O Pregão
Cyridião Durval*
Explicação
Os menos jovens desta nossa Maceió, sabem que, por volta da década de 30, existia como uma das melhores casas comerciais da cidade, a conhecida Loja Progresso do conceituado sergipano Virgílio Cabral que, dentre inúmeros artigos finos, especialmente mantinha variado estoque de sedas, as mais procuradas pelas elegantes da terra.
Àquela época quase que a propaganda se limitava às publicações pela imprensa.
Mas, Virgílio Cabral, homem fidalgo e sempre muito bem-humorado, aceitou que um preto velho de nome Manoel Laurentino andasse pela cidade, fazendo propaganda de sua Loja e das sedas que vendia. Eis como o original pregoeiro, alto, sempre de branco, óculos escuros, guarda-chuva e com sua inseparável maleta de vendedor de miçangas, fazia a propaganda da Loja Progresso, por todas as ruas da cidade:
“Quem quer comprar…
Sedas, sedas e mais sedas,
Na rua do Comércio,
Na Loja Progresso
De Virgílio Cabral”
E, assim, pelo dia
A gente via
O velho Laurentino
Parar nas esquinas,
Fazer seu pregão
Das sedas mais finas
Ali no balcão
Da Loja Progresso
Fazendo sucesso…
E enquanto a cidade
De perto o conhecia,
A Loja vendia
Suas novidades do sul do país
E o velho gritava sorrindo, feliz…
“Quem quer comprar…”
E a voz estridente
Dizia pr’a gente:
Mais sedas sem igual
Na Loja Progresso
De Virgílio Cabral!
E o Mundo rodando…
E a gente passando,
E as cousas fugindo,
Por onde andará o velho Laurentino
Que a morte levou?
E o Virgílio Cabral?
Tudo se acabou…
E a gente não ouve
E a gente não vê
Manoel Laurentino tão original,
De novo pregar…
“Quem quer comprar…
Sedas, sedas e mais sedas
Na rua do Comercio
Na Loja Progresso
De Virgílio Cabral…”
*Publicado originalmente na Revista da Academia Alagoana de Letras, Ano VIII, nº 8, dezembro de 1982, Maceió.
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