Alfredo de Barros Lima Júnior, o advogado, político e poeta Lima Júnior

Passo de Camaragibe, terra natal de Lima Júnior, nos anos 50

Nasceu no dia 24 de fevereiro de 1894 em Passo de Camaragibe, no norte de Alagoas. Era filho do promotor público Alfredo de Barros Lima e de Nympha do Rêgo Lima.

Seu pai, Alfredo de Barros Lima, era filho de Manoel José de Lima e de Constantina Acioly de Barros, e irmão de José Fernandes Lima, que foi governador de Alagoas. Sua mãe, Nympha do Rêgo Lima, era filha do coronel Quirino do Rêgo Mello e de Francisca do Rêgo Mello.

Alfredo de Barros Lima e Nynpha do Rêgo Lima. Foto do livro Moedas Correntes

Alfredo de Barros Lima iniciou o curso na Faculdade de Direito do Recife em 1887. Em setembro de 1891, já diplomado, foi nomeado promotor público da comarca de Traipu. Dois anos depois era advogado em Passo de Camaragibe, onde residia, e São Luiz do Quitunde.

Logo após o casamento, Alfredo e Nympha dividiram a casa de nº 5 da Rua 13 de Maio, em Passo do Camaragibe, onde nasceram alguns dos seus 14 filhos. Alfredo de Barros Lima Júnior foi o primeiro deles, nascendo em 24 de fevereiro de 1894.

Dos outros 13 filhos foram identificados 12:

1 – Um filho, ou filha, que nasceu nos primeiros dias de 1895 e foi batizada em 24 de fevereiro de 1895. Provavelmente faleceu logo após o batizado;
2 – Lauro do Rego Lima nasceu 1898 e casou-se com Carolina Plech;
3 – Demerval do Rego Lima nasceu no dia 17 de junho de 1899 e casou-se com Maria Augusta de Barros Silva;
4 – Cláudio do Rego Lima – nasceu em 24 de setembro de 1900;
5 – Nimpha do Rego Lima nasceu em novembro de 1902;
6 – Estella do Rego Lima nasceu em 17 de março de 1903 no Engenho Guarany e casou-se com José Aurélio Corrêa;
7 – Elias do Rego Lima nasceu em 1904 e casou-se com Violeta Magalhães Paiva;
8 – Bianor do Rego Lima nasceu em 12 de outubro de 1905 no Engenho Guarany;
9 – José do Rego Lima nasceu em 14 de dezembro de 1906.
10 – Irene do Rego Lima nasceu em abril de 1909;
11 – Zuleida do Rego Lima nasceu em julho de 1910;
12 – Raul do Rego Lima nasceu em 1911 e faleceu em 1985, casou-se com Maria Annecy Graça Lima.

O jovem poeta Alfredo de Barros Lima Júnior

Alfredo de Barros Lima, a exemplo do seu irmão José Fernandes Lima, também teve participação política em Alagoas, chegando, em 1896, a disputar o mandato de deputado estadual. Foi por causa do seu envolvimento com a política que perdeu por algum tempo a promotoria em Passo de Camaragibe. Nesse período cuidou do pequeno engenho da família, o Guarany.

Esse ambiente político atraiu a atenção do menino Alfredo de Barros Lima Júnior, que aos oito anos de idade acompanhava atento as conversas do pai com o tio. Mas não só o debate político o atraía. Ainda criança teve que trabalhar para ajudar o pai a sustentar a extensa família. Foi mestre-escola — ajudando os mais novos nas primeiras letras —, estafeta do telégrafo, caixeiro de escrita e até agricultor.

Em 1908, com 14 anos de idade, esteve em Maceió acompanhando seu pai, que nessa estadia visitou o amigo Joaquim Diegues em seu casarão de Bebedouro. Em meio a conversa, Diegues se assustou ao saber que o pequeno Lima Júnior tinha concluído o primário em Passo de Camaragibe e parado de estudar, por falta de recursos dos pais para enviá-lo à Capital.

Joaquim Diegues então pediu a Alfredo de Barros Lima para deixar o filho na casa dele. E assim, ainda em 1908, o menino iniciou os estudos de Ciências e Letras no Lyceu Alagoano.

Leitor assíduo dos jornais, afeiçoou-se aos escritos de Luiz Magalhães da Silveira no Jornal de Alagoas e passou a frequentar a sua redação para bater papo com o experiente jornalista. Como as conversas eram sempre demoradas, logo surgiu uma forte amizade entre eles. Essa relação ainda existia em 1934, quando juntos fundaram a Gazeta de Alagoas. Certo dia, mostrou a Luiz Magalhães da Silveira sua poesia “Jesus”, um dos trabalhos que o havia habilitado a ingressar no Lyceu. No dia seguinte estava publicada no Jornal de Alagoas. Foi sua estreia no mundo da poesia.

JESUS

Meigo e suave Jesus! Meus olhos pondo
Nos teus olhos dulcíssimos, serenos,
Esqueço os males pérfidos, terrenos,
Minhas vinganças e paixões escondo!

Surjam blasfêmias e ambições, venenos
Vomitem bocas más, ao mal se impondo,
Sinto-me bem diante de ti, supondo,
Que, embora sofra, sofro muito menos!

Ao teu olhar o meu olhar prendendo
Noto-o soltando graças as mais francas,
E glórias e perdões oferecendo…

E vejo as suas luzes semeadoras
Dando bençãos de amor às almas brancas,
Tendo indulgências para as pecadoras!

Não permaneceu muito tempo hospedado na casa de Joaquim Diégues. Seu pai, preocupado em não incomodar o amigo, conseguiu para ele um quarto num sobrado que oferecia pensionato no Beco do Moeda.

Tinha 17 anos de idade, em 1911, quando iniciou os estudos na Faculdade de Direito do Recife. Dois anos depois, teve que retornar às pressas a Passo de Camaragibe, onde seu pai padecia com a Febre Tifoide, que se alastrava por Alagoas. Foi assim que viu, em 45 dias, sete dos seus irmãos falecerem antes do pai, que se despediu dele no dia 11 de março de 1913. Sobreviveram Demerval, Lauro, Elias, Raul e Estella. Abandonou os estudos e voltou a morar em Passo de Camaragibe para cuidar da família.

Mesmo com o curso inconcluso, dias depois foi nomeado adjunto do Promotor da Comarca e, no ano seguinte, promotor público do município, mesma função que havia sido exercida por seu pai.

Somente concluiu o curso na Faculdade de Direito do Recife no dia 14 de dezembro de 1921, como registrou o Diário de Pernambuco de 14 de dezembro de 1921. Já era um homem, mas de compleições frágeis, com 1,68 de altura.

Julieta Rossiter, sua primeira esposa. Foto do livro Moedas Correntes

Em 15 de janeiro de 1916, aos 19 anos de idade, casou-se com Julieta do Rego de Mendonça Rossiter, também natural do Passo de Camaragibe. Tiveram duas filhas: Yelva Rossiter de Barros Lima nasceu em 7 de novembro de 1917 e casou-se com Álvaro de Vasconcelos Cavalcante em 4 de julho de 1941; Helga Rossiter de Barros Lima nasceu em 6 de novembro de 1918 e casou-se com Luís Agrario Brennand Santa Ritta — ainda estudante de Medicina — em 15 de outubro de 1937.

Mesmo morando em Paso de Camaragibe, Lima Júnior mantinha permanente atividade jornalística, escrevendo comentários políticos para os jornais de Maceió. Sonhava em voltar a morar na capital e assim criar condições para concluir o seu curso de Direito.

Essa oportunidade pareceu ter surgido quando Fernandes Lima, seu tio, assumiu o governo do Estado em 12 de junho de 1918. Mas não aconteceu. Somente a partir de 7 de janeiro de 1919, quando Leonino Correia de Oliveira tomou posse como intendente da capital, Lima Júnior teve o seu primeiro reconhecimento político e foi convidado a participar do banquete de comemoração pela vitória. Aconteceu no restaurante do Hotel Luso Brasileiro.

Voltou a Passo de Camaragibe, mas, meses depois, foi nomeado chefe de gabinete do intendente, graças à intervenção de Paulino Sarmento e de Luiz Silveira. Seus vencimentos eram de apenas 400 mil réis. Mesmo assim aceitou e passou a morar com a mulher e filhas na Rua Epaminondas Gracindo, nº 19, na Pajuçara. Em 1921, trouxe sua mãe e irmãos para Maceió.

Estava há dois meses no serviço, quando o intendente o designou a prestar serviços em Recife, permitindo que voltasse a estudar Direito e concluísse o curso iniciado em 1911 e interrompido em 1913.

Esteve como chefe de gabinete ou secretário da Prefeitura por 12 anos. Somente se afastou dali por motivos políticos.

ENIGMA

Sobre mim como sinto que
Sombra discreta, equívoca, imprecisa,
Réstea de sol de tarde que agoniza
E ora avança, ora tímida recua.

Busca envolver-me, às vezes se acentua,
Outras se mostra como que indecisa,
Sobre mim, sem que a veja, anda e desliza,
E na minha alma quieta se insinua.

Bem que percebo junto a mim, no entanto,
Nunca lhe posso descobrir o encanto,
Sempre a noto impalpável e furtiva.

E tanto mais procuro compreendê-la,
Tanto ela mais de mim se afasta e esquiva!

Academia de Letras

Em meados de 1919, quando Lima Júnior era também redator do Jornal de Alagoas, envolveu-se na criação da Liga do Ensino Popular, cuja diretoria tomou posse em dezembro daquele ano. Participavam dela expressivos nomes da educação e das letras de Alagoas: presidente de Honra, Manoel Antônio de Oliveira Lopes; vice-presidente de Honra, Domingos Paes Barreto — diretor de Instrução Pública; secretário de Honra, Faustino Magalhães da Silveira — lente da Escola Normal; presidente efetivo, cônego Manoel Capitulino de Carvalho; 1º secretário, Arthur Accioly; 2º secretário, professor Carlos Garrido e tesoureiro, Jayme de Altavila. Alfredo de Barros Lima Júnior era seu vice-presidente.

Lima Júnior na fundação da Academia Alagoana de Letras

Foi praticamente esse mesmo grupo que, incentivado pelo intendente Leonino Correia, liderou a mobilização que resultou na fundação da Academia Alagoana de Letras, ocorrida em assembleia realizada em 1º de novembro de 1919. Foi secretariada por Lima Júnior e Jayme de Altavila.

Na diretoria eleita em 14 de julho de 1920, presidida por Demócrito Gracindo, o 1º secretário era Lima Júnior. Neste ano lançou se primeiro livro, Canções da Idade de Ouro. Permaneceu como 1º secretário até a diretoria indicada em abril de 1930. No ano seguinte, foi escolhido vice-presidente. Voltou a ser o 1º secretário em 1942.

Em 31 de julho de 1927, tornou-se sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.

Lima Júnior em foto do livro Moedas Correntes

O político

Em 1921, arrematou em leilão público uma casa na Rua Epaminondas Gracindo, nº 61. Essa casa, um sobrado, continua de pé. Com o casamento de sua filha Helga, deixou essa casa para ela e adquiriu outra na mesma rua, nº 19.

Em janeiro de 1924 foi um dos fundadores da Escola Superior de Agronomia de Alagoas. Nesse mesmo ano rompeu politicamente com seu tio Fernandes Lima e se aliou a Costa Rego, que também se afastara do governador.

Candidata-se a deputado estadual e sai vitorioso. Em seguida, foi indicado pelo governador eleito, Costa Rego, para ser o seu líder na Assembleia Legislativa. Em 1928, foi reeleito, pelo Partido Democrata, junto com o governador Álvaro Paes. Não concluíram o mandato por causa da Revolução de 30.

Casa da Rua Epaminondas Gracindo, nº 61, na Pajuçara

Em 1926, quando ainda deputado estadual, passou a ser diretor do Jornal de Alagoas, órgão do partido e oficiosamente do governo.

Reflexo da sua conquista política e por seus méritos como advogado, em dezembro de 1926 foi nomeado 2º Juiz Substituto de Juiz Federal em Maceió.

Em 1931, a exemplo da sua participação na criação da Escola Superior de Agronomia de Alagoas, foi um dos fundadores e professor de Direito Civil da Faculdade de Direito de Alagoas. Permaneceu em seus quadros até a sua federalização, quando foi afastado por motivos políticos.

Em 12 de agosto de 1934, quando era candidato à Constituinte Estadual pelo Partido Republicano de Alagoas, foi nomeado para a comissão encarregada de elaborar o anteprojeto constitucional do Estado de Alagoas. Em 14 de outubro de 1934 foi eleito deputado constituinte. Era o seu terceiro mandato.

Com o golpe getulista que ficou conhecido como Estado Novo, decretado em 10 de novembro de 1937, todas as casas legislativas foram fechadas e Lima Júnior voltou a ficar sem mandato.

Dedicou-se novamente à advocacia e em 1939 tomou posse como presidente da OAB em Alagoas. Permaneceu à frente da Ordem dos Advogados do Brasil/AL até 1947.

Em 1945 quando já morava na Rua do Sol, num sobrado ao lado da Igreja do Rosário — onde depois funcionou o Banco do Brasil —, participou das articulações para criar em Alagoas o diretório da UDN. Em sua convenção, no dia 10 de setembro, foi eleito para a diretoria executiva. Em novembro, seu nome apareceu como candidato a deputado federal, mas não conseguiu ser eleito.

Sobrado da Rua do Sol, ao lado da Igreja do Rosário

Depois, não mais se candidatou. Dizia que “para um homem ser um bom político, precisava de três qualidades fundamentais: a idade dos moços; a vivacidade dos Apóstolos; a humanidade dos conscientes”.

Em 1950, o convidaram a se candidatar novamente, mas recusou. Nesse período, deixou de escrever para os jornais, exceto para O Semeador, da Igreja Católica. No ano seguinte sofreu um enfarte, que o deixou com algumas sequelas, entre elas a de se locomover com dificuldade, mas não o impediu de continuar a escrever para O Semeador.

Outro abalo forte em sua vida se deu com o falecimento de sua esposa Julieta Rossiter. Vítima de um câncer uterino, o deixou em 18 de agosto de 1958. No início da década de 1960, perdeu também sua filha Yelva.

Casou-se, novamente, em 3 de outubro de 1960, com a professora Enecila de Castro.

Professora Enecila de Castro, segunda esposa de Lima Júnior

Em 1962 publicou seu segundo livro, “Fim de Tarde”, e o dedicou a “Enecila, minha mulher e animadora; Helga, minha filha e admiradora; Luiz Alfredo, meu neto e meu melhor amigo”. No ano seguinte, lança “Alguns homens do meu tempo”.

Na década de 1960 já era um homem inscrito entre os mais abastados de Maceió, fruto de sua banca advocatícia, uma das mais procuradas em Alagoas. Ampliando suas posses, adquiriu um amplo sítio em Cruz das Almas e o entregou aos cuidados do seu neto, Luiz Alfredo.

Casa do Sítio de Lima Júnior em Cruz das Almas, antes e depois da reforma. Fotos do livro Moedas Correntes

Lima Júnior faleceu no dia 26 de março de 1967, após manifestar soluços e vômitos. Ainda foi socorrido na Casa de Saúde Neves Pinto.

Em 1971, sua esposa Enecila conseguiu publicar o livro póstumo “A Velha Nau”. Ela faleceu em abril de 1978.

Lima Júnior quando presidente da OAB/AL. Foto do acervo da OAB/AL

Informações sobre a família Rossiter

Como a primeira esposa de Lima Júnior foi Julieta do Rego de Mendonça Rossiter, também natural de Passo de Camaragibe, chamou a atenção da pesquisa o surgimento na família de outra Rossiter no casamento de Luiz Alfredo de Lima Santa Ritta. Seriam parentes?

Lima Júnior e Julieta Rossiter tiveram duas filhas. Helga, uma delas, no primeiro casamento uniu-se ao médico Luís Agrario Brennand Santa Ritta e tiveram dois filhos: Luiz Alfredo de Lima Santa Ritta (nasceu em 1938) e Nazaré de Lima Santa Ritta. Luiz Agrario Brennand Santa Ritta nasceu em 1915 e era filho do farmacêutico Alfredo Santa Ritta e de Luzineth Brennand.

Luiz Alfredo de Lima Santa Ritta casou-se com a pernambucana Mariza do Monte Rossiter, que nasceu em 6 de outubro de 1930 no bairro do Espinheiro, em Recife. Era filha do bancário alagoano Lydio Alfredo Rossiter e da pernambucana Maria José do Monte. Mariza Rossiter teve como irmãos Frederico Alfredo, Ana Lígia, Eduardo Alfredo, Lúcia Maria e George Alfredo.

A jovem Mariza do Monte Rossiter

Lydio Alfredo Rossiter era filho dos alagoanos, de Passo de Camaragibe (Engenho Três Barras), Joaquim Alfredo de Mendonça Rossiter e Julia Henriqueta Rossiter. Maria José do Monte era filha de Florentino Alves do Monte e Maria Bezerra do Monte.

Joaquim Alfredo de Mendonça Rossiter, por sua vez, era filho de Henrique Alfredo Rossiter e Francisca Leopoldina de Mendonça Rossiter. Julia Henriqueta Rossiter era filha de Henrique Alfredo Rossiter Filho e de Maria Glicéria Lins.

Como se constata, o pai e o avô de Mariza Rossiter também pertenciam à família Rossiter de Passo de Camaragibe, deixando claro que ela e seu marido, Luiz Alfredo de Lima Santa Ritta, eram, muito provavelmente, primos distantes.

***

Fontes: Jornais da época, depoimento de familiares e o livro “Moedas Correntes, Lima Júnior e seu tempo”, de Teresa Torres Neumann.

1 Comentário on Alfredo de Barros Lima Júnior, o advogado, político e poeta Lima Júnior

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 1 de abril de 2025 em 07:16 //

    Prezado Ticianeli, grato pela reportagem.

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