A implantação da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Alagoas

O primeiro templo pentecostal desta instituição cristã foi inaugurado na Av. Moreira e Silva em outubro de 1922, após campanha de arrecadação de doações iniciada dois anos antes e que contou com ajuda de igrejas dos Estados Unidos e da Suécia. Era o resultado de um trabalho vitorioso que começou por acaso.

Em 1914, Simplício, um adventista maceioense desembarcou em Belém do Pará em busca do seu filho, que tinha ido trabalhar nos seringais daquela região. Encontrou o filho e também estabeleceu contato com o missionário sueco Gunnar Vingren, que era o pastor da Missão de Fé Apostólica — passou a ser Assembleia de Deus a partir de 1918 —, ali estabelecida em 18 de junho de 1911 por ele e pelo seu conterrâneo Daniel Berg. Estes missionários haviam desembarcado no Pará em 19 de novembro de 1910.

Simplício, após frequentar os cultos pentecostais, convidou o pastor sueco para visitar Maceió. Gunnar Vingren aceitou o que ele considerou um chamado de Deus. Partiu de Belém em 23 de abril de 1915, chegando à capital alagoana no dia 1º de maio de 1915. Hospedou-se na casa de Simplício, que morava no bairro do Poço na Rua da Areia, Estrada Nova, atual Av. Comendador Leão.

Como Simplício acreditava na doutrina pentecostal, mas mantinha vínculos com os adventistas, Gunnar Vingren deixou sua residência, passando a hospedar-se na casa de um cidadão de nome Candinho, que foi o primeiro alagoano a ser batizado, evento ocorrido no dia 28 de maio de 1915.

Quando deixou Maceió para voltar a Belém, onde chegou em 13 de julho de 1915, Vingren prometeu aos seis irmãos crentes que compunham o núcleo inicial, que enviaria um obreiro para prosseguir o trabalho iniciado.

Cumpriu a promessa e pouco tempo depois enviou o jovem casal sueco Otto Nelson e Adina Petterson Nelson, que haviam se deslocado dos Estados Unidos para Belém. Otto, então com 23 anos de idade, veio primeiro e chegou no porto de Jaraguá em 21 de agosto de 1915. Faltou dinheiro para a passagem da esposa, que somente chegou em Alagoas meses depois.

Quem recebeu Otto Nelson em sua residência foi um crente pescador chamado Balbino Gomes. Quatro dias depois, em 25 de agosto de 1915, a casa de Balbino, na Rua dos Pescadores, atual Rua José Marques Ribeiro no Trapiche da Barra, foi o palco da celebração do primeiro culto oficial da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Estado de Alagoas.

Estavam presentes somente seis crentes e dois deles foram batizados. A primeira foi Damiana da Silva, conhecida como irmã Zóia, que era descendente de escravos. Otto a descreveu como “preta como carvão, mas lavada no sangue de Jesus”. Foi ela quem propagou a igreja no litoral Norte de Alagoas.

Duas semanas após sua chegada à Maceió, Otto Nelson contraiu malária. Deixou registrado o período de convalescência: “Não tinha cama, somente uma rede. Nessa rede fiquei deitado por três meses inteiro, às vezes tremendo de frio, outras suando de febre. Foi uma luta de vida ou morte, e, se Deus não tivesse intervindo, e a minha querida esposa chegado do Pará para dar-me na última hora o cuidado que só a esposa pode dar, então meus dias de trabalho neste país teriam sido muito curtos e terminado antes de começar”. (Departamento Apostólico do Brasil, página 67, retirado do livro História da Assembleia de Deus em Alagoas, de José Laelson da Silva).

As provações do missionário continuaram e em 29 de novembro de 1917 o jornal Diário do Povo informava que Otto Nelson foi detido dois dias antes, no Alto do Farol, em Maceió, em virtude do clima antigermânico provocado pela 1ª Guerra Mundial.

Atribuíram a ele ataques à igreja católica e elogios aos alemães em suas pregações, o que provocou a “revolta da população daquele arrabalde. Perseguido pelo povo, o estrangeiro veio preso à presença do dr. Secretário do Interior, que o deteve para averiguações”.

Prossegue o jornal: “Ontem vimos o suposto pastor, no Alto de Farol, cercado de soldados, constando que fora buscar documentos em casa para provar que não é de nacionalidade alemã. Ele se chama Otto Nelson, como se vê no movimento da [Casa de] Detenção, e, pelo menos o seu primeiro nome é claramente alemão”.

Quando voltou a Alagoas em 1970, Otto Nelson, com 89 anos de idade, recordou desse episódio, descrevendo que desceu a Ladeira do Brito conduzido pela polícia e recebendo zombarias de uma multidão, que também lhe atirava frutas podres. Foi levado para a antiga cadeia, em frente ao Quartel da PM, onde pernoitou. Na manhã seguinte foi solto pelo governador de então, Batista Acioli, que foi pessoalmente liberá-lo no presídio.

Também teve problemas quando teve que sepultar seu terceiro filho. Como morava então na Rua Dr. Passos de Miranda, em Bebedouro, procurou o cemitério local, mas o padre Anacleto Brandão lhe negou esse serviço argumentando que o equipamento era da Igreja Católica e que não permitiria o sepultamento ali de um herege. Não satisfeito, o padre incitou a população contra o missionário e sua pretensão. O padre Antônio Anacleto Brandão de Oliveira era sobrinho de D. Antônio Brandão, primeiro bispo de Alagoas.

Otto somente consegui enterrar o filho quando o delegado soube dos obstáculos criado pelo padre e mandou uma escolta policial ao cemitério para garantir a cerimônia e o sepultamento do corpo da criança, realizado à noite com a iluminação de candeeiros.

O primeiro templo em Alagoas

Em 1920, com a igreja em franco crescimento, Otto e sua família visitaram a Suécia e os Estados Unidos em viagem de descanso e também em busca de doações para a aquisição do terreno onde se edificaria o primeiro templo pentecostal de Alagoas.

Durante esses dois anos de afastamento, quem ficou cuidando dos interesses da igreja em Maceió foi o já pastor Balbino Gomes, que soube manter a instituição em crescimento.

Com a volta de Otto Nelson, trazendo recursos, em 22 de outubro de 1922 foi inaugurado o templo-sede no Alto do Jacutinga, área mais conhecida como Alto da Santa Cruz. Era o terceiro a ser erguido no Brasil.

O evento contou com a presença de vários pastores e missionários suecos. A igreja tinha capacidade para 300 pessoas e contava ainda com um batistério.

Entre 21 e 28 de outubro de 1923 realizou-se a primeira Convenção Estadual, com a presença de Gunnar Vingren, e a primeira Escola Bíblica de Obreiros de Alagoas.

Em 1927, Otto Nelson e sua família foram para a Suécia onde permaneceram por dois anos. Na volta, em 1929, o pastor comunicou que deveria se afastar de Alagoas, mas que aguardaria o seu substituto.

Em 15 de maio de 1930, Otto Nelson foi para Salvador, na Bahia, com a missão de ali instalar mais uma sede da igreja. O seu lugar em Alagoas foi ocupado pelo missionário sueco Algot Svensson, acompanhado por sua esposa Rosa Svensson. Lamentavelmente, eles não suportaram a diferença climática e dois anos depois foram para Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi imediatamente substituído pelo pastor Antônio Rego Barros, que atuava no Ceará. Chegou a Maceió no dia 25 de outubro de 1931.

Foi durante sua gestão que, em 30 de agosto de 1942 inaugurou-se a nova sede da igreja, no mesmo local da primeira, mas ampliada para receber um número bem maior dos seus seguidores.

A Assembleia de Deus em Alagoas somente adquiriu personalidade jurídica em dezembro de 1946.

Em 10 de novembro de 1963, Antônio Rego Barros foi substituído na direção igreja em Alagoas pelo missionário Gustav Arne Johansson, que deu lugar, em 1º de janeiro de 1965, ao pastor Jovenal Pedro da Silva.

A partir de 1971, sob a direção do pastor Manoel Pereira Lima, foi construída a Casa Pastoral, Escola de Teologia, Abrigo de Idosos, novo templo sede e o prédio administrativo entre outras obras.

Com o falecimento do pastor Manoel Pereira Lima em 1986, assumiu a presidência da igreja o pastor José Antonio dos Santos. Em sua gestão foi adquirido o amplo terreno onde hoje funciona o estacionamento da Igreja Sede e estão edificados dois auditórios.

Quem substituiu o pastor José Antonio dos Santos, após o seu falecimento em 2015, foi o pastor José Orisvaldo Nunes de Lima.

Fonte principal:

https://adalagoas.com.br/noticias/16771/conheca-a-historia-da-igreja-evangelica-assembleia-de-deus-no-estado-de-alagoas