Odete Pacheco, a pioneira do rádio alagoano
A radialista Odete Pacheco de Albuquerque nasceu em Passo de Camaragibe, Alagoas, no dia 21 de março de 1926. Era filha de Manoel Amâncio de Albuquerque e Licínia Pacheco de Albuquerque.
Já morando em Maceió e estudando no Instituto de Educação, participou da Revista Mocidade. Em 1946, além de escrever crônicas, auxiliava na direção da publicação. Uma rápida pesquisa na coleção da revista encontrou as crônicas “Pai João“, “Desperta, Brasil” e “O samba não morre“.
Concluiu no Instituto de Educação o curso de Pedagogia em dezembro de 1947. Na colação de grau foi a oradora da turma. Não há informações se exerceu a profissão de professora em algum momento de sua vida.
Em um jornal de 4 de março de 1948 há o registro da participação de Odete Pacheco e Alcides Teixeira na locução do programa Hora dos Calouros, no auditório do Colégio Guido. Como a Rádio Difusora de Alagoas só foi inaugurada no dia 16 de setembro deste mesmo ano, é provável que este tenha sido um dos seus primeiros trabalhos como radialista.
Quando a Difusora foi inaugurada, Odete Pacheco já estava contratada pela emissora oficial do Estado, tendo participado do período de testes. Não demorou e o seu trabalho passou a ser reconhecido pelo grande público e atingiu outros estados.
Em outubro de 1949, o jornal A Ordem, de Natal, Rio grande do Norte, divulgou uma nota em que Odete Pacheco agradece aos elogios publicados naquele jornal pelo Cônego José Adelino, um renomado intelectual potiguar, que aplaudiu os programas “Casamento na Roça” e “Programa Infantil“, este último apresentado por ela.
Além da locução nos estúdios e os programas de auditório, Odete Pacheco também participou de radionovelas.
Em 1950, estava entre os radioatores de “Milagre de Amor“, de Hélio Soveral. O elenco era formado por Aldemar Paiva, Ezequias Alves, Florêncio Teixeira, Jair Amaral, Arsênio Cavalcante, Haroldo Miranda, Sinay Mesquita, Vilma Campos, Vera Lúcia, Zezé de Almeida e Marlene Silva.
No dia 31 de janeiro de 1951, Arnon de Melo tomou posse no governo de Alagoas, sucedendo a Silvestre Péricles, após uma eleição muito disputada em que houve a utilização da Rádio Difusora para a campanha de Campos Teixeira, candidato derrotado de Silvestre.
Odete Pacheco, que era tida como comunista sem nunca ter nenhum vínculo com o PCB, sofreu perseguição e transferiu-se para Recife.
Nos primeiros anos da década de 1950 foi trabalhar na Rádio Clube de Pernambuco, onde comandou o programa “Só para mulheres“. Lá, mostrou a grande radialista que era “animando auditório e revolucionando a velha casa de Oscar Moreira Pinto”, como descreveu Edécio Lopes em seu livro Vaias e Aplausos.
Nesta mesma publicação, Edécio Lopes lembra que certa noite, quando ainda criança em Apoti, Pernambuco, ouvindo rádio na casa de D. Mocinha, seu filho Otoni sintonizou a Rádio Difusora de Alagoas. “Foi quando ouvi Odete Pacheco. Desejo ou profecia eu comentei com os presentes: ‘Não sei como essa locutora ainda não está na Rádio Clube‘. Sim, porque, para mim, tudo o que era bom, na região, tinha que chegar à PRA-8″.
Anos depois, Odete Pacheco voltou a Alagoas, retornou à Rádio Difusora e depois trabalhou na Rádio Progresso. Foi a primeira mulher em Alagoas a fazer cobertura jornalística de uma partida de futebol diretamente do estádio. Apaixonada por futebol e torcedora fanática do CRB, participava entusiasmadamente de debates sobre seu time.
Locutora de sucesso, comandou vários programas de auditório, entre os quais se destacam: Cantinho da Saudade, Rádio Variedades e Onde Canta o Sabiá. Ouça AQUI um trecho do programa Cantinho da Saudade, com a participação de Sabino Romariz.
Seu amigo e contemporâneo no rádio, Cláudio Alencar, no livro Contando Histórias escreveu sobre o papel destacado da radialista: “Odete Pacheco foi uma das pessoas mais importantes da história do rádio alagoano, não apenas pelo seu talento como locutora de estúdio e de auditório. Mas pelo fato de ser mulher e, em consequência, de ter enfrentado, naquela época, fortíssimos preconceitos em relação à participação feminina em atividades radiofônicas. Odete Pacheco quebrou tabus, destruiu barreiras, abriu caminhos para que outras mulheres se animassem a trabalhar em rádio”. Para Alencar, “Odete criou estilo e escola no rádio em Maceió”.
Edécio Lopes também deixou registrado os problemas enfrentados por Odete Pacheco ao assumir a sua homossexualidade. “Ela os enfrentava com personalidade, mesmo numa época em que os conceitos eram mais radicais e a compreensão da sociedade menos amiga ou tolerante do que hoje”, testemunhou.
Em 1969, quando assumiu a direção da Rádio Difusora de Alagoas, Edécio Lopes descobriu que a radialista que fazia história em Alagoas recebia mensalmente um salário mínimo. “De logo multipliquei por cinco e regularizei a situação da grande artista, da grande animadora dos nossos auditórios”, disse, ao também recordar dela subindo vagarosamente os seis andares do Edifício Ary Pitombo, quando trabalhou na Rádio Progresso.
Em junho de 1972, após um mal-estar, foi internada na Santa Casa de Maceió onde faleceu uma semana depois. Cláudio Alencar deixou registrado que “sua morte foi muito sentida pela imensa quantidade de admiradores que foram velar o seu corpo em câmara ardente no prédio da Rádio Difusora, na Praça dos Martírios”.
No momento em que faleceu, a delegação do CRB, seu time do coração, estava embarcando no Aeroporto dos Palmares. Edécio Lopes registrou que já se encaminhava para o avião quando foi avisado da morte da amiga. Não embarcou e voltou “para chorar a sua prematura morte, num dia de tristeza intensa”.
Filas imensas se formaram para a despedida de quem “tanto fez rir, que tanto fez bem, que foi gente em excesso num espaço de vida tão pequeno”, reconheceu Edécio Lopes.
Sua sobrinha, a arquiteta e professora Elma Leite, lembra que, no início da tarde, após o velório, um cortejo de veículos seguiu para Passo de Camaragibe onde o seu corpo foi enterrado. “Muitos taxistas acompanharam o seu corpo até Passo”, recorda Elma Leite.
Dias depois, em um jogo na capital baiana entre seleções que disputava a Taça Independência no Brasil — ficou mais conhecida como Mini-Copa —, foi respeitado um minuto de silêncio em homenagem a Odete Pacheco.
Em Maceió, há uma via foi denominada Rua Odete Pacheco. Fica atrás do Cesmac da Rua Cônego Machado. É a antiga Rua da Harmonia.
Em 2003, a Eventur’s, empresa dirigida por Marcos Assunção, criou o Prêmio Odete Pacheco para homenagear radialistas que se destacaram em Alagoas.
Caro Edberto Ticianeli, em seu rico acervo dos bons tempos de nossa amada Alagoas, será quê existe alguma gravação em áudio do programa da grande Odete Pacheco?.
Tenho. Uma parte dele está no texto no site História de Alagoas. http://www.historiadealagoas.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Cantinho-da-Saudade-com-Odete-Pacheco-e-Sabino-Romariz.mp3
Parabéns! Minha mãe conheceu Odete, ambas moravam em Passo de Camaragibe.
Parabéns Edberto Ticianeli, você sabe (como ninguém), resgatar histórias importantes sobre a nossa terra das Alagoas. Bom ver e saber, também, que essas imagens não se perderão no tempo. Obrigada! Fiquei surpresa com os detalhes e as referências. Abraços
Prezado Edberto, as fotos originais continuam sob os meus cuidados, mas o acervo, em formato digital, encontra-se, de agora em diante, em suas mãos; aliás, em boas mãos. São poucos os documentos que existem daquela época, considerando o grande volume que fora produzido; mas quase nada restou, infelizmente. Do programa “Onde Canta o Sabiá” (vários deles gravados em LPs de vinil), por exemplo, ainda temos as ‘saudosas lembranças’ entre aqueles que o ouviam, no rádio, ao amanhecer da cada novo dia; mas nada mais. Fica, portanto, a sensação de que algo foi apagado, quem sabe para sempre…
Muito bem lembrada. Gostaria que falassem também de Dr Ezequias Alves e Kátia lanuzia. Eles também foram pioneiros no rádio alagoano.
Foi uma pessoa maravilhosa. Pena que poucos se lembrem da Odete.
Prezado Edberto: Ainda não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, contudo alimento esta possibilidade um dia acontecer. Para o programa Cantinho da Saudade, escrevi “A Carta que Não foi Lida”, a qual por uma semana foi relida diante do amor e com a sensibilidade como ela foi composta.
Odete Pacheco realmente marcou época, e eu, jovem imberbe na ocasião, costumava ouvi-la pelas ondas sonoras da Difusora, tarde da noite. Deixou-me ela muita recordação, pois foi a partir daí que comecei a dar os primeiros passos na Arte de escrever e, já adolescente, fui para o Recife onde fiz jornalismo. A emoção ainda me toca quando se fala em Odete Pacheco, a quem continuo pedindo ao Onipotente para continuar dando-lhe muita Luz, não importa a sua ideologia.
Caros, gostaria muitíssimo do contato daqueles que conviveram e ou tenham acesso ao acervo da valorosa vida da Odete Pacheco. Neste momento, eu estou envolvida no resgate da história da Odete Pacheco. Por favor, Elma Albuquerque Leite, Edberto Ticianelli mantenham contato via email: regina.lopes@ics.ufal.br. Super grata pelo possível retorno. Regina Lopes
Participei muitas vezes do programa RADIO VARIEDADES onde cantava kkkk as vezes ficava com vergonha mas Odete vinha e me animava bons tempos da minha infancia
Amei o comandante
Era criança e recordo da grande radialista Odete Pacheco e Dona Lourdes. Ambas muito simpáticas. Minha casa era em frente a casa delas e tempo depois mudaram e também na mesma. Minha madrinha Mocinha também acompanhou e foi trabalhar bordando em SP e RJ. Sinto saudades e gostaria de rever a Roseane q era a filha da Dona Lourdes e tempo depois o Willames perdi contato com todos. Em relação a cantores recordo do Abdias e a Marines e iam para a casa da Odete Pacheco. Se davam bem com a minha família. Não tenho fotos. Lembro q fui a um corso Canavalesco naquela rural que tinha um Sabiá. Algumas festas e até para a praia da Ipyoca na famosa rural. Nesse dia quase q eu morria e fui salva por um rapaz chamado Fernando q tambem estava com elas. Aei q ele morava na Avenida. Após sua morte sonhava com ela. Creio q uma das primeiras pessoas q perdi. Marcou a minha infância.
Bom e abençoado dia dona Rosângela Melo eu sou Williams Ramalho filho da dona Lurdes e irmão da Roseana como vai Sr gostaria de entrar em contato com a senhora obrigado Deus te abençoe ricamente