce (1907 – ?), Eglé (1909 – ?), Uriel (1910 – 1994) e Amaltéa (1912 – 2007).

A última década do século XIX o encontrou dirigindo uma loja de secos e molhados. A Casa Ouvidor ficava na rua de mesmo nome, mas não teve vida longa. Instalou ainda outra loja no mesmo ramo na rua Larga de São Joaquim, atual avenida Marechal Floriano. Também não deu certo. Passou, então, a vender tecidos finos, fazendo a entrega montado em uma bicicleta.

Foi graças a este meio de transporte que, em agosto de 1900 assumiu a secretaria do Grupo de Velocemen, que tinha o objetivo de organizar passeios ciclísticos. O primeiro deles aconteceu no final de setembro daquele ano.

Foi de um aspirante da Marinha, seu cliente de tecidos, que recebeu a proposta para trocar a bicicleta por uma máquina fotográfica. Passou a entregar as fazendas a pé, mas aos domingos exercitava a arte da fotografia com um amigo também amador.

Passou a fotografar amigos, familiares e o cotidiano da cidade por conta própria. Até que um amigo, o empreiteiro Antônio Alves da Silva Júnior, o levou para registrar as primeiras obras do novo prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Pereira Passos.

Seu trabalho foi apresentado ao chefe do executivo municipal, que gostou do que viu. Como precisava registrar as obras e os imóveis a serem desapropriados para posteriores pagamentos de indenizações, o nomeou fotógrafo da Prefeitura do Distrito Federal. O Decreto Municipal com a nomeação ganhou o nº 445 e foi publicado no dia 27 de junho de 1903. Era subordinado à Diretoria Geral de Obras e Viação da Prefeitura. Trabalhou neste cargo por 33 anos.

Augusto Malta utilizando um antigo equipamento fotográfico

Augusto Malta utilizando um antigo equipamento fotográfico

Como fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro conseguiu registrar as principais obras de modernização da então capital federal, que passou por um processo de reurbanização para se equiparar às grandes cidades europeias.

O autor do Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro, Boris Kossoy, afirma que Malta aprendeu parte de seu ofício com ninguém menos que Marc Ferrez (1843-1928), um dos principais fotógrafos brasileiros de todos os tempos. “Deve-se a Augusto Malta a mais importante documentação fotográfica do Rio de Janeiro das três primeiras décadas do século 20″, avalia Kossoy.

George Ermakoff, autor do livro Augusto Malta e o Rio de Janeiro – 1903-1936, revela o diferente olhar que Malta tinha sobre a cidade: “Numa época em que a maioria dos fotógrafos trabalhava em estúdios ou fazia imagens um pouco artificiais do Rio, ele fotografava cenas sociais. Além das obras, havia o cotidiano da cidade, prostitutas, escritores, personalidades”.

Avenida Central, atual Rio Branco e Cinelândia. Foto de Augusto Malta

Avenida Central, atual Rio Branco e Cinelândia. Foto de Augusto Malta

Malta atuou quase sempre sozinho, sem ajudantes. Além da função na prefeitura, ele fazia trabalhos particulares, editava cartões-postais e fazia registros sob encomenda de empresas como a Light.

O fotógrafo assinava todos os negativos de vidro com tinta nanquim, de trás para a frente, e sempre colocava data, local e uma pequena legenda na imagem. Ele chegou a publicar um Álbum Geral do Brasil, com retratos inéditos de cidades brasileiras.

Além do Rio, Malta fotografou municípios de Minas Gerais, Alagoas e São Paulo.

O fotógrafo usava equipamentos ainda do fim do século 19, mas recorria a chapas de vidro de maior sensibilidade. “Isso fazia com que ele conseguisse colocar a câmera nas ruas, apesar de grande e com tripé, e captar aquele momento. A linguagem dele se beneficiou disso”, diz o coordenador da área de fotografia do Instituto Moreira Salles, Sérgio Burgi.

Embora não tenha trabalhado exatamente como repórter fotográfico, Malta era membro da Associação Brasileira de Imprensa e cedeu imagens para jornais e revistas.

Segundo Ermakoff, ele tinha o apreço dos jornalistas. “Os repórteres faziam ponto em sua sala para saber da agenda do prefeito. Era ele quem os recepcionava.”

Rio de Janeiro em foto de Augusto Malta

Rio de Janeiro em foto de Augusto Malta

Em 1936, Augusto Malta se aposentou e deixou o filho Aristóginton como substituto na prefeitura. Em casa, ele continuou a se dedicar à fotografia até poucos anos antes de falecer, no dia 30 de junho de 1957, aos 93 anos.

Amalthea, filha do fotógrafo, conta que ele trabalhou até quase os 90 anos e morreu pobre, apesar de não ter deixado dívidas.

Em depoimento gravado para o Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ), ela descreve o pai como um homem muito ocupado, mas nem por isso desatento: “No fim do mês, queria saber as notas. E eu fazia esforço para não ser observada”.

Augusto Malta (último sentado à direita) na fundação da Associação dos Fotógrafos de Imprensa do Rio de Janeiro Revista Fon-Fon de 1º de novembro de 1913. Foto J. Garcia

Augusto Malta (último sentado com o chapéu no joelho) na fundação da Associação dos Fotógrafos de Imprensa do Rio de Janeiro. Revista Fon-Fon de 1º de novembro de 1913. Foto J. Garcia

Augusto Malta teve duas esposas e nove filhos – cinco do primeiro casamento e mais quatro do segundo.

Seu legado compreende mais de 30 mil negativos – infelizmente, boa parte foi deteriorada pela ação do tempo ou má conservação. Seu acervo está espalhado em várias instituições, como o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (que mantém um portal em homenagem a ele na internet), a Biblioteca Nacional e o Instituto Moreira Salles.

Sua coleção, adquirida pelo Banco do Estado da Guanabara, em 1964, para integrar o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro é constituída por 20 mil fotografias, 20 álbuns fotográficos com imagens selecionadas pelo próprio Malta, 2.400 negativos de vidro e 115 negativos panorâmicos. Desse acervo, 11.500 fotografias já se encontram digitalizadas, além de 167 documentos textuais com correspondência, cadernos de notas, etc.

Fontes: Guia do Estudante e Secretaria Estadual da Cultura de Alagoas.

4 Comments on Augusto Malta, o alagoano que melhor fotografou o Rio de Janeiro

  1. Márcia Martins Olimpio // 18 de setembro de 2015 em 00:23 //

    Olá, convido você a assinar e COMPARTILHAR o abaixo assinado que criei para que a prefeitura do Rio de Janeiro homenageie o mestre da fotografia, o ILUSTRE ALAGOANO Augusto Malta com uma escultura. Agradeço!
    https://www.change.org/p/prefeitura-do-rio-de-janeiro-escultura-em-homenagem-a-augusto-malta?recruiter=372851192&utm_source=share_petition&utm_medium=facebook&utm_campaign=share_facebook_responsive&utm_term=des-md-google-no_msg

  2. fernando campos // 16 de junho de 2016 em 10:33 //

    vejam um resumo da carreira de malta no meu blogue maltapublico. podem transcrever trechos desde que usem aspas e citam a fonte. ok. fernandocampos

  3. fernando campos // 23 de março de 2018 em 10:53 //

    E as fontes bibliográficas?
    prof.Fernando Campos

  4. No final do texto. Fontes: Guia do Estudante e Secretaria Estadual da Cultura de Alagoas.

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