Alberto Passos Guimarães, um intelectual autodidata
“Um alagoano nascido em 1908 que nunca frequentou uma faculdade e mal terminou o colégio deixou uma obra rica e que merece ser estudada. Ele escreveu, entre outras coisas, sobre Economia, Estatística e sobre a questão agrária. O nome dele é Alberto Passos Guimarães, um autodidata que lutou pela justiça social“. Essa foi a descrição que o jornalista Diego Barros fez desse militante do PCB quando da inauguração da Biblioteca Alberto Passos Guimarães, ligada ao Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral).
Filho do comerciante e depois despachante federal Américo Passos Guimarães e de Afra Amorim Guimarães, Alberto Passos Guimarães nasceu em Maceió no dia 16 de abril de 1908. Iniciou seus estudos no Colégio Diocesano, mas aos 9 anos de idade largou a escola para ajudar o seu pai no comércio, Não concluiu sequer o Curso Secundário. A partir daí estudava em casa com seus familiares. Foi um autodidata pelo o resto da vida.
Durante boa parte da sua infância residiu na Rua 15 de Novembro, atual Rua do Sol, no casarão que depois de reformado veio a ser a sede do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Casou-se com Zulmira Taveiros Guimarães, com quem teve dois filhos: Zulma Taveiros Guimarães e Alberto Passos Guimarães Filho. Sustentava a família trabalhando como comerciante e jornalista.
Herdou do pai, que foi presidente do Clube Fênix Alagoana, o gosto pela convivência social. Em 1930 participava da diretoria desta agremiação como 2º Secretário.
Na cena intelectual da capital, conviveu com Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Rachel de Queiroz e Valdemar Cavalcanti. Em 1931 fundou, juntamente com este último, a revista Novidade, onde diversos autores publicaram seus textos, entre eles Carlos Paurílio, Aloísio Branco, Willy Lewin, Diegues Júnior e Santa Rosa Jr.
Ainda em 1931, Alberto Passos Guimarães iniciou sua militância no Partido Comunista, o PCB. A atuação como jornalista no jornal A Vanguarda Operária é uma evidência da sua ligação com o movimento operário alagoano. Nesse período, seguindo os passos do pai, também era Despachante Federal na Alfandega de Maceió.
Com Moacir Pereira e Valdemar Cavalcanti organizou a polêmica Liga Contra Empréstimos de Livros em Alagoas, que foi lançada no dia 22 de março de 1932 com uma “festa de arte moderna” no salão de conferência do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Sua crescente popularidade política pode ser aferida em novembro de 1934, quando a Gazeta de Alagoas promoveu um plebiscito para conhecer a vontade popular na indicação do governador do estado. A maioria optou por Fernandes Lima, ficando Alberto Passos Guimarães em segundo lugar.
Em maio de 1935 foi criada a Aliança Nacional Libertadora (ALN) em Alagoas. O Diretório Central era composto por Sebastião da Hora, presidente; Ruy Soares Palmeira, vice-presidente; Zeferino Machado, secretário; Odilon Mascarenhas, tesoureiro; Alberto Passos Guimarães, Olympio Sant’Anna e Jacques de Azevedo, na comissão de adesão; e o jornalista Humberto Bastos na direção de publicidade.
Foi a Aliança Libertadora Nacional (ALN), com a participação ativa do PCB, que promoveu um levante insurrecional a partir de 23 de novembro de 1935. Em Alagoas, o procurador da República, Armando Goulart Wucherer denuncia vários militantes de esquerda como atuantes na conjuração.
No início de 1936, quando o general Newton Cavalcanti desrespeita as absolvições na Justiça dos processados em Alagoas e manda prender militares e civis envolvidos.
Alberto Passos Guimarães, que era então o principal dirigente do PCB em Alagoas, foge e entra na clandestinidade para escapar da prisão iminente.
Com a tentativa golpista dos integralistas em 1937, Getúlio Vargas implantou, em novembro, o regime ditatorial que ficou conhecido como Estado Novo. Inicia-se então um novo período de perseguição também aos comunistas. Ainda na clandestinidade, Alberto Passos Guimarães vai morar com a família em Salvador, na Bahia.
Contra ele e vários outros militantes foram emitidos, com base na Lei de Segurança Nacional, mandados de prisão. Alguns jornais da época informavam que estavam incriminados numa tentativa de assalto ao “Banco de Maceió” em novembro de 1935 (Diário de Pernambuco de 9 de março de 1939).
Morando num “aparelho comunista” em Salvador, o combativo alagoano foi surpreendido em meio a um embate entre correntes do PCB ao ser acusado, por abrir inadvertidamente uma correspondência, de estar mancomunado com grupos trotisquistas. Foi expulso do local e saiu à procura de outro alojamento e de trabalho para sustentar a família. Pediu emprego a um amigo de Alagoas, o comerciante Rosalvo Medeiros.
Essa exposição pública o levou a ser preso no dia 3 de janeiro de 1939. Foi levado de volta a Maceió no dia seguinte, ficando detido na Cadeia Pública da capital. No dia 7 de março de 1939, ele e os outros acusados relacionados no Processo nº 512 foram julgados pelo Tribunal de Segurança Nacional, no Rio de Janeiro. Recebeu uma condenação de seis meses de prisão.
No mesmo processo, ainda foram condenados os seguintes militantes comunistas: José Feitosa, a um ano e seis meses de prisão. Manoel Vieira da Silva, Pedro Alves de Oliveira e Octacílio Leite de Araujo a um ano e três meses de prisão. Antonio Manoel do Nascimento, Antônio Valentin dos Santos, José do Nascimento, Luiz da Costa Lima e Antônio Vicente Ferreira pegaram sete meses e quinze dias de prisão. Abel Tenório de Oliveira e João Ferreira Coimbra a seis meses de prisão.
Geraldo Nicodemus, Antônio de Oliveira Valença, Nelson Ayres, José Carlos de Almeida, David Mendonça, Wilson Rodrigues Câmara, Júlio de Almeida Braga, Benedito da Hora e José Américo dos Santos, todos condenados a três meses de prisão. Francisco Cassiano, Benedito Carlos Rufino, Waldemar Cavalcanti, Sylvio Nolasco, Zadir de Araújo Silva, Afrânio Cavalcanti Mello, André Papini Góes, Olympio Sant’Anna, Herozendo de Souza Vieira e Josino de Sá Cavalcanti, mesmo sendo processados, não foram sentenciados.
Nesse julgamento, que teve como o juiz comandante Alberto Lemos Basto, a acusação foi sustentada por Adhemar de Faria Lobato e a defesa pelo advogado Medrado Dias, que recorreu da sentença. Dias depois, em 29 de março, o recurso foi negado por unanimidade. Entretanto, seus dias depois, em 4 de abril, o juiz Lemos Basto concedeu suspensão condicional (sursis) da pena imposta a Alberto Passos Guimarães, colocando-o em liberdade.
Logo após esse processo, Alberto Passos Guimarães muda-se para Salvador, fugindo de perseguição política. Na capital baiana rapidamente se integra à vida cultural e intelectual da cidade. No final de 1944, aparece relacionado como membro da delegação baiana indicado para participar do I Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em 1945, quando foi escolhido para a Comissão de Assuntos Políticos.
Na Bahia, retoma também a militância clandestina no PCB, desta feita em contato com Giocondo Gerbasi Alves Dias, uma das lideranças da insurreição de Natal em 1935. Desenvolve intenso trabalho de organização do seu partido naquele estado. Com a redemocratização em 1945, passou a contribuir também para o semanário O Momento, jornal oficial do PCB na Bahia.
No início de 1945 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou inicialmente como representante comercial de sua pequena firma chamada Organização Brasil Ltda. Sem abandonar a militância política, em março de 1945 participou ativamente das articulações para o lançamento da candidatura a presidente do brigadeiro Eduardo Gomes.
Nos anos 1950 trabalhou no IBGE e no final dos anos 1960 já estava na Rede Ferroviária Federal. Ao se aposentar, convidado por Antônio Houaiss, participou do projeto e redação da Enciclopédia Mirador (do grupo Enciclopédia Britânica do Brasil).
Durante todo este tempo atuou como militante no PCB, destacando-se como intelectual e homem de imprensa desse Partido. Trabalhou também no jornal Imprensa Popular, no semanário sobre cultura Para Todos (dirigido por Jorge Amado e Oscar Niemeyer) e foi diretor do jornal Hoje, publicação diária que teve vida muito curta nos anos da década de 1960.
Participou da redação de um documento conhecido como Declaração de Março (de 1958), responsável pela orientação que produziu uma importante inflexão na política do PCB, atribuindo maior relevância à questão democrática e à participação no jogo político eleitoral. Nesse processo teve um papel importante o chamado “Grupo Baiano”, que contava também com Giocondo Dias e Armênio Guedes.
Alberto Passos Guimarães faleceu no Rio de Janeiro, em 24 de dezembro de 1993, deixando expressivo legado intelectual e destacada história de militância política.
Livros mais conhecidos
Inflação e Monopólio no Brasil – Por Que Sobem os Preços? (1962).
Quatro Séculos de Latifúndio (1963, reeditado em 1968).
A Crise Agrária (1978).
As Classes Perigosas: Banditismo Rural e Urbano (1982).
Fontes: Wikipédia; Pesquisa de Luiz Nogueira Barros para o fascículo Memória Cultural de Alagoas, da Gazeta de Alagoas; e artigo da Fundação Dinarco Reis.
Um comentario biográfico sucinto porém relevante para a compreensão deste intelectual maxista, que dedicou toda sua vida na realização de suas convicçoes filosóficas e politicas. Eu o comheci pessoalmente, ele com 78 anos e eu rasgando os trinta e muito aprendi com ele.