Rinaldo Calheiros, o cantor de Fernão Velho que conquistou o Brasil

Fernão Velho, terra natal de Rinaldo Calheiros, em fotografia de Luiz Lavenère

Seu nome completo era Rinaldo Lisboa Calheiros e veio ao mundo em Fernão Velho, às 2 horas da madrugada do dia 3 de dezembro de 1926. Era sobrinho do cantor, também alagoano, Augusto Calheiros. Teve oito irmãos.

Estudou em Maceió até a idade do serviço militar obrigatório, quando optou pela aeronáutica e foi estudar em Guaratinguetá, São Paulo, na Escola Técnica de Aviação, onde fez o curso de controle de voo e chegou a Sargento Especialista.

Ainda na Escola de Aviação, já cantava nas festas dos amigos e era o crooner da orquestra militar.

Rinaldo Calheiros cursou o Científico em Maceió e foi prestar serviço militar em São Paulo, na Escola Técnica de Aviação

Foi designado para trabalhar na Base Aérea de Natal e continuou a cantar nas comemorações dos colegas. Foi graças a uma destas festas que foi convidado pelo diretor da Rádio Poti, Edilson Varella, para “aparecer um dia na emissora”.

“Foi aí que cantei pela primeira vez com cachê”, recorda Rinaldo Calheiros. O programa era Vesperal do Brotos. Não demorou a ser contratado pela rádio “Associada”. Em 1951 o jovem cantor recebia 400,00 cruzeiros por mês.

Mas não era um iniciante. Antes já participava como convidado dos programas de auditório comandados por Genar Wanderley e Luis Cordeiro, na mesma Rádio Tupi.

Rinaldo Calheiros, no centro da foto, foi sargento especialista da Aeronáutica

Sua bela voz e a boa aparência logo o levaram a ser reconhecido como o galã na cidade. Participava do Trio Acaiaca com Chico Elion no violão e João Juvanklin no acordeão. Anos depois seus parceiros neste mesmo trio eram Déa Ferreira e Cascudo Rodrigues.

Nesse período, sofreu um acidente de motocicleta. Passou por quatro cirurgias e ficou dois anos hospitalizado, em recuperação. Impossibilitado de prosseguir na carreira militar, foi reformado como 2º tenente.

Contratado pela Rádio Poti, passou a cantar pelo Nordeste e a representar a emissora nas diversas festividades em que ela era convidada. Numa destas festas, em 1955, foi a Recife para o aniversário da Rádio Tamandaré. Lá recebeu o convite do diretor da Rádio Tupi do Rio de Janeiro, J. Antônio Dávila, para se transferir para a emissora carioca.

Seis meses depois, Rinaldo Calheiros embarcou para o Rio de Janeiro. Em 1956, na capital federal, assinou também contrato com a gravadora Mocambo e logo em seguida com a Colúmbia.

Antes, em 1955, tinha gravado seu primeiro disco pela Mocambo. Interpretava no 78 RPM “Se eu fracassar“, de Chico Elion. No ano seguinte, ainda pela mesma gravadora, registrou o samba canção “Ranchinho de paia”, de Chico Elion, e o bolero “Minha inspiração”, de William Leon e Sílvia Silva.

Rinaldo Calheiros foi contratado pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro em 1957

Ao chegar no Rio de Janeiro, cantou no programa Caleidoscópio, apresentado por Carlos Frias, que o batizou como “A Voz que Emmociona”.

Já morando no Rio de Janeiro, em 1957, o seu maior sucesso foi o frevo canção “Ingratidão”, de Neusa Rodrigues e José Menezes. Nesse mesmo ano disputou o concurso que escolheu o “Rei e Rainha do Rádio”. Conquistou 177.900 votos e ficou em segundo lugar, com o título de “Príncipe do Rádio”.

Em abril de 1957 foi gravar na Mocambo em Recife o LP “Baiões Românticos de Humberto Teixeira”. Os arranjos e a direção da orquestra ficaram a encargo de Nelson Ferreira.

Tinha razoável compreensão da realidade política, talvez por ter estudado Direito. Em 1959, quando João Goulart tentava ser o candidato à presidência da República — terminou sendo o vice de Jânio Quadros — para enfrentar o general Henrique Teixeira Lott, perguntaram a Rinaldo Calheiros qual o melhor candidato. “Em 11 de novembro o Mal. Lott revelou firmeza nas decisões e espírito democrático. Votarei nele”.

Lia muito e falava corretamente o inglês, o que lhe permitia manter correspondência regular com os atores americanos Tyrone Power e César Romero.

Em 1959, teve participação no filme “Garota Enxuta” com a música “Qual a Onda”. Cantando o “Hino de Carnaval”, fez imenso sucesso no início de 1960.

Rinaldo Calheiros e sua esposa Sueli Montenegro no início de 1960

Casou-se com Suely Montenegro no dia 30 de junho de 1960, às 18 horas, na Igreja da Santíssima Trindade, em Botafogo. Eles atuavam juntos no programa “Musical Sonho de Amor”, transmitido pelo Canal 6. Tiveram três filhos: Rinaldo Calheiros Júnior, Alexandre Calheiros e Pedro Calheiros, todos também ligados à música.

Em 1960, Rinaldo Calheiros mudou-se para São Paulo onde consolidou seu nome definitivamente como um dos grandes cantores da época. Lá gravou inúmeros discos pelas gravadoras Continental, CBS (1966) e Columbia.

Após gravar seu primeiro LP “Em tudo existe amor”, em 1961 pela Copacabana, revelou como levava uma vida disciplinada e voltada para conseguir o sucesso. “Acho que o artista não pode e não deve ser boêmio!”. Avaliava que isso era coisa do passado e argumentava que os artistas de sua época estavam mais voltados para o trabalho, preocupados “com os contratos, com a repercussão que os seus gestos tenham frente ao público”.

Atribuindo essa mudança de atitude à grande concorrência, explicou como se comportava: “Eu procuro pautar todos os meus atos, artísticos ou não, dentro de uma estrita disciplina. Não fumo, não toco em álcool (aliás, detesto bebidas alcoólicas), não procuro buates ou farras — exceto para trabalhos, naturalmente”.

Entrevistado em 1963, explicou assim a sua trajetória de sucesso: “Assinei um contrato com gravadora Copacabana, que estava com a ‘bola branca’. Rescindi o contrato com a Rádio Tupi, preferindo tornar-me ‘livre atirador’. Tive então a oportunidade de cantar em programas de Paulo Gracindo e César de Alencar. Na Copacabana gravei um LP. Nele está o tango ‘Amor’ — o meu primeiro grande sucesso”. Os autores desta música são Antenógenes Silva e Ernani Campos

Rinaldo Calheiros e Silvana fizeram enorme sucesso em 1962

Sua parceria com a cantora Silvana também contribuiu para projetar seu nome nacionalmente. Em entrevista, explicou que a dupla nasceu por acaso, quando foi a São Paulo para divulgar o famoso tango no Programa Clube dos Artistas, de Airton Rodrigues, na TV Tupi. “Fiquei gripado e quando cheguei ao programa mal podia falar. Silvana, que também ia atuar no programa, sugeriu que cantássemos em dupla, pois eu não podia dar os agudos da segunda parte. Fiquei comovido quando verifiquei que ela conhecia a minha música. Concordei, é claro”.

Para surpresa deles, que não esperavam muito do improviso, Airton Rodrigues os convidou para cantar novamente uma semana depois, atendendo ao pedido de Edmundo Monteiro, superintendente das Associadas, que gostou da apresentação e percebeu que fariam sucesso.

A dupla foi formada e em 1962 gravaram juntos um LP pela Copacabana. Este disco, que tinha como música de trabalho “Amor”, foi considerado como o melhor e o de maior sucesso da carreira do cantor.

Nelson Gonçalves também percebeu o sucesso do tango e gravou também no mesmo formato, em dupla com uma cantora.

A dupla se desfez após o noivado de Silvana com o também cantor Marco Aurélio. Segundo Rinaldo, em entrevista, Marco Aurélio exigiu que ela cantasse sozinha ou com ele. “Um ciúme artístico injustificável”, assim classificou o cantor alagoano.

Rinaldo Calheiros em Juiz de fora no ano de 1957

Durante a década de 1960, gravou uma dezena de LP’s, a maioria pela Copacabana, mas não conseguiu repetir o sucesso do início.

Sempre vinculado à sua família em Maceió, com quem mantinha contato permanente, em 1965 levou a mãe, que morava em Fernão Velho, para ao Rio de Janeiro.

Mas nem tudo foi um mar de rosas na carreira do artista. A coluna “Buzina do Chacrinha” de 6 e 7 de outubro de 1968, no jornal A Luta Democrática publicou a seguinte nota: “E o Rinaldo Calheiros está cantando na ‘Boca do Lixo’ em São Paulo”.

Após voltar a fazer sucesso em 1969, quando retornou à gravadora Copacabana, Rinaldo se referia a esse período como “anos que passei me agarrando a todas as oportunidades que surgissem, para não ser apagado totalmente pela ‘revolução das guitarras’”.

“Amor”, com Rinaldo Calheiros e Silvana. Sucesso de 1962.

 

Pela Copacabana, em 1969, gravou um compacto simples em parceria com Ângela Maria em que cantavam a música tema da novela “A Grande Mentira“, da TV Globo. Ainda naquele ano gravou outro compacto simples com as músicas “Digam o que digam”, de Manuel Alexandro em versão de Edmar Tarzinato, e a marcha rancho “Vá se chegando”, de Renato Teixeira.

Rinaldo Calheiros, em 1957, gravou o frevo Ingratidão.

 

Em 1977 apresentava o programa musical e de variedades Rinaldo Calheiros com Amor pela TV Iguaçu, Canal 4, no Paraná. Ia ao ar nos domingos às 11 horas e depois passou para às 14 horas.

Não se conseguiu mais informações sobre seus últimos trabalhos como cantor ou apresentador na televisão.

Rinaldo Calheiros faleceu no dia 5 de maio de 2014 em Niterói, no Rio de Janeiro.

9 Comments on Rinaldo Calheiros, o cantor de Fernão Velho que conquistou o Brasil

  1. É interessante, a gente não ver, ou não escuta falar sobre a vida do cator Rinaldo Calheiros nos dias de hoje. Nossa que Foz belíssima!
    É interessante as as rádios local fazer um flexeback sobre os cantores Alagoanos de épocas passadas.
    Majú Lima

  2. ouvi muito musicas interpretada por Rinaldo e Silvana como cantando e onde estás coração que ele tenha um lugar para cantar para os anos la no céu que Deus o tenha em um bom lugar

  3. Liliane Costa // 28 de março de 2018 em 20:49 //

    Que maravilha !!
    Sou encantada com essas “estorias”…

    Parabens a todos !!

  4. Valdir toporcov // 28 de agosto de 2019 em 22:58 //

    Conheci Rinaldo em sao paulo na decada. chegou a ter programa na tv gazeta de sao paulo. Agora ele e Silvana cantando a musica Amor chegaram a ficar anos nas parada de sucessos do Brasil. Acredito que essa gravacao foi a que fez mais sucesso em toda historia musical do Brasil

  5. Rinaldo Calheiros solo ou com a Silvana tem musicas belissímas e vozes maravilhosas! Uma pena serem esquecidos. 👏👏👏🙏🙏🙏

  6. Há um comentário aqui onde a leitora reclama de ha muito não ouvir a voz nos meios midiáticos de Rinaldo Calheiros.
    A resposta para isso deve ser esta: Vivem na Caverna de Platão, botam a cabeça pra fora o que a vista alcança é o sucesso.

  7. Maria Lucia dos Santos // 10 de setembro de 2021 em 23:20 //

    Adoro recordar as músicas de Reinaldo Calheiras e Silvana a mais bela voz que já ouvi de cantoras
    Gostei dessa biografia.parabéns

  8. Vozes maravilhosas. Lembro da dupla cantando na tv de roupa de gala. Maravilhosos!

  9. Sucessos inesquecíveis.
    Grandes talentos.
    Pena que o brasileiro tem a memória curta.

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