Manoel Gomes Ribeiro, o Barão de Traipu
Nasceu em Japaratuba, Sergipe, em 20 de junho de 1841, e faleceu em Penedo, 27 de julho de 1920.
Filho de Manuel Gomes Ribeiro Filho e Teresa de Jesus Gomes, foi deputado e senador por Alagoas. Casou-se com Antônia Soares (10 de outubro de 1851 — 17 de janeiro de 1928) e tiveram duas filhas: Maria Gomes Ribeiro e Tereza Gomes Ribeiro.
Presidente interino da Província, governador, senador estadual e federal, deputado provincial, chefe do Partido Conservador no Império. Como 1° vice-presidente, nomeado em 1° de setembro de 1885, ocupou por duas vezes o governo da Província.
Florianista, recebeu o título de Coronel Honorário do Exército. Proclamada a República, foi eleito senador estadual, tendo sido presidente do Senado de Alagoas.
Titulado como Barão de Traipu em 24 de novembro de 1888.
Assumiu o governo como presidente do Senado estadual, de 28 de novembro de 1891 a 24 de novembro de 1892. Novamente governador do Estado, agora eleito, tomou posse em 16 de setembro de 1894 substituindo Gabino Besouro, que fora deposto.
Foi destituído em 1° de maio de 1895, mas novamente empossado no cargo pelas forças federais, no dia seguinte. Licencia-se em julho de 1895, retornando ao cargo em janeiro de 1896, permanecendo até 12 de junho de 1897.
Senador federal por Alagoas em 1900. Chefe do Partido Republicano em Alagoas, tendo renunciado a essa chefia por divergências com o seu genro, Euclides Malta, que o sucede no governo.
Rompe publicamente com Euclides, quando Paulo Malta foi o sucedeu o irmão no governo do Estado. Afasta-se da política, só retornando em 1909, quando foi eleito senador, permanecendo no senado federal até 1918.
Em artigo publicado no semanário A Voz do Povo, em 1º de junho de 1920, o jornalista Coelho Cavalcanti se refere a Manoel Gomes Ribeiro como um antigo capataz do Barão de Cotegipe, com quem estabeleceu amizade “por sua índole bondosa e submissa”.
Coelho Cavalcanti informa ainda que ele teve uma educação formal limitada, mas que foi ajudado por Cotegipe, que o fez eleitor do seu partido, inspetor de quarteirão e mais tarde vereador.
Sobre o curto período em que governou os destinos de Alagoas, Coelho disse que alguém governava por ele. “Esse alguém era a família Mendonça, de famigerada memória da qual magnifico rebento é esse Wanderley de Mendonça que anda a desbaratar na Europa as quinhentas mil libras do célebre empréstimo alagoano”, denunciou.
Após contar diversos episódios que revelavam as limitações culturais do Barão de Traipu, o jornalista encerra revelando um diálogo com Fausto de Barros em 1893, que teria perguntado a ele se alguém podia cometer três erros numa só palavra. Como mostrou-se admirado, Fausto, rindo, respondeu ele mesmo: — O Barão de Traipu diz cerconferença.
Eis, na íntegra, o texto de Coelho Cavalcanti:
O Barão
Manoel Gomes Ribeiro é o nome dele.
Antigo capataz do Barão de Cotegipe, insinuou-se, por seu trabalho, por sua índole bondosa e submissa, na amizade do egrégio patrão.
Chegou em letras, até ao segundo Livro de Leitura, do glorioso Macahubas, e fazia de cabeça as quatro espécies de conta.
Cotegipe fê-lo eleitor do seu partido, inspetor de quarteirão, e mais tarde vereador.
A fortuna, essa prostituta, como lhe chama Shakespeare, apaixonou-se louca e desgostosamente por ele, encheu-lhe o nome de sufrágios e as algibeiras de dinheiro.
O imperador deu-lhe um título.
Nos últimos tempos da monarquia, Traipú assumiu, por vezes, a presidência da então província das Alagoas.
Governava então, alguém por ele. Esse alguém era a família Mendonça, de famigerada memória da qual magnifico rebento é esse Wanderley de Mendonça que anda a desbaratar na Europa as quinhentas mil letras do célebre empréstimo alagoano.
Após haverem as forças armadas proclamado, em nome do povo, a República, Manoel Gomes continuou a subir, vindo a ser chefe político, governador do Estado e a sentar-se, feito senador, na cadeira de José Maurício Wanderley.
O Conselheiro Saraiva aí foi encontrá-lo, sem o saber seu colega.
Riu-se, riu-se muito, e sempre que o imaginava, ria-se.
Dizem que dispondo do poder e dos cofres públicos, constituiu-se uma das escassíssimas exceções neste engraçadíssimo país: não matou nem roubou.
Lembremos coisas da vida do Barão.
Quando aportou ele no Rio pela primeira vez, não foi de todo feliz: entraram-lhe no camarote e levaram-lhe uma bolsa com dez contos de réis.
Um alvoroço desusado a bordo do Maranhão.
A reportagem, curiosa, sempre ávida de escândalo cerca-o e entope-lhe os ouvidos de perguntas.
— Eu não sei, meus amigos, roubaram-me na ocasião em que me achava no protocolo.
Referia-se ao portaló do navio.
Um dia, Pinheiro Machado, precisando-lhe do voto no senado telegrafa para Alagoas, chamando-o urgentemente.
Não veio. Volvido um mês desculpa-se ele em frente ao chefe gaúcho, com a circunstância de se ver obrigado, às instâncias de amigos, a assistir à inauguração da estátua de Deodoro.
Pinheiro aceitou gentilmente as razões alegadas, e, com aquela voz resoluta, de comando, perguntou-lhe:
— É equestre a estátua?
O senador alagoano não sabia a significação do vocábulo; silenciou por segundos, depois bordejou, tranquilamente a mão direita aberta, franziu a testa e respondeu:
— É meio equestre…
Uma feita, moças, em Penedo, lhe foram visitar as filhas, suas amigas delas.
ex. rejubilou-se da visita; agradeceu-lha com unção de afeto e reconhecimento.
Seguidamente voltou-se para a Sinhá, a sua primogênita, e suplicou mansamente.
— Sinhá, manda vir uma lamina de chá para as meninas.
Queria dizer chávena.
Quando Monteiro Lopes, de saudosa memória, fez sua longa excursão pelo norte, saltou em Maceió.
Traipú recebeu-o condignamente, deu-lhe um jantar, andou com ele de cabriole a percorrer a cidade.
Por fim levou-o a Santa Casa de Misericórdia. Convidou-o a visitar todas as dependências, a sala de operações, a farmácia, o laboratório, o necrotério.
O hóspede exaltou-se do quanto viu; deu-lhe, ao Barão, os parabéns de seus esforços triunfadores a prol de tão pia instituição.
Manoel Gomes agradeceu entre orgulhoso e comovido, e suspirou:
— Agora vai o doutor ver a sala dos aparelhos jurídicos.
Os aparelhos eram cirúrgicos.
Perguntava-me, em 1893, Fausto de Barros, que se partiu na flor da vida:
— Achas tu que se possa cometer três erros de prosódia numa só palavra?
Olhei-o de fito, admirado.
E ele, sorrindo:
O Barão de Traipú diz cerconferença.
Coelho Cavalcanti (Voz do Povo de 1º de junho de 1920 ano nº 113, primeira página).
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