Augusto Calheiros, o Patativa do Norte

Maceió assistiu a apresentação de Augusto Calheiros no Cineteatro Floriano em 1927

O cantor e compositor alagoano Augusto Calheiros nasceu em Murici, na Rua do ABC (não existe mais, ficava próxima à Rua do Cajueiro), no dia 5 de junho de 1891, filho de uma família que vivia em boas condições financeiras.

Durante muito anos houve dúvida sobre o seu local de nascimento. Parte da culpa por essa imprecisão cabe ao próprio Augusto Calheiros, que em entrevista ao jornalista Wilson Quintas, publicada na Revista Carioca em 1940, declarou que nasceu em Maceió no dia 5 de agosto de 1891.

O historiador Moacir Santana, em livro não lançado, assegura ter documentos colocando o seu nascimento em Maceió, mais precisamente no bairro da Levada, e sendo filho de um português e de uma empregada doméstica.

Segundo Cícero Silva, no livro Murici e sua história, Augusto Calheiros nasceu na Rua do ABC , casa dos avós, em Murici e seus pais, que não eram casados, foram Euclides Calheiros e D. Lourença. Registra ainda a existência de um irmão de nome José.

Turunas da Mauricéia, com João Frazão (diretor e violão), o alagoano e cego Manoel de Lima (violão), os irmãos Romualdo (violão) e João Miranda (cavaquinho), e Luperce Miranda (bandolim)

Já morava em Maceió com nove anos de idade quand0 perdeu o pai. A partir de então a família passou a enfrentar dificuldades e ele foi morar em Garanhuns, Pernambuco, onde fabricou sapatos, foi dono de bar, hoteleiro, subdelegado e carcereiro, além de cantar no cinema e teatro da cidade.

O escritor e compositor Marcos de Farias Costa informa que Augusto Calheiros era semianalfabeto, o que pode explicar não ter se fixado em nenhuma das profissões exercidas.

Há registro de sua participação, no carnaval de fevereiro de 1921, na diretoria do Club Carnavalesco Come Vidro e de apresentações como cantor no município de Canhotinho (vizinho a Garanhuns) em 1922.

Em 1923 mudou-se para Recife, onde começou a carreira artística atuando na recém-inaugurada Rádio Clube de Pernambuco (PRA8), mas sem ganhar nada.

O jovem Augusto Calheiros

Três anos depois formou o conjunto Turunas da Mauricéia, com João Frazão (diretor e violão), o alagoano e cego Manoel de Lima (violão), os irmãos Romualdo (violão), João Miranda (cavaquinho), e Luperce Miranda (bandolim). O nome do grupo foi uma sugestão do historiador Mário Melo.

Com esse grupo, em 5 de janeiro de 1927, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde estreou no Teatro Lírico em espetáculo patrocinado pelo jornal Correio da Manhã. Augusto Calheiros destacou-se do conjunto e fez enorme sucesso.

No final do ano de 1927, os Turunas da Mauricéia excursionaram pelo Brasil e fizeram uma apresentação em Maceió (1º de dezembro) no palco do Cineteatro Floriano na Rua do Comércio.

As primeiras gravações dos Turunas difundiram por todo o Brasil a voz privilegiada de Calheiros, afinada, de dicção perfeita e grandes recursos. Os êxitos se sucederam, bem como as excursões, inclusive ao Sul do país e Buenos Aires.

Com o fim do grupo, em 1929, Calheiros prosseguiu cantando solo nas rádios, nos teatros e gravando discos.

Com o fim do Turunas da Mauricéia em 1929, Calheiros prossegue cantando solo nas rádios, gravações e nos teatros

Depois, por alguns anos, atuou na Casa de Caboclo, em cujo elenco também figuravam Jararaca e Ratinho, Dercy Gonçalves, Apolo Correa, Arthur Costa, entre outros.

A Casa de Caboclo, teatro popular fundado e dirigido por Duque (Antônio Lopes de Amorim Dinis), abriu suas cortinas em 1932 com o objetivo de apresentar somente peças e músicas de autêntico sabor regionalista, portanto adequado para a arte essencialmente brasileira de Calheiros.

Em 1936, cantou no filme Maria Bonita, da Sonoarte. Ao todo, em 78 rpm, deixou um legado de 80 discos com 154 músicas, o último em 1955, que somente foi lançado no mês do seu falecimento.

Em segundo casamento, uniu-se a Josefa Faustina de Castro, mais nova que ele 36 anos. A relação começou em uma das suas viagens a Garanhuns, mas D. Zezé só foi morar com ele no Rio de Janeiro em 1950.

Tiveram duas filhas, Cleide Conceição de Castro Calheiros, nascida em 14 de julho de 1954, e Augusta de Castro Calheiros (Guta), que só nasceu meses após a sua morte. Do seu primeiro casamento com D. Esther há registro também de uma filha e netos.

Ouça aqui Ave Maria de Erothides de Campos e Jonas Melo na voz de Augusto Calheiros. Gravação de 1953

Em 1955 adoeceu gravemente e viu-se desprovido de qualquer recurso, pois a vida boêmia o deixara pobre. Foi então socorrido pelo amigo Almirante, que muito o admirava e fez circular um original Livro de Contos, com a finalidade de arrecadar o necessário ao seu tratamento.

Calheiros, apesar da solidariedade recebida, veio a falecer em 11 de janeiro de 1956, no Rio de Janeiro, vítima de falência múltipla dos órgãos, motivado por diabetes. Uma informação não comprovada diz que ele já não tinha um dos pulmões. Em 1968, seus restos mortais foram transferido para Garanhuns, graças a Washington Medeiros, então funcionário do IBGE, admirador e cantor de suas músicas.

Augusto Calheiros com a esposa e a filha

Augusto Calheiros com a esposa e a filha

Maiores sucessos e gravações de Augusto Calheiros (ordem cronológica – fonte:  Wikipédia)

1928 – Único Amor e Na Praia
1929 – Valsa da Saudade e Saudades do Rio Grande
1930 – Linda Cabocla (Artur Braga) e Teus Olhos Castanhos (Lamartine Babo e Bonfiglio de Oliveira)
1933 – Alma de Tupy (Jararaca), Céu do Brasil e Flor do Mato (José Francisco de Freitas e Zeca Ivo)
1934 – Mané Fogueteiro (João de Barro) e Fui à Bahia
1935 – Falando ao Teu Retrato (Jayme Florence e João Cândido Ferreira)
1936 – Flor do Sertão (Carlos Lentini e Nei Orestes)
1937 – Revendo o Passado (Freire Júnior) e Foi da Bahia
1938 – Como és Linda Sorrindo (Gastão Lamounier e Mário Rossi) e Única Ventura
1939 – Minha Vida em Tuas Mãos
1940 – Ave Maria (Erotides de Campos e Jonas Melo), Chuá Chuá (Ary Pavão e Pedro Sá Pereira) e Amar em Segredo
1941 – Casa Desmoronada (Antenor Borges e Pedro Fabio)
1945 – Bela, Senhor da Floresta (René Bittencourt), Caboclo Vingador (Artur Goulart e José Colombo) e Célia (Augusto Calheiros e J. Rodrigues de Resende)
1946 – Meu Ranchinho (Miguel Lima) e Dúvida (Domingos Ramos e Luiz Gonzaga)
1947 – Fatal Desilusão, Prelúdios de Sonata (César Cruz), Vida de Caboclo (José Luiz e J. Resende) e Garoto da Rua (René Bittencourt)
1950 – Adeus Pilar (Augusto Calheiros), Pisa no Chão Devagar (Augusto Calheiros) e Grande Mágoa
1952 – Serenata Matuta (Levino Ferreira) e Sonhando ao Mar (Davi Vasconcelos)
1953 – Ave Maria (Erotides de Campos e Jonas Melo), Como És Linda Sorrindo (Gastão Lamounier e Mário Rossi) – lançada em 1938, Belezas do Sertão (Augusto Calheiros e Luperce Miranda) e Cabocla Pureza
1954 – Audiência Divina (Guilherme de Brito) e Meu Dilema (Guilherme de Brito)
1955 – Adda (Mário Ramos e Salvador Moraes)

Fonte: Jornal Correio da Manhã e Revista do Rádio.

13 Comments on Augusto Calheiros, o Patativa do Norte

  1. Claudevan melo // 2 de fevereiro de 2016 em 22:30 //

    Há duas contradições a respeito do local de nascimento de Calheiros, a de Maceió que ele próprio deu entrevista para revista do rádio, e há um achado de uma certidão de batisterio como sendo em maceio pelo Moacir Medeiros, fez um opúsculo não editado, e outra versão do nascimento como sendo em Murici, apenas por boca a boca e por um morador antigo da cidade que assegurou que havia nascido na referida cidade, um jornal de garannhus confirma como sendo Murici. A hipótese do Nasc. Em pilar fica por conta da música Adeus Pilar, mas de composição Jararaca este teve um período lá, fira isto nada de concreto. Portanto teria que confrontar aa duas versões com dados mais substânciais, fico grato.

  2. Edna Calheiros // 2 de fevereiro de 2016 em 23:08 //

    Gostei muito do resgate histórico do grande Augusto Calheiros!

  3. José maria Campos Portela // 8 de março de 2017 em 21:26 //

    Muito importante estes dados sobre Augusto Calheiros, estão de parabéns as pessoas que postaram esta reminiscência. Nunca tinha visto esta raríssima foto dele com sua família, é impressionante! Em outros artigos que pesquisei, li que ele faleceu por pneumonia e não por diabetes. Gostaria de saber se alguém tem notícias de sua esposa e filhas ou de algum outro parente.

  4. Claudevan melo // 19 de março de 2017 em 10:39 //

    Tenho contatos com uma filha de Calheiros do 2o matrimonio aos 64 anos ele teve duas filhas com josefa de Garannhuns foram elas Cleide ele ao falecer a deixou com 2 anos e Augusta estava no vente da esposa. Vivem no Rio

  5. Meu caro Claudevan Melo, você poderia me passar algum contato das filhas de Augusto Calheiros?

  6. Sou fã incondicional de Augusto Calheiros desde a minha infância e adolescência admirando o meu irmão mais velho que gostava de cantar sus canções. Tenho um CD de várias músicas dele, desde já vou procurar gravar as músicas que não tenho para completar o meu acervo. Adorei conhecer tudo isso que foi relatado, obrigado por este presente que me animou ainda mais no afã de ser seguidor deste grande artista, e boa tarde.

  7. Robério Queiroz // 25 de novembro de 2019 em 22:05 //

    Estou pesquisando e escrevendo sobre a história da vida de Calheiros em Garanhuns e Recife.
    Só falam nas pequenas biografías que o mesmo saiu de Maceió e foi para Recife, e não citam quase nada dele vivendo em Garanhuns.

  8. Fernando Marcelo // 5 de junho de 2021 em 12:42 //

    Rádio Clube de Pernambuco PRA8

  9. Ticianeli // 5 de junho de 2021 em 13:07 //

    Obrigado, Fernando Marcelo.

  10. Fernando Marcelo // 6 de junho de 2021 em 12:45 //

    O translado dos restos mortais de Augusto Calheiros foi realizado em 1968, graças ao empenho de Washington Medeiros, Funcionário Público Federal do IBGE, admirador e cantor de TODAS as suas músicas. Sua voz era muito parecida com a de Augusto Calheiros. Atualmente, o túmulo que fica localizado à entrada do Cemitério São Miguel, que se destaca por um violão, encontra-se em precárias condições de conservação.

  11. Pena que o Brasil não dá o devido reconhecimento aos verdadeiros compositores de suas terras. Meu pai e eu desde criança sou fã do Sr. Augusto. Papai tem uma coletânea em vinil da capa laranja sem foto. Eu sempre ouço as músicas do seu Augusto, ainda mais agora com papai doente, sempre estou a relembrar. Belo trabalho do blog.

  12. Eu tenho buscado dados substanciais sobre Augusto Calheiros, tenho quase que certeza que ele é parente da minha avó paterna, consegui ler na sua certidão de óbito que ele não faleceu de diabetes, nem de pneumonia, na Declaração de Óbito registrada em cartório consta que ele nasceu em Alagoas, então creio que seja verídica esta informação.
    E se alguém souber mais a respeito dos irmãos e parentes de Augusto Calheiros, ficarei imensamente agradecida.

  13. Feliz por encontrar este grupo de fãs de Calheiros. Na minha adolescência, meu pai, Rosálio, muito afinado, cantava as músicas do querido e sempre lembrado Calheiros.

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