Agripino Ether, o poeta dentista
Agripino Alves Ether nasceu em São Luís do Quitunde no dia 21 de julho de 1885 (há quem afirme que nasceu em Maceió) e foi batizado na capital no dia 16 de janeiro de 1886. Era filho de Olympio Dias Ferreira Ether e de Ursulina Alves Ether (+1906).
Seu pai, quando ainda criança, morou alguns anos em Propriá, Sergipe, mas depois se estabeleceu na região Norte de Alagoas, de onde saiu para explorar uma firma comercial em Jaraguá, Maceió.
O casal Olympio e Ursulina tiveram os seguintes filhos (Gutenberg de 23 de fevereiro de 1907): Alzira Alves Ether (nascida em 12 de setembro de 1881 – casada passou a assinar Alzira Ether do Espírito Santo +1905), Anna Dias (nascida em 20 de setembro de 1888), Guiomar Alves Ether, Anna Alves Ether, Áurea, Agripino Alves Ether e Astragilda Alves Ether (*18 de novembro de 1889).
Com a morte de Ursulina, o coronel Olympio casou-se com Francisca (também citada como Francina) da Silva Ether (+ 12 de junho de 1906). Tiveram os seguintes filhos: Alodya da Silva Ether (*15 de setembro de 1897), Alda da Silva Ether (+1966), Alyria da Silva Ether, Abdia da Silva Ether, Alita da Silva Ether, Altair da Silva Ether (1901 – 8 de julho de 1985), Mário da Silva Ether, Maria Aldina Dias Ferreira Ether (*25 de março de 1902 +21 de outubro de 1986), Albérico da Silva Ether (1905 – 9 de fevereiro de 1978), Maria de Lourdes da Silva Ether e Alayde da Silva Ether.
Novamente viúvo, o coronel Olympio Ether voltou a casar em julho de 1907. Desta feita com Isabel Maria de Lima. Desta relação não há o registro de filhos.
A sua firma. a Olympio Ether & Cia, ficava na Rua Sá e Albuquerque nº 130, em Jaraguá, e tem registro de sua existência já em 1883. Negociava principalmente com açúcar e algodão.
Em 1892, quando Olympio assumiu o comando da Guarda Nacional em Alagoas, também foi eleito conselheiro municipal. Presidiu a Sociedade Filarmônica Minerva e a Sociedade Auxiliadora dos Cristãos.
Sua projeção nos negócios e na política o levou a ser nomeado Inspetor Geral da Instrução Primária do Estado de Alagoas em 28 de dezembro de 1905.
Em 1911 morava na Rua Cônego Costa, nº 43, em Bebedouro.
Agripino Ether
Não se sabe onde iniciou os estudos, mas o secundário cursou no Colégio 24 de Fevereiro, fundado em fevereiro de 1896 na capital de Alagoas. Depois foi para o Seminário de Olinda e, posteriormente, esteve no de Maceió, onde terminou o Curso de Filosofia. Bacharelou-se em Letras.
Em 19 de junho de 1906, o jornal Gutenberg informou que dias antes, num domingo, houve a apresentação de uma peça no teatrinho do Major Bonifácio, em Bebedouro. Entre os amadores estava Agripino Ether. Nessa época, morava com seu pai na esquina da Praça Santo Antônio, a poucos metros do Teatro Santo Antônio.
A partir de março de 1907 era um dos professores da Escola Noturna criada pelo Major Bonifácio Silveira naquele bairro. Com ele estavam mais dois jovens professores: Osman Guerra e Miguel Nobre.
Em abril de 1907 foi aprovado nos exames para o curso de Odontologia em Salvador, na Bahia, ainda naquele mesmo ano. Foi diplomado no final de 1909.
As primeiras informações sobre Agripino Ether após a conclusão do curso e sua volta à Maceió revelam que também era desportista. Em 14 de agosto de 1910 foi um dos fundadores do Club Alagoano de Regatas.
Somente no início de março de 1911 foi que surgiram nos jornais os primeiros anúncios do Cirurgião-Dentista Agripino Ether. Atendia das 10h às 17h na Rua do Comércio, 138. Seu gabinete foi pioneiro no uso de equipamentos eletrodentários em Alagoas.
Também se envolveu em política, seguindo o exemplo do pai. Ainda em 1911 participou dos comícios em apoio à candidatura de Clodoaldo da Fonseca e Fernandes Lima, que disputavam o governo de Alagoas. Seu envolvimento na campanha se deu pelo Comitê Marechal Hermes.
Foi o orador da diretoria do Montepio dos Artistas. Nessa época morava no Beco São José.
No jornalismo, foi um dos fundadores do jornal O Semeador, em março de 1913.
No Rio de Janeiro
O envolvimento de Agripino Ether com o que acontecia em Maceió na virada da década de 1910 para a de 1920 não indicava que tinha outras pretensões senão a de ser um destacado cidadão na sociedade alagoana.
A mais importante vinculo estabeleceu com o movimento que criou a Academia Alagoana de Letras na famosa assembleia de 1° de novembro de 1919. Foi ele, junto com Arthur Acioly e Auryno Maciel, que deu a redação final dos estatutos. Ocupou a cadeira 28, cujo patrono era Franco Jatobá. Além disso foi o redator do Diário de Maceió.
Quando a AAL realizava suas primeiras reuniões, ainda em 1920, Agripino Ether também participava dos eventos que lhe proporcionariam voo mais alto em sua profissão.
De 18 a 23 de setembro de 1920 representou Alagoas do 1º Congresso Odontológico Latino Americano, em Montevidéu. Após essa viagem, passou a ser o delegado em Alagoas da Associação Central Brasileira de Cirurgiões-Dentistas. No ano seguinte, em dezembro, publicou no Boletim Odontológico dessa associação o artigo “Ligeiras observações sobre o dente dos seis anos”.
No início de 1923, ainda clinicando em Maceió, se anunciava nos jornais como cirurgião-dentista, “único no Estado que tem gabinete na Rua Boa Vista e residência em Bebedouro. Extrações e concertações por preço sem igual”. Nesse ano, a AAL publicou um fascículo com o seu discurso sobre Ruy Barbosa.
Quando ocorreu a eleição para a diretoria da Associação Central Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, em 21 de novembro de 1923, foi eleito 1º secretário. Já estava morando no Rio de Janeiro.
Bom orador, rapidamente conseguiu projeção também nos meios intelectuais, sendo constantemente convidado a proferir palestras, a exemplo da realizada no dia 14 de setembro de 1923 na Associação dos Empregados do Comércio. Divulgava a importância da assistência dentária infantil.
O projeto para a criação no Rio de Janeiro da Assistência Dentária Infantil, uma iniciativa da Associação Central Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, pretendia o atendimento das crianças pobres.
Foi Agripino Ether que conseguiu com o então deputado federal alagoano Costa Rego o apoio para as causas da Odontologia e a aprovação do projeto que cedeu o terreno para a construção do edifício da Assistência Dentária Infantil, no antigo Morro do Senado. Em maio de 1924, quando Costa Rego já era governador de Alagoas, Ether organizou uma homenagem a ele no Rio de Janeiro.
Nesse período foi o redator da revista Brasil Odontológico, editado pela Casa Hermanny.
Em outubro de 1925 participou do 2º Congresso Odontológico Latino Americano, em Buenos Aires e no ano seguinte, em novembro, era um dos examinadores da banca nas provas do 1º ano e 3º ano (clínica e técnica odontológica) do Curso de Odontologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Estado do Rio de Janeiro.
Esteve também no 3º Congresso Odontológico Latino Americano, realizado no Rio de Janeiro em 1929. Por esta época, estudava Direito na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde foi diplomado em 1930. No 3º Congresso Odontológico foi o secretário da Comissão Organizadora.
O professor Agripino Ether
Por sua participação como professor numa banca examinadora do Curso de Odontologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Estado do Rio de Janeiro, em novembro de 1926, pode-se concluir que naquela data já estava contratado como professor. Mas em outubro de 1929 não havia mais dúvidas: seu nome é citado nos jornais como professor catedrático daquela instituição, que foi anexada à Faculdade Fluminense de Medicina em 1930.
Nesse mesmo ano foi contratado como dentista da Prefeitura do Distrito Federal (Rio de Janeiro), sendo alocado na Escola Estados Unidos. Sua efetivação somente ocorreu em 31 de outubro de 1936.
Em 1931 recebeu do governo de Cuba a insígnia de Cavalheiro da Cruz Vermelha Nacional por sua atuação pelo engrandecimento dos profissionais de Odontologia além das fronteiras do Brasil.
Outro reconhecimento internacional ocorreu em setembro de 1932. O dentista alagoano foi admitido como membro da Academia Internacional de Odontologia, com sede em Buenos Aires.
Também recebia elogios dos alunos. Em setembro de 1933 foi escolhido como paraninfo dos formandos da Faculdade de Odontologia e Farmácia da Fluminense.
Em janeiro de 1934, a Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade do Rio de Janeiro ganhou autonomia, separando-se da Faculdade Fluminense de Medicina. No ato de instalação Agripino Ether foi saudado como um dos “gigantes da odontologia nacional”. A aula inaugural da Faculdade foi ministrada por ele.
Entre 14 e 21 de dezembro de 1935 fez concurso para livre docência para a cadeira de Prótese Buco Facial. Foi aprovado. Ainda em 1935 assumiu a secretaria geral do Instituto Brasileiro de Estomatologia. Era ainda professor honorário da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Manaus.
Em 1936 era um dos diretores da Revista de Medicina e Odontologia. No ano seguinte, em janeiro, foi o primeiro colocado no concurso para provimento da vaga de dentista-chefe do Departamento de Educação.
Foi personagem de um evento inédito no mundo acadêmico. Em dezembro de 1936 era o paraninfo de três turmas de formandos no Rio de Janeiro: da Universidade do Rio de Janeiro; da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Estado do Rio; e da Faculdade Fluminense de Medicina.
No dia 31 de outubro de 1948, o Diário Carioca publicou uma nota na coluna Fatos & Comentários exaltando Ether:
“Somos distinguidos com uma separata sobre “DIAFANIZAÇÃO DENTÁRIA NOS DOMÍNIOS DA ANATOMIA PATOLOGIA”, de autoria do eminente professor Agripino Ether, e que muito nos desvaneceu pela preferência. Aliás, esse Ether é das arábias, muito mais eficiente do que quantos outros éteres existam. Quando a gente vai pensando que ele vai entrar num período de descanso, após haver conseguido todas as honrarias odontológicas, ei-lo que surge com mais entusiasmo ainda. Que exemplo admirável! Quantos mais deste quilate precisamos! Já no próximo número, prometemos a publicação de ampla reportagem em torno do palpitante assunto focalizado o “jovem” Mestre nos Laboratórios do “Instituto Odonto Pedagógico Zeferino de Oliveira”. Agradecidos, professor Ether e fazemos questão de apoiá-lo “in totum” nas suas brilhantes pesquisas”.
Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Odontologia (instalada em 25 de outubro de 1949), que o homenageou como patrono da cadeira de nº 12. Na Academia Nacional de Farmácia é patrono da cadeira nº 98. Também na Academia Brasileira de Medicina Militar tem cadeira com Agripino Ether como patrono, a nº 97, da Secção de Odontologia.
Medalhas em sua homenagem foram criadas para o IV e o VI Congresso Internacional de Odontologia.
O Diretório Acadêmico Agripino Ether – DAAE, da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense, guarda a mais longeva homenagem dos estudantes a um dos seus mestres.
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Faleceu, em 22 de outubro de 1954, às 4h da manhã, na Clínica Santo Ignácio. Tinha 68 anos de idade. Foi vítima de colapso cardíaco espasmo coronariano.
Foi casado com Maria Soares de Araújo (*1894 em Maceió +17 de junho de 1978, no Rio de Janeiro), com quem teve os filhos Diney Soares Ether e Stenio Soares Ether. Após o desquite com Maria Soares, Agripino passou a ter como companheira Angelina Silva Ether.
Publicou:
Inverno, 1920 (palestra literária);
Ninféia, 1920 (palestra literária);
O Molar dos Seis Anos, conferência na Associação Médica Cirúrgica de Alagoas, 1922;
Homenagem à Memória de Rui Barbosa. Discursos Pronunciados na Academia Alagoana de Letras, Maceió, 1923;
Rui Barbosa, 1923 (estudo crítico);
Infecções em Foco, Revista Brasil Odontológico, 1925;
O Mercúrio nas Obturações Metálicas, Revista Brasil Odontológico, 1925;
Cinzas (poesia);
Mentira (poesia);
Rictus Faciais no Crime;
Silêncio, Rio de Janeiro, Empresa Número, 1931;
Moldagem em Prótese Buco-Facial, Rio de Janeiro, Ed. Pongetti, 1935;
Escute, Rio de Janeiro, Ed. Borsoi, 1938;
Odontologia ou Estomatologia, tese ao 2o. Congresso,
e muitos outros títulos científicos.
Teria deixado inéditos: Urubu e Florilégio.
Muito bom saber a história desse Alagoano q tanto engrandeceu sua terra bem como representou bem a nossa profissão Odontologia!
Parabéns!
Excelente blog!
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