Jornalista Valmir Calheiros, uma vida e muitas histórias

Chapa Mobilização, que venceu a disputa pelo Sindjornal em 1983, numa das eleições mais disputadas da entidade
Valmir Calheiros usando os seus dotes de orador em uma confraternização da Gazeta nos anos 70

Valmir Calheiros usando os seus dotes de orador em uma confraternização da Gazeta nos anos 70

O jornalista Valmir Calheiros de Siqueira nasceu em Atalaia no dia 23 de março de 1944, filho de Joana Calheiros de Siqueira e João Lopes de Siqueira. Iniciou os estudos no Jardim Infantil do distrito fabril de Fernão Velho, em Maceió, onde viveu parte da infância e cursou os dois primeiros anos do ensino primário no Grupo Escolar São José.

Voltando a residir com a família em Atalaia, concluiu os estudos iniciais no Grupo Escolar Floriano Peixoto e o curso ginasial no então Ginásio Nossa Senhora das Brota, quando participou da fundação do primeiro grêmio recreativo e literário da instituição, sendo indicado o seu primeiro presidente.

Nessa época, elaborou os primeiros discursos e achou que também podia escrever para jornais. Fez uma espécie de reportagem sobre o caso de uma idosa aposentada que vivia sozinha, e que foi vítima de latrocínio. Pediu ao tabelião da cidade para reescrevê-la na máquina de datilografia e mandou para a Gazeta de Alagoas, pelos Correios. A matéria saiu publicada na última página, lá em cima, e o jornal passou a ter mais um novo correspondente (não remunerado) no interior do Estado.

Confraternização da Gazeta nos anos 70 Genésio de Carvalho, Correia Fontan, Valmir Calheiros, José Alves, Teófilo Lins, Arlene Miranda, Afrânio Queiróz, Nunes Lima, Zito Cabral e Sapucaia

Confraternização da Gazeta nos anos 70 Genésio de Carvalho, Correia Fontan, Valmir Calheiros, José Alves, Teófilo Lins, Arlene Miranda, Afrânio Queiróz, Nunes Lima, Zito Cabral e Antônio Sapucaia

Entusiasmado com os resultados dos seus trabalhos, resolveu escrever crônicas. Redigiu uma sobre Atalaia e pediu para o cobrador de um ônibus entregá-la na redação do Jornal de Alagoas. No primeiro domingo seguinte, lá estava o texto publicado no extinto jornal dos Diários Associados.

Essa colaboração para os dois jornais editados na capital e o que fazia como líder estudantil tornaram o seu nome conhecido, a ponto de ter sido convidado e eleito, em dois congressos estaduais, para a diretoria da então combativa União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas, a UESA, e da Casa dos Estudantes Secundaristas de Alagoas -CESA.

Com sua eleição para a diretoria da UESA, nos primeiros anos da década de 1960, passou a viver e ser estudante em Maceió. Foi aluno do Colégio Estadual de Alagoas e Élio Lemos.

Em 1964, quando irrompeu o Golpe Militar, Valmir Calheiros passou a responder pelo comando da UESA, o que concorreu para a invasão, pela polícia, da casa em que morava em Atalaia. A ação policial fez desaparecer alguns documentos, recortes de jornais, álbuns sobre cinema, revistas, e sua coleção de livrinhos de cordel.

Sandoval Caju entrevistado por Valmir Calheiros e Mozar Cintra no Jornal de Alagoas

Sandoval Caju entrevistado por Valmir Calheiros e Mozart Cintra no Jornal de Alagoas

Antes de se fixar no jornalismo em Maceió, foi condutor de malas postais dos Correios e Telégrafos. Em 1961, foi contratado como revisor do extinto Jornal de Hoje. Assim teve início, profissionalmente, uma das mais brilhantes carreiras do jornalismo alagoano.

A partir de 1962, trabalhou como repórter de geral, de polícia, cronista parlamentar, redator, chefe de reportagem, secretário de redação (editor-geral, hoje) do jornal Gazeta de Alagoas.

Em 1976, teve que se submeter a uma complicada cirurgia, passando a depender da Previdência Social por quatro anos. Nesse espaço de tempo, juntou-se com os colegas Rodrigues Gouveia e Ricardo na criação do periódico Jornal Mercantil, e com José Djalma Batista de Almeida, na implantação de um semanário – projeto que logo abandonou por discordar da denominação imposta pela maioria dos sócios para o jornal (Jornal de Notícias).

Valmir Calheiros discursa durante a solenidade de descerramento de placa na Casa da Comunicação. Foto Dárcio Monteiro

Valmir Calheiros discursa durante a solenidade de descerramento de placa na Casa da Comunicação. Foto Dárcio Monteiro

Participou do primeiro semanário Extra, como redator e chefe da redação. Em 1980, reintegrou-se ao dia-a-dia do jornalismo, através do Jornal de Alagoas, vindo a exercer os mesmos cargos que exercera e exerceria na Gazeta, inclusive o de editorialista. Ficou ali até o fechamento definitivo do velho matutino dos Diários Associados, em 1993, quando voltou a trabalhar na Gazeta de Alagoas.

Durante muitos anos, Valmir Calheiros foi o correspondente do jornal O Estado de São Paulo em Alagoas.

Em Maceió, casou-se com Nivaldete Calaça de Siqueira, com que teve dois filhos: Valdete Calaça Calheiros de Siqueira (jornalista e psicóloga) e Valmir Calheiros de Siqueira Júnior (falecido).

Só concluiu seus estudos nos anos 80, quando foi diplomado Bacharel em Direito, em 10 de abril de 1987, pela Faculdade de Direito de Maceió – CESMAC/FEJAL. Nessa mesma instituição, também concluiu o curso de pós-graduação em Direito Eleitoral.

Servidor Público

Jairo, Valmir Calheiros e Bartolomeu Dresch no Bar da Nete, reduto dos jornalistas em Maceió

Jairo, Valmir Calheiros e Bartolomeu Dresch no Bar da Nete, reduto dos jornalistas em Maceió. Acervo Bartolomeu Dresch

Valmir Calheiros foi ainda servidor público estadual por mais de duas décadas, a contar de 1971. Trabalhou como oficial de gabinete, técnico e diretor do Setor de Arquivo e do Departamento de Documentação da Secretaria de Administração e Negócios Municipais do Estado – hoje Secretária de Estado da Gestão de Pessoas – (governos Afrânio Lages, Divaldo Suruagy, Guilherme Palmeira e Geraldo Melo). Estava na referida secretaria quando idealizou o Concurso anual para a Escolha do Funcionário Modelo do Estado, encampada e lançada em vários governos.

Nessa mesma secretaria, fez parte da equipe que cuidou da atualização dos Estatutos dos Servidores Civis do Estado, nos anos 70, sugerida por ele. Os estatutos estavam em vigor desde 1954.

Integrou a Assessoria de Imprensa do Governo do Estado na gestão de Afrânio Lages e ocupou os cargos de Assessor do Gabinete do Governador e Assessor de Imprensa durante o mandato de Geraldo Melo.

Assembleia do Sindjornal em maio de 1980. Acervo Bartolomeu Dresch

Assembleia do Sindjornal em maio de 1980. Acervo Bartolomeu Dresch

Também trabalhou como Oficial de Gabinete e Assessor de Divulgação do Gabinete do Vice-governador Theobaldo Barbosa. Foi ainda técnico da Fundação de Desenvolvimento de Comunidades (Fundec) da Secretaria do Trabalho, durante o governo de Guilherme Palmeira.

Atuou como assessor de Gabinete do governador Theobaldo Barbosa. E ainda como Assessor-chefe da Assessoria de Divulgação da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e da Fundação de Saúde e Serviço Social (Fusal) em seis administrações sucessivas – secretários Humberto Gomes de Melo, Ib Gatto Falcão, Emílio Silva, Solange Teixeira, José Medeiros e Antônio Holanda.

Ainda na Secretaria Estadual de Saúde, foi assessor adjunto da Assessoria de Divulgação e primeiro diretor do setor de Informação, Educação em Saúde (IEC), na administração do secretário José Wanderley Neto.

Entre as entidades e instituições públicas, Valmir Calheiros atuou ainda como assessor parlamentar da Assembleia Legislativa, lotado nos gabinetes dos ex-deputados Luciano Amaral e Paulo Nunes.

Respondeu ainda pela Assessoria de Imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), seccional de Alagoas, na gestão Romany Cansanção.

Uma das suas últimas funções públicas foi dirigindo a Assessoria de Imprensa da Presidência do Tribunal Regional de Alagoas (TRE-AL).

Prisões

Valmir Calheiros em foto da Tribuna Independente

Valmir Calheiros em foto da Tribuna Independente

Valmir Calheiros, em depoimento à Comissão da Verdade dos Jornalistas Alagoanos, revelou que em 1968 foi detido injustamente por várias vezes como pichador de muro. “A polícia é que colocava lata de tinta para me incriminar. Para se ter uma ideia, uma noite eu fui preso, sem motivo, quando sai com Radjalma Cavalcante e Ricardo Neto para mostrar Maceió a um colega jornalista de Recife”. Foram acusados de pichar o muro da casa do senador Arnon de Mello.

Para Valmir, a perseguição vinha do seu histórico como ativista político. “Em Atalaia, eu havia promovido uma greve no município. Fechei o cinema da cidade, por conta do barulho que atrapalhava as aulas. Fundei os grêmios estudantis. Também fui fundador e incentivador do Sindicato dos Trabalhadores de Atalaia. Eu não era filiado a partido, mas militava como cidadão“.

Outra prisão relatada teve motivação amorosa. “A questão é que foi um delegado que puxou tudo isso. Ele deu em cima de uma namorada minha. Eu, então, cantei a namorada dele. Aí, ele, para se vingar, disse que eu era comunista. Ele pegou uma edição do Jornal de Alagoas e levou para a Secretaria de Segurança dizendo que eu estava fazendo apologia ao comunismo, por causa do título da coluna, Retratos de uma Comuna”. A coluna dominical publicava notas sobre os municípios (comunas) alagoanos.

Sobre a Ditadura implantada a partir de 64, Valmir Calheiros não vacilava em avaliá-la como um Golpe Civil Militar, “porque houve participação de vários setores da sociedade: imprensa, mulheres e da igreja”.

Sindicato dos Jornalistas

Fiel aos compromissos com sua categoria, resultado da sua formação como líder estudantil, Valmir Calheiros teve uma atuação destaca no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas, sendo eleito dirigente em várias gestões.

Participava assiduamente das reuniões do Sindjornal e dos diversos encontros nacionais e regionais promovidos por entidades representativas dos jornalistas. Graças a esta projeção nacional, foi eleito para o Conselho de Representantes da Federação Nacional dos Jornalistas, FENAJ.

Jornalista Premiado

Entre os anos 60 e 70, obteve por várias vezes consecutivas o primeiro lugar nos concursos de reportagens e crônicas promovidos pela Associação Alagoana de Imprensa, pioneira nessa iniciativa no Estado e uma das primeiras no País.

Em 1977, conquistou para Alagoas o primeiro prêmio em reportagens em um concurso de caráter nacional, por unanimidade da comissão julgadora, com o trabalho O Trabalho na Prevenção de Acidentes. O certame foi promovido pelo Ministério do Trabalho.

Está na galeria dos vencedores em primeiro lugar do Prêmio Salgema/Banco do Brasil de Jornalismo (1985). Em 2001, foi premiado pela classe com a Medalha Dênis Agra, principal honraria individual criada em toda a história da entidade representativa dos profissionais da imprensa alagoana.

Recebeu ainda vários títulos honoríficos e outras medalhas de honra ao mérito concedidos por instituições distintas da capital e do interior do Estado, e por órgãos governamentais, e colunistas sociais, incluindo os de Jornalista do Ano por várias vezes.

Valmir Calheiros faleceu na noite do dia 13 de março de 2014, quando tinha 69 anos, após sentir um mal-estar em sua residência e ser encaminhado ao hospital da Unimed, em Maceió.

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