Praça D. Rosa da Fonseca: do Livramento até o Bar do Chopp
O nicho que veio a ser a pequena capela do Livramento no Centro de Maceió foi construído em 1790, segundo Manoel Diégues Júnior. Em 1822 já existia a capela, uma construção rústica, coberta de palha.
A irmandade do mesmo nome foi criada no dia 2 de março de 1825 e a sua fundação se deu em reunião realizada na própria capela.
Bem localizado, o templo passou a ser citado como referência física da cidade e influenciou na denominação dos logradouros públicos ao seu redor. A rua onde foi construído e a pracinha à frente também foram batizados em homenagem à Nossa Senhora do Livramento.
Há registros de uma reforma na capela em 1839, obra que contou com a ajuda do presidente da província Agostinho da Silva Neves.
Quarenta anos depois, a capela foi demolida e em seu lugar foi erguida a Igreja do Livramento, inaugurada em 17 de fevereiro de 1883. Em 1905, a igreja passou por reforma, ganhando a torre com seus três sinos.
A nova igreja valorizou o seu entorno e a Rua do Livramento ganhou várias e modernas edificações.
Entre estes investimentos houve a reforma da Praça do Livramento, iniciada em maio de 1909 quando o intendente era Demócrito Gracindo. Rosalvo Ribeiro foi quem elaborou o projeto.
Com as obras em andamento, surgiu a proposta de que a praça restaurada homenageasse a matriarca da família Fonseca.
Cumprindo a vontade popular, no dia 21 de setembro de 1909 o Conselho Municipal de Maceió (atual Câmara Municipal) aprovou o Projeto nº 26 decretando que a Praça do Livramento passaria a se denominar Praça Dona Rosa da Fonseca.
O mesmo decreto autorizou ao intendente a ali colocar um busto em bronze da “legendária alagoana”, “aformoseando a mesma”.
O Projeto nº 26 foi sancionado pelo intendente e passou a ser a Lei nº 147, de 23 de setembro de 1909.
O busto, que custou Rs 1:200$000, foi encomendado a empresa paulista Goulart Pimentel & Cia, que por sua vez encarregou Angeli Angiolo, proprietário da Fundição Artística Paulistana, de confeccionar a peça.
Angeli Angiolo era o mesmo artista que tinha esculpido a estátua de Floriano Peixoto para a Praça dos Martírios.
Um detalhe deste busto é que ele foi esculpido com a sobra do bronze utilizado na estátua do Marechal Deodoro, erguida na praça do mesmo nome.
Esta informação consta do relatório apresentado pelo intendente Demócrito Gracindo.
Dona Rosa
A nova denominação da praça foi uma homenagem à mãe de algumas personalidades importantes da política de Alagoas e do país. Afinal, um dos seus filhos foi o proclamador da República e o seu primeiro presidente.
Dona Rosa Maria Paulina Barros Cavalcanti da Fonseca casou com o capitão Manuel Mendes da Fonseca e tiveram dez filhos: marechal Hermes Ernesto da Fonseca, marechal Severiano Martins da Fonseca, marechal Manuel Deodoro da Fonseca, coronel Pedro Paulino da Fonseca, capitão Hipólito Mendes da Fonseca, major Eduardo Emiliano da Fonseca, general João Severiano da Fonseca e o tenente Afonso Aurélio da Fonseca, todos militares, e as filhas Emília e Amélia Rosa.
Acompanhando os fatos do seu tempo, Dona Rosa da Fonseca, considerada uma mulher inteligente, compreendia a importância da Guerra do Paraguai e não se abateu quando perdeu três filhos neste confronto.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 11 de julho de 1873, e foi sepultada no cemitério de São Francisco Xavier.
Em 20 de agosto de 1979, em cerimonial fúnebre com a presença de militares e de descendentes do fundador da República, marechal Deodoro da Fonseca, seus restos mortais foram transferidos para o túmulo monumental de Deodoro, no mesmo cemitério.
A lápide do antigo túmulo de Rosa da Fonseca encontra-se hoje exposta para visitação pública na Casa de Deodoro, em Marechal Deodoro, Alagoas.
Busto na Praça
A reforma da praça e o busto da Dona Rosa da Fonseca foram inaugurados na tarde da quarta-feira, 7 de setembro de 1910, com a participação das colunas militares e estudantis que desfilavam pelas ruas de Maceió em homenagem à Independência do Brasil, e ali se detiveram por algum tempo.
O público e os desfilantes ouviram um breve discurso do intendente Demócrito Gracindo, que entregou à população a pequena praça totalmente reformada, com bancos de ferro e madeira e iluminada por lâmpadas elétricas instaladas em dois postes.
O jornalista Dario Cavalcante, de O Norte de 10 de setembro, disse que o discurso do intendente foi “bem bom”, com boas frases e sem ter gestos largos como fazem os oradores ingleses.
Estavam presentes o governador do Estado, Euclides Malta; Francisco Pontes, secretário da Fazenda; Luiz Mascarenhas, secretário do Interior; coronel Pinto Paes, dr. Salvador Calmon, dr. Rodrigues de Mello, Ignácio Gracindo, coronel Ismael Brandão “e mais outras pessoas distintas do nosso meio político e social”, registrou o Gutenberg de 10 de setembro de 1910.
A nova denominação demorou a ser conhecida pela população, que muitos anos depois ainda se referia ao lugar como Praça do Livramento. Em 1916, alguns anúncios em jornais indicavam como endereço o antigo nome.
Em 1936, o prefeito Álvaro Guedes Nogueira remodelou a praça e mudou a posição do busto que passou a ter a nascente pela frente. Antes “olhava” para a Igreja do Livramento.
A transformação mais importante sofrida pela praça veio nos anos da década de 1950, quando na casa onde funcionou a antiga Mercearia Boa Vista, de Serafim Costa, se instalou o Bar do Chopp.
Esse equipamento foi autorizado a utilizar a praça como extensão do bar. Aos poucos, a área foi sendo incorporada e atualmente está privatizada e coberta por enorme alpendre.
Não se tem informação precisa sobre quando foi retirado o busto de D. Rosa da Fonseca e levado para a Casa do Marechal Deodoro na cidade do mesmo nome, mas pode-se afirmar que D. Rosa está bem melhor acomodado por lá, na casa do filho.
O lamentável é que quase toda memória importante da nossa história de Alagoas, mais precisamente Maceió, não existe mais; vejam só como um estabelecimento sem importância alguma, destruiu uma historia tão fundamental para o nosso povo.
Boa oportunidade para a prefeitura de Maceió remodelar ou transferir o busto dessa Mulher Símbolo para um local de destaque !
Na época,inicio dos anos 80, ouvi comentários que busto fora retirado por interferência politica de Fernando Collor (quando da reforma da casa onde nasceu Marechal Deodoro e estavam angariando bens e pertencentes a família). Logo após o dono do Bar do Chopp, foi discretamente se sentindo dono da área, espalhando mesas, fazendo cercado, proibindo circulação de pessoas que não fossem os clientes e assim seguiu ocupando a área, naturalmente contando com a omissão da Prefeitura até hoje. Lembrando que na época, além da população, o bar era muito frequentado por políticos, lojistas, desembargadores do antigo Fórum, etc.
Por que a prefeitura não pede a reintegração da posse da pracinha que paulatinamente foi tomada pela Casa Serafim Costa. Apropriação indébita.