A história do telégrafo em Maceió
Foi o engenheiro francês Claude Chappe (25 de dezembro de 1763 – Paris, 23 de janeiro de 1805) quem criou o primeiro sistema ótico de comunicação. A ideia era antiga, mas ainda não tinha sido executada. Contando com a ajuda dos seus irmãos, principalmente de Ignace Chappe (1760-1829), um destacado líder da Revolução Francesa, apresentou seu sistema de comunicação em 1790.
A primeira linha de retransmissão foi montada em 1794, interligando Paris e Lille (190 quilômetros) por meio de 15 estações. Eram postes sinalizadores com duas hastes móveis conectadas por uma barra transversal. As combinações das diversas posições permitiam codificar até 196 sinais.
O operador utilizava dois telescópios para ler as torres vizinhas, que ficavam a uma distância entre 12 e 25 quilômetros. Funcionava para despachos de guerra.
Foi utilizado na França até 1852, mas de 1846 em diante passou a competir com o novo sistema de linha de telégrafos elétricos, que foi questionado inicialmente por sua ser facilmente sabotado com o corte dos fios.
No Brasil, os primeiro telégrafos ópticos foram construídos em 1809, interligando as cidades de Cabo Frio e Rio de Janeiro. Funcionavam principalmente avisando a chegada de embarcações, identificando a sua nacionalidade e realizando a comunicação delas com os portos.
O de Recife começou a emitir sinais em 24 de agosto de 1857. Utilizava balões coloridos no lugar das bandeiras. Uma experiência anterior tivera início entre 1817 e 1821. Ficava na torre da igreja do Colégio dos Jesuítas.
O serviço de telégrafos óticos foi regulamentado pelo Decreto nº 3.050, de 7 de fevereiro de 1863. Cuidava exclusivamente do anúncio de navios.
No ano seguinte, o Decreto nº 3.288, de 20 de junho, uniu as diretorias dos telégrafos ópticos com a dos elétricos sob o argumento que assim haveria economia. Mantinha-se funcionando os aparelhos óticos, mas como linhas auxiliares. Com os seus funcionários distribuídos pelas estações do telégrafo elétrico, foi criada então a Repartição dos Telégrafos.
Em Maceió, somente entrou em funcionamento em 1º de março de 1877, quando foi abolido o sistema de tiros de canhões. Seu mastro ficava ao lado do Farol, atrás da Catedral. Inicialmente era o 1º faroleiro, Thomaz de Aquino da Silva Loureiro, quem o manipulava. Passou a receber pequena gratificação pelo acúmulo das funções.
Há indícios de que antes desta data já funcionava em Maceió um sistema semelhante. Uma ilustração de meados do século XIX, anterior ao início da construção da Catedral, que foi inaugurada em 31 de dezembro de 1859, mostra ainda a antiga Matriz e, no Alto do Jacutinga, o Paiol da Pólvora, Casa da Guarda, um canhão e o mastro de um telégrafo óptico.
A partir de 9 de julho de 1882 ficou estabelecido que o telégrafo óptico, ou semafórico, de Maceió adotaria os mesmos sinais utilizados nos portos de Pernambuco, com um jogo de cinco bandeiras, simplificando o serviço.
O novo modelo tinha um mastro cruzado por uma haste. O sinal feito no braço do sul indicava as embarcações vindas do Sul; do topo do mastro, as vindas do Leste; e o do braço do Norte as que vem deste rumo. Todos os sinais relativos ao mesmo navio são feitos no lugar onde principiaram.
Em uma das suas codificações, tinha as seguintes bandeiras:
Azul quadrangular nº 1
Encarnada quadrangular nº 2
Azul triangular nº 3
Encarnada triangular nº 4
Encarnado e azul triangular nº 5.
De acordo com suas combinações, transmitiam as seguintes informações:
Aparece embarcação – nº1
Aparecem duas embarcações – nº2
Aparecem três embarcações – nº3
Anula o sinal precedente – nº4
Vai se fazer sinal dos navios entrados à noite – nº 5
Vapor – nº 1 e nº 2
Galera – nº 1 e nº 3
Barca – nº 1 e nº 4
Brigue – nº 1 e nº 5
Brigue escuna – nº 2 e nº 1
Patacho ou sumaca – nº 2 e nº 3
Lúgar – nº 2 e nº 4
Escuna – nº 2 e nº 5
Palhabote – nº 3 e nº 1
Iate ou cúter – nº 3 e nº 2
Argentino – nº 3 e nº 4
Austríaco – nº 3 e nº 5
Brasileiro – nº 4 e nº 1
À noite utilizavam-se foguetões. Um foguete significava que um navio estava entrando no porto. Dois foguetes com intervalo de dois minutos indicavam que um navio estava em perigo.
Para entender os sinais, havia um regimento, que era vendido nas livrarias da cidade.
Em caso de incêndio, em terra ou num navio, o telegrafo semafórico também funcionava, hasteando o galhardete azul e encarnado. Se fosse à noite, três foguetões seriam ouvidos, com intervalo de dois minutos.
Em novembro de 1897, governo federal adotou novo regimento de sinais do telégrafo óptico.
Os jornais de Maceió se referiam a ele como “a semáfora”. O Gutenberg de 30 agosto de 1911, ao informar que o senador Araújo Jorge seria recepcionado em Maceió, após viagem pelo Acre, orientava que bondes especiais conduziriam os amigos para o desembarque em Jaraguá, partindo da Praça dos Martírios, na hora em que “a semáfora der sinal do vapor em que viaja s. exc.”.
Esse sistema funcionou na maioria das capitais litorâneas até o início da década de 1920. Em Recife, por exemplo, sua desativação foi marcada para o dia 10 de outubro de 1921. Houve reação das companhias de navegação e continuou sendo utilizado ali por mais alguns anos.
Em Maceió, segundo Félix de Lima Júnior, funcionou até uma data próxima a 1925. Mas desde 1864 que a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Império já avaliava que o sistema ótico deixaria de ser utilizado à medida que fosse instalado o telégrafo elétrico.
Telégrafo elétrico
Depois que Alessandro Volta apresentou ao mundo a sua pilha elétrica em 1800, surgiram vários experimentos utilizando esse recurso na telegrafia. O que superou todos os outros foi o do professor e pintor norte-americano Samuel Morse e do seu assistente Alfred Vail, patenteado em 1837.
O sistema apresentado por eles não precisava de um operador constantemente observando o receptor. Seu código de pontos e traços registrados numa fita de papel tornou viável a telegrafia. Um detalhe: o código utilizado universalmente por décadas não era o original, mas um melhorado em 1848 pelo alemão Friederich Clemens Gerke.
A primeira linha de telégrafo funcionou nos EUA em 1844. Interligava Baltimore a Washington.
No Brasil, a telegrafia elétrica foi inaugurada com a instalação de uma linha na cidade do Rio de Janeiro em 11 de maio de 1852, com o incentivo do imperador D. Pedro II. Utilizava um cabo subterrâneo entre o Palácio de São Cristóvão e o Quartel Central no Campo da Aclamação, atual Campo de Santana. O trabalho foi coordenado pelo físico Guilherme Schüch de Capanema e executado pelos presos da Casa de Detenção.
Frei Caetano de Messina, o “Missionário Gigante”, não aprovou a invenção e deixou isso muito claro: “o telégrafo é uma obra do diabo e os bancos invenção do inferno”.
A regulamentação dos serviços telegráficos no Brasil foi definida pelo Decreto nº 3.288, de 20 de junho de 1864. Por esta norma, a Repartição dos Telégrafos deixava a pasta da Justiça e ficava subordinada à Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
Outro enorme avanço teve telegrafia no Brasil quando passou a utilizar cabos marítimos a partir da década de 1870. Com isso, foram permitidas as conexões intercontinentais. As primeiras linhas pelo mar interligavam Pernambuco ao Pará e o Brasil a Portugal e Cabo Verde.
Os projetos para a montagem de uma rede nacional de telegrafia entre as principais cidades brasileiras começaram a ser trabalhados a partir de 1861, com muitas dúvidas sobre quem deveria instalá-la, se o governo ou as empresas privadas. Também se discutia se seriam linhas aéreas, subterrâneas ou submarinas, e até as técnicas utilizadas para sua construção.
Nada se decidia, até que em dezembro de 1864 teve início a chamada Guerra do Paraguai e a Repartição Geral dos Telégrafos resolveu organizar uma campanha nacional para instalar uma linha da Corte, no Rio de Janeiro, até a zona de guerra.
Assim, em setembro de 1865, com o apoio das autoridades municipais e dos proprietários das terras, que também contribuíram com parte das despesas com mão-de-obra, além de fornecerem os postes de madeira, teve início a obra. Rapidamente foram vencidas 17 barras, onde se utilizaram cabos submarinos (que em pouco tempo se deterioraram) e a conexão se fez em junho de 1866, dez meses após ter iniciada sua instalação.
Linha para Pernambuco
Com a guerra chegando ao fim, o que aconteceu em 1870, o projeto de expansão da rede telegráfica em direção ao Norte não contava mais com a empolgação gerada pela campanha anterior e muito menos com o apoio dos proprietários e comerciantes.
Em Pernambuco, foi a Associação Comercial Beneficente a primeira a cobrar uma linha telegráfica entre sua capital, Recife, e a Corte. O governo imperial respondeu dizendo que não tinha orçamento para a obra e que precisaria da ajuda das Províncias.
O auxílio aconteceu com a Associação Comercial de Pernambuco oferecendo 700:000$000, que deveriam ser pagos posteriormente pelas províncias beneficiadas pela linha telegráfica (Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco). Não se sabe quais províncias participaram desse rateio.
Com esse recurso, trecho a trecho foi se estabelecendo a interligação. Maceió passou a ser atendida a partir de 1873, quando também foi inaugurada a estação de Itapemirim. Vitória e Salvador receberam os fios em 1874. Os “arames” chegaram à capital da Paraíba em 1875 e no Rio Grande do Norte no ano seguinte.
Depois de uma breve interrupção, em 26 de fevereiro de 1881 foi entregue a linha até Fortaleza. A última capital interligada nessa etapa foi São Luís do Maranhão. A inauguração da rede do Norte se deu em 14 de dezembro de 1884. No ato, em apenas seis minutos foram trocados telegramas entre Montevidéu, a Corte e São Luís. Belém do Pará somente entrou em comunicação com essa rede em 1886.
O Brasil de 1889 ostentava 10.755 quilômetros de linhas telegráficas, utilizando 18.488 quilômetros de fios condutores. Existiam 173 estações em funcionamento quando houve a proclamação da República. Apenas Goiás, Mato Grosso e Amazonas não possuíam telégrafo.
Telégrafo elétrico em Maceió
O serviço telegráfico entre Maceió e Recife começou a funcionar em 7 de abril de 1873. Não houve inauguração por não se ter ainda o edifício apropriado para a estação. Isso somente aconteceu cinco dias depois, em 12 de abril, quando também se iniciaram as comunicações entre Pernambuco e a Bahia.
As estações de Maceió e Recife eram chefiadas pelo engenheiro civil Matheus Nogueira Brandão.
Poucos dias após a inauguração, a comunicação pela linha telegráfica entre estas capitais já tinham sido interrompidas, como noticiou o Diário de Pernambuco de 21 de abril de 1873 ao publicar o ofício dirigido ao presidente da Província de Pernambuco pelo engenheiro José Francisco Coelho:
“N. 19. – Distrito telegráfico do Recife a Maceió. Recife, 18 de abril de 1873.
Ilmo. Sr. Tendo sido encontrado em diversos lugares, alguns isoladores do fio telegráfico para Maceió quebrados, e atribuindo ser isso devido a pessoas menos escrupulosas em danificarem a linha. arremessando projéteis sobre os ditos isoladores, que, sendo de porcelana, são sujeitos a partir-se; e resultando, em consequência, não poder haver comunicação telegráfica como ora acontece; julgo do meu dever levar esse fato ao conhecimento de V. Exc.ª. para que se digne mandar as suas ordens, a fim de que tenha execução o disposto nos arts. 282 a 285 do regulamento da repartição dos telégrafos, aprovados pelo decreto número 4653 de 28 de dezembro de 1870.
Deus guarde a V. Exc. Ilmo e Exm. Sr. Dr. Henrique Pereira de Lucena, muito digno presidente da província de Pernambuco. — José Francisco Coelho, engenheiro da linha telegráfica.
Artigos do decreto nº 4653, de 28 de dezembro de 1870 a que se refere o ofício acima mencionado.
Art. 282. É proibida qualquer pessoa:
1º Plantar árvores ou quaisquer vegetais que se embaracem nas linhas, ou fazer qualquer cultura obstruindo o caminho de serviço dos guardas.
2º Atar animais aos postes.
3º Fazer Covas em lugares donde as chuvas possam levar a terras que estraguem os postes, impeçam o trânsito dos guardas, ou obstruam os esgotos feitos para a segurança da linha.
4º Vedar de qualquer modo o escoamento da linha.
5º Depositar materiais ou quaisquer objetos quer na linha quer em lugar onde possam correr para ela.
6º Fazer queimada nas proximidades das linhas, de modo que possa estragá-las.
7º Jogar qualquer objeto sobre os fios ou causar-lhes dano de qualquer medo.
Penas: multas de 50$ a 100$, além da obrigação de reparar o dano causado, e de remover os obstáculos criados nas linhas.
Na reincidência, a multa será levada até 200$.
Art. 283. É também proibido:
1º Derrubar postes, quer tenham sido fincados, quer sejam nativos.
2º Destruir qualquer obra, ou serviço feito nas linhas.
3º Cortar ou arrancar madeiras plantadas ou preservadas para o serviço das linhas.
Aos infratores será aplicada à disposição do art. 178 do código criminal.
Art. 284. Qualquer pessoa que impedir o trânsito dos guarda das linhas por qualquer modo, será punido com uma multa de 50$ a 100$ e prisão de um a dois meses, conforme a gravidade do fato.
Art. 285. É também proibido depositar materiais inflamáveis a menos de 50 braças de distância de qualquer linha, sob pena de 50$ de multa, além de responder o infrator, civil e criminalmente, por qualquer dano causado”.
A ligação foi reestabelecida dois dias após, em 20 de abril. No dia 9 de maio de 1873, o jornal A República (RJ) publicou um comunicado da estação central dos telégrafos confirmando o reestabelecimento da comunicação:
“Funciona a linha entre o Recife e Maceió, recebem-se telegramas para serviço de experiência que deve durar algum tempo, a fim de se conhecer as providências especiais que ali exige a conservação: medida esta cujo acerto já os fatos confirmaram por ter aparecido um novo elemento hostil ao telégrafo que tem que ser combatido. Os jangadeiros faziam em casos urgentes os serviços do correio entre as duas capitais de Pernambuco e Alagoas, no intervalo dos vapores: o telégrafo tirou-lhes essa fonte de lucro e assentaram-se vingar arrancando postes, quer próximo ao Recife, quer a Maceió.
Além disso, no Recife, ainda não há edifício adequado para a estação telégrafos”.
Em 1881, a estação de Maceió era dirigida por Pedro Rodrigues Soares, que substituiu a João Muniz Pereira Júnior, levado a chefiar a estação de Recife.
No ano seguinte, Pedro Rodrigues Soares explicava as novas taxas do Telégrafo Nacional: palavras com mais de 10 letras contava como duas palavras; Não se pode alterar o correto uso das línguas; os telegramas em idioma estrangeiro, ou apresentados à noite, pagam a mesma taxa dos telegramas ordinários. Quem registrasse o nome ou a firma na estação, poupava essas palavras na hora de pagar as taxas.
A partir de 1886, com a inauguração da linha do Pará, houve aumento de expediente para o telégrafo, o que levou a diretoria a estabelecer novos horários em Alagoas, facilitando a transmissão do serviço entre o Pará e o Rio de Janeiro. Em Maceió, entre às 12h30 e 15h30, não se recebia mais telegrama de outras localidades.
Em 1890, funcionavam em Alagoas sete estações telegráficas:
Uma de 1ª ordem (Maceió) e seis de 2ª e 3ª ordens (Pilar, São Miguel, Coruripe, Penedo, Porto Calvo e Camaragibe).
Analisava-se a instalação de uma em São Luiz do Quitunde e outra em Alagoas (Marechal Deodoro), ali por causa do orfanato e de uma escola instrutora do Exército.
Em Maceió, o movimento médio era de 24 mil telegramas por ano. A estação tinha o seguinte pessoal: Chefe, um telegrafista, quatro adjuntos e dois estafetas.
Na estação de Maceió funcionava também um centro telefônico de 50 linhas, que interligava as repartições públicas e o bairro de Jaraguá ao centro de Maceió.
Em 1890 Alagoas estava subordinada ao distrito com sede em Recife, então dirigido pelo engenheiro chefe Álvaro de Mello Coutinho de Vilhena. O chefe da estação de Maceió era o telegrafista de 1ª classe José Luiz de Carvalho. Os serviços externos das linhas ficavam ao encargo do Inspetor de 2ª classe Leôncio José Pereira de Farias.
O chefe da Estação de Maceió em 1892 era Coryntho Freire de Mello. Nesse mesmo ano, em 20 de fevereiro, foi inaugurada a Estação de Pão de Açúcar.
Em 1896 Alagoas tinha 20 estações telegráficas.
Por causa de suas assinaturas em uma nota, sabe-se que eram funcionários do Telégrafo de Maceió, em 5 de março de 1896, os seguintes servidores: J. F. Souza Leite, Manoel Souto Bivar, Ignácio Jatobá, Florippe Pessoa, Ricardo J. da Costa, Luiz Lavenère Wanderley, Ernesto Lopes P da Costa, Arthur Gordilho Cunha, Francisco F. da S. Braga, Manoel Pinto Lisboa Filho, Tito Augusto de B. Correia, Juvenal Costa, Benjamim O. Falcão, Silvino D. Muniz, Cícero T. Wanderley do Rego e José Antônio Duarte.
O Telégrafo Federal transmitia, em 1902, 1.201.849 telegramas por meio de linhas com a extensão de 44.640 quilômetros. Em 1911 eram 2.835.972, com linhas de 59.660 quilômetros.
Esses fios telegráficos, em 1961, mediam cerca de 78 milhões de metros.
Em 1906, o dr. Amaro Batista promovido a engenheiro chefe de distrito. Exercia interinamente esse mesmo cargo no distrito de Alagoas.
Arruda Beltrão era o diretor do Telégrafo Nacional em Alagoas e Sergipe no ano de 1910. Três anos depois foi nomeado chefe do distrito telegráfico de Alagoas o dr. Jocelyn Cardoso, que já tinha exercido esse mesmo cargo antes.
Radiotelegrafia
A telegrafia sem fio, utilizando transmissões de rádio, foi desenvolvida pelo italiano Guglielmo Marconi. O sucesso na troca de mensagens, em 12 de dezembro de 1901, entre Poldhu em Cornwall, Inglaterra, e Newfoundland, no Canadá foi considerada como uma verdadeira revolução nas comunicações.
Com o baixo custo para sua instalação, a radiotelegrafia rapidamente passou a ser utilizada, principalmente pelas embarcações, que facilmente informavam aos portos a sua aproximação. Por isso era conhecida como Telegrafia dos Mares.
Como surgiram também novos sistemas e a competição entre as empresas dificultavam as conexões, foi convocada para Berlim, em 1903, a Conferência Preliminar de Telegrafia sem Fio. Buscava-se a regulamentação do seu uso.
Para o Brasil, um país de dimensões continentais, a radiotelegrafia era estratégica. O governo via nela a possibilidade de alcançar as remotas comunidades interioranas, onde era impraticável a chegada da telegrafia por fio.
As primeiras tentativas da exploração desse sistema por concessão para empresas privadas aconteceram na região Norte em 1902, nos estados do Pará e do Amazonas. Houve reação da Câmara dos Deputados, que defendia o monopólio da União sobre o serviço. Foi decretado então, em 1907, que “É de exclusiva competência da União a montagem de estações radio-telegráficas e a exploração dos respectivos serviços”. As concessões poderiam acontecer, mas a título precário.
A primeira estação de Telegrafia Sem Fio entrou em funcionamento no dia 11 de junho de 1909, no morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Em 1910 a Repartição Geral dos Telégrafos expandiu a radiotelegrafia por centelhamento para as estações das capitais do litoral brasileiro.
Oficialmente, esse sistema somente foi inaugurado em 1913, quando houve a incorporação pelo Estado das três estações “sem fio” de Belém, Santarém e Manaus.
Essas duas concessões, para o Amazonas e Pará, estavam nas mãos da “Amazon Wireless Telegraph & Telephone Company”. Por lei, se continuassem como particulares, não podiam trafegar informações entre estados.
Após essa fase inicial, a primeira empresa estrangeira a explorar esse serviço no Brasil foi a Companhia Radiotelegráfica Brasileira (Radiobrás), uma subsidiária da Radio Corporation of America (RCA). Esteve no país de 1919 até a década de 1970.
O professor e historiador Álvaro Queiróz lembra que em Maceió a Western Telegraph Company Limited foi instalada no bairro de Jaraguá em 21 de abril de 1922 e que ali funcionou até o final de 1973.
Em 1931, por força do Decreto nº 20.859, de 26 de dezembro, a Diretoria Geral dos Correios se fundiu com a Repartição Geral dos Telégrafos, surgindo como autarquia federal o Departamento dos Correios e Telégrafos. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi criada em 20 de março de 1969, como empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações.
Em abril de 1953, a Câmara dos Deputados discutia a abolição da radiotelegrafia nos aviões comerciais, adotando-se a radiofonia. Houve reação, principalmente dos rádios-operadores de bordo, que perderiam suas funções nos aviões. O teletipo, adotado pelas agências internacionais de notícias United Press, Reuters e Associated Press, também fazia estragos na profissão.
Os telegramas tentaram sobreviver mesmo quando a internet começou a se impor. Surgiu então um sistema híbrido, com os dados captados na web na agência mais próxima do destinatário, onde eram impressos e envelopados sem a mediação humana. Essas transmissões se iniciaram em 2001 e chegaram a apresentar um certo crescimento entre 2007 e 2012. Em 2013, o fluxo eletrônico atendia a 87% da demanda.
Os usuários que permanecem utilizando telegramas são em número cada vez menor. Os principais são os bancos e órgãos públicos. O telegrama é ainda considerado um documento oficial. As instituições financeiras enviam por ele os extratos e comunicações aos correntistas. As empresas o utilizam para suas cobranças extrajudiciais, perícias médicas e convocações para concursos.
Vários países já abandonaram o seu uso: Irlanda (2002), Suécia (2002), EUA (2006), Índia (2013), Bélgica (2017), entre outros.
Muito grato, prezado Ticianeli, pela análise.
Engraçado como em finais dos anos 90, ainda se insistia em ensinar alunos pré-adolescentes a redigir telegramas corretamente, como foi o meu caso e o de milhares de jovens já começando a mexer com “as máquinas complicadas que são os computadores”. Embora a relevância do conhecimento sobre a redação de um telegrama seja algo bastante duvidoso para constar em textos escolares em todo o Brasil num passado recente, não há dúvidas de que o conhecimento histórico da tecnologia que durou mais de 100 anos é relevantíssimo e ajuda-nos a compreender e melhor visar nosso presente e futuro.