Manoel Lopes Ferreira Pinto, o desembargador violinista de cinema
Essa história foi contada por Arnon de Mello e publicada na revista Última Palavra de 8 de abril de 1988.
“Foi Costa Rego quem me conseguiu o primeiro emprego no Rio. Eu me dava bem com ele, desde quando o Grêmio Literário Guimarães Passos o elegera seu sócio honorário e eu fora indicado para saudá-lo em nome dos companheiros na sessão solene realizada no nosso Instituto Histórico.
No Rio, mantive sempre as melhores relações com Costa Rego, acompanhando-o quase sempre depois do jantar à redação do Correio da Manhã. Numa dessas caminhadas, pois fazíamos a pé o percurso da rua Buarque de Macedo, no Flamengo, onde residia o ex-governador, à avenida Gomes Freire, onde se localizava o jornal, contou-me ele o seguinte episódio:
— Quando eu era governador, deu-se uma vaga no Tribunal de Justiça, então presidido pelo desembargador Toscano Espíndola. Sabendo que eu iria nomear para a vaga existente o juiz de Maceió, Dr. Manoel Lopes Ferreira Pinto, procurou-me o Dr. Espíndola imediatamente e declarou-me que o mencionado juiz não devia ir para o Tribunal.
— Por quê? — Perguntei-lhe.
— Não sei se V.Ex.ª, sabe, mas o Dr. Lopes toca violino no Cinema Floriano (ainda era o tempo do cinema mudo, que mantinha uma orquestra que se fazia ouvir nos intervalos dos filmes), e não fica bem para o Tribunal tê-lo como um de seus membros.
Prontamente, vali-me do argumento em favor do juiz.
— Foi bom saber disso — assim falei ao Dr. Espíndola. Se o Dr. Lopes toca violino no cinema, é porque o ordenado de juiz não dá para ele manter a família. E o fato diz bem da dignidade porque comprova que se trata de um magistrado rigorosamente honrado, que não vende sentenças, apesar das dificuldades financeiras com que luta. Promovido a desembargador, estou certo de que o Dr. Lopes não tocará mais violino no Cinema Floriano, pois os seus vencimentos serão, então suficientes, para ele manter a família.
E, assim, o Dr. Manoel Lopes Ferreira Pinto foi nomeado desembargador e deixou de tocar violino na orquestra do Cinema Floriano, hoje São Luiz.”
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Quem foi o desembargador violinista
Dr. Manoel Lopes Ferreira Pinto não era um desconhecido em Alagoas quando foi indicado para o Tribunal de Justiça pelo governador Costa Rego em 1927.
Católico praticante, sempre teve participação ativa na sociedade local. Na década dos anos de 1880, o jovem estudante já aparecia como dirigente de várias associações, entre elas a Sociedade União e Progresso e o Clube Literário Casimiro de Abreu.
Em 1885 iniciou o curso superior na Faculdade de Direito do Recife e colou grau no dia 12 de novembro de 1889.
Nos anos seguintes, participou também do Grêmio Dramático Alagoano e da Sociedade São Vicente de Paula, além da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios, onde era da comissão encarregada da realização das famosas festas na praça do mesmo nome.
Foi ainda secretário da Confraria do Santíssimo Sacramento, presidente da Sociedade Luzeiro da Caridade e da Sociedade Auxiliadora dos Cristãos.
Como advogado, atuou em Recife e em Maceió por pouco tempo. Em 27 de janeiro de 1890 foi nomeado pelo governador Pedro Paulino da Fonseca como promotor público de Maragogi.
Logo depois já era juiz de Traipu e Belo Monte. Em seguida perambulou por várias comarcas, ora como juiz, ora como promotor público, até ser promovido Promotor Público da Capital, em 27 de janeiro de 1895.
No ano seguinte, em 7 de março, com autorização do governador, foi contratado como professor da cadeira de Música Teórica e Prática do Liceu Alagoano.
Dele, como músico — e às vezes tratado como maestro — se conhecem poucas obras. A quadrilha para piano De quinze em quinze dias foi apresentada em em Recife no mês de dezembro de 1887. A polca Maria Carolina foi tipografada em abril de 1888 nas oficinas de Rodolpho Lima & Cia., também em Recife. Em julho de 1895 foi divulgada a valsa Mocinha Moeda, impressa na Medeiros, Layme & Cia, em Recife. Outra foi o tango O Protocollo, de outubro de 1896.
Participava de festas e até de apresentações no Clube Fênix. Também era professor particular de música. A partir de 1911 seu nome surge nos jornais também como professor da Escola Normal.
Depois de longa permanência como Promotor na Capital, voltou à magistratura e em 1914 como juiz de Direito da 2ª Vara, em Maceió. No ano seguinte estava atuando no município de Paulo Afonso, hoje Mata Grande. Depois foi removido para Maceió como Juiz de Direito da Capital.
Família
Filho de Joaquim Lopes Ferreira Pinto (comerciante em Maceió que faleceu em 9 de março de 1899) e de Carolina Leopoldina Ferreira Pinto (nasceu em 1844 e faleceu em 10 de março de 1939), Manoel Lopes Ferreira Pinto nasceu em 6 de agosto de 1866.
Sua esposa, a pernambucana Maria Luísa Neves Pinto (casaram-se em Recife no ano de 1887), era filha de Júlio Augusto da Silva Neves e de Lucinda Aurora de Menezes Neves. Faleceu em 25 de setembro de 1920.
Seu pai, Joaquim Lopes Ferreira Pinto, e os sócios Antônio Constantino Pereira Diegues e Tibúrcio Alves de Carvalho, constituíram em 1884 a firma De Carvalho Lopes & Cia na Rua do Comércio. Depois surgiu a firma Lopes & Filho, com endereço na Rua do Comércio, nº 172.
Há registro de pelo menos três irmãos do dr. Manoel Lopes Ferreira Pinto:
João Lopes Ferreira Pinto, nasceu na cidade do Pilar em 30 de maio de 1861, era agrimensor e foi por muitos anos funcionário da Marinha. Em 24 de julho de 1924 foi eleito para a Academia Alagoana de Letras. Tomou posse em 15 de setembro de 1926.
José Lopes Ferreira Pinto faleceu em 13 de julho de 1930, vítima de acidente automobilístico em São Paulo. Era cirurgião dentista.
Júlio Lopes Ferreira Pinto foi Despachante Geral em Maceió. Faleceu em 26 de setembro de 1956.
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Foi possível identificar os seguintes filhos do casal Manoel e Maria Luiza:
Antônio Lopes Ferreira Neves Pinto (nasceu em maio de 1889 e faleceu em 5 de agosto de 1890).
Maria Lopes Ferreira Neves Pinto (nascida em 10 de janeiro de 1894).
Aurora Lopes Ferreira Neves Pinto.
Maria do Carmo Lopes Ferreira Neves Pinto (nasceu em 16 de julho de 1896).
Manoel Lopes Ferreira Pinto Júnior
Joaquim Lopes Ferreira Neves Pinto, nasceu 6 de abril de 1901 e faleceu em 21 de janeiro de 1992. Médico conceituado, foi o criador da Casa de Saúde Neves Pinto em Maceió.
Em 17 de abril de 1896 faleceu uma filha de pouca idade de nome Dulce.
Júlio Lopes Ferreira Neves Pinto, que faleceu tragicamente no Rio de Janeiro quando passeava pela Quinta da Boa Vista e foi surpreendido por um violento temporal. Em busca de abrigo entrou numa gruta ali existente. Lá, uma árvore caiu sobre ele, esmagando pernas e braços. Era estudante da Escola Politécnica e repórter do jornal “A Pátria”. Tinha 21 anos de idade.
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O desembargador
Dr. Manoel Lopes Ferreira Pinto foi nomeado desembargador pelo governador Costa Rego em junho de 1927. O jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, assim comentou a nomeação: “O dr. Manoel Lopes, sem nenhum favor, é um juiz que honra a toga que o reveste, que enobrece as letras jurídicas, que cumpre com escrupulosa retidão os deveres mais sutis da sua augusta missão”.
Em 24 de maio de 1931, quando da fundação da Faculdade Livre de Direito de Alagoas, Manoel Lopes Ferreira Pinto era o professor de Economia e Legislação Social.
Outro fato importante na vida deste magistrado foi ter presidido a instalação do Tribunal Regional de Justiça Eleitoral de Alagoas, sessão realizada no dia 4 de julho de 1932. Tinha assumido a vice-presidência do Superior Tribunal Regional de Justiça em 8 de abril daquele ano, eleito que fora quatro dias antes.
Aposentou-se compulsoriamente em novembro de 1937. Tinha atingido a idade limite para continuar na magistratura. Naquele mesmo ano tinha sido eleito, em 3 de agosto, presidente da Corte de Apelação. Abriu mão da função por saber que teria que retirar-se poucos meses depois.
Faleceu em Maceió nos primeiros dias de outubro de 1953. Foi homenageado com seu nome associado a uma das principais vias do bairro da Gruta em Maceió (Lei Municipal nº 2107, de 22 de abril de 1974).
Um exemplo de dignidade, ética, humildade e trabalho. Tenho a honra de dizer que é meu bisavô, deu seu testemunho ao morrer pobre como nasceu!!!!
Fico muito honrada em saber que meu bisavo foi um exemplo de magistrado , um homem honrado, religioso e honesto
Sabia que ele era muito religioso e que convidava os pobres para almoçar à mesa, vivenciando na prática o cristianismo que sempre professou. O detalhe de sua nomeação pelo governador Costa Rêgo ( exemplo de política) e sua atuação como magistrado revela a seriedade e humildade como desepenhou suas atribuições. Bisavô Lopes, peça a Deus por nós nesse momento tão difícil que estamos atravessando.
se você é descendente de desembargador manoel lopes ferreira pinto, não se acanhe: vá no centro de cultura e memória ver o nome dele escrito na galeria dos desembargadores e converse com nossa equipe! estamos muito interessados em saber mais sobre ele