Sobre as origens das denominações das lagoas Manguaba e Mundaú

Quando as primeiras expedições portuguesas chegaram ao Brasil e mapearam a costa alagoana, batizaram seus principais rios com nomes dos santos dos dias em que estiveram pela primeira vez na foz deles.
Outros cursos d’água tiveram preservados as antigas denominações estabelecidas pelos índios. Um deles, na então capitania de Pernambuco, foi o Rio Mundaú, que segundo Teodoro Sampaio no seu livro “O Tupi na Geografia Nacional”, de 1901, vem de Mondá-ú, “o bebedouro dos Ladrões; o rio do furto (mondá-y)”. Ele traduziu também Ya-mundá, que é “aquele que furta; gente ladra; povo de ladrões”.
Em seu “Ensaio acerca da significação de alguns termos da língua tupi conservados na geografia das Alagoas”, João Francisco Dias Cabral explica Mundahú como a união de mundé (cilada) com U (rio). “Rio da cilada ou tortuoso”.
Esse topônimo também é encontrado no Ceará, onde existe outro rio Mundaú.
Mas os colonizadores não tiveram inspiração alguma para nomear as “alagoas” vizinhas, que recebiam águas do Rio Mundaú e do Paraíba (água ruim para beber) do Meio. Foram batizadas como “Alagoa do Sul” e “Alagoa do Norte”. Mas não eram lagoas. Por terem saída para o oceano, são lagunas resultantes dos antigos estuários destes rios.
A Lagoa do Sul foi renomeada como Lagoa Manguaba, numa referência ao fruto da mangabeira, que os tupis pronunciavam como ma’ngaûa, também traduzido como “coisa boa de comer”. Não se sabe quando o topônimo Manguaba começou a substituir a Lagoa do Sul, mas seu registro mais antigo, encontrado por esta pesquisa, é de 1827. É bom lembrar que no período imediato à ocupação holandesa (1630 e 1654), o Rio das Pedras, na região Norte, passou a ser registrado como Rio Manguaba. É aquele que passa em Porto Calvo e deságua no oceano em Porto de Pedras.
Mundaú tem seus primeiros registros no século seguinte. Em “Informação Geral da Capitania de Pernambuco, de 1749 – publicada em 1906, no volume 28 dos anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro —, é apresentada a “Relação dos Rios, que regam o País da Capitania de Pernambuco do Cabo de Santo Agostinho para o Sul” e, na página 477, estão os seguintes detalhes:
“Ao Sul do rio doce (atual Riacho Doce) se segue a barra das Alagoas do norte e do sul, que ambas se ajuntam em uma só barra; na Alagoa do Norte, faz barra o rio chamado Carrapato, e o rio Mondahy, o qual dá o nome à alagoa do Norte, que também se chama Mondahy, e no rio Mondahy faz barra o rio Potiguasutiba (Rio Satuba)”.
Moreno Brandão, em sua Monografia sobre o município de Maceió, publicada no Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro em 1929, informa, quando descreve a “Linnegaphia” da cidade, que “Neste município se escava a lagoa do Norte, com cerca de 2 milhas de largura por 5 de extensão. É muito piscosa, rasa e comunica, ao Sul do Pontal da Barra, com o Oceano Atlântico. Era conhecida por Mundahú, nome hoje em desuso”.
Essa constatação de que o nome Mundahú estava em desuso foi confirmada por um levantamento realizado pelo História de Alagoas, evidenciando que o topônimo Lagoa do Norte predominou durante o século XIX e até meados do XX. Sua última citação em jornais é de 1962. A denominação Lagoa Mundaú volta a ser utilizada no final do século XIX e ganhou força a partir da década de 1940, consolidando-se nos 60.
Parabéns, prezado Ticianeli. Grato por publicar esta mensagem. Eu nasci em Fernão Velho, que fica nas margens da Lagoa Mundaú.