Santana do Mundaú, o antigo distrito palmarino de Mundahú-Mirim

As primeiras informações sobre o lugar denominado “Mundahú-Mirim”, embrião da futura Santana do Mundaú, surgem no processo que culminou com a criação da Vila Nova da Imperatriz em 1831.
Genisete de Lucena Sarmento, em seu livro “A Ocupação das Terras do Quilombo dos Palmares e a Criação de Vilas”, nos informa que após a criação dos juízes de Paz, em 15 de outubro de 1827, houve eleição em Atalaia no ano de 1829 para escolher os vereadores, juízes de Paz e os suplentes das capelas filiais. São listadas as de Macaco, Canhoto, Jussara, Murici, Passagem, Nossa Senhora da Conceição e Riacho do Meio. Não aparece Mundahú-Mirim.
Quando foi criada a Vila Nova da Imperatriz, pelo Decreto de 13 de outubro de 1831 (instalada somente em 21 de fevereiro de 1833), desmembrada do município de Atalaia, seu território envolvia Macaco, Jussara, Cabeça de Porco, Murici e Branquinha. Nada de Mundahú-Mirim. Ela já existia?
Já existia, sim, como revela o Ofício da Câmara da Vila Nova da Imperatriz enviada ao presidente da Província em 26 de junho de 1833, segundo pesquisa de Genisete de Lucena. Nele está a comunicação, entre outras medidas, da criação de oito distritos de juízes de paz. Esse ato extinguiu o distrito de Juçara e institui um em Mundaú-Mirim. Se em 1833 teve condições de ser promovido a distrito, é sinal de que já existia há algum tempo.
A origem do nome é atribuída ao rio Mundaú e o rio Mirim, que banhavam o então povoado. Um lugar de duas águas: Mundaú-Mirim. Há também a hipótese, nascida pela observação de alguns antigos mapas, de que o Mirim já era uma redução do topônimo Mundaú-Mirim, que denominava o pequeno rio paralelo ao Mundaú. Esse mesmo recurso foi utilizado, por exemplo, para diferenciar o rio Santo Antônio Grande (na Barra de Santo Antônio) do rio Santo Antônio Mirim (Ipioca), onde está a Cachoeira do Mirim (ou Meirim).
O povoado também é citado no livro Geografia Alagoana, edição de 1871, de Thomaz Espíndola. Na descrição da freguesia da Imperatriz, consta: “Contém esta freguesia 7 capelas filiais; a saber: a do Bolão [São José do Bolão], que fica distante da sede 3 léguas; a do Roçadinho, 6 [léguas]; da Lage do Canhoto, 5 [léguas]; do Caruruzinho, 4 [léguas]; de Panelas ou Juçara, 5 [léguas]; do Mundahú-Mirim, 5 [léguas]; e do Timbó, 3 [léguas]”.
No mesmo livro, quando trata da Divisão Política de Alagoas, o município de Imperatriz é citado como tendo, além da Vila da Imperatriz, as seguintes povoações: Murici, Lage do Canhoto, Mundahú-Mirim e Cabeça de Porco ou Santo Antônio da Boa Vista.
Espíndola localiza Mundahú-Mirim “à margem esquerda do Mundahú-Mirim”, indicando a origem do nome do lugar. O povoado tinha, em 1871, 60 imóveis residenciais, todos cobertos por telhas e uma capela de Sant’Anna, além de duas cadeiras de primeiras letras, uma para cada sexo. Essa capela somente recebeu seu sino em 1873.

Igreja de Senhora Sant’Ana recebendo as torres, provavelmente na década de 1960, quando foi promovida a matriz
Constata-se na pesquisa que, no final do século XIX e início do XX, se adotava a grafia Mirim ou Meirim, dependendo do jornal ou livro. Para oficializar o Mirim e não o Meirim, em 31 de março de 1938, o Decreto Lei nº 2361, de 31 de março de 1938, definiu que o distrito era Mundaú-Mirim.
O lugar, em 1874, tinha uma feira, cartório de Paz e subdelegado. Sabe-se disso porque os jornais noticiaram que no sábado, dia 26 de dezembro daquele ano, “um grupo vindo da província vizinha, acossado provavelmente pela força pública, invadiu no dia 26 do passado a feira de Mundahú-Mirim, do termo da Imperatriz, inutilizando alguns pesos e medidas que puderam encontrar e rasgando os poucos papeis do cartório de paz e o título de um procurador ou arrematante de impostos municipais”. Os mais de 200 homens participavam da histórica Revolta do Quebra-quilos.
O jornal continua: “Não havia ali força que impedisse os desordeiros e apenas poucos paisanos que defenderam de uma possível agressão o subdelegado”. Essa nota está publicada no jornal A Nação (RJ), de 19 de janeiro de 1875.
Genisete de Lucena revela que dias antes (19 de dezembro) já havia acontecido um primeiro episódio dessa revolta, nessa mesma feira. Os líderes do grupo eram Vitoriano Reinaldo de Freitas e Joaquim Bento de Cerqueira.

Foto no Jornal Tico-Tico (RJ) de 11 de abril de 1917 do menino Florival Ávila Maia, filho do capitão Ernesto Maia, uma das lideranças de Mundahú-Mirim
Em 1891, quem quisesse comprar tecidos em Mundahú-Mirim procuraria a loja de Antônio Romualdo de Oliveira ou a de Manoel Pereira de Barros. Os “molhados” seriam encontrados nos comércios de Antônio Gomes de Araújo, João Balthazar Ferreira de Mello, João Manoel da Costa, Manoel da Costa Pinheiro, Manoel Pereira de Barros e Salmonico André da Costa.
Por uma nota de falecimento datada de 15 de abril de 1896, sabe-se que João André da Costa era o juiz de distrito de Mundahú-Mirim. A publicação comunicava que falecera sua esposa e quatro dias depois um filho de 21 anos de idade.
Em 26 de setembro de 1904, o Jornal do Brasil publicou, na sua coluna sobre Alagoas, que o “famigerado bandido André Tripa” já não mais “existia”. Lembrou que ele e sua quadrilha encheram de pânico o interior do estado: “Entre as façanhas desse malfeitor, conta-se a dele ter feito emigrar todos os habitantes do povoado Mundahú-Mirim, que só regressaram após o passamento do facínora”.
A partir de 1904, Mundahú-Mirim ganhou uma Agência dos Correios. Era inicialmente de 4ª classe.
O distrito passou a se desenvolver em outro ritmo na década de 1940, quando finalmente foi aberta a estrada para União dos Palmares, uma velha reivindicação dos proprietários rurais, que encontravam muitas dificuldades para exportarem seus produtos por caminhos intransitáveis no inverno. Suas terras são grandes produtoras de bananas e laranjas.
Foi esse surto desenvolvimentista que animou os moradores a reivindicarem a emancipação política do lugar.
Em 14 de junho de 1960, “o governador Muniz Falcão sancionou a Lei nº 2.245, aprovada pela Assembleia Legislativa, que criou o município de Mundaú-Mirim, desmembrado de União dos Palmares. A sede da nova comuna será Santana do Mundaú e seus limites vão até a fronteira de Pernambuco. A instalação do município será revestida da maior solenidade e em data ainda a ser marcada, mas para breve”. (Diário de Pernambuco de 23 de junho de 1960). Como se percebe, o jornal errou, vítima da força da denominação anterior. O município foi denominado de Santana do Mundaú pela mesma lei. A instalação oficial ocorreu em 30 de janeiro de 1961.
A escolha do nome refletiu a presença no lugar da Senhora Sant’Ana desde meados do século XIX, quando, provavelmente, ali se construiu a capela em sua devoção. Entretanto, a Paróquia de Senhora Sant’Ana somente foi criada em 26 de maio de 2008.

Em 1978, o prefeito de Santana do Mundaú, Manoel Francisco da Silva, o governador Divaldo Suruagy e o prefeito de União dos Palmares, Manoel Gomes de Barros, discutem benefícios para a região
No dia 4 de agosto de 1961, tomou posse seu primeiro prefeito eleito, Manoel Francisco da Silva, agricultor, pecuarista e um dos líderes movimento que levou a antigo distrito à condição de município. Outra liderança que encabeçou dessa mobilização foi Augusto Cavalcanti Lins, também responsável pela proposta que deu a denominação ao lugar em homenagem à padroeira. Foi o prefeito indicado por Muniz Falcão, logo após a emancipação.
Menos de um ano depois, a cidade sofreu sérios danos provocados por uma tromba d’água que, em julho de 1962, desceu o Mundaú destruindo tudo o tinha pela frente. Novas enchentes voltaram a causar estragos na cidade em 1968, 1977 e 2010.
Mas as águas que passam por lá também trazem prosperidade. A Cachoeira da Xiringa, no Riacho Mirim, é hoje uma das principais atrações turísticas daquela região, o que levou à construção no seu entorno de um balneário.
Mais uma magistral aula de pesquisa histórica do nosso querido Estado.
Muito grato, prezado Ticianeli.
Adorei saber,um conteúdo enriquecedor
Sou dessa cidade linda acolhedora cheia de muita gente de bom coração Amo esta linda cidade maravilhosa
Está foto da xiringa foi trocada essa daí é a foto da cachoeira da escada