Maceió em 1911 e o primeiro ônibus a circular na capital

Ônibus na Av. da Paz nos anos 60

Bonde e ônibus na Praça dos Martírios nos anos 50

No dia 27 de janeiro de 1911, o jornal Gutenberg publicou uma matéria, assinada por P. C., sobre o trânsito em Maceió em plena Era Malta, quando Euclides estava no governo do Estado e Luís Mascarenhas na Intendência.

O texto, ao citar os nossos meios de transportes, não revela a existência do ônibus em Maceió até aquela data.

O trânsito público

A nossa Maceió de hoje não é mais aquela capital feia e insípida de diversões e movimento de dez anos atrás.

As coisas estão completamente mudadas, — observa-se agora o desenvolvimento crescente e progressivo em todos os ramos de atividade.

O comércio, as indústrias, as artes, tudo enfim se desenvolve de um modo rápido e próspero à olhos vistos.

Aí temos o Teatro, o prado de corridas, cinemas permanentes, bondes à miúdo para todos os bairros e automóveis de passageiros e de carga por todos os recantos da cidade.

A par disto, temos os melhoramentos e embelezamentos públicos — estátuas, edifícios modernos, praças calçadas e arborizadas, devido aos esforços das administrações, quer estaduais, quer municipais.

O povo maceioense já respira satisfeito uma atmosfera melhor, sôfrego e contente aflui em massa aos divertimentos e festejos, como que despertado de profunda e condenável letargia, que o detinha atrasado e indolente.

O movimento e o trânsito público de hoje atestam grandemente esta verdade.

Entretanto, nota-se um retardamento lamentável na remoção dos grandes empecilhos, aliás perigosos que a todo o instante atropelam os transeuntes, nas ruas mais públicas da cidade.

Exatamente nestas de melhor comércio e maior frequência, as famílias são a cada passo atropeladas por toda sorte de tabuleiros, cestos e caixotes a cabeça de criados e ganhadores sobre o passeio, ou ainda pela caixa imunda do engraxate.

Ônibus na Praça dos Palmares nos anos 50

E o que é mais dissonante em tudo isso, são as tais carroças, com suas rodas de ferro, de peso brutal, voltadas de encontro ao tijolo ou ao frágil cimento das calçadas com um pranchão estendido para o interior dos armazéns, ocupando deste modo além do passeio, mais o espaço do veículo e dos animais que vão ter ao centro da rua, interrompendo assim a linha de bonde, os automóveis e os transeuntes, muitas vezes na iminência de perigos e desastres lamentáveis.

Não seria muitíssimo conveniente que as autoridades, tomassem sérias medidas a respeito?

De certo; as carroças podem perfeitamente efetuar o serviço de carga e descarga junto as calçadas, mas ao longo das ruas e quanto aos ganhadores e engraxates não se permitir que transitem por cima dos passeios.

É uma questão simples, de ordem e boa vontade, evitando amiudados desastres e tristes incidentes.

Aí fica, em traços ligeiros o que temos observado em nosso meio e esperamos que sejam tomadas as devidas providências em bem do público, da civilização e dos bons costumes.

Dias depois, em 3 de maio, o mesmo jornal publica uma nota informando que em Maceió passou a circular o primeiro ônibus no dia 30 de abril de 1911. A mesma publicação também informa sobre o primeiro acidente com tais veículos.

Auto-ônibus

Ônibus de Maceió em Sete Coqueiros

Foi inaugurada efetivamente no dia 30 do p. passado mês, o serviço auto-ônibus, da firma Fortes & Cª.

Meio-dia precisamente, em frente ao teatro Deodoro, onde achavam-se os convidados da referida firma, tomou-se o elegante carro, acabado aqui, indo-se até a praça dos Martírios para receber o exmo. dr. Governador do Estado e o dr. Secretário da Fazenda.

Daí dirigiu-se o veículo pala rua do Comércio até Jaraguá, parando em frente ao hotel Comercial onde a convite da firma empresária foi servido champanhe, falando por esta ocasião, em nome da cidade, o ilustre dr. Intendente congratulando-se com o grande melhoramento, e felicitando ao sr. Arsênio Fortes e coronel Barreiros Filho, operosos comerciantes que tiveram a feliz ideia de dotar nossa capital de melhoramento que a põe em pé de igualdade com as demais capitais do país.

Agradeceu, em nome dos dois cavalheiros o tenente Arthur Lopes do Rego.

Falou em seguida o dr. Calaça que brindou os dois referidos senhores, ao Governador do Estado e ao Intendente.

De regresso o auto fez o trajeto pela rua da Boa Vista até a praça dos Martírios, ponto de partida do trafego até Jaraguá, principiado às 7 horas da manhã. As passagens são de duzentos réis, dando direito ao possuidor do cupom de receber da empresa um por cento.

Renovamos nossas felicitações ao município e aos dois instituidores de tão útil empreendimento, srs. Arsênio Fortes e coronel Barreiros Filho.

Anteontem o veículo, de que falamos acima, foi de encontro a uma tolda de loja, arrebentando uma coluna e rasgando a cortina.

Não se verificou desastre pessoal.

Ônibus em Maceió

Antiga Lotação estacionada na Pista do Vergel do Lago. Foto do acervo de Ana Claudia Birkheuer

A ideia de utilizar ônibus em Maceió foi discutida pela primeira vez em outubro de 1905, quando o Conselho Municipal de Maceió aprovou o pedido de “três capitalistas e industriais da Bahia e Recife”, que solicitaram autorização para ter “preferência para o trafego urbano e suburbano por meio de ônibus automóveis”.

Como registrou o Gutenberg de 4 de outubro de 1905, era um “sistema rápido e aperfeiçoado de transporte de passageiros, bagagens, cargas e encomendas…”. Os sócios da Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos, que explorava o serviço de bondes na capital, não gostaram da ideia e vários artigos foram publicados nos jornais sobre o assunto.

O argumento dos proprietários da CATU era o de que a concessão que eles já detinham, permitia a exploração privilegiada também dos ônibus por 50 anos.

Mesmo com a oposição da Trilhos Urbanos, o contrato com Joaquim Arthur Pereira Franco, Augusto Xavier Carneiro e Napoleão Duarte foi assinado e publicado no dia 12 de novembro de 1905, destacando que eles detinham a concessão durante 20 anos, com base na Lei Municipal nº 92, de 10 de outubro de 1905.

Mesmo com autorização, os empresários não implantaram os ônibus e a concessão caducou seis meses depois, como estipulava o contrato.

Um novo contrato voltou a ser celebrado no dia 30 de março de 1911 com a empresa de Arsênio Fortes e Antônio Barreiros Filho. A concessão exclusiva era de 60 anos e foi autorizada pela Lei Municipal nº 167 de 27 de março de 1911.

Este foi o período inicial da implantação do ônibus urbano como meio de transporte em Maceió. O primeiro circulou no dia 30 de abril de 1911.

3 Comments on Maceió em 1911 e o primeiro ônibus a circular na capital

  1. José Humberto Vieira Peixoto // 3 de janeiro de 2018 em 21:07 //

    nos anos 60 para ser mas preciso em 1965 rodava para Boca da Mata uma lotação dessa que que sai as 6,00 hs da manha e só voltava no inicio da noite, lembro-me que todos os dias no horário de chegada da lotação praticamente toda a cidade esperava pela simples curiosidade para saber quem desembarcava,
    coisas do interior.

  2. Carlos Roberto de Freitas // 5 de janeiro de 2018 em 15:46 //

    Eu amo essa capital de AL, Maceió.

  3. Mario Buarque // 5 de janeiro de 2018 em 23:50 //

    Relembrar é viver! Legal!

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