Pitorescos nomes de jornais

Tipografia em Maceió

O OrbeBráulio Leite Júnior

O leitor de jornal de hoje não faz ideia da variedade de jornais que Maceió já possuiu. Dentre duas centenas de títulos pesquisados, a partir de fins do século XIX, fixamo-nos apenas nos nomes, pitorescos, raros, esdrúxulos, pomposos ou apenas engraçados, de periódicos efêmeros feitos, em numerosos casos, por gente brilhante. Jornais saiam diariamente, em dias alternados da semana, semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente.

O primeiro nome engraçado que nos acode é A Troça, que surgiu em 3 de abril de 1892 e circulava uma vez por semana. Crítico, literário e noticioso era impresso na Tipografia Mercantil e pertencia a Geraldino Calheiros e Pedro Carlos. Do mesmo ano, foi O Cara Dura, de menores pretensões e sobre o qual não possuímos maiores informes.

Em junho de 1894, surgiu O Espia. Era de pequeno formato e fazia crítica. No ano seguinte, no mês de maio, apareceu O Pimpão. Circulava uma vez por semana e englobava a literatura, a crítica e notícias. Dois meses depois, no dia 2 de julho, Maceió tomava conhecimento da existência do Carrapeta, com tipografia na rua 1° de Março. Circulava aos domingos e pertencia a uma associação.

GutembergO Holofote apareceu no dia 4 de outubro de 1896. Júlio Ramos Soares era o seu diretor proprietário. Não tinha oficina; era rodado na tipografia do Mercantil. No mês seguinte, logo no dia 1°, veio a lume… O Lume. Esse jornal tem duas singularidades. A primeira são os nomes dos que o faziam: o editor P. Reira, o redator K. Lango e o diretor — desculpem — K. Gado. A outra singularidade foi o tamanho. O Lume foi o segundo jornal do mundo, somente superado pela revista francesa Lê Minuscule (o minúsculo, o pequeníssimo), pois tinha 16 páginas e media 38 milímetros por 28. O nosso Instituto Histórico possui um exemplar. Peguem a régua e vejam o tamanho do nosso O Lume: 10 centímetros por 7 e meio, menor que uma agenda de bolso.

Em 1897, a cidade vê surgir a folha humorística e recreativa O Gutenbinga, adulteração gozativa do nome do pai da arte tipográfica mecânica e ela mesma inserta nas páginas do órgão Gutenberg.

Em 1898, a cidade ganhou pequenos órgãos satíricos: A Rosca (20 de fevereiro) e O Judas (mês de março). No mês de setembro, começou a circular, aos domingos, O Trocista, que se dizia literário, noticioso… E humanitário. Tinha diversos redatores e era propriedade de Moreno e Rosalvo. Era impresso na tipografia d’A Cidade.

O TrocistaNa mesma tipografia, começaria a ser impresso, em 2 de fevereiro de 1899, outro jornal de nome irreverente O Patusco. Esse não tinha dia certo para sair. Onze dias depois, surgia O Binóculo, crítico, literário e noticioso, semanal, com diversos redatores, editado por J. Fernandes. No ano seguinte, passaria a ser impresso na tipografia do jornal O Rebate, que tinha redação no n° 95 da rua da Boa Vista.

A lista é imensa, o espaço não comporta citar a todos, mas aqui vão alguns títulos curiosos daquela Maceió fim de siécle: O Barricão, O Malhete (maçônico), O Trocistinha, A Violeta, A Miragem, O Arrebol.

A primeira década do século seguinte conheceu ainda O Ferrinho, O Alho, A Língua (órgão dos faladores), O Azucrim, O Espião, que custava 400 réis mensais e A Êxedra (pronuncia-se êzedra), que foi de junho de 1907, revista literária de publicação mensal, com nomes prestigiosos na redação: Correia de Oliveira, Machado de Lemos, Cassiano de Albuquerque, Barreto Cardoso, Luiz Moraes, Carlos de Araújo e Cypriano Jucá. O insólito nome êxedra aplicava-se na antiguidade a uma espécie de parlatório aberto, com assentos, onde os filósofos se reuniam.

*Publicado originalmente no livro Outras Histórias de Maceió, Maceió, 2004.

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