Romeu de Avelar, o “Assovio de Cobra” de Alagoas
Luiz de Araújo Moraes, nome de batismo, nasceu em São Miguel dos Campos, Alagoas, no dia 23 de março de 1896. Era filho de Methódio da Silva Moraes e Maria Andréia de Araújo Moraes. Quando tinha quatro anos de idade, sua família mudou-se para o Pilar onde começou os estudos. Foram morar inicialmente na Rua Pernambuco Novo.
Em uma crônica publicada na Revista da Academia Alagoana de Letras em 1988, assim descreveu uma visita que fez ao Pilar muitos anos depois de ter deixado Alagoas:
“A casa em que morávamos parecera-me mais modesta, justamente para o homem feito e viajado que a via após tantos anos. Tive desejo romântico e quase impetuoso de pedir licença aos seus moradores atuais e ir até a sala de jantar, onde minha mãe, com um prato de pirão mexido e um ovo aferventado, acompanhava-me, pacientemente, quando eu corria até a porta da cozinha, toda vez que o tirador de cocos do sítio de ‘seu Américo’ — que ficava nos fundos da casa — derrubava uma cachada”.
Esta segunda moradia no Pilar ficava no Beco de José Pequeno.
Em Maceió, continuou os estudos no Colégio Dias Cabral e no Liceu Alagoano, onde concluiu os preparatórios e iniciou sua aventura pelas letras. Na adolescência, morou em um sítio no atual bairro de Mangabeiras, onde foi morar com a família para facilitar o tratamento de uma irmã, que faleceu vítima da tuberculose.
Foi o sofrimento e a tristeza que se abateu sobre a casa após a perda da irmã que o levou a ler sem parar, despertando, ainda aos 15 anos de idade, seu interesse pela literatura em geral.
“Certa noite, em 1914, à porta do Cinema Floriano, então o prédio mais catita da matuta e tortuosa rua do Comércio, cinco rapazolas, que mal haviam abaritonado a voz, deliberaram publicar uma revista literária em Maceió. Tamanha audácia numa subprovíncia onde ainda não se conheciam o avião, e só o Ford de bigode do ‘bicheiro’ Estevão, pinoteando e bufando, dava a primeira nota de progresso à acanhada urbe alagoana — não seria propriamente uma audácia, mas uma insensatez de peralvilhos românticos”, descreveu Romeu de Avelar a noite em que decidiram criar a revista Frou-Frou.
Com ele, nesta empreitada, estavam Aljamar Mascarenhas, cujo pseudônimo era Berilo Prates; José Portugal Ramalho (Joseph Ramalho); José Guedes Quintela e Amarilio dos Santos. A revista teve apenas um número.
A partir de 1918, contando com a experiência da revista Frou-Frou, passou a colaborar regularmente com o Jornal de Alagoas.
Seus pendores literários o levaram a publicar o primeiro livro ainda em 1921, quando tinha 25 anos de idade. A coletânea de contos recebeu o nome de Tântalos.
Após um breve passagem pelo Rio de Janeiro para estudar Odontologia, em 1922 estava estudando Medicina-veterinária em Minas Gerais, acompanhando seu irmão, o jornalista e poeta Delorizano Moraes. Trabalhava nos Correios e Telégrafos e, em Belo Horizonte, morava na pensão de uma francesa, esquina da Rua Espírito Santo com a Rua Paraopeba, segundo Pedro Nava no livro Beira-mar.
Nesse período, conviveu com Juscelino Kubitschek, José Maria Alkimin, Milton Campos, Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade e João Dornas.
Um ano depois, quando já morava em Recife, Pernambuco, surgiu Os Devassos. O livro causou intensa polêmica e foi apreendido por ser considerado imoral para a época.
Segundo José Ramos Tinhorão em seu livro A Música Popular no Romance Brasileiro, o título original deste livro teria sido Mal do Século. Romeu de Avelar fazia referência à “profunda melancolia cultivada por muitos intelectuais e poetas franceses no final do Século 19”. O livro hoje é uma raridade. Poucos exemplares escaparam da apreensão feita pela Polícia.
Romeu de Avelar teve uma carreira acadêmica atribulada, tal qual a sua juventude. Estudou Odontologia no Rio de Janeiro, Medicina-Veterinária em Belo Horizonte e somente veio a concluir um curso na Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.
Foi preso no Rio de Janeiro em 1925, permanecendo durante sete meses na Casa de Detenção. Essa passagem de sua vida o motivou a escrever o livro A Sombra do Presídio, onde esclarece os motivos da sua detenção.
“A seguir, o escriba pediu-me o nome e a minha profissão.
Dei-lhe tudo de bom grado.
— Sabe por que está preso?
— Mais ou menos… — respondi-lhe muito cavalheiro.
O homem olhou-me de má sombra, esfuracou o ouvido com a caneta e arrotou-me estas palavras ignóbeis:
— O sr. tem um processo de tentativa de morte aqui e três ferimentos graves em Belo Horizonte. Está, pois, condenado a um ano e sete meses e meio de prisão… E é autor também de um livro imoral…”.
Quando jovem, não se separava de uma arma, como revelam os depoimentos de amigos da época, que faziam referência a uma faca portada pelo alagoano. A arma ficou conhecida como a “lambedeira”.
Em setembro de 1957, uma referência ao seu passado foi publicada no jornal Última Hora: “Dizia ontem o escritor Romeu de Avelar que agradece sua longevidade a um revólver 38 que mantinha na cintura quando morava em Maceió”.
Firmo de Oliveira, médico e escritor sergipano que também esteve na Casa de Detenção com ele, no texto “A convivência com Romeu de Avelar” dá também uma pista sobre os motivos da prisão do escritor alagoano: “Dentro do cárcere, para onde fora por ter castigado a petulância atrevida de um canalha, Romeu de Avelar aproveitou a reclusão silenciosa para trabalhar uma obra”.
O escritor paraibano Luís Pinto escreveu para o Diário de Notícias, de 26 de dezembro de 1972, que quando foi apresentado pessoalmente a ele, já o conhecia “de nome e fama, das suas brigas, das suas arruaças de panfletário temido, da sua boemia”. Lembrou que quem o apelidou de “Assovio de Cobra”, por sua história de combatividade e luta foi o também escritor Nélson Lustoza Cabral.
Amante da boemia, em setembro de 1957, dias depois da morte de José Lins do Rego e achando que estava morrendo muita gente boa, Romeu de Avelar filosofou, destacando a vida boêmia: “Onde tiver música, entrar… Onde houver bebida, entrar, também…”.
Foi polêmico até quando eleito para a Academia Alagoana de Letras (cadeira 32) no início dos anos 50. Resolveu não tomar posse e se desentendeu com os outros acadêmicos, principalmente com o presidente Orlando Araújo, que presidiu a AAL de 1946 a 1953. Também foi eleito para o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (cadeira 14).
Atuando no jornalismo alagoano, foi diretor de A Imprensa, Diário de Maceió e As Vespas. Participou ainda da revista Caeté. Em Minas Gerais dirigiu o Correio Mineiro, O Movimento, Proteu, Semana Ilustrada. Na capital pernambucana dirigiu o Brasil Literário e no Rio de Janeiro o Panfleto. Colaborou ainda com a Revista da Semana, Ilustração Brasileira, O Malho, Vamos Ler!, Noite Ilustrada. Trabalhou na Casa Editora Vecchi, no Rio de Janeiro, como tradutor.
Família
Romeu teve como irmãos Alice de Araújo Moraes (faleceu em 23 de outubro de 1938), Ana de Araújo Moraes, Cora de Araújo Moraes, Tancredo de Araújo Moraes e Delorizano de Araújo Moraes. Pedro de Araújo Moraes, que faleceu muito cedo.
O poeta e advogado Tancredo Moraes nasceu no dia 10 de dezembro de 1891 em Anadia, Alagoas, e pertenceu à Academia Cearense de Letras. Fazia parte dos “Morais polemistas” ao lado de Romeu de Avelar e de Delorizano.
O médico e jornalista Delorizano Moraes nasceu em São Miguel dos Campos no dia 13 de janeiro de 1895 e faleceu em Maceió em 4 de abril de 1946. Também se destacou como jornalista, ensaísta, poeta, conferencista e contista.
Sobre Delorizano, Romeu de Avelar, em sua Antologia de Contistas Alagoanos (1970), disse que “com Clóvis de Holanda, Jaime de Altavila e Carlos Rubens — todos rapazotes de 15 a 17 anos — formavam o mais brilhante conjunto das letras alagoanas, de 1911 a 1914, era, além de uma entusiástica vocação literária, um raro estudioso”.
No início dos anos da década de 1930, Romeu de Avelar casou-se com a pianista Lourdes Caldas Avelar e tiveram as seguintes filhas: Dácia Andréia Moraes (nascida em 24 de outubro de 1934), Rosa Maria Moraes (nascida em 20 de julho de 1938) e Isolda Caldas de Araújo Moraes.
Em segundo matrimônio uniu-se a poetisa e jornalista Hydeth Favilla.
Tiroteio no Bella Vista
Com a decisão de Silvestre Péricles de Góis Monteiro em se lançar candidato ao governo de Alagoas para as eleições de 1935, seu grupo político funda o jornal A Imprensa no dia 16 de agosto de 1934.
Amigos e correligionários de Silvestre, Delorizano e Romeu de Avelar se lançam candidatos à Assembleia Constituinte Estadual e utilizam as páginas do jornal do Partido Nacional em Alagoas, editado por eles e por Mendonça Braga, para atingir politicamente o governo do interventor Osman Loureiro.
Osman, inteligentemente, nomeia Edgar de Góis Monteiro, irmão de Silvestre, para comandar a sua Polícia. A primeira tarefa do novo secretário foi calar a imprensa oposicionista, intimidando e ameaçando seus jornalistas.
Assim, na manhã do dia 7 de março de 1935, convocou o editor de A Notícia, José Antônio da Silva, para comparecer à 1ª Delegacia de Polícia. Após passar por humilhações, o jornalista foi levado à Penitenciária onde ficou detido por cinco dias.
No mesmo dia, no início da tarde, um policial foi até a redação do jornal A Imprensa e fez o mesmo convite a Delorizano e a Romeu de Avelar. Sabendo do ocorrido pela manhã, argumentaram que eram candidatos e que tinha imunidades eleitorais e não iriam “conversar” com o delegado.
Telefonaram para Silvestre Péricles, que estava hospedado no Hotel Bella Vista, e pediram a sua proteção. Silvestre ligou para a chefatura de Polícia e falou com o tenente Capella, explicando que o ato era ilegal. Ouviu do militar que ele agiria para anular a intimação.
Em seguida, Silvestre recebeu a informação que a sede do jornal A Imprensa estava sendo atacada. Acompanhado de três “apoiadores”, se deslocou de automóvel até a sede do jornal na Rua do Comércio, nº 509. Depois, revoltado com a tentativa de intimidação, liderou uma caminhada pelas ruas centrais da capital até o hotel, acompanhado por um grupo de correligionários e gritando “Morra” ao governo, e incitando a desobediência civil. A manifestação passou em frente à Chefatura de Polícia, onde o os apupos foram mais elevados.
O Chefe de Polícia, se sentindo desmoralizado com a proteção que seu irmão estava dando aos jornalistas, resolveu prendê-los pessoalmente. Chegando ao hotel acompanhado pelo ordenança cabo Manoel Marques, pelo tenente Sebastião Capella, pelo subdelegado do 2º Distrito da Levada e dos investigadores José Vieira Cruz e Theodoro Espírito Santo, mal entraram pelo portão e foram recebidos à bala.
No tiroteio que se seguiu, apenas o tenente Sebastião Capella não foi atingido. O próprio Chefe de Polícia, Edgard de Góis Monteiro, recebeu tiros na perna esquerda e no antebraço direito.
No mesmo dia, outro irmão, o general Góis Monteiro, ministro da Guerra, mandou instalar inquérito militar e prender Silvestre Péricles e todos os que estava resistindo com ele nas dependências do Hotel Bella Vista.
Ainda naquela noite, o jornal A Imprensa foi invadido e suas oficinas destruídas a marretadas. A redação também teve seus móveis quebrados pelos “empasteladores”, que atuaram supostamente sob a orientação das forças governistas.
Na segunda-feira, 12 de março, após muita negociação e garantias de respeito à vida e a integridade dos detidos, Silvestre e seus companheiros foram levados para o quartel do 20º BC, hoje prédio do CCBi da Ufal, na Praça da Faculdade.
Após uma breve detenção, no dia 23 de março Silvestre embarcou em um hidroavião para a capital federal acompanhado pelos irmãos jornalistas Delorizano e Romeu de Avelar.
No governo de outro Góis Monteiro
Romeu de Avelar voltou a participar da política alagoana durante o governo de Ismar de Góis Monteiro, que comandou o Estado de Alagoas de 1º de fevereiro de 1941 a 10 de novembro de 1945. Ocupou o cargo de Diretor da Imprensa Oficial.
No dia 14 de novembro de 1945 assumiu o governo de Alagoas o interventor Edgard Góis Monteiro, o mesmo do incidente do hotel. Na relação dos pedidos de exoneração, por terem feito parte do governo anterior, estavam Ari Pitombo, Espiridião Lopes Farias, Francisco Alves Matos e Luiz Araújo Moraes, o Romeu de Avelar.
O Correio da Manhã de 13 de novembro de 1945 publicou o pedido demissão. Eis, na íntegra, a correspondência enviada a Esperidião L. de Farias Júnior, que ocupava interinamente a chefia do governo de Alagoas:
“Excelentíssimo senhor interventor Federal, interino, neste Estado. — Nesta data ponho à disposição de vossa excelência o cargo de diretor da Imprensa Oficial, não tão somente pelos motivos justos e de lei de que vossa excelência é conhecedor, como também — e principalmente — por não querer estremecer a minha consciência cívica anuindo a um ato aberrante das forças democráticas de hoje, como o da nomeação do atual interventor para o meu Estado. — Atenciosas saudações. — Luiz de Araújo Moraes — (Romeu de Avelar)”.
Quatro dias depois, no dia 17 de novembro, seu nome surgiu na relação dos dirigentes estaduais do Partido Republicano Progressista (PRP) registrados no Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas. O diretório tinha a seguinte composição: Hildebrando Martins Falcão (presidente), Luiz de Araújo Moraes (Romeu de Avelar, 1º vice-presidente), Edson de Carvalho (2º vice-presidente), Delorizano de Araújo Moraes (secretário geral), Othon Leite (1º secretário), Antônio Góes Ribeiro (2º secretário), Juvêncio Lucas Correia Filho (tesoureiro geral), entre outros.
Participou da eleição de 19 de janeiro de 1947, que elegeu Silvestre Péricles governador, e em 1948 reassumiu a diretoria da Imprensa Oficial do Estado.
Em 1950, motivado pela candidatura do general Góis Monteiro ao Senado, disputou uma vaga de deputado federal e ficou na suplência. O general Pedro Aurélio de Góis Monteiro (PST) perdeu para Ezequias Rocha (UDN).
Mesmo derrotado, não foi abandonado pelo general. Pelo menos é o que deixa entender uma nota publicada na Tribuna de Imprensa de 9-10 de fevereiro de 1952, apontando-o como possível beneficiário de uma manobra política.
A coluna Vozes da Cidade divulgou o seguinte:
“Padre Medeiros Neto não foi nomeado ministro do Tribunal de Contas, em substituição ao governador José Américo de Almeida, porque não quis.
Foi-lhe proposto, por elementos ligados ao general Góis Monteiro, aquela vaga no Tribunal de Contas a fim de permitir o acesso à Câmara dos Deputados do suplente alagoano Romeu de Avelar, autor de uma biografia do general, intitulada ‘O comandante do Destino’.
O padre Medeiros Neto não aceitou a barganha“.
Com as portas fechadas para o mandato de deputado, Romeu de Avelar foi designado para a Delegacia do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) em Alagoas. Não demorou a se envolver em uma polêmica como o seu adjunto, Carlos Garcia.
Segundo o jornal A Noite, de 19 de fevereiro de 1952, o problema surgiu após Romeu de Avelar embarcar para o Rio de Janeiro sem nomear Garcia, seu substituto imediato e também Procurador da instituição em Alagoas. “Em vista disso, mal Romeu viajou o Garcia assumiu, quase ‘manu militare’ a Delegacia… e a confusão começou”, explicou o jornal, que ainda especulou com o possível pedido de demissão do escritor.
Participou da campanha vitoriosa ao Senado de Silvestre Péricles contra Arnon de Mello na histórica eleição de 1958. Silvestre saiu-se vencedor com a vantagem de 1.652 votos. De volta ao Rio de Janeiro, passou a ocupar função destacada na administração do IPASE.
Rádio Mauá
Instalada no Rio de Janeiro, seu primeiro nome foi Rádio Transmissora quando ainda pertencia à RCA Rio de Janeiro, depois Rádio Ipanema. Em 1935, foi nacionalizada por Getúlio Vargas e passou a chamar-se Rádio Rio. Em 7 de setembro de 1944 voltou a ser Rádio Mauá e passou a ser administrada pelo Ministério do Trabalho, tornando-se conhecida como “A Emissora do Trabalhador”.
Correligionário de Hildebrando Falcão, ambos rompidos com Silvestre Péricles, Romeu de Avelar o acompanhou quando assumiu a Rádio Mauá em 1952. Trabalhou no Departamento de Jornalismo por vários anos. Em 1954 passou a dirigir os Jornais Falados da emissora.
Por poucos meses, em 1964, assumiu o cargo de Diretor da Fundação Rádio Mauá. Tomou posse às 16 horas do dia 6 de julho e foi afastado pelo ministro Arnaldo Sussekind no final de setembro daquele mesmo ano. Essa demissão contrariou a vontade dos funcionários, que se manifestaram publicamente pela manutenção dele como diretor, considerando que em apenas três meses “recolocou a Rádio Mauá dentro de suas reais finalidades”.
Fim trágico
A escritora Anilda Leão assim descreveu, em artigo de 1973, a notícia do falecimento do amigo:
“Não faz muito tempo Romeu pensou mais uma vez em vir a Maceió. E escreveu para cá avisando que passaria o carnaval aqui: ‘Arranjem uma casa na praia, ponham os siris no curral, amarrem as carapebas pelo rabo e não esqueçam de colocar a pimenta cochichando com o coentro que eu vou chegar aí roxo de saudades.’
Foi a última mensagem que recebemos de nosso amigo. Romeu não chegou até aqui como desejara. Sua viagem ficou parada. Estupidamente interrompida numa curva de estrada de Minas Gerais e não foi fácil para nós aceitarmos a triste realidade. Nosso amigo Romeu ainda tão jovem nos seus setenta e tantos anos, tão amante da vida… Nós, seus amigos e conterrâneos não queríamos aceitar medonha realidade, deveria haver algum engano.
Quando Gastão Cavalcante, um de seus maiores amigos, entrou lá em casa chorando trazendo a certeza do fato com detalhes, foi que senti que perdera para sempre o amigo bom, querido, alegre e bonachão…”.
Romeu e a esposa estavam viajando para Maceió no dia 20 de dezembro de 1972, quando, num trecho da Rio-Bahia, em Leopoldina, Minas Gerais, um acidente automobilístico tirou sua vida. Seu corpo foi enterrado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. Em 1983, seus restos mortais foram transferidos para São Miguel dos Campos por sua segundo esposa, atendendo a pedido dos amigos de Alagoas.
Sobre ele, após a sua morte, Oliveiros Litrento disse: “Eu o vejo em sua existência pacata de burguês, uma vez passada a turbulenta juventude. Pacificadas as tempestades que sempre fizeram ferver o sangue indômito alagoano, restou ainda um admirável ‘causeur’ aquela versatilidade espantosa para tratar de assuntos sérios, que se diluíam diante de suas certeiras sátiras”.
Em sua homenagem, a Academia Alagoana de Letras criou o Prêmio Romeu de Avelar. Em Maceió existe ainda a Escola Estadual Romeu de Avelar, no Tabuleiro Novo; a Rua Romeu de Avelar, na Gruta de Lourdes; e outra rua com o mesmo nome no Tabuleiro dos Martins. Há ainda ruas com o seu nome em Campo Grande, no Rio de Janeiro e Manaus.
Obras
Autor consagrado de várias obras e tradutor requisitado, Romeu de Avelar teve projeção nacional pelo censurado Os Devassos (1923) e depois pelo polêmico Calabar (1938). Neste último, nega ao alagoano Domingos Fernandes Calabar a condição de traidor.
Sobre este romance, o escritor Théo Filho disse que o autor retratou Calabar magnífico, o maior soldado brasileiro de seu tempo.
Livros
- Tântalos, Belo Horizonte, Tip. Athene, 1921, (contos)
- Os Devassos, Rio de Janeiro, Benjamim Constalat & Nicolis Editora, 1923 (romance, apreendido pela polícia carioca)
- A Sombra do Presídio, (O Romance do Cárcere) Maceió, Tip. do Orfanato São Domingos, 1928;
- Numa Esquina do Planeta, Rio de Janeiro, Editora Marques Araújo & Cia., 1932 (romance);
- Calabar, Interpretação Romanceada do Tempo da Invasão Holandesa, Rio de Janeiro, Oficinas Amorim & Cia., 1938;
- Crônicas de Ontem e de Hoje, Maceió, Imprensa Oficial, 1948, (prêmio Othon Bezerra de Mello, conferido pela AAL);
- General Góis Monteiro. O Comandante de um Destino, Maceió, Imprensa Oficial, 1949 (biografia);
- Coletânea de Poetas Alagoanos, Rio de Janeiro, Minerva Editora, 1959 (antologia);
- Figuras da Terra, Maceió, DEC., Série Estudos Alagoano, Caderno XVIII, 1963, (crônicas);
- Antologia de Contistas Alagoanos, DEC/SENEC/Imprensa Oficial, Maceió, 1970 (antologia, onde faz uma Introdução);
- Segundo Arnoldo Jambo, não publicou: Terra do Pagode e Os Degradados Filhos de Eva.
- O livro de contos regionais Pirongas foi publicado postumamente em 2015 pela Editora Chiado. Em breve Calabar terá sua 3ª edição, desta feita pela Editora Graciliano Ramos.
Peças de teatro
- A Pensão de D. Brígida (comédia em três atos, representada no Teatro São José, Rio, 1931)
- O Último Deputado (comédia em três atos)
- Não há Felicidade (comédia em três atos)
- Pilar, Estância da Saudade, Revista da AAL, n. 14, pg, 237-241
- Nós, os de 1914, Revista da AAL, n. 14, p. 279-281
- Recordando Delorizano, Revista da AAL, n. 15, pág. 293-297.
Traduções
- A Louca de Bequeló (novela uruguaia, de Lourenço F. d ‘Auria), Calvino Filho, Rio, 1933
- Os Homens do Wharf, romance de André Demaison, Pan Ed. Rio, 1938
- Memórias do Dr.Watson, romance de Conan Doyle, Amiel Ed., Rio, 1941
- A Bengala de Balzac, romance de Emile Geraldin, Epasa, Rio, 1942.
- Em A Nação Brasileira teria publicado A Carnagem do Ferreiro Torto, 80, p. 85-90.
Muito interessante o artigo na História de Alagoas. Sou neta de Romeu de Avelar e gostei muito de poder saber mais sobre alguns momentos de sua vida – principalmente os anos de sua “turbulenta juventude”. Infelizmente o conheci muito pouco pois era ainda criança quando faleceu em 1972.
Quanto às suas obras, já li todas, mas gostaria de obter ou poder ler suas peças. Se alguém souber me informar onde conseguí-las, favor entrar em contato com a página dos Araújo-Morais de Romeu de Avelar no Facebook. Tenho interesse em comprá-las de segunda mão, alugar ou tomar emprestada para a leitura. Obrigada.
Final dos anos 60 a Imprensa Oficial do Estado tinha como diretor geral.Carlos Moliterno há época respondia.pelo tesouraria d’aquela repartição, quando tive a satisfação e.o prazer de conhecer Romeu de Avelar. Bonachão, apreciador de um bom whisque. Dele ouvi. Em conversa com Moliterno a célebre frase,” Moliterno e quanto existir venta, língua e dedo, não tem mulher que me meta.medo”.
Não sei a razão e pouco interessa-me saber. Apenas relarei.um ocorrido.