Parque da Pecuária e a primeira exposição agropecuária de Alagoas
Foi Tomé de Sousa, governador-geral do Brasil entre 1549 e 1553, quem trouxe a pecuária para o país. Os primeiros zebuínos desembarcaram em Salvador com o propósito de serem utilizados no transporte de cargas e pessoas e como força motriz para mover os engenhos.
No século seguinte o gado já tinha se espalhado até a região de Feira de Santana, onde começaram a surgir as primeiras fazendas. Com a expansão delas para o interior, foram abertos novos caminhos e aos poucos surgiram as grandes propriedades.
Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, o gado atingiu a bacia do São Francisco após percorrer os cerrados do planalto central. Nesse período, o Rio São Francisco passou também a ser conhecido como “Rio dos Currais“.
Mas não foi somente no Nordeste que surgiu a cultura pecuária. No Sul, os pampas também passaram a desenvolver a criação das reses que fugiam das missões jesuíticas. Nesta região, as primeiras fazendas de gado tiveram início no século XVIII.
Exposições de Gado
Seguindo a experiência europeia, foram os argentinos os primeiros a realizar grandes Exposições de Gado na América do Sul. A mais famosa era realizada no bairro Palermo, em Buenos Aires, e atraía criadores do Brasil, Paraguai e Uruguai.
No Brasil há registros da realização de Exposições de Gado em São Paulo e Santa Catarina nos anos de 1904 e 1905. Entretanto, ainda não representavam toda a capacidade deste setor produtivo.
Para se perceber a falta de articulação entre os produtores, um leitor do jornal alagoano Gutemberg, que se assinava “Agricultor Prático de Pernambuco”, ao noticiar que no dia 14 de março de 1905 tinha sido inaugurada mais uma edição da Exposição Nacional de Gado da Argentina, em Palermo, ressaltou a importância econômica da mostra e cobrou que já era tempo para que “os nossos fazendeiros e sobretudo o nosso governo inicie de modo eficaz a indústria pastoril”.
Em Alagoas, o primeiro a pensar em organizar uma mostra foi o governador Clodoaldo da Fonseca, que enviou Mensagem ao Congresso alagoano, em 15 de abril de 1913, propondo uma Exposição Geral “no intuito de desenvolver as artes, as industrias manufatureiras, a agricultura, a pecuária e a avicultura, a colonização científica e metódica…”.
A sua sugestão era a de realizar esta exposição regional em 1917 durante as comemorações do Centenário da Emancipação, havendo uma preparatória em 1914. Contaria com a ajuda da União e teria lugar na Levada, “em terreno já então ali apropriado, uma vez terminadas as obras de saneamento porque está passando”, como anunciou.
O Centenário foi comemorado em 1917 durante o governo de João Batista Acioli Júnior, sem a Exposição Geral, mas com vários eventos na Praça D. Pedro II.
Neste mesmo ano foi realizado na segunda quinzena de maio no Rio de Janeiro, então Capital Federal, a 1ª Exposição de Gado e Indústrias Anexas.
Este evento pioneiro nasceu da experiência vitoriosa da Exposição-Feira de Frutas, Legumes, Hortaliça, Flores e Indústria Derivada, também realizada no Rio de Janeiro e que entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro de 1917 promoveu sua 3ª edição.
Nesta época já existia a Sociedade Nacional de Agricultura e a 1ª Exposição contou com o apoio do dr. José Bezerra, Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio. Concomitantemente à mostra aconteceu também a 1ª Conferência Nacional de Pecuária.
Em março de 1917 uma nota publicada no Diário do Povo de Maceió anunciava a 1ª Exposição de Gado no Rio de Janeiro e conclamava: “O Norte não deve ser indiferente a um certame dessa natureza”, e lembrava aos criadores do Estado a importância de participar “para recolher da mesma os ensinamentos e os estímulos profícuos ao seu desenvolvimento e seleção” e assim contribuírem com a pecuária local.
Pelas publicações posteriores pode-se concluir que ninguém de Alagoas participou desse evento nacional.
Parque da Pecuária
Foi somente em 1944 que Alagoas deu um passo importante para promover a pecuária local. Por iniciativa do interventor Ismar de Góis Monteiro, foi erguido o Parque 5 de Julho no bairro do Prado em Maceió.
Medindo 81 mil m², a área tinha sido utilizada por décadas pelo Prado Alagoano, ao lado do Cemitério de São José, na Av. 5 de Julho, antiga Av. Manguaba e atual Av. Siqueira Campos.
Sua inauguração ocorreu durante a abertura da 1ª Exposição Agropecuária e de Produtos Derivados de Alagoas em 17 de dezembro de 1944.
Dias antes da inauguração da Exposição, Marêncio da Costa Barros, em um texto publicado na Gazeta de Alagoas, avaliou que esse tipo de evento contribuía para demonstrar “o grau de adiantamento atingido por certos e determinados rebanhos, quer em relação à produção de carne e de leite, quer em relação ao aspecto geral ou individual dos animais”.
Para realizar a 1ª Exposição, a comissão organizadora, presidida por Francisco Beltrão Martins, fez publicar um edital no dia 31 de outubro de 1944 anunciando que as inscrições estavam abertas na sede da Diretoria da Indústria Animal (Edifício do Fomento Agrícola), que ficava na Praça Floriano Peixoto ou dos Martírios, onde hoje está o Museu Pierre Chalita.
O interventor de Pernambuco, Agamenom Magalhães, esteve presente à inauguração e foi um dos oradores. Discursou ainda o secretário Estadual da Fazenda e da Produção, Esperidião Lopes de Farias Júnior. O ato de abertura da mostra ocorreu às 16h do dia 17 de dezembro de 1944 e foi seguido de visitas aos pavilhões.
Nos dias seguintes, os expositores e convidados visitaram também a Granja N. S. da Conceição, Campo de Palmáceas Apolônio Sales, Parque Industrial de Rio Largo. No dia 23 foi oferecido um banquete na sede da União Beneficente Portuguesa, no Centro de Maceió.
O ato de encerramento aconteceu às 9h do dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Estavam presentes, além do interventor Ismar de Góis Monteiro, o comandante da Força Policial de Sergipe, coronel Barnabé Vieira Dantas — representando o interventor daquele Estado, Maynar Gomes —, o prefeito de Maceió, Abdon de Arroxellas, além de criadores, industriais e outras autoridades. Coube ao diretor da Indústria Animal, Francisco Beltrão Martins, proferir o discurso de encerramento.
Criadores premiados da primeira Exposição
Não há registros precisos da quantidade de animais expostos no Parque da Pecuária durante o final de dezembro de 1944, mas foram premiados animais das seguintes propriedades:
Fazenda Santa Fé em Murici, de propriedade de Alfredo Maya; Fazenda Pindobal em Murici, de propriedade de Antônio A. B. Cansanção; Fazenda Guanabara em União dos Palmares, de propriedade de Oscar Gordilho; Fazenda Varrela em São Miguel dos Campos, de Abelardo Lopes; Fazenda Santa Justina/João Nogueira & Cia. em Passo de Camaragibe.
Também: Fazenda Boa Vista em Murici, de Petrônio Cansanção; Fazenda Exú em Água Branca, de Elizeu Gomes; Fazenda Siracuza em Rio Largo, de Ernani Passos; Fazenda Ipioca em Arapiraca, de Antônio Costa Azevedo; Fazenda Bananal em Viçosa, de Luiz Loureiro Luna; Granja São José em Maceió, de José Dionísio Sobrinho; Granja Bom Jesus em Maceió, de Francisco Henrique; Fazenda São Bernardo de Wilson Cansanção; Fazenda São Mateus em Limoeiro de Anadia, de Samuel Palmeira; Fazenda Nova em Anadia, de Rufino de Almeida Gomes; Fazenda São Bernardo em Murici, de Nelson Cansanção; e Fazenda Puba em Anadia, de Pedro Sampaio Gomes.
Dos estados vizinhos vieram animais da Usina Catende em Pernambuco, de Antônio Costa Azevedo; Usina Santa Terezinha em Pernambuco; Fazenda Puerezópolis de Neópolis, Sergipe, de Manoel Gonçalves; e Usina Vassouras em Maruim, Sergipe, de Nelson Dória Mendonça.
Associação dos Criadores de Alagoas
Após a mostra inicial, várias exposições ocorreram nos anos seguintes, todas com muito sucesso. Como resultado deste evento inicialmente organizado pelo Governo do Estado, foi fundada em 27 de junho de 1955 a Associação dos Criadores de Alagoas (ACA).
Seu registro ocorreu em 27 de setembro do mesmo ano, já considerada de utilidade pública. O Parque da Pecuária foi doado pelo Estado de Alagoas a esta sociedade civil em 10 de agosto de 1966, quando já era denominado Parque de Exposições José da Silva Nogueira, em homenagem a um dos idealizadores da ACA.
Com cerca de 170 inscritos, a Associação dos Criadores de Alagoas teve os seguintes presidentes: João Carlos de Albuquerque; José da Silva Nogueira; Álvaro Vasconcelos; Everaldo Pinheiro Tenório; José Maurício Tenório; Antônio Basílio; Manuel Sampaio; Antônio Tarcisio; Celso Barros Correia Filho; Givago Tenório; Edilson Maia e atualmente Domício Silva.
Após mais de sete décadas de realizada a 1ª Exposição Agropecuária e de Produtos Derivados de Alagoas, atualmente como Exposição Agropecuária e Produtos Derivados de Alagoas (EXPOAGRO), os princípios que nortearam a sua criação continuam existindo e incentivando a melhora dos rebanhos e estimulando bons negócios para a economia alagoana.
Mais uma página de nossa história é escrita. Parabéns.
Meu pai , Rufino de Almeida Gomes, Fazenda Nova em Anadia foi premiado com um dos seu bois.