Professor Domingos Bento da Moeda e Silva
Por Augusto Vaz Filho
Menino ainda estudando as primeiras letras na escola particular que minha mãe dirigia à rua da Boa Vista (hoje Cons. Lourenço de Albuquerque), conheci o professor Domingos Bento da Moeda e Silva que residia na mesma rua, bem perto da casa em que morávamos.
Mestre insigne de mais de uma geração, o ilustre preceptor, já em avançada idade, mantinha o Colégio São Domingos, do qual era diretor.
A figura austera do venerando professor despertava em mim uma grande simpatia. O seu Colégio, frequentado por um bem elevado número de rapazes, era como que um centro de atividades intelectuais, onde a mocidade daquele tempo se preparava para as árduas lutas da vida prática.
O Colégio São Domingos, estabelecimento de ensino de grande conceito naquela época, preparava os estudantes para os exames de preparatórios que eram feitos no velho Liceu Alagoano, hoje Colégio Estadual de Alagoas.
Mantinha, também, outros cursos de elementar instrução.
O saudoso alagoano, cuja vocação para o magistério era uma afirmação positiva da carreira que abraçou, deu ao seu Colégio o prestígio que merecia, tais a dedicação e o carinho com que dirigia aquela casa de instrução.
Homem culto, o professor Domingos Moeda ocupava lugar de destaque entre os que se distinguiram pelos vastos conhecimentos de que eram possuidores.
Os traços mais importantes da sua vida dizem da grandeza do seu espírito que honra as Alagoas e cuia memória reverenciamos com profundo respeito e particular admiração.
Filho legítimo do casal Antônio Ferreira Chaves e de d. Maria Rosa Orminda, Domingos Bento da Moeda e Silva nasceu, nesta cidade de Maceió, aos 4 dias do mês de agosto de 1839.
Em 8 de julho de 1858 ficou órfão de pai e em 16 de dezembro de 1875 faleceu d. Maria Rosa Orminda, mãe do saudoso alagoano.
Manoel da Silva Barbosa e sua mulher d. Maria Barbosa eram seus avós paternos; Domingos Bento da Moeda (de nacionalidade espanhola) e sua mulher d. Antônia Rosa dos Prazeres, avós maternos.
Residindo seus pais no sítio Flamenguinha de Baixo, seus tios, Antônio da Silva Aboim e d. Luzia Joaquina de Aboim, embora encontrassem certa resistência por parte dos pais de Domingos Moeda, resolveram estes entregar a criança aos tios, os quais, com muito carinho, cuidaram da educação do sobrinho.
Assim sendo, matricularam o menino na escola primária e, dado o seu desenvolvimento nos estudos, em 1853, o estudante passou a frequentar o Liceu, onde fez os preparatórios.
Em 8 de agosto de 1863, inaugurou, nesta cidade, o Colégio São Domingos, deixando, nessa ocasião, a casa dos tios, onde residia.
Vivendo do magistério, em pouco tempo conseguiu firmar-se como um dos mais competentes mestres, razão pela qual o seu Colégio era, naquele tempo, um dos mais conceituados estabelecimentos de ensino.
O Colégio São Domingos, por todos procurado, fez época graças aos esforços e competência do seu diretor.
É de notar ter sido o nosso biografado um dos maiores vultos didáticos da província, especialmente no conhecimento da língua latina.
Realmente era um mestre moderado e de aprimorados estudos.
Em 1867, consorciou-se com d. Ana Cândida Cotrim, filha do comerciante Manoel da Costa Pereira Cotrim e de sua esposa d. Cândida Pereira Cotrim, de cujo matrimônio teve nove filhos, dos quais sobrevive a senhorita Maria Moeda, residente nesta cidade.
Cargos que ocupou
Embora dedicando-se ao ensino, no seu Colégio, o venerando professor também ocupou cargos públicos e de eleição.
Assim é que, de 1865 a 1866, exerceu interinamente a cadeira de Latim do Liceu Alagoano, tendo sido nomeado em 1870 professor cia cadeira de Inglês no mesmo Liceu.
De 1876 a 1879 desempenhou o mandato de Vereador da Câmara Municipal de Maceió, onde a sua atuação se fez sentir em benefício da nossa cidade, sendo eleito presidente da referida Câmara.
Pelo Imperador Pedro II, em 1879, foi nomeado membro do Conselho Fiscal da Caixa Econômica e Monte Socorro, da então província das Alagoas.
Exerceu ainda o cargo de professor vitalício da cadeira de Português do Liceu Alagoano, para o qual foi nomeado pelo então vice-presidente da província, Dr. Manoel Messias de Gusmão, no exercício de Presidente.
Tomou parte, em épocas diferentes; nas bancas examinadoras de concursos da antiga Tesouraria da Fazenda e de preparatórios perante a Delegacia Especial de Instrução Pública.
Eleito mordomo da Santa Casa de Misericórdia, chegou a ser Provedor do referido estabelecimento de caridade e do extinto Asilo de Mendicidade. Á frente destas duas instituições, Domingos Moeda prestou notáveis serviços numa demonstração de seus altos méritos como administrador zeloso e eficiente.
Orfanato São Domingos
Reunindo, em sua residência, elementos ponderáveis da sociedade alagoana, o professor Domingos Moeda, em meio do mais vivo entusiasmo, idealizou a criação de um orfanato para abrigar os órfãos pobres, dando-lhes, além do teto, instrução necessária para que mais tarde pudessem se apresentar na sociedade como homens capazes e úteis. Essa memorável reunião, verificou-se a 3 de agosto de 1919, comparecendo a ela, além de numerosas pessoas interessadas pela criação do novo estabelecimento de caridade, o dr. José Fernandes de Barros Lima, Governador do Estado, o Cel. Domingos de Araújo Melo e o abastado comerciante João Lício de Almeida Marques.
Eleita a primeira diretoria, teve a ideia rápido desenvolvimento, contando os promotores da criação do Orfanato São Domingos com a simpatia e o apoio material de todos quantos espontaneamente se propuseram a colaborar nesse grande empreendimento.
Trabalhando afanosamente pela concretização da sua ideia, o professor Domingos Moeda e seus companheiros de luta em prol da instituição que surgia sob os melhores auspícios, não mediram sacrifícios até a realização da notável obra de assistência social que ainda hoje existe para orgulho dá nossa terra.
O Orfanato São Domingos, instalado em majestoso prédio, situado no bairro de Mangabeiras, continua a sua nobre missão, graças à dedicação das diretorias que se sucedem sempre animadas daquele mesmo entusiasmo e com a mesma fé nos destinos de tão útil instituição cujos benefícios todos nós conhecemos.
Não tem faltado dos particulares e do Poder Público à tão nobre iniciativa, que teve como idealizador o inesquecível alagoano, a cooperação necessária para a manutenção do referido estabelecimento que continua prestando relevantes serviços ao nosso Estado.
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A figura do notável alagoano, ainda bem viva no coração de todos nós, ficou como exemplo para as gerações que se sucedem.
O notável conterrâneo, contando 85 anos de idade, faleceu, no dia 16 de dezembro de 1923, nesta cidade.
A notícia da sua morte encheu de pesar a sociedade alagoana.
Craveiro Costa, em nome da Diretoria do Orfanato São Domingos, ao proferir o seu discurso à beira do túmulo do professor Domingos Moeda, assim se expressou: “Domingos Moeda não desfrutou na vida as vantagens sociais asseguradoras do êxito; contudo triunfou pela inteligência, pela bondade, peia nobreza da profissão a que se deu de corpo e alma, preparando conscientemente homens dignos da sua terra e da sua gente”.
Foi Domingos Moeda mais um alagoano que soube honrar a sua terra, deixando exemplos magníficos da sua operosidade e do seu espírito que, sem nenhum favor, foi dos mais brilhantes de seu tempo.
(Extraído do livro Alagoanos Ilustres, Volume 2, 1962)
O nome do ilustre Domingos Moeda, não seria Domingos Mendes Moeda?