A histórica Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos

A histórica Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos

Quando esse empreendimento ainda se constituía, em 13 de março de 1892, era divulgado nos jornais como Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos Brancos, de Cores e de Ponto de Malha. O projeto surgiu por iniciativa do coronel Wenceslau José Baptista, um português que se estabeleceu no Pilar, Alagoas, no início da década de 1870 e foi naturalizado brasileiro em 6 de março de 1883. Era filho de Antônio José Baptista e de Joaquina Ferreira da Costa.

Comerciante e exportador bem-sucedido, o jovem Wenceslau logo casou-se com a pilarense Josepha Lopes Baptista (∗1852 †13 de fevereiro de 1917), filha de Firmino Lopes Cordeiro e de Rosa Lopes Cordeiro.

Tiveram os seguintes filhos:

1 – Taurino José Baptista – nasceu no Pilar em 11 de agosto de 1876. Era poeta. Foi redator chefe do Jornal do Recife (edição da tarde). Casou-se com Arlinda Nunes da Fonseca Baptista.

2 – Celsa Baptista – nasceu no Pilar em 23 de abril de 1880.

3 – Ascencia Baptista Cansanção – nasceu em Portugal em 17 de julho de 1884 e faleceu no Pilar em um parto no dia 19 de dezembro de 1905. Casou-se em 7 de janeiro de 1904 com o médico José Júlio Bezerra Cansanção (nasceu em 11 de abril de 1868 em São Miguel dos Campos e faleceu em 1958). Era bisneto da histórica Ana Lins.

4 – Celso José Baptista, nasceu no Pilar em agosto de 1885 e faleceu em 29 de setembro de 1905. Tinha 19 anos de idade e estudava Direito.

5 – Heldebrando Baptista (∗1887 †19 de julho de 1939 em Recife). Era médico.

6 – Aurino Baptista (∗1888).

7 – Álvaro Baptista – nasceu no Pilar em 1º de abril de 1890.

8 – Decidério Baptista – nasceu no Pilar em 25 de outubro de 1891.

9 – Arlinda Baptista S. Cavalcante (*1892). Casou-se em janeiro de 1910 com José Lopes Cavalcante.

10 – Wenceslau José Baptista Filho, advogado.

11 – José Baptista (era acadêmico de Direito em Recife em 1917)

Praça da Matriz no Pilar

Com a adesão de vários acionistas, a Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos foi oficialmente constituída em 13 de março de 1892. O capital inicial foi de 200:000$000, elevado depois para 400:000$000. O tesoureiro era Santos Falcão e o escritório funcionava na Rua Alagoas, nº 45, 1º andar, no Pilar.

Quando entrou em funcionamento, em outubro de 1893, a fábrica ocupava uma área de 2.340m2. Era movida a vapor, produzindo 200 hp em suas caldeiras. Operava com as seguintes secções: batedores, fiação, enroladores, tecelagem e tinturaria. O mestre dos teares era o inglês Thomaz Fielding. Recebia por seus serviços mais de 10 mil contos de réis por ano.

Wenceslau José Baptista conviveu com a fábrica em funcionamento por apenas dois meses e alguns dias. Em 15 de dezembro de 1893 faleceu tragicamente, quando a trave de uma casa caiu sobre sua cabeça.

No início do ano seguinte, a Pilarense passou a ser dirigida por Antonio Casado Lima Jatobá, Pedro de Araújo Lima e Dr. Manoel Ramos de Araújo Pereira.

Essa diretoria levou a empresa a produzir, em 1900, 12.551 peças de tecidos diversos, com 512.442 metros. No ano seguinte, a Pilarense de Fiação de Tecidos operou com 180 operários, 96 deles eram mulheres. Utilizou ainda 49 homens e 35 menores. Recebiam entre 3$000 e 6$000 por 10 horas de trabalho/dia.

Em meados da primeira década do século XX, a diretoria já apresentava a participação dos herdeiros de Wenceslau José Baptista, a exemplo do seu genro, o já viúvo Dr. José Júlio Cansanção, que dividia a direção da fábrica com José Francisco de Moura Cunha e Dr. Manoel Ramos de Araújo Pereira.

Taurino José Baptista, o filho mais velho de Wenceslau, iniciava também nesse período sua participação nos destinos do empreendimento criado por seu pai. Em 1908 já era ele o principal dirigente da Pilarense, coincidindo com o afastamento do Dr. Manoel Ramos de Araújo Pereira, pai do consagrado, e também médico, Arthur Ramos. Seu cunhado, Dr. José Júlio Cansanção, e Manoel Remígio de Oliveira completavam a diretoria. Taurino José Baptista faleceu no dia 25 de fevereiro de 1927, em Recife.

Não foi possível identificar até quando durou o controle dos “Baptistas” sobre a Pilarense, mas em 1922, no livro Terra das Alagoas, surge a seguinte informação: “A situação da empresa até 1900 era próspera depois, segundo parece, decaiu um pouco. Hoje está entregue a sua direção à firma Peixoto & Cia, cujo tato industrial certamente dará uma nova orientação aos negócios dessa magnífica empresa”.

Estrada do Pilar em frente à Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos

Registro desta nova administração da Pilarense foi encontrado em 1927, quando o industrial Álvaro Peixoto aparece como seu presidente, tendo como diretor-gerente Amphilophio Remigio.

Em 1930, a fábrica tinha um capital de mil contos de réis, operando 180 teares pelas mãos de 250 mulheres e 100 homens. Oferecia moradia para os operários em 90 casas.

Com escritório na Rua da Alfandega, 486 (atual Sá e Albuquerque), em Jaraguá, a Pilarense era dirigida, em 1933, por Amphilophio Remigio de Oliveira, Álvaro Peixoto e Eduardo Silva.

Anúncio de maio de 1943

Em outubro de 1943, a Companhia Industrial Fiação e Tecidos de Goiana (PE), então presidida por José Albino Pimentel Filho, adquiriu, em parceria com e o seu acionista José Albino Pimentel (firma José Albino Pimentel & Cia), quase todas as ações da Pilarense. Valiam Cr$ 4.962.099,10.

Quem ficou administrando a fábrica para esse grupo foi Hilton de Lima Pimentel, que levou a empresa a ter, em 1946, 1.103 operários trabalhando em 301 teares com 11.288 fusos. Foi durante sua gestão que a fábrica adquiriu o Cinema Éden e o modernizou, já sob o nome de Cine Pilarense. Foi ele também que ordenou a construção do Cassino Pilarense. Nesse período, o diretor-técnico era Aluísio Albino Pimentel.

Segundo o historiador pilarense Sérgio Moraes, na gestão de Hilton Pimentel o gerente do cotonifício era Octacílio Silveira Cavalcanti, um filho de Murici que trabalhava em Goiana, Pernambuco, nas tecelagens de José Albino Pimentel. Tinha apenas o 4º ano primário e foi um dos idealizadores e executores da obra da vila operária para funcionários da fábrica.

“Em razão de seu prestígio e humanismo, se elegeu vereador, foi prefeito com a renúncia do irmão de Hilton Pimentel, e depois deputado estadual, onde esteve em oposição a Muniz Falcão, sendo um dos articuladores do impeachment do governador. Estava nas trincheiras da Assembleia Legislativa naquele 13 de setembro de 1957″, informa Sérgio Moraes, um incansável defensor da memória pilarense.

Com um novo capital de Cr$ 3.000.000,00 e Cr$ 25.000.000,00 de capital em movimento, ainda em 1946, a Pilarense expandiu sua vila operária com a construção de 180 casas, parte de um projeto de 500 unidades.

Essa vila contava com uma escola, cassino recreativo, conjunto musical (H. P.), assistência médica sob a direção do clínico dr. Eloi Melo, um ambulatório para serviço hospitalar de emergência, serviço dentário aos cuidados do dr. Renato Ribeiro.

Companhia Pilarense em 1946 na Revista Ilustração Brasileira

Fruto do reconhecimento do seu trabalho, nas eleições ocorridas em 19 de janeiro de 1947, Hilton Pimentel conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa de Alagoas. Foi candidato pelo PSD, mesmo partido do governador eleito, Silvestre Péricles, com quem se desentendeu já nos primeiros dias de mandato, criando uma cisão no partido.

No dia 1º de maio de 1948, durante as comemorações do Dia do Trabalhador no município do Pilar, então denominado Manguaba, o deputado Hilton Pimentel foi detido, agredido e desarmado pelo delegado de Polícia e alguns capangas, que cumpriam orientação do governador. Foi forçado a assinar um documento se declarando criminoso.

Em outubro de 1948, na véspera da eleição municipal no Pilar, Silvestre visitou a cidade e se desentendeu com um operário, esmurrando-o. Em seguida, exibindo sua arma, pôs todo mundo para correr.

Em 22 de junho de 1950 circulou a notícia que o deputado Hilton Pimentel havia vendido a fábrica e estava retornando a Pernambuco. Seu irmão, então prefeito do Pilar, renunciou ao mandato e também foi embora. Em 1952 venderam as ações para a Usina Coruripe, de Tércio Wanderley.

Com o usineiro, assumiram a direção Prasildo Medeiros Wanderley, diretor-tesoureiro, e Antônio Joaquim de Castro, diretor-técnico. O Conselho Fiscal era formado por: José Dionízio Sobrinho, Antônio Ribeiro Casado e João Marques Valente.

A fábrica estava irregular, com equipamentos obsoletos e devendo ao Banco do Brasil. Mesmo assim, Tércio Wanderley utilizou de toda sua experiência e conseguiu negociar a dívida com o gerente Félix Lima Júnior. A recomposição da dívida foi aprovada na assembleia da Pilarense de 12 de março de 1956.

A Usina Coruripe se desfez da fábrica meses depois. Em setembro de 1956, o controle acionário mudou de dono e a empresa passou a ser dirigida por Luiz dos Anjos, que também não conseguiu mantê-la em funcionamento. Fechou as portas em setembro de 1957 e decretou falência em 1958.

O Banco do Brasil foi em busca do dinheiro emprestado e procurou Tércio Wanderley, comunicando que ele não poderia ter transferido a empresa sem o consentimento do banco. Tércio mostrou então que tinha a autorização do antigo gerente, Félix Lima Júnior. Como o documento não constava nos registros daquela instituição bancária, a Usina Coruripe teve que pagar a composição acertada em 1956. O contrato foi assinado em 29 de dezembro de 1959 e a Usina pagou Cr$ 21.295.825,20.

Em setembro de 1961, o Cotonifício Santa Rita S/A, fundado em 1º de dezembro de 1960 no Pilar por um grupo oriundo de Limoeiro, Pernambuco, apresentou o seu primeiro relatório externando o esforço e as incertezas para a regularização do acervo adquirido da falida Companhia Pilarense. Cita o relatório que a maquinária estava abandonada pela não utilização, os edifícios estragados e as canalizações quase todas obstruídas.

Puseram quase tudo a funcionar, mesmo com a carência de pessoal especializado. Dois problemas impediam então a regularização: obtenção da Patente de Registro — que foi conseguida — e o aumento do preço dos combustíveis. O consumo do motor principal, de 750 hp, era de 180 litros diários. O óleo, que custava Cr$ 6,50 o litro, passou em meses para Cr$ 12,50. As concorrentes operavam com energia da Chesf, barateando o preço final.

Chaminé da Pilarense, onde funcionou uma fonte da Água Mineral Dias D’ávila

O governador de Alagoas prometeu levar energia elétrica até a fábrica e garantiu a isenção de impostos estaduais para os produtos ali fabricados. Como tudo isso estava demorando muito, os empresários transferiram os equipamentos para Pernambuco, onde o governo apoiou com prontidão as necessidades da fábrica ali montada.

O Cotonifício Santa Rita S/A era dirigido por Octaviano Heráclito Duarte, presidente; Aldo de Arruda Cabral, gerente; Inácia Dutra Duarte, tesoureira; Rita Heráclito Duarte Cabral, secretária; e Luiz Heráclito Duarte, comercial.

Era o fim da Pilarense. Dela sobrou somente sua história e a chaminé.

4 Comments on A histórica Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 8 de outubro de 2024 em 08:02 //

    Bom dia, prezado Ticianeli. Grato pela publicação desta reportagem. Muito triste o desfecho da Companhia.

  2. José Nascimento // 8 de outubro de 2024 em 11:05 //

    👍👏👏👏👏👏

  3. Caro TICIANELLI, como sempre uma história Fantástica aqui do nosso PILAR e de ALAGOAS. Faltou citar Octacílio Silveira Cavalcanti que com apenas o 4º ano primário, foi responsável pela implantação da Companhia Pilarenses de Fiação e Tecidos em 1943 quando chegou em Pilar juntamente com Hilton Pimentel para ser o gerente do cotonifício.
    As benfeitorias citadas na matéria foram ideias deste muriciense que migrou para Pernambuco ainda criança, residindo primeiro em Moreno e depois em Goiana, onde trabalhava nas tecelagens de José Albino Pimentel.
    Foi um dos idealizadores e executores da obra da vila operária para funcionários da fábrica.
    Em razão de seu prestígio e humanismo se elegeu vereador, foi prefeito com a renúncia do irmão de Hilton Pimentel e depois Deputado Estadual onde esteve em oposição a Muniz Falcão sendo um dos articuladores do impeachment do governador. Estava nas trincheiras da Assembleia Legislativa naquele 13/09/1957.

  4. Perfeito, meu caro Sérgio. Incorporei suas importantes contribuições ao texto, citando devidamente a fonte. Obrigado, amigo!

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