As danças de quotas
Félix Lima Júnior*
“Danças de quota” tínhamos em várias pontas de ruas. Uma das mais frequentadas era a do Odilon, o negro Odilon, tipo popular em Pajuçara, nos primeiros anos da segunda década deste século, em sua residência, na rua do Araçá.
— Já tomaste café, bichão? — indagava ele a certos frequentadores dos mais sem cerimônia, devido a reclamações que recebia, das mocinhas que com eles dançavam, como ainda há poucos meses relembrava, com muito espírito, o dr. João Azevedo Filho, que era um dos mais assíduos naqueles bons e saudosos tempos…
As matas do Capitão Belo (Belmiro José Amorim) forneciam madeira de construção e de cercas, lenha e carvão. Enquanto ele viveu jamais foram elas devastadas. Conheci-o ainda, homem de mediana estatura, de cor branca, pequeno cavaignac, com um braço cortado, sempre respeitado, e afamado pela energia e decisão.
“Filhinhos do papai” e cidadãos ricos ou em boas condições financeiras exibiam-se a cavalo, pelas ruas principais (não tínhamos ainda os “rabos-de-peixe”) . Claro que em cavalos bonitos e bem tratados. Tibúrcio Alves de Carvalho, rico comerciante, tinha uma égua, cor preta, bem cuidada, que fazia inveja a muita gente boa. Quando aparecia, na zona alegre da cidade, uma mulher bonita, forte, elegante, bem vestida, uma “dona boa“, como se chama presentemente, dizia-se que chegara “outra égua do Tiburcinho“… O Cel. Paes Pinto montava um cavalo por todos admirado. Américo Maia e Neco Zu, outros.
Em 1914 quem adquiria um prédio ou terreno registrava-os com o 2° Tabelião Público, José Vieira Sampaio Filho; se recebia um imóvel em hipoteca registrava-o, também, no Cartório do 1° Tabelião, interino, Benjamim Rangel, na Praça do Montepio.
Inventários atrapalhados e questões difíceis eram entregues aos advogados Drs. Eusébio de Andrade, Bernardino de Sena Ribeiro, Anísio Jobim, Luiz Mesquita e Joaquim Guedes Correia Gondim, isso na primeira década deste século.
Secretário do Interior, em 1912, o dr. João de Aquino Ribeiro, proibiu o que ele chamava “o abuso dos toques de sinos das igrejas”, tendo sido detido por algumas horas, na Inspetoria da Guarda Civil, então na rua Boa Vista, onde está hoje a Imprensa Oficial, o Otaviano, sacristão do Livramento.
As autoridades eclesiásticas fizeram, depois, um acordo com as estaduais.
Já o Gutenberg reclamava, em 10 de fevereiro de 1887:
“Dobres — Na situação anormalíssima que nos rege não é descabido pedir à nossa Câmara Municipal que proíba os dobres fúnebres. Isto observa-se em todas as capitais civilizadas. Os dobres não são chaves do céu, e servem somente para levar o temor à beira do leito de doentes, alguns dos quais pioram, tomados do medo da morte despertados pelos sons tristes plangentes do toque de finados”.
Leiloeiros públicos tivemos o sr. Francisco Jucá, na rua da Boa Vista, nº 43, e, muitos anos depois, os srs. Eduardo José de Melo e Joaquim Acioli Montenegro.
Pela A Tribuna, de 13 de junho de 1902, Francisco Salustiano de Almeida Japiassú declarava ser o único encarregado das festas cívicas em homenagem a Augusto Severo, que se realizariam a 22 daquele mês e ano. Receio de que os concorrentes, mais sabidos de que ele, fossem receber as contribuições…
Em 15 de novembro de 1889 enquanto Deodoro, no então município neutro, desejando apenas derrubar um Ministério proclamava a República e organizava o Governo Provisório, empossava-se no Palácio, à rua Barão de Anadia, o último Delegado do Governo Imperial — Dr. Pedro Moreira Ribeiro, que deixou o cargo no dia 17, quando foi organizada uma Junta Governativa: major dr. Aureliano de Azevedo Pedra, Comandante do 26º Batalhão de Infantaria, aqui sediado, dr. Manoel Ribeiro Barreto de Menezes e o cidadão Ricardo Brenand Monteiro.
A Junta, como as demais do país, foi recebida sem entusiasmo, sem desordens, sem mortes, sem barulho. O povo maceioense, como o dos demais pontos do Brasil, a tudo assistiu bestificado, como declarava depois, Aristides Lobo, ministro do Governo Provisório.
Quarenta e um anos após, igualmente bestificado, o mesmo povo da capital alagoana recebia, sem urras e sem palmas, em 14 de outubro de 1930, os soldados do Capitão Juarez Távora que, sem um tiro sequer, entravam na cidade, de onde se tinham ausentado, antes, as principais autoridades, o governador Álvaro Paes à frente.
Em 1909 a cidade se encheu de estudantes vadios, reprovados, de Pernambuco, da Paraíba, do Ceará, do Rio Grande do Norte, de Sergipe, da Bahia, para fazer exames no Liceu Alagoano… Eram os propedêuticos motivo para pilhérias e fonte de algumas desordens…
Não tendo o que fazer quiseram empastelar o Jornal de Alagoas…
Jogava-se bicho, homenageando o Barão de Drumond, com muito entusiasmo. Manoel Estevão foi banqueiro do jogo popular. Ele, Agapito Dantas e Rutílio Taveiros eram os mais “fortes”. Quem queria fazer sua “fezinha” num dos 25 bichos, procurava uma mulata velha, Sinhá Maria Tabelinha, residente na rua da Alegria no trecho entre as ruas Augusta e Apolo, que além de decifrar sonhos, por mais difíceis e complicados que fossem, fornecia, gratuitamente, seus palpites infalíveis. Nas casas de família e em certos clubes e sociedades longe da vista do público, jogava-se pôquer, 7 1/2, roleta, cisplandim, ronda, 21, campista, bacará, chemin de fer, e baralho. Não chegáramos, ainda, ao pif-paf e nem à biriba…
Em novembro de 1889, às vésperas da República, ainda correu a Loteria da Província de Alagoas.
*Retirado do livro Recordações da velha Maceió. Maceió, 1966.
Deixe um comentário