A Cotonia Brasileira de União dos Palmares

Pouco conhecida, essa fábrica têxtil teve vida curta e não chegou a produzir

União e a antiga Av. João Pessoa, atual Av. Monsenhor Clóvis

As primeiras informações, publicadas nos jornais, sobre a origem do projeto que pretendia instalar em Alagoas e Sergipe “uma ou mais fábricas de descaroçar, fiar, tingir e tecer algodão” estão publicadas no Jornal do Brasil de 24 de dezembro de 1891. Na divulgação da sessão do dia anterior do Senado Federal, consta a “representação de Hiram W. Mapes Junior, cidadão dos Estados Unidos da América do Norte, e do bacharel Manoel Marcondes de Andrade Figueira, que solicitavam favores para promoverem a incorporação de uma companhia. O pedido foi encaminhada às comissões de Finanças e de Comércio, Agricultura, Indústria e Artes da Câmara dos Deputados.

Em 1892, o projeto continuava em busca das isenções, mas os seus incorporadores já eram Hiram Wanner Mapes Junior (engenheiro mecânico norte-americano), Visconde de Carvalhaes e Manoel José d’Araujo, este um empresário de União, em Alagoas. A fábrica seria erguida num local chamado Cahype (atual Caípe, perto da antiga Usina Laginha) à margem do rio Mundaú, a três quilômetros da sede do município de União. Era cortada pela via férrea, que fora ali instalada no final do ano de 1890.

Em um anúncio de página inteira, publicado no jornal Gutenberg de 16 de junho de 1892, a “Cotonia Brazileira – Companhia Progressiva de Fiação e Tecidos”—, divulgava que pretendia, caso fossem subscritas 13.750 ações de 100 mil réis, instalar quatro fábricas, “cada uma de 224 teares e mais maquinismos correspondentes”. Eram voltadas para “descaroçar, fiar, tingir e tecer algodão com os correspondentes estabelecimentos anexos, como oficinas para reparações, armazéns, tinturaria, fábrica de óleo e casas de morada para empregados e operários”.

Sobrado em que nasceu o poeta Jorge de Lima em União dos Palmares

Nessa mesma página informa-se sobre a primeira Diretoria:

“Presidente – Manoel José d’Araujo, negociante, residente na cidade de União.
Secretário – Major Pedro da Rocha Cavalcante, proprietário, residente no município de União.
Tesoureiro – Major Olympio Ether, negociante, residente na capital do Estado.
Gerente – Hiram W. Mapes Junior, engenheiro mecânico, com residência no núcleo da Companhia.
Agente na Capital Federal – Loureiro, Freire, Moura & Cia”.

O primeiro Conselho Fiscal ficou composto por cidadãos moradores em Maceió:

Manoel José Alves Tosta, guarda-livros.
João Luiz Honorato de Almeida, guarda-livros.
José de Amorim, guarda-livros.

Os suplentes eram:

Luiz Cordeiro Zagallo, negociante.
João Antônio Loureiro, negociante.
Boaventura Rodrigues de Amorim, negociante.

Cotonia é uma palavra de origem italiana que se refere a um “pano de algodão”. Cotone (algodão) vem do árabe al-quTum (o cotão).

Antes de se envolver nesse projeto em Alagoas, a partir de 1892, Hiram Wanner Mapes Junior já tinha participado de um empreendimento semelhante em Caxias, no Maranhão, onde se estabeleceu em 1880 e no ano seguinte já havia sido contratado para construir uma ponte sobre o Rio Itapecuru.

Esse engenheiro americano nasceu em 4 de julho de 1853 no distrito de Honesdale, na Pensilvânia, EUA. Em Caxias, casou-se, em 23 de abril de 1881, com Aquilina Gemina dos Reis. Tinha então 33 anos de idade.

A primeira fábrica têxtil montada por ele naquele município foi a da Companhia Industrial Caxiense, sociedade criada em 1884 e que tinha Hiran Mapes também como acionista. Entrou em funcionamento em 1866.

Para montar a segunda, um projeto da Companhia União Caxiense, foi contratado em 4 de novembro de 1899. Como divulgou o Diário de Pernambuco de 13 de agosto de 1890, “o hábil engenheiro mecânico, naquela data, ainda montava “outra fábrica de tecidos”. Em 5 de janeiro de 1891 o contrato foi reincidido por desentendimento entre as partes. As obras da fábrica foram concluídas pelo engenheiro Luís Barbosa.

Em União

O seu projeto para a implantação da fábrica em Alagoas sofreu revés em 27 de agosto de 1892, quando a Comissão de Fazenda e Indústria da Câmara dos Deputados negou as isenções pretendidas para importar os maquinismos. Mesmo assim, por contar com benefícios do governo do Estado de Alagoas, a Companhia Cotonia Brasileira foi constituída oficialmente em 28 de fevereiro de 1893.

No final de 1894 e início de 1895, o projeto já despertava desconfianças entre os seus acionistas, que não mais acreditavam na viabilidade do empreendimento. Os diretores chegaram a levar várias autoridades e acionistas de Maceió a conhecerem as obras em União. Não alterou nada.

Como a crise estava exposta, no final de março de 1895 o diretor Manoel José de Araújo viajou até o Rio de Janeiro para pleitear um empréstimo de 200:000$000 ao Banco da República. Eram recursos que seriam utilizados na aquisição do maquinário destinado à montagem da primeira fábrica. Também foram as últimas tentativas para manter o projeto em andamento.

Estação de União dos Palmares, na década de 1950

Uma nota dos seus diretores, publicada no início de abril de 1895, informava que as últimas três assembleias não tinham sido realizadas por falta de número legal. A publicação convocava uma nova reunião para o dia 9 daquele mês e apresentava a pauta, definindo que era necessário que todos tomassem conhecimento da “situação especial da Companhia” para que deliberassem “sobre as medidas extremas e precisas ou resolver a dissolução…”.

No dia 24 de julho de 1895, o Jornal do Recife publicou uma nota, datada de dois dias antes, em que a comissão nomeada para promover a liquidação amigável da Companhia Cotonia Brasileira cientificava o público da existência de uma “lista circunstanciada dos haveres da mesma, que poderá ser examinada por qualquer pretendente os ditos haveres em parte ou em sua totalidade, a fim de apresentar suas propostas em carta fechada dentro do prazo de 30 dias, a contar da data do presente”.

Informava ainda que as propostas seriam abertas durante uma assembleia convocada para ocorrer em Maceió no dia 22 de agosto de 1895. Assinavam a nota os membros da comissão, Olympio Ether, Luiz José da Silveira, Hiram W. Mapes Junior e João Francisco da Rocha Lima.

Não se sabe a data da assembleia que decretou a sua liquidação amigável, mas o processo se arrastou até o início de 1899, quando ainda se tentava realizar assembleias. As convocações para as últimas reuniões foram assinadas por Olympio Ether e Luiz José Magalhães das Silveira.

Nesse período, Hiram W. Mapes Junior já tinha abandonado o projeto e voltado a morar no Maranhão, onde passou a prestar serviços ao governo daquele Estado e depois assumiu, em parceria com Pedro Nunes Leal, o controle da Fábrica Progresso Maranhense, que estava desativada. O dinheiro para esse investimento veio do Banco da República.

Sobre se houve prejuízo para os sócios e o que foi feito com o patrimônio da Companhia Cotonia Brasileira, não foi possível colher qualquer informação.

10 Comments on A Cotonia Brasileira de União dos Palmares

  1. As patentes de MAJOR dos três membros da diretoria eram oriundas da Guarda Nacional ?

  2. Claudio de Mendonça Ribeiro // 8 de abril de 2025 em 09:29 //

    Muito grato, prezado Ticianeli.

  3. José Elias de Souza // 8 de abril de 2025 em 11:36 //

    Nasci em União dos Palmares. Cresci, estudei e NUNCA tive conhecimentos. Destes fatos.
    INTERESSANTE!!

  4. Ticianeli // 8 de abril de 2025 em 16:51 //

    Sim, da Guarda Nacional. Muitas vezes as patentes eram alteradas por puxa-saquismo. Encontro muito major sendo tratado como coronel por bajulação da imprensa da época. No século XX, depois que da extinção da Guarda Nacional, a coisa piorou. Por isso que até há pouco tempo existiam por aí muitos coronéis que nunca vestiram uma farda.

  5. Marcos Monte // 9 de abril de 2025 em 15:23 //

    Parabéns, Ticianelli, pelo riquíssimo artigo!

  6. Parabéns ao autor dessa obra, interessante, como já foi dito: Nasci, Cresci e ainda continuo nessa cidade maravilhosa.. parabéns que publiquem mais fatos históricos da nossa União dos Palmares….

  7. Essa reportagem é uma excelente informação, principalmente para nós Palmarino. Vou guardar para sempre, eu sou da Rocha Cavalcante, uma cidade que pertence a União dos Palmares.

  8. JOSE GALDINO DA SILVA // 11 de abril de 2025 em 13:31 //

    Muito bom adorei todas as histórias de Alagoas são lindas obrigado

  9. Edilson crisóstomo de Amorim // 12 de abril de 2025 em 17:23 //

    Esse Ticianeli é uma fera, sempre nos colocando diante da nossa história e facilitando a nossa compreensão, nós apresentando a história do passado para entendermos o presente e melhorarmos o futuro, se for possível. Parabéns.

  10. Wilson Santos // 14 de abril de 2025 em 16:29 //

    Grande Ticianeli. Trabalho maravilhoso!

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