Maceió foi uma das primeiras capitais do país a ser iluminada por energia elétrica
As primeiras cidades brasileiras a serem iluminadas, ainda no século XIX, utilizavam luminárias que queimavam óleo de baleia e depois óleos vegetais e animais. A cidade do Rio de Janeiro passou a utilizar estes combustíveis em 1794. Foi adotado em São Paulo somente no ano de 1830. A iluminação a gás foi uma novidade instalada de forma pioneira em São Paulo no ano de 1854 e permanecendo ativa até meados de 1936.
A iluminação elétrica pública foi utilizada pela primeira vez em Nova Iorque no ano de 1882. A energia era fornecida por uma termelétrica.
No Brasil, a primazia coube à cidade de Campos, no Rio de Janeiro, em 1883. Ali, a luz elétrica de 39 lâmpadas iluminou as ruas de uma cidade brasileira pela primeira vez. Semelhante a Nova Iorque, também utilizou energia de uma usina termelétrica. Rio Claro, em São Paulo, foi a segunda.
Na cidade do Rio de Janeiro, capital da República, este serviço somente foi implantado nas ruas em 1904 e na capital paulista em 1905. Porto Alegre (RS), em 1887, foi a primeira capital a receber o serviço municipal de iluminação elétrica.
Em Juiz de Fora (MG), em 1889, construiu-se a primeira hidrelétrica que não servia apenas a interesses da iniciativa privada. Também conhecida como “Farol do Continente”, a hidrelétrica de Marmelos é considerada o marco zero da energia elétrica no Brasil e na América Latina.
Curitiba (PR) foi outra capital pioneira na utilização da energia elétrica na iluminação pública. No dia 12 de outubro de 1892 colocou em funcionamento sua usina.
Maceió e a lâmpada do Argemiro
Foi em 1887 que pela primeira vez que se viu luz elétrica em Maceió. O responsável por tal feito foi Argemiro Augusto da Silva. Era proprietário da Relojoaria Argemiro e tinha o “genial talento artístico em construções de motores mecânicos, relógios elétricos e em importantes trabalhos de arte…”, destacava o Gutenberg de 21 de janeiro de 1887.
Auxiliado por José Simões, Argemiro anunciou naquele jornal que iria “expor um foco de luz elétrica à apreciação pública na noite de 18 corrente, em sua oficina de relojoeiro, à rua do Comércio”. O prédio, também sua residência, era o de número 299.
O Gutemberg assim recebeu a novidade: “Ao sr. Argemiro, o primeiro que apresentou luz elétrica em nossa capital, e ao sr. José Simões, seu auxiliar, nossos cordiais aplausos”.
Argemiro, que era natural de Pão de Açúcar, ainda em 1887 foi ao Rio de Janeiro registrar a patente de sua lâmpada elétrica. Na capital federal, também apresentou sua luz elétrica ao público no Lyceu de Artes e Ofícios.
Confiante em sua invenção, apresentou também uma proposta de iluminação pública para Maceió ao presidente da Província José Cesário de Miranda Monteiro.
Aprovada a proposta e estabelecido o contrato pela Lei nº 1018 de 11 de dezembro 1888, que “exigia que a iluminação fosse feita, (…) pelos processos mais aperfeiçoados de luz elétrica. Teria que iluminar ruas e praças (…) por meio de duzentas lâmpadas de intensidade equivalente a dezesseis velas esteáricas cada uma (…). O contratante teria o prazo de dois anos para efetuar o serviço”.
Entretanto, esta autorização foi revogada pouco tempo depois sem maiores explicações.
Maceió iluminada
Em outubro de 1895, o Gutenberg se dirigia “Às mães de família” para explicar as vantagens da utilização da luz elétrica, após o anúncio da sua instalação. “Todos devem abolir o querosene, todos devem preferir sem hesitar a luz elétrica, porque não somente é econômica, higiênica, como é cômoda e bela”, justificava.
Ao entrar em funcionamento, a novidade foi saudada como sinal de progresso e até concurso foram promovidos para escolher quem melhor descrevia os benefícios da luz elétrica em Maceió.
Uma poesia de autoria do leitor Ovídio, foi publicada no Gutemberg de 6 de fevereiro de 1896.
A LUZ ELÉTRICA
A nova luz luarina
tudo traz em confusão,
o tolo fica espantado
o sábio perde a razão.
Vê-se agora pelas ruas
um pau fincado, e no ar
fios negros estendidos
vão as ruas circular.
Um pauzinho muito preto
em globo colocado
faz enorme, viva chama,
quando é eletrizado.
E esse grande chapéu
que eu vejo nas esquinas
é somente o capacete
das enormes lamparinas.
Já nas ruas, nas janelas
vê-se que o povo assoma
para ver a nova lua
metida numa redoma.
À noite, esses papalvos
que na rua sempre vejo
fazem lembrar a raposa
tomando a lua por queijo.
E o povo todo em massa,
gritando sempre dizia
Viva o Maia, o Loureiro,
que da noite fazem dia.
A cidade de Maceió, que passou a utilizar iluminação elétrica no final de 1895, mas inaugurou seus serviços no dia 14 de janeiro de 1896, foi uma das pioneiras no Brasil. A iniciativa na capital alagoana coube à empresa Luz Elétrica de Alagoas, fundada em 1896 tendo como sócios-proprietários Adriano Maia e João Antônio Loureiro.
Foram estes sócios que trouxeram a Maceió o eletricista inglês Thomas Blair, que chegou a bordo do navio “Tamar” no dia 16 de outubro de 1895.
A firma era oficialmente a Adriano & Loureiro e a usina da empresa ficava à Rua da Soledade, atual Rua José Bonifácio, ao lado do Palácio dos Martírios. Anúncios nos jornais da época informavam que a empresa estava contratando o serviço de fornecimento de “lenha do mangue” para a fornalha da sua usina.
Foi autorizada a explorar o serviço após assinar contrato com a Intendência Municipal em agosto de 1906. No ano seguinte, quando a distribuição da energia elétrica passou a ser encargo do Estado, novo contrato foi estabelecido, desta feita como o governador, que publicou o Decreto nº 148, de 24 de setembro de 1897. A concessão do serviço foi estabelecida para 50 anos e coube à empresa a instalação de 100 focos de iluminação pública, recebendo por este serviço a subvenção anual de 60:000$000.
O contrato estabelecia ainda que seriam gratuitas as instalações e iluminação do Palácio do Governo. Os demais estabelecimentos públicos teriam abatimento de 30% nos custos do mesmo serviço. Além disso, a iluminação pública ocorreria entre 18h30 e 5h da manhã, e a particular das 17h30 às 4h da manhã.
A empresa recebeu do governo como auxílio um empréstimo de 150:000$000 em apólices, benefício autorizado pela Lei nº 175, de 4 de junho de 1897.
Inauguração
Na noite da inauguração, “As ruas da cidade foram até alta hora da noite muito frequentadas, num desarrazoado trânsito de famílias e pessoas”, publicou o Gutenberg de 16 de janeiro de 1896. Nessa mesma edição há também o registro do primeiro incidente: um cidadão quebrou com uma pedrada uma das lâmpadas inauguradas. Dias depois, a polícia prendeu Anastácio Feliciano dos Santos “por ser encontrado querendo trepar em um dos postes da iluminação pública e tentar quebrar a lâmpada”.
Quatro dias após a inauguração, o inspetor de Higiene de Maceió ordenou que o serviço de retirada de lama das sarjetas da cidade fosse transferido para o período noturno, por ser mais “cômodo para os seus encarregados” e “mais compatível coma a higiene e com a civilização”.
Para o carnaval daquele ano, o Chefe de Polícia interino, Clarêncio da Silva Jucá, fez publicar nota prevenindo “aos diversos clubes e grupos carnavalescos que naturalmente se hão de exibir conduzindo os seus respectivos estandartes, que não toquem nos cabos elétricos que se cruzam em algumas ruas desta capital, uma vez que o quebramento de um deles não só traz como consequência o pagamento da iluminação. Como também pode causar a morte dos transeuntes. Maceió, 15 de fevereiro de 1896”.
Mesmo com imensa receptividade que teve, a iluminação elétrica não ficou disponível para todos imediatamente. A Biblioteca Pública, por exemplo, somente utilizou luz elétrica em 1901, benefício que fez alterar o seu horário de funcionamento, que passou a ser também das 18h às 21h, sendo bem frequentada nesse período.
Em 1902, o Indicador Geral do Estado de Alagoas informava que a iluminação particular era realizada por lâmpadas incandescentes e a energia de corrente alternada era fornecida por dois dínamos de 50 quilowatts cada um. Gerada em alta tensão, a energia era distribuída a 100 volts. O motor da empresa era a vapor, com três caldeiras de 75 cavalos cada uma.
A energia era cobrada aos usuários por valores estipulados em uma tabela que estabelecia os preços de acordo com a quantidade e potência das lâmpadas. A energia era oferecida durante as primeiras sete horas da noite.
Como Maceió tinha então 35.000 habitantes distribuídos em 20.000 unidades habitacionais, o serviço era muito limitado e caro. O Indicador Geral do Estado de Alagoas informava que a empresa não tinha condições de investir na ampliação do fornecimento de energia elétrica, “barateando a luz de maneira a facilitar sua aplicação nos domicílios mais pobres, abolindo o querosene e outros agentes iluminantes”.
Ainda em 1902, a Luz Elétrica de Alagoas passou também a fornecer iluminação pela queima de gás acetileno, obtido com o carbureto. A novidade foi utilizada em várias repartições públicas.
O relatório do governador Paulo Malta em 1904 criticou a empresa Luz Elétrica de Alagoas, que foi acusada de não corresponder ao esperado pelo poder público, que “encheu-a de favores, continuando a dar-lhe elementos de vitalidade”. No relatório, o governo cobra investimentos para recuperar a usina e ameaça com a estatização da empresa.
Em 1907, sem honrar a dívida com o Estado de Alagoas e sem conseguir recuperar seus equipamentos, a Luz Elétrica foi executada e arrematada em hasta pública pelo comendador José Antônio Teixeira Basto, que pagou 35:000$000 pela empresa e imediatamente encomendou novos equipamentos na Europa. O novo proprietário, que também controlava a Companhia de Trilhos Urbanos de Maceió, a partir de 1913 começou a substituir os bondes puxados a burros por veículos com tração elétrica.
A empresa passou a ser denominada Nova Empresa de Luz Elétrica. Houve nova mudança de nome em 1931, quando a “Amford” adquiriu a empresa e adotou a denominação de Companhia Força e Luz do Brasil – Maceió. No final dos anos 50, foi criada a Companhia de Eletricidade de Alagoas, vinculada ao Departamento de Águas e Energia do Governo do Estado de Alagoas.
Gostei muito da energia elétrica de alagoas