Natalício Camboim, um pernambucano de Quebrangulo
Por Etevaldo Amorim
Pernambucano de nascimento, mas estabelecido em Alagoas desde os anos 1890, Natalício Camboim tornou-se um dos mais destacados políticos do início do Século XX. Advogado, industrial, chegou a ser Adido Comercial da Embaixada do Brasil na Espanha e Portugal, com sede em Madri. Nessa condição, fez publicar informações sobre os recursos econômicos do Brasil, tais como: “Brasil, sínteses de sus recursos econômicos, nueva edicion aumentada”, Madrid, Imprensa de Juan Puego, 1928.
Natalício Camboim de Mendonça Vasconcelos, nasceu em Barreiros, Estado de Pernambuco, a 23 de maio de 1872. Era filho do Cel. João Carlos de Mendonça Vasconcellos de Ana de Siqueira Cavalcanti Camboim (filha de Ana Olímpia Bezerra de Siqueira e Francisco Alves Cacalcanti Camboim, 1º e único Barão de Buíque).
Estudou no Recife, no Colégio Instituto Acadêmico (Rua Visconde de Goiana, 153, Mondego), prestando Exames de Preparatórios para a Faculdade de Direito no ano de 1888. Nessa ocasião, faz parte do corpo redatorial do jornal O Combate, do Clube Autonomista Acadêmico, juntamente com Francisco de Albuquerque, Belisário Távora, Souza Leão Junior, Estácio Coimbra e J. Studart.
Depois de formado, estabeleceu-se em Quebrangulo, onde, em 18 de fevereiro de 1896, se casou com Joaquina Tenório, filha do Barão de Palmeira dos Índios: Paulo Jacinto Tenório, que dá nome à importante cidade alagoana. Ao morrer em 1927, seu sogro era o maior proprietário rural de Alagoas, com 80 fazendas de gado. Natalício e Joaquina tiveram os filhos: Natércio; Natalício; Maria Júlia; Natálio e Ana.
Em Quebrangulo foi industrial e Presidente do Conselho Municipal e também Inspetor Escolar. Era tio do famoso Tenório Cavalcante, o homem da capa preta (Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque).
Membro do PRC – Partido Republicano Conservador, foi eleito três vezes à Assembleia Estadual: de 1900 a 1907. Em 1908 foi eleito Senador Estadual, mas, com um ano de exercício do mandato, renunciou por ser eleito Deputado Federal. Durante várias Legislaturas, de 1909 a 1916, teve como companheiros de bancada alagoana: João Francisco de Novaes Paes Barreto, Eusébio de Andrade, Epaminondas Gracindo, Sampaio Marques, Raimundo Pontes de Miranda, Rocha Cavalcanti, Barros Lins, Accioly Junior, Alfredo Carvalho, Venâncio Labatut, Alfredo de Maya, Luiz Mascarenhas, Miguel Palmeira, Mendonça Martins, Costa Rego, Luiz Magalhães da Silveira, Freitas Melro, Araújo Goes, Euclides Malta.
Naquela Casa Legislativa, foi membro das comissões de: Redação; Petições e Poderes; Agricultura e Indústria, da qual foi Presidente, e também da Comissão de Diplomacia e Tratados, tendo sido um dos signatários, em 15 de maio de 1915, do parecer favorável à aprovação do Tratado denominado ABC (Pacto de Não Agressão, Consulta e Arbitragem), entre Argentina, Brasil e Chile.
Entre as muitas ações levadas a efeito durante os seus mandatos, encontramos gestões pelo estabelecimento de ligação, por via férrea, entre as cidades de Quebrangulo, Palmeira dos Índios, Porto Real do Colégio; melhoramentos no Porto de Maceió e desobstrução da barra do rio São Francisco. Entretanto, tornou-se mais conhecido pelo que se passou a denominar “Acordo Camboim”. O que seria isso? Seria uma aliança eventual de que resultaria prejuízo para determinada parte. Costa Rego, contemporâneo de Natalício, em artigo intitulado A Fórmula Impossível, no Correio da Manhã, edição de 6 de novembro de 1949, explica:
“A fórmula do ‘Acordo Camboim’ é minha. Há trinta e poucos anos, projetava-se a intervenção federal em Alagoas porque o governador eleito e empossado, Batista Accioli, não tivera, alegava-se, os respectivos poderes regularmente verificados. O deputado Camboim e seus amigos eram pela intervenção; eu, também deputado, e meus amigos éramos contra a medida.
Levado o assunto ao Dr. Wenceslau Braz, Presidente da República, este, que sempre detestou as demandas, sugeriu um acordo, mediante o qual o governo fosse aceito por ambos os grupos, sob a condição, porém, de recompor-se o Senado Estadual, que, na forma da Constituição, reconhecia e proclamava o governador eleito.
Todo o caso político tinha, aliás, por objeto o Senado, cuja legitimidade estava em dúvida por se haver dividido em duas a Assembleia, com o concurso de senadores remanescentes da renovação do terço.
Partiu-se então do princípio de que deveriam desaparecer todos os senadores por meio de renúncia expressa. Dada a ausência do Senado, organizar-se-ia outro, em ato eleitoral a que todos comparecessem com seus candidatos escolhidos em lista comum, compondo o número exato dos senadores, de modo a não poderem os partidos incriminar os mandatos dos adversários. Para organizar essa lista era preciso um acordo.
Os entendimentos foram difíceis. Havia quinze senadores a eleger. Não era possível dividi-los, sem que um partido obtivesse oito contra sete, além de que os três terços deveriam ficar separados por senadores de uma Legislatura, de duas e de três. Os amigos de Camboim queriam a de três Legislaturas, preferência que também era dos meus amigos… A divisão, já impossível pelo número ímpar, ainda se complicava na maneira de atribuir as cadeiras de maior e menor mandato.
Foi quando imaginei uma fórmula: os cinco senadores de maior mandato pertenceriam aos amigos de Camboim; os cinco de mandato médio, aos meus amigos; e os cinco restantes, de mandato menor, seriam indicados pelo governador, que merecia a confiança de ambos os grupos.
Levei a fórmula ao Dr. Wenceslau Braz, para que a impusesse como sua. Pareceu-lhe excelente.
Formou-se a lista de candidatos. O que mais interessava conhecer eram os escolhidos pelo governador, fiel da balança. O governador, membro do nosso partido, foi busca-lo entre nossos próprios correligionários. E assim ficamos com a maioria no Senado.
Camboim, a quem hoje me liga afetuosíssima amizade, fingiu não haver recebido o golpe; mas uma vez, ao lhe perguntarem se o acordo lhe causava satisfação, respondeu:
“Sim, o acordo foi excelente. Estamos vivendo em plena harmonia: eles entraram com o pau, nós entramos com as costas”.
A esta forma de entregar às costas ao pau chamou-se “ACORDO CAMBOIM”.
E Costa Rego arremata: “Como Colombo, o descobridor do Novo Mundo, não deu o nome à América, também eu não dei o meu ao acordo”.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de julho de 1956[i].
Fontes:
BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. ABC DAS ALAGOAS.
ROCHA, José Maria Tenório da. QUEBRANGULO, QUEBRANGULO SEMPRE SERÁS.
MY HERITAGE, https://www.myheritage.com.br/person-3002064_30474742_30474742/dr-natalicio-camboim-de-mendonca-vasconcelos
[i] DIÁRIO DE NOTÍCIAS, RJ, 8 de julho de 1956; DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 6 de julho de 1956.
Natalício Camboin de Mendonça Vasconcelos era padrinho de “Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque.
Natalício Camboin de Mendonça Vasconcelos era padrinho de “Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, de quem o afilhado herda o nome Natalício.