Sol causticante

Av. Bráulio Cavalcante em Pão de Açúcar no ano de 1946

Charge de Nunes Lima para a Gazeta de Alagoas

Álvaro Antônio Machado (*)

Há pouco mais de um mês, a Câmara de Vereadores de Pão de Açúcar ganhou um novo membro: o edil Pedro Lúcio Rocha, primeiro suplente da Arena, que preencheu a vaga deixada pelo vereador Germino de Araújo Costa, falecido em desastre automobilístico.

É a terceira legislatura de Pedro Lúcio, um destemido vereador que, apesar de ter apenas o curso primário, sempre gostou de ter um microfone às mãos e, com ele, falar em alto e bom som para o povo de sua terra, sobre qualquer assunto de interesse coletivo, mesmo sabendo que seu limitado histórico escolar poderia fazer surgir alguma “mancada” durante as oratórias.

No seu último mandato, Pedro Lúcio teve seu nome citado em vários jornais importantes do país, devido ao fato de ter apresentado um projeto de lei sugerindo a “quem de direito” que fosse realizada uma pequena mudança numa frase do Hino da Bandeira do Brasil. Pedro sugeriu que, em vez da frase “Salve o símbolo augusto da paz”, integrante do citado hino, fosse colocada a frase “Salve o símbolo augusto machado”, alegando que “esse tal de Augusto da Paz não passa de um ilustre desconhecido, um homem do qual nunca ouvi falar nada de importante, ao passo que o Sr. Augusto Machado já foi prefeito de Pão de Açúcar quatro vezes, deputado estadual duas vezes, chegando até a ser presidente da Assembléia Legislativa e líder do governo, sendo assim uma pessoa bastante conhecida de muitos brasileiros”.

E ainda complementou: “falei com uns parentes que moram em São Paulo e outros no Juazeiro do Padim Ciço e ninguém, em canto nenhum, sabe nada desse tal de Augusto da Paz. Mas “seu” Augusto Machado é conhecido em muitos lugares do Brasil e merece essa homenagem”.

Bem, felizmente esse projeto não foi adiante. Mas deu muito o que falar, assim como aconteceu com o fato ocorrido em 1970 quando, na qualidade de vereador, Pedro Lúcio encabeçava a lista dos oradores que falariam durante o desfile estudantil em comemoração ao aniversário da Emancipação Política de Alagoas, no dia 16 de setembro.

Querendo destacar-se na oratória, Pedro reuniu alguns amigos dias antes da data festiva e, juntos, prepararam o discurso para que Pedro o memorizasse integralmente. Segundo o cronograma, ele falaria às 15 horas, no palanque oficial armado no coreto da Praça da Matriz. Como era pleno verão, época de seca e a temperatura deveria, às 15 horas, estar por volta de 42 graus, os amigos (juntamente com Pedro, é claro) resolveram que o discurso começaria assim: “Neste sol causticante, estamos comemorando com garbo a emancipação política de Alagoas…”.

Tudo pronto, chegou o dia da festa, Pedro Lúcio já havia decorado e redecorado o discurso. Entretanto, como não poderia deixar de ser, pois Pão de Açúcar também faz parte do Brasil, houve um significativo atraso no horário do desfile e, consequentemente, toda a programação foi alterada, inclusive invertendo-se a ordem dos oradores. Assim, quando Pedro Lúcio ocupou o microfone para pronunciar seu discurso, já passava das 19 horas, céu estrelado, já presente o frescor comum às noites sertanejas. Nem por isso Pedro lembrou-se de modificar o inicio do discurso e, dirigindo-se a multidão, exclamou em viva voz:

– “Neste sol causticante, estamos comemorando…”

(*) Artigo publicado na GAZETA DE ALAGOAS de 01/07/1979 e revisado pelo autor que, à época, era correspondente da Gazeta de Alagoas em Pão de Açúcar.

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