A catedral de Maceió
A Matriz da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres foi inaugurada pelo imperador D. Pedro II em 31 de dezembro de 1859
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Os primeiros documentos sobre Maceió citam a existência de um engenho na área onde hoje está situada a Praça D. Pedro II. Como em quase todos, lá estavam a casa grande e uma capela cujo orago era São Gonçalo do Amarante, devoção carmelitana.
Anos depois, a capela fazia parte de um sítio que o padre Antônio Ferreira da Costa deixou para seu filho Bento Ferreira. Foi este quem fez a doação desta terra à igreja católica, como ficou registrada em uma escritura de 1787.
Esta capela, em 1762, já tinha a invocação de N. S. dos Prazeres e não era mais o templo primitivo, do tempo do engenho.
Quando, em 5 de julho de 1819, foi criada por alvará a Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres, a imagem de São Gonçalo continuou na capela, em um nicho lateral, e lá permaneceu até 1888, quando foi levada para a antiga Casa da Pólvora transformada em capela no Alto do Jacutinga, hoje Farol.
Como no tempo do Império do Brasil a Igreja Católica tinha poderes por ser o catolicismo a religião oficial do Estado (padres e bispos recebiam salários) era natural que a estrutura administrativa civil não fosse distinta da estrutura eclesiástica. Isso aponta para a possibilidade da existência, antes de 5 de julho de 1819, desta Freguesia como divisão administrativa.
O primeiro pároco da nova Freguesia foi o padre José Antônio de Caldas, nomeado em 1820, mas que não chegou a tomar posse na paróquia. Indicado deputado para a Constituinte de 1822, foi para o Rio de Janeiro, já com o nome alterado, como registrou o Diário do Rio de Janeiro de 10 de outubro daquele ano. No auge do movimento naturalista, passou a se chamar José Antônio de Caldas Malagueta.
Quem assumiu em seu lugar foi o padre José Joaquim Rodrigues da Silva. Maceió havia sido elevada à categoria de Vila em 5 de dezembro de 1815.
Pedro Antônio de Souza foi outro padre do clero alagoano que também alterou o seu nome nesse período. Uma nota publicada no jornal carioca O Volantim informa que o representante da igreja de Alagoas no Rio de Janeiro passara a se denominar Pedro Antônio Cabra-bode.
A Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres foi instalada em 1º de maio de 1825 e como administradora do patrimônio iniciou a campanha para a construção de uma igreja à altura da Vila de Maceió.
A nova Matriz
O primeiro registro de que a mobilização por recursos havia criado condições para a construção da Matriz foi a solicitação de elaboração de um projeto de igreja para Maceió que o Ministério da Justiça fez à Academia Brasileira de Belas Artes.
O ofício datado de 17 de março de 1838 orienta que assim que estiver concluída a planta, deve ser enviada para a Secretaria de Estado dos Negócios do Império, “para ser remetida ao Presidente daquela Província”, o que indica que o solicitante foi o presidente Rodrigo de Sousa da Silva Pontes, que governou Alagoas de 23 de agosto de 1836 a 18 de abril de 1838.
Há indícios, segundo Félix de Lima Júnior em Igrejas e Capelas de Maceió, que a planta da nova igreja tenha sido elaborada em 1838 pelo arquiteto Victor Grandjean de Montigny, um professor da Academia Brasileira de Belas Artes que fazia parte da Missão Francesa no Brasil. A Missão Debret foi trazida ao Brasil por D. João VI para a construção da Academia Real de Belas Artes e de outros projetos.
O primeiro local escolhido para a construção foi um terreno na Rua da Alegria. Segundo Manoel Claudino de Arroxelas Jayme, essa escolha foi realizada pela confraria do Santíssimo Sacramento, “que então administrava o patrimônio de N. S. dos Prazeres”. (Revista do IAGA, nº 4).
Somente em 1840, num entendimento entre a Irmandade e o presidente da Província João Lins Vieira Cansanção, o futuro Visconde de Sinimbu, foi que se definiu que a nova Matriz seria erguida um pouco mais à frente do antigo templo, no Largo do Pelourinho.
Manoel Claudino informou que “alguns materiais já ali depositados” foram deslocados do terreno da Rua da Alegria para a área da nova matriz, revelando que a obra ainda não tinha sido iniciada em 1940.
A pedra fundamental foi lançada no dia 22 de julho de 1840, às 16 horas, na presença do presidente da Província, Manuel Felizardo de Souza Mello, Coronel Francisco Manoel Martins Ramos e o comerciante Rodrigo Antônio Brasileiro. Manuel Felizardo havia assumido o governo quatro dias antes.
Para arrecadar fundos, foram formadas várias comissões e as obras tiveram início pela fachada. Mas no ano seguinte já estavam paralisadas por falta de “subscrições“.
Somente foram retomadas em fins de 1849, durante o governo de José Bento da Cunha Figueiredo e com o acompanhamento do capuchinho frei Euzébio de Sales, que, acometido de febre amarela, faleceu no ano seguinte, em 10 de fevereiro. Para dar continuidade à obra, foram convidados os freis Henrique e Luís de Grava.
Como o terreno era arenoso, as paredes laterais exigiram um alicerce de 16 palmos. Da mesma forma, a obra exigia cada vez mais recursos, que rareavam. O socorro veio do governo da Província, que destinou o apurado em quatro loterias para ajudar na edificação da igreja Matriz. O benefício foi autorizado pelo Decreto nº 515 de 19 de janeiro de 1850.
Nesta fase da construção, a antiga matriz foi demolida e as imagens e o Santíssimo Sacramento foram levados para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na Rua do Sol.
No final de dezembro de 1851 foi concluído o arco cruzeiro que separa a nave da capela-mor. O engenheiro responsável foi Antônio Ribeiro de Lins Teixeira.
Com a colocação da cumeeira da capela mor e a cobertura do corpo da igreja, a Missa do Galo de 25 de dezembro de 1852 já foi celebrada no novo templo pelo frei Luís de Grava.
Após erguerem a cruz de madeira no frontispício e concluir a torre voltado para o mar, os capuchinhos entregaram a obra ao major Manoel da Costa Pereira Cutrim, que foi ajudado pelo frei José de Santa Ingrácia, um franciscano natural de Penedo que estava servindo no convento de Santa Maria Madalena em Alagoas, atual Marechal Deodoro.
A cruz definitiva, com 22 palmos de altura, foi colocada no dia 25 de janeiro de 1855. No dia 21 de março o relógio foi assentado na torre voltada para a Rua do Imperador. Esse aparelho foi adquirido com recursos deixados por testamentos de Dona Tereza de Jesus Barros Leite, viúva de Antônio José Bittencourt Belém.
O primeiro sino foi colocado quatro dias depois, após receber a benção de frei José de Santa Ingrácia na presença de Antônio Coelho de Sá e Albuquerque e do vigário padre João Barbosa Cordeiro.
Ainda em 1855 foi instalado o sino fundido em Paris e comprado pela igreja ao Coronel José Antônio de Mendonça com recursos obtidos por subscrição. Pesava 37 arroubas e custou 888$000.
Segundo Ernani Méro em seu livro Igrejas de Maceió, atualmente os sinos da Matriz são os seguintes: “Lado direito: um sino pequeno com a seguinte inscrição — Fundição Alagoana, Jaraguá 1910. Sino grande refundido pelo fundidor Angelo Angeli de S. Paulo na Fundição Alagoana, 1910. Sino médio — Nossa Senhora dos Prazeres no ano de 1855, Fundeur A. Paris —. No lado esquerdo tem um sino grande — Oliveira e filhos — me fizeram em Coruripe para Nossa Senhora dos Prazeres da cidade de Maceió, ano de 1855”.
As três portas centrais foram assentadas em maio de 1857. Utilizando a madeira vinhático (aranhagato) os marceneiros José Alves Moreira e Estolano José das Neves construíram as peças almofadadas que ainda hoje guardam a entrada do templo.
Ainda em 1857 foi concluída a sacristia do lado do mar. No ano seguinte o forro da nave foi pintado pelo português José Antônio Maximiniano. Em 1859 foram assentadas as lajes do piso que vieram de Portugal.
O altar-mor teve o seu retábulo de madeira entalhado pelo sergipano Antônio Alves Mata. Os laterais do Santíssimo Sacramento foram esculpidos por outro sergipano, Inácio José de Santa Rosa.
Templo Imperial
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Procissão no Dia do Soldado entre 1945 e 1950 no governo Silvestre Péricles. Acervo Audir Marinho de Carvalho
Com sua inauguração programada para 31 de dezembro de 1859, quando receberia as bênçãos do imperador D. Pedro II e de sua esposa, dona Tereza Cristina, a Matriz passou a ser o centro das atenções de Alagoas nos últimos meses daquele ano.
No Largo do Pelourinho, que viria a ser Praça D. Pedro II, várias obras foram realizadas “para taparem umas ruínas que existem nesse largo”, como noticiou o Diário de Alagoas de 1º de dezembro de 1859.
Um momento importante dos preparativos ocorreu no dia 24 de dezembro com a chegada da imagem da imagem de Senhora dos Prazeres, uma doação do Barão de Atalaia, Lourenço de Albuquerque Maranhão.
Ao meio-dia de 29 de dezembro ocorreu a benção da Matriz, condição para que à tarde do mesmo dia recebesse o Santíssimo Sacramento e as imagens que estavam na igreja do Rosário dos Pretos. Foram transportadas pelo visitador cônego Afonso de Albuquerque Mello.
A nova imagem da padroeira recebeu a benção às 7h do dia 31 de dezembro. Cinco horas depois o imperador e sua esposa chegaram ao local e subiram a extensa escadaria para o solene Te Deum Laudamus cantado pelo padre Antônio de Mello e Albuquerque.
Estava inaugurado o maior e mais importante templo católico de Alagoas.
…
Uma das transformações mais notadas da Catedral de Maceió foi a redução da sua escadaria, que fora inaugurada em 1859.
Para estabelecer uma melhor ligação entre a Rua do Sol e a Rua do Imperador, a ladeira à frente da Catedral foi adequada ao traçado urbano sendo toda ela utilizada como rampa, o que forçou a retirada de alguns degraus da igreja.
A obra foi realizada em 1924 sob a orientação de Izaac Gondim, quando Ernani Teixeira Bastos era o prefeito.
Segundo Ernani Méro, houve um gosto e um sentido artístico na reforma. “Não houve hipertrofia gritante, aceitamos como um adendo bem elaborado e até harmonioso”, avaliou um dos mais importantes estudiosos da arquitetura sacra em Alagoas.
Fonte principal: Igrejas de Maceió, de Ernani Méro, Maceió, 1987.
EDBERTO SENSACIONAL, UM HISTÓRICO QUE MECHE EM TUDO QUE TEMOS JUNTO A SAGRADA FAMÍLIA. VOCÊ NÃO É UM FOTÓGRAFO VAI ALÉM DE UM EXPERT EM FOTO E HISTÓRIA. GRANDE ABRAÇO AMIGO. JOSE AILTON
Uma maravilha você trazer a lume esse texto do nosso saudoso professor Ernani Mero.
Agora uma curiosidade ronda minha cabeça, a data da Solenidade da Padroeira 27 de agosto. Já vi em jornais do começo do século 19, outras datas, variando com o período da Páscoa.
Gostaria de saber se tem como pega batismo