A Flexeiras das Alagoas

A informação mais antiga sobre a existência de Flecheiras, como se grafava na época, remonta ao início de 1859 e está na Falla do presidente da Província, Agostinho Luiz da Gama, como um item do relatório dos crimes cometidos na Província das Alagoas no ano anterior. Foi um homicídio ocorrido ali no dia 24 de março.

Volta a ser citado em 1865, quando o padre Manoel Amâncio das Dores Chaves publicou no Diário de Pernambuco, de 26 de maio daquele ano, as suas Estatística Eclesiástica da Província das Alagoas. Ao descrever a Freguesia de Ipioca, enumera as suas 12 capelas:

“A do engenho Peixe, que, depois da do Coqueiro Seco, é a melhor da província, as duas capelas do Bom Conselho, e da povoação de Paripueira; a de Flecheiras; a de Lagoa Vermelha, a de Santo Antônio dos Montes: a do Riacho Doce; e, em estado pouco lisonjeiro, as de Ponte Grande, Cantinho, Santas Cruz, e, finalmente a de Santa Luzia, da povoação de Cacimbas”.

Era o reverendo Manoel Branco Bezerra quem regia a capela do “sítio Flecheiras“.

Em outro trecho desse mesmo levantamento estatístico, o autor confirma a existência de Flecheiras em Ipioca: “Em resumo, a maior distância dessa freguesia, de norte a sul, é de sete léguas, e de dez de nascente a poente, sendo os lugares mais distantes e centrais, a contar da sua sede, os lugares Capinhal e Flecheiras“.

Outra citação foi publicada no dia 7 de outubro de 1887 n’O Orbe. Um Edital da Câmara Municipal de Maceió, datado de 3 de outubro de 1887, anunciava que no dia 22 daquele mês aconteceria um leilão de “gado bovino e suíno dos distritos de Riacho Doce, Pioca, Paripoeira, Getituba, Meirim, Raiz e Flecheiras, bem como do distrito de Fernão-Velho e Freichal”.

Mercado Público de Flexeiras no início dos anos de 1960

No Almanak do Estado de Alagoas de 1894 está a relação dos povoados de São Luiz do Quitunde: Barra de Santo Antônio, Flecheiras, Raiz e Urucú.

Por esse mesmo impresso sabe-se que o agente dos Correios em Flecheiras era Manoel Coelho da Rocha Campos — em março de 1897 essa agência foi extinta. Quem quisesse jogar bilhar, tinha que procurar o salão de Manoel Cesario de Omena.

O comércio de fazendas, secos e molhados era exclusivo dos senhores Hermegenildo Joaquim da Silva, Luiz José de Paiva, Manoel Cesario de Omena, Manoel Vieira da Costa e Sebastião José de Omena. A padaria era de propriedade de Manoel Vieira da Costa.

Casa Grande do Engenho Manacá, com a família e amigos do Coronel Alfredo Fragoso de Melo

Origem do topônimo Flecheiras

Teodoro Sampaio, em carta a Luiz Studart, o Barão de Studart, datada de 3 de abril de 1931, explica o significado de dois topônimos indígenas (Quixeramobim e Ubatuba), mas sua interpretação para Ubatuba foi questionada por alguém que se assinava T. P. S. na Revista do Instituto do Ceará (provavelmente Thomaz Pompeu de Sousa Brasil).

Teodoro interpretou Ubatuba como sítio ou lugar das frutas, ou sítio das canoas, mas seu contendor nega que o topônimo venha de ybá-tyba (sítio das frutas, frutal, abundância de frutas) ou de ubá-tyba (sítio das canoas, local onde elas se encontram em abundância).

T. P. S. preferiu significar uyba > uuba > uba, do tupi, como flecha do arco ou o cabo de qualquer instrumento, e que ubá seria o nome indígena da flecheira ou cana-brava (generium parviflorum, Nees d’Essenb), “gramínea abundante em certos sítios frescos dos sertões e do litoral, sobretudo onde há fontes perenes, nas grotas e pés de morros, de cujo raque floral os índios faziam o corpo das suas flechas”. Portanto, Ubatuba seria o lugar das flecheiras, o flechal, abundância de flecheiras ou canas-bravas”. E mais adiante, afirma: “Há no Nordeste uma infinidade de localidades com os nomes de Flecheiras ou de Cana-Brava. Todas estão em relação com a existência de touças desta gramínea”.

Uma rápida pesquisa na internet também vai encontrar a cana-do-rio em https://pt.wikipedia.org/wiki/Cana-do-rio: “A Gynerium sagittatum é conhecida como cana-do-rio, cana-flecha, cana-frecha, ubá, canarana, canabrava e cana-brava no Brasil, e “caña brava” no Peru, na Bolívia e em outros países de colonização espanhola.

Entre os diversos locais identificados por esse nome, está a famosa Praia das Flecheiras, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.

Frecheira ou Canabrava

No caso de Flexeiras, à margem do Rio Jitituba (antes grafado como Getituba) o nome pode ter nascido a partir de um local com abundância de flecheiras, que também deu nome ao Engenho Flecheiras, citado em 1825 como pertencente à Vila de Maceió. Anos depois, o mesmo Engenho já está localizado no Distrito de Getituba e de propriedade de José Marinho de Alcantara Lima. No mapa dos engenhos de Alagoas de 1849, o Flecheiras tem como proprietário o capitão João Francisco Coelho. Dez anos depois, continuava com ele e produzia entre 1.900 e 2.000 pães de açúcar.

Também há, em 1906, o registro do Riacho Frexeiras, um afluente do Rio Mundaú.

Frecha é a forma antiga de Flecha, que chegou ao Brasil por influência do francês flèche. De origem remota e comum à maioria das culturas humanas, é um projétil de madeira ou metálico, pontiagudo e disparado com um arco.

Antiga Usina N. S. da Conceição do Peixe

Desenvolvimento de Frecheiras

Segundo algumas fontes, foi em Flecheiras que, em 23 de maio de 1875, ocorreu a reunião que constituiu o Comício Agrícola do Quitunde e Getituba, o primeiro sindicato agrícola do Brasil. Organizava os agricultores residentes nos distritos de Quitunde, Getituba e Soledade. Tinha sede em São Luiz do Quitunde.

No final do século XIX, Flecheiras já havia sido elevado a distrito, como informou o jornal Gutenberg de 29 de fevereiro de 1896 com a publicação da nomeação, em 20 de fevereiro, de Manoel Cezario de Omena como 1º suplente do subcomissário do “distrito de Flecheiras”, município de São Luiz do Quitunde. João Ignácio Ferreira Lima era o 2º e Victalino Pereira Pita o 3º.

Poucos dias depois, em 14 de abril, foi nomeada Eufrosina Maria de Jesus como professora da cadeira de instrução primária da povoação. A antiga professora, Anna Angélica Ramos Freire, tinha sido removida para Coqueiro Seco (Gutenberg de 18 de abril de 1896).

Nesse mesmo período, os jornais de Alagoas revelam os nomes de alguns proprietários em Flecheiras. Essa pesquisa encontrou que em 1899, o capitão Manoel de Faria Mattos Filho era um deles, e que Praxedes Pereira Pita estava vendendo seu Engenho Bella Rosa, ali situado.

Pelo Gutenberg de 28 de julho de 1899, sabe-se que Manoel Lins C. de Albuquerque era o rendeiro do Engenho Flecheiras, em São Luiz do Quitunde, e pretendia passar adiante essa propriedade. Em 1900, uma das lideranças do lugar era o capitão Antônio Vaz de Castro.

Escombros da antiga igreja da Usina Conceição do Peixe em Flexeiras

Flexeiras com X

Foi na década de 1910, que pela primeira vez apareceu nos impressos Flecheiras grafado como Flexeiras. Na pesquisa sobre a razão desta mudança, o “História de Alagoas” investigou a possibilidade de ter sido algum mal-entendido sobre a orientação do Acordo Ortográfico de 1911, mas naquele plano de regularização e simplificação da escrita portuguesa consta claramente que o ch deve ser utilizado nas palavras de origem francesa.

Entre os impressos pesquisados pelo “História de Alagoas”, encontrou-se pela primeira vez Flexeiras em 15 de abril de 1916. Está no relatório apresentado pelo governador João Baptista Accioly Júnior à Assembleia Legislativa. Nele consta, na Divisão Judiciária, Administrativa e Policial, a existência de um Distrito Judiciário em São Luiz do Quitunde e quatro Distritos Policias, em São Luiz do Quitunde, Getituba, Barra de Santo Antônio Grande e Flexeiras.

Os povoados de São Luiz do Quitunde eram: Barra de Santo Antônio Grande, Flexeiras, Raiz, Urucu e Paripueira.

É nesse período que se começa a grafar Flexeiras no lugar de Flecheiras, que sobreviveu em alguns impressos até a década de 1930.

Esse mesmo relatório deixou em branco os nomes do subcomissário do Distrito de Flexeiras e do seu 1º suplente, mas consta o do 2º, Antônio Luna dos Santos, e do 3º, Antônio Semião Lamenha Lins, que viria a ser pai, em 28 de agosto de 1919, de Antônio Simeão de Lamenha Lins Filho, futuro governador de Alagoas na década de 1960.

Em meados da segunda década do século XX se instalou em Flexeiras a Usina N. S. da Conceição do Peixe Grande ou Usina Conceição do Peixe, como ficou mais conhecida. Tinha sido construída pela firma Raphael Rebeuhl & Cia, do Rio de Janeiro. Em julho de 1918 já estava sendo oferecida à venda. Em sua história, teve vários proprietários e arrendadores, até falir no início da década de 1990.

Prefeitura Municipal Flexeiras em 1983

Em 1920 estava em construção, por iniciativa particular, uma estrada entre Maceió e Flexeiras. Era o prolongamento da já existente entre a capital e o Tabuleiro do Pinto.

O Jornal do Recife, em 12 de junho de 1920, ao anunciar a morte em Flecheiras da sra. d. Maria Camello de Amorim, esposa do comerciante Vicente Camello de Amorim, utiliza denominação antiga.

Da mesma forma aparece no livro Terra das Alagoas, de 1922. Nele, o povoado é grafado como Flecheiras. Informa o livro que nele funcionava a sede do 2º distrito judiciário de São Luiz do Quitunde e uma escola pública. Outra povoação, a Barra de Santo Antônio, era sede do 3º distrito.

Em 1927, o prefeito de São Luiz do Quitunde realizou alguns melhoramentos nas estradas, entre elas na “principal estrada de penetração do município: a que liga a sede ao distrito de Flexeiras, centro da maior produção agrícola”. Essa informação está na mensagem do governador Costa Rego ao poder legislativo em 21 de abril.

Somente dez anos depois os jornais informavam outro acontecimento, expondo o lento progresso de Flexeiras. No dia 8 de dezembro de 1937 foi inaugurado o Mercado Público.

Outro evento que marcou a cidade aconteceu no ano seguintes. No dia 17 de novembro de 1938, um gigantesco incêndio destruiu 31 casebres, deixando gravemente ferido o morador Antônio Pedro.

Flexeiras somente conquistou a sua emancipação política em 28 de abril de 1960, com a sanção da Lei nº 2.216. Além da área desmembrada de São Luiz do Quitunde, seu território recebeu parte dos municípios de Maceió, Murici (cedeu Messias) e Rio Largo. A instalação ocorreu em 1º de junho de 1960, com a presença do governador Muniz Falcão. Messias deixou Flexeiras em 6 de setembro de 1962, quando a Lei nº 2.475 o elevou a município.

Durante a discussão do Projeto de Lei da emancipação, na Assembleia Legislativa, alguns deputados se revelaram preocupados com o futuro do município de São Luiz do Quitunde, que perderia 65% da sua arrecadação e iria à falência.

Cachoeira da Raiz em Flexeiras

Em agosto de 1960 foi a vez do prefeito Abelardo Pontes Lima e dos vereadores de Maceió demonstrarem insatisfação com a perda de parte do território da capital para o novo município. Alegaram que somente deveria ser atingido o município de São Luiz do Quitunde. Ameaçavam recorrer até ao Supremo Tribunal Federal para reaver as terras de Maceió.

O primeiro prefeito eleito de Flexeiras, Joathas Malta de Alencar, foi brutalmente assassinado em frente ao Café Ponto Central no Centro de Maceió, na tarde de 26 de janeiro de 1961, por Elmano Calheiros e Paulo Cavalcante Lins. Havia vencido as eleições 3 de outubro de 1960 por ampla maioria de votos. Era do PSP e ligado a Muniz Falcão. O vice-prefeito eleito, Waldemir Lopes de Farias, tomou posse em 7 de março de 1961.

Um dos últimos grandes impulsos que o município recebeu nesse período foi a sua eletrificação, inaugurada em 22 de dezembro de 1967.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*