Fina vigarice

Artur Rodriguez de Melo, Afonso José, Kátia Lanuza, Jorge Vilar, Luza de Andrade, Lima Filho, Zezé de Almeida, Cláudio Alencar e Umberto Guerrera
Músico e compositor carioca Freire Júnior

Músico e compositor carioca Freire Júnior

Cláudio Alencar

A pressa de noticiar um fato deixa, às vezes, uma emissora em má posição perante os seus ouvintes. Uma notícia, principalmente se ela é importante, antes de ser mandada ao público, deve ser confirmada. Mas, muitas vezes, aquela emoção de que se sente possuído o repórter que a colheu, ajuda a precipitar os acontecimentos.

Foi o que ocorreu, certa vez, na Difusora, quando um repórter apressado foi informado de que se encontrava em Maceió, incógnito, o célebre compositor brasileiro Freire Júnior, autor de imortais páginas musicais, como “Malandrinha”, “Ontem ao Luar” e muitos outros sucessos do repertório de Chico Alves, Galhardo, Silvio Caldas etc.

A notícia foi dada. O repórter, cujo nome prefiro omitir, levou um gravador e foi ouvir o famoso compositor no Hotel Central, onde o mesmo estava hospedado. A entrevista foi feita. O homem falou e, no outro dia, foi convidado a comparecer à emissora. Lá chegou e disse das razões de sua vinda a Maceió. Pretendia realizar um filme, com artistas e cenários alagoanos.

Jesualdo Ribeiro foi o locutor fundador da Rádio Difusora

Jesualdo Ribeiro foi o locutor fundador da Rádio Difusora

Conquistou, de imediato, a admiração de muita gente de prestígio nos meios radiofônicos. Muitos ardiam de ansiedade pela chance de figurarem num filme. E se prontificaram a colaborar, ainda que gratuitamente.

O elenco foi escolhido. Dele faziam parte, se me lembro bem — Jesualdo Ribeiro, Umberto Guerrera e Wilson Silva e vários outros. Começou o “ilustre” visitante a fazer ensaio do pessoal, para efeito de seleção. O local de ensaios era uma das salas do prédio onde funcionou, por muito tempo, a Difusora, isto é, o prédio do Jardim Infantil, na Rua Pedro Monteiro, e, exatamente, na última sala, onde funcionava o Sambar, uma cantina arrendada por Marreco.

Os ensaios foram gozadíssimos. Houve cenas de violência, inclusive, e alguns dos futuros “astros” andaram levando cacetadas… de brincadeiras — mas que doeram — e o nosso “Freire Júnior” gordo, bochechudo, cabeleira preta cheia, a gritar ordens, a exibir conhecimentos técnicos, a esbanjar erudição e pose.

Artur Rodriguez de Melo, Afonso José, Kátia Lanuza, Jorge Vilar, Luza de Andrade, Lima Filho, Zezé de Almeida, Cláudio Alencar e Umberto Guerrera

Artur Rodriguez de Melo, Afonso José, Kátia Lanuza, Jorge Vilar, Luza de Andrade, Lima Filho, Zezé de Almeida, Cláudio Alencar e Umberto Guerrera

Até que um dia a turma da velha guarda começou a desconfiar do sujeito, e a raciocinar. Entre Reinaldo Costa, Antônio Paurílio, Zezé de Almeida, Lima Filho e outros começou a ser posta em dúvida a identidade do “cineasta” e “compositor”.

Freire Júnior deveria ser um homem já de idade porque suas músicas foram sucessos há muitos anos. “Malandrinha” por exemplo, fora um dos primeiros êxitos de Chico Alves. E o “cineasta” era um tipo ainda moço, assim parecido — digo eu — com o Jô Soares, embora caboclo.

O fato é que resolveram colocar as coisas em “pratos limpos”. Chamaram o “cineasta” para uma conversa séria e, à medida em que iam pondo à prova os seus conhecimentos musicais, “a casa caiu“. O homem confessou que nunca fora compositor de nada na vida, e que tinha saído do Rio de Janeiro por razões financeiras etc. e tal. O seu nome era José Belo — me parece — e conseguiu ainda se arrumar por aqui, graças a um emprego de revisor que lhe arranjaram no “Diário de Alagoas”.

Publicado originalmente no livro “Contando Histórias”, Maceió, 1991.

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