Alguns números relativos à instrução primária em Alagoas no início dos anos 30

Artigo escrito para o Diário de Pernambuco e publicado na edição de 28 de junho de 1935, quando Graciliano Ramos era Diretor da Instrução Pública em Alagoas e já reconhecido como o “romancista do ‘Cahetés’ e S. Bernardo’”

Escola Mista da Levada em 1920, onde depois funcionou o Dispensário da Secretaria da Saúde

Graciliano Ramos

Graciliano Ramos

O quadro que nos apresentava, há poucos anos, a instrução em Alagoas era este: dezena e meia de grupos escolares, ordinariamente localizados, em edifícios impróprios, e várias escolas isoladas na capital e no interior, livres de fiscalização, providas de material bastante primitivo e quase desertas. As professoras novas ingressavam comumente nos grupos; as velhas ficavam nas escolas isoladas, desaprendendo o que sabiam, longe do mundo, ensinando coisas absurdas. Salas acanhadas, palmatória, mobília de caixões, santos nas paredes, em vez de mapas. Em 1932 eram assim as escolas rurais, as distritais e também grande parte das urbanas.

De 17 grupos escolares que possuíamos 8 estavam em casas arranjadas à pressa, sem nenhuma aparência de escolas. Depois da revolução adotaram o sistema de criar grupos escolares que, para bem dizer, só existiam nos decretos. Armava-se um grupo no papel, nomeava-se o corpo docente e depois se procurava uma casa.

Em Palmeira dos Índios havia um desses, pessimamente instalado no prédio da prefeitura. Mobília nenhuma. Cada aluno levava a sua cadeira, cada professora adquiria uma banca. Quatro mulheres e 152 crianças trabalhavam ali em 1933. Provido de bom material, esse estabelecimento tem hoje oito professoras e 374 alunos. Dentro de dois meses será inaugurado o excelente edifício que para ele se está construindo.

O “Deodoro da Fonseca”, na cidade de Alagoas [Marechal Deodoro], esteve em casa alugada até o fim de 1934, quando passou a funcionar em prédio conveniente.

Várias das escolas que existiam em salas pequenas, onde as crianças não tinham nenhum conforto e se privavam dos objetos indispensáveis ao estudo, vão desaparecendo. O ano passado fecharam-se dez na capital. Em compensação foram abertos dois grupos que utilizam 19 professoras.

Este ano criaram-se grupos escolares em Murici, Pão de Açúcar, Atalaia e São José da Lage. Os decretos relativos a esses estabelecimentos foram escritos depois de construídas e mobiliadas as casas. Isso nos dá a supressão de 19 escolas isoladas.

Alunos de um grupo escolar de Maceió em 1922

Este ano será iniciada a construção de oito grupos escolares em Maceió, Rio Largo, Coruripe, S. Miguel de Campos (sic), Anadia, Quebrangulo e Sant’Ana do Ipanema. Desaparecerão 36 escolas isoladas.

Em 1932 havia nas escolas públicas 15.826 alunos, 22.821 em 1933, 25.840 em 1934. A frequência média, de 11.285 em 1932, subiu a 15.264 em 1933, a 16.900 em 1934.

Excetuados os municípios de Água Branca, Porto Calvo, Igreja Nova, Camaragibe e Maragogi, em todo o Estado a matrícula e a frequência aumentaram. Na capital a matrícula e a frequência era 3.055 em 1932, 5.576 em 1933, 7.264 em 1934; a frequência cresceu de 2.308 em 1932 para 3.654 em 1933 e 4.859 em 1934.

Em 1932 existiam 484 professores em 337 estabelecimentos de ensino, compreendidos 17 grupos escolares. Temos hoje 473 professores trabalhando em 358 estabelecimentos: 335 escolas isoladas e 23 grupos escolares.

Em 1932 houve 4.089 promoções e 544 conclusões de curso; em 1934 tivemos 7.697 promoções e 1.519 conclusões de curso.

Em 1934 as crianças pobres dos estabelecimentos públicos receberam 3.865 cadernos e 9.064 metros de fazenda. É pouco, mas talvez este ano os fornecimentos cresçam.

Sobre o ensino municipal há os seguintes números: 45 escolas isoladas em 1932, 56 em 1933; 1.622 crianças matriculadas em 1932, 1.994 em 1933; frequência — 3.605 em 1932, 5.775 em 1933; 159 professores em 1932, 225 em 1933. Ainda nos faltam as cifras relativas a 1934. Essas escolas não nos remetem os mapas que o serviço de estatística exige: vai um inspetor colher nelas os dados necessários, e isto demora o trabalho.

De resto só de 1933 para cá o serviço de estatística existe. O que antes havia é bastante nebuloso.

2 Comments on Alguns números relativos à instrução primária em Alagoas no início dos anos 30

  1. LENITA DA SILVA NOVAI // 24 de setembro de 2019 em 15:42 //

    HÁ 54 ANOS FUI TIRADA DO CONVÍVIO DA MINHA MÃE QUE NÃO SEI O NOME DELA COMPLETO SÓ SEI QUE SE CHAMAVA LENIR. UM TIO QUE SE CHAMA LULA E UMA VÓ QUE A CHAMAVAM DE DONA BILINHA. GOSTARIA MUITO DE ENCONTRÁ-LA MAS NÃO SEI POR ONDE COMEÇAR. TENHO MAS DUAS IRMÃ QUE É FILHA DELA. MEU NOME É LENITA, MINHAS IRMÃS SÃO LENICE E LENIRA. SE PUDEREM DEVULGAR A NOTICIA VOU FICAR MUITO AGRADECIDA

  2. José Benedito da Silva // 5 de abril de 2022 em 23:04 //

    Ótimo texto

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