Benedito Bentes, o comerciante que eletrificou Alagoas
Benedito Geraldo do Vale Bentes nasceu no dia 29 de abril de 1918 em Manaus, capital do Amazonas. Ainda criança, acompanhou a família quando seu pai, o engenheiro agrônomo Manoel Gentil do Valle Bentes, deixou Manaus em 1929 e foi trabalhar na Estação Experimental de Ilhéus.
Considerado como o primeiro centro de pesquisa de cacau do mundo, estava instalado no distrito de Água Preta, atual município de Uruçuca, na Bahia. Manoel Gentil ficou por lá até 3 de março de 1933, quando a Estação foi estadualizada. Nesta data era o Chefe de Culturas.
Em 1934, nova transferência levou o agrônomo, acompanhado de sua família, a estabelecer residência em Satuba, Alagoas. Tinha sido contratado como professor do Aprendizado Agrícola Floriano Peixoto, atendendo ao convite do agrônomo e diretor da instituição José Tupinambá do Monte, o Dr. Tupi.
Em março de 1939, ainda em Satuba, se submeteu a concurso para ser efetivado como agrônomo do Ministério da Agricultura, fato que ocorreu em junho daquele mesmo ano. Até então era interino.
Quando chegou em Alagoas, Manoel Gentil estava acompanhado de sua esposa, Alcina Andrade do Valle Bentes, e de duas filhas, Ana Bentes Ferreira Pinto e Terezinha de Jesus Bentes Normande.
Benedito Bentes e José Anchieta permaneceram estudando em regime de internato no Colégio Antônio Vieira, em Alagoinhas na Bahia.
Somente quando concluiu o ensino médio foi que Benedito Bentes se juntou à família, que já morava em Maceió para facilitar o estudo de suas irmãs no Colégio São José.
Por ter sido aprovado no curso preparatório na Bahia, foi matriculado imediatamente na Faculdade de Direito de Alagoas.
Casou-se com Vega Lima Bentes, filha de Heráclito Lima, proprietário de sítios de coqueiros de Alagoas, com quem teve cinco filhos: Luciano, Marden, Humberto, Eduardo e Geraldo.
Seu irmão, José Anchieta do Valle Bentes, entrou para a Academia Militar, chegando a coronel do Exército brasileiro.
Durante o processo do impeachment de Muniz Falcão em 1957, o então major José Anchieta fez declarações contra o governador, o que rendeu sua transferência para o Amazonas, onde assumiu em Manaus o comando do 27º Batalhão de Caçadores.
No final do ano de 1960, foi transferido para o 2º Regimento de Infantaria, Vila Militar, no Rio de Janeiro. Só voltou a Alagoas em dezembro de 1967 para assumir a Secretaria Estadual de Viação. Até aquela data era o prefeito do Distrito Militar de Deodoro, na então Guanabara.
Benedito Bentes, mesmo sendo bacharel em Direito e aprovado em concurso para o Ministério do Trabalho, área do serviço público que destacou Muniz Falcão para a política, optou pelo comércio, setor que o projetou na sociedade alagoana.
Seu primeiro grande investimento foi em sociedade com Flávio Luz. A firma Bentes Luz representava os veículos Ford em Alagoas. Revendeu ainda veículos da Mercedes e equipamentos da Burroughs Corporation, esta última no ramo de computadores.
Em pouco tempo era um dos principais líderes do comércio local, o que o levou à presidência da Federação do Comércio e do SESC/SENAC em Alagoas. Por muitos anos também participou a direção da Confederação Nacional do Comércio.
Em agosto de 1964, Benedito Bentes se associou a Pedro Silveira Coutinho e a Euler Moura Matos para constituírem a Imperial Diesel em Recife. A firma ficava na Rua Imperial, 1638, e era concessionária da Toyota e da Mercedes Benz. A inauguração ocorreu no dia 21 de fevereiro de 1965 com a benção de D. Helder Câmara.
Política
Nas eleições para o governo do Estado de Alagoas em 3 de outubro de 1960, o vencedor foi Luiz Cavalcanti (UDN), que derrotou Abraão Moura (PSP) por uma diferença de apenas 1.702 votos.
Em dezembro daquele ano, em um almoço em homenagem ao eleito, alguém perguntou quem teria sido a pessoa mais importante da campanha vitoriosa. Segundo nota publicada na revista O Cruzeiro de 24 de dezembro de 1960, “o Major Luiz Cavalcanti surpreendeu os presentes com a citação de um nome não ligado a qualquer partido político, o do Sr. Benedito Bentes, seu amigo particular, simples comerciante”.
Quando assumiu o governo, no mês seguinte, o major Luiz Cavalcante convidou Benedito Bentes para assumir a presidência da Companhia de Eletricidade de Alagoas, a Ceal, empresa criada em 1960 e que tinha como presidente Beroaldo Maia Gomes, coincidentemente, o vice-governador da chapa derrotada de Abraão Moura. A partir de 1983, a Ceal passou a ser sigla da Companhia Energética de Alagoas.
Contando com a colaboração de Napoleão Barbosa e do próprio Beroaldo Maia Gomes, que participaram ativamente da constituição da empresa durante o governo de Muniz Falcão, iniciou uma sequência de grandes realizações na eletrificação do Estado. Napoleão foi diretor administrativo da Ceal de 1961 até 1971. Benedito Bentes dirigiu a empresa até agosto de 1974, quando faleceu repentinamente.
Eletrificação do Estado
Para vencer o desafio de levar energia elétrica a todas as sedes dos municípios do Estado foi elaborado o Plano de Eletrificação de Alagoas, que recebeu a contribuição de Napoleão Barbosa, Beroaldo Maia Gomes, Oswaldo Braga, Lenine Motta, Adalberto Câmara e Maurício Gondim.
Esse Plano, que foi executado durante os governos de Luiz Cavalcante, Lamenha Filho e na interventoria do general Tubino, levou Alagoas a ser o primeiro estado brasileiro a ter energia definitiva nas sedes municipais pelo sistema hidroelétrico e o pioneiro em eletrificação rural em todo o Nordeste.
Em 1961, no início do PEA, Alagoas tinha somente sete cidades que recebiam energia elétrica de Paulo Afonso.
Uma das primeiras medidas adotadas por Bentes na direção da empresa teve repercussão nacional. Ele anunciou que a Ceal somente utilizaria material produzido pela indústria brasileira, como noticiou o Diário de Pernambuco de 17 de agosto de 1963.
No final do governo de Luiz Cavalcanti, em 1966, 37 cidades já estava recebendo energia elétrica e, em maio do ano seguinte, Benedito Bentes anunciou que a Ceal iria reduzir o preço das tarifas de energia elétrica. A medida fazia parte do esforço desenvolvimentista do governador Lamenha Filho, que pretendia atrair novas industrias para o Estado.
Foi Porto de Pedras, no dia 13 de abril de 1969, a última sede de município alagoano a receber energia de origem hidroelétrica.
O serviço foi inaugurado pelo então ministro do Interior Costa Cavalcanti e pelo governador Lamenha Filho. O ato contou ainda com a presença do superintendente da Sudene, general Tácito de Oliveira; do presidente da Chesf, senador Apolônio Sales; do senador Teotônio Vilela; do prefeito de Porto de Pedras, José Aluísio da Cunha; e do presidente da Ceal, Benedito Bentes.
Benedito Bentes, o bairro
O conjunto habitacional que homenageou Benedito Bentes foi construído em 1986, quando o governador de Alagoas era Divaldo Suruagy e o prefeito Djalma Falcão.
O projeto daquela unidade habitacional foi do arquiteto carioca Acácio Gil Borsoi, que atuava a partir de Recife desde o início da década de 1950, onde era também professor na Faculdade de Arquitetura do Recife. Os projetos de Borsoi influenciaram profundamente a arquitetura na região.
Acácio Gil Borsoi também foi o projetista, em Maceió, do prédio do Banco da Produção, do Edifício Lagoa Mar e de várias casas, principalmente na Pajuçara.
Por suas dimensões e localização privilegiada, aos poucos o Conjunto foi ganhando em sua vizinhança várias outras unidades habitacionais, transformando a área no maior e mais populoso bairro da capital.
Fazendo fronteira ao norte com Rio Largo, e ainda com os bairros da Serraria, Jacarecica, Guaxuma, Garça Torta, Riacho Doce, Antares e Cidade Universitária, o Benedito Bentes já foi alvo da tentativa de emancipação. O projeto de um vereador o levaria ser mais um município de Alagoas.
Com mais de 80 logradouros, o atual Complexo Benedito Bentes é constituído pelos conjuntos habitacionais Benício Mendes, Frei Damião, Jardim Paraíso, João Sampaio II, Luís Pedro III, Moacir Andrade, Selma Bandeira, pelos loteamentos Alvorada e Bela Vista, e pelas grotas da Alegria e da Caveira.
Outra homenagem a Benedito Bentes foi prestada pelo Sesc Poço, em Maceió, que ao inaugurar seu ginásio no dia 30 de maio de 1965, deu a ele o nome do ilustre líder do comércio alagoano. Seu pai, Manoel Gentil do Valle Bentes, também teve o seu trabalho reconhecido e hoje é nome de uma escola no município de Satuba.
Excelente o texto. Mais uma vez Ticianeli nos presenteia com ricas informações de um grande administrador. Que possamos sempre “beber” dessa cultura que, infelizmente, se torna rara em nosso meio. Que surjam outros Ticianeli para resgatar a nossa história.
Excelente! Nunca aprendi isso na escola!
Homem de bem que se foi muito cedo!
Orgulhoso do que ele fez, faltam pessoas assim como ele no mundo de hoje!
Matéria impecável, ótima. Para a todos da família Bentes. Toda Alagoas agradece a todos os serviços prestados por Benedito Bentes. Torço para que mais publicações desse estilo sejam publicadas.
Apesar de trabalhar na Ceal, hoje Eletrobras Alagoas, há 27 anos, desconhecia a importância de Benedito Bentes para a companhia e para o nosso estado. De certa forma, é significativo que essa parte da história seja contada justamente agora, quando um novo ciclo pode estar se encerrando na Ceal, com a sua prevista privatização.
Excelente trabalho ! Sou de 1950 e, portanto, lembro de muita coisa da trajetória de tio Bentes
Contemporâneo Ticianeli sempre dando um banho de cultura com pesquisas importantes dos políticos e executivos da época.
Interessante! Sou professora de História, mas nas salas de aula não há tempo, ou interesse político para divulgar os verdadeiros fazedores de história de Alagoas. Conheci os Bentes quando trabalhava no comércio, na década de setenta,na antiga rua Boa Vista. Passavam todos os dias para a loja que ficava vizinha ao antigo Jornal de Alagoas. Naquela época eu não tinha conhecimento da contribuição dessa família para o nosso Estado. Portanto, foi muito boa essa publicação do Ticianeli. Este ano Alagoas está comemorando seus 200 anos de Emancipação e as escolas públicas estaduais estão executado as Olimpíadas de História de Alagoas, resgatando, assim, as nossas origens e seus ilustres fazedores da nossa história!
Meu respeito e facínio pela rica historia de Alagoas e seus bravos fundadores. Benedito Bentes, um grande nome, homem imortal que jamais deixará de existir.
História muito boa.. Me interessei pois sou da família Bentes pelo q li e seu dia meus antepassados realmente vieram de Manaus… Antes disso fugiram do holocausto de Jerusalém para Amazonas.. Somos descendentes de Judeus.
Esse arquiteto devia tá muito chapado quando planejou as ruas do Benedito 1, a calçada é maior do que a rua que só passa um carro por vez, sempre me perguntava quem foi o fdp que planejou essa porra hj descobri, valeu pelo artigo.