José de Castro Azevedo e a criação da Usina Coruripe

Filho de Manuel Antônio de Azevedo Dourado e de Possidônia Jesuína de Castro Azevedo (*1860), José de Castro Azevedo nasceu no povoado Pontal de Coruripe (AL) no dia 9 de junho de 1890.

Seu pai, Manuel Antônio de Azevedo Dourado (∗1856 †12 de outubro de 1932 em Coruripe), era filho de Maria Raimunda da Conceição — ou dos Santos — (†maio de 1921 em Coruripe). Em 1887 ele foi citado no Gutenberg como estabelecido no Pontal de Coruripe, “com uma bem sortida loja de fazendas, miudezas, ferragens e gêneros de estiva, cuja casa comercial gira com a firma social de Azevedo & Reis”.

Manuel Antônio de Azevedo Dourado

Em dezembro de 1890, a família deixou os negócios no Pontal de Coruripe e mudou-se para o povoado Camaçari, passando a viver onde tinha terras e negócios, entre eles o Engenho Triunfo.

Castro Azevedo iniciou os estudos em Coruripe e aos 10 anos de idade já estava em Maceió no Colégio do Professor Luís Carlos de Sousa Neto. Depois no Liceu Alagoano. Aos 15 anos de idade, em Recife, começava sua jornada Faculdade de Direito, onde bacharelou-se em dezembro de 1910.

Devidamente diplomado, foi ser juiz municipal de Porto Calvo e, a partir de 9 de setembro de 1911, em Porto Real do Colégio, onde permaneceu até 1916, quando candidatou-se a deputado estadual. Tinha então 26 anos de idade.

Esteve na Casa de Tavares Bastos nas legislaturas 1917/18, 1925/26 e 1927/28. Eleito senador estadual, tomou posse em maio de 1928. Foi ainda deputado federal entre maio a outubro de 1930. Perdeu o mandato por causa da Revolução de 30, que fechou o poder legislativos no país.

Pontal de Coruripe e a igreja de Bom Jesus dos Navegantes

Após concluir o primeiro mandato de deputado estadual, foi nomeado, em setembro de 1918, Secretário de Governo de Fernandes Lima. O cargo foi criado dias antes pelo Decreto nº 866, de 31 de agosto de 1918. No ano seguinte, especulava-se sobre a sua candidatura a Intendente de Maceió pelo Partido Democrático, agremiação liderada pelo governador.

Com a morte de Moreira e Silva, em abril de 1920, foi nomeado interinamente, e depois titular, da Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda. Permaneceu nesse cargo entre 22 de fevereiro de 1921 e julho de 1924, no governo de Fernandes Lima.

Secretário dos Negócios do interior, dr. Manoel Moreira e Silva; governador Fernandes Lima, Secretário da Fazenda, dr. Alfredo de Mendonça Uchoa e secretário Geral do Estado, dr. José de Castro Azevedo, em 1920

Ainda em julho de 1924, quando já não era mais secretário, foi comissionado pelo governo do Estado para estudar a instrução pública e os sistemas penitenciários em São Paulo. O novo governador, Costa Rego, eleito com o apoio de Fernandes Lima, assumiu em 12 de junho de 1924. Era muito amigo de Castro Azevedo.

O bacharel de Coruripe voltou ao parlamento alagoano como membro da Assembleia Constituinte Estadual, exercendo o mandato de 1935 a 1937. Novamente ficou sem mandato quando novamente os órgãos legislativos foram fechados, desta feita por força do Estado Novo. Foi membro do Conselho Administrativo do Estado.

Voltou a ocupar cargo de projeção no governo de Alagoas entre 1936/37. Foi nomeado pelo interventor de Osman Loureiro secretário da Fazenda e Produção de Alagoas.

Já morando no Rio de Janeiro, para onde se transferiu em 1940, foi Procurador e membro da Comissão Executiva do Instituto do Açúcar e do Álcool — representava o Ministério da Viação e Obras Públicas por ato do presidente da República de 3 de fevereiro de 1942. Manteve-se na política e foi um destacado dirigente, no Rio, da União Democrática Nacional (UDN). Por algum tempo cumpriu a função de Assessor Técnico da Confederação Nacional da Indústria.

Dr. José de Castro Azevedo

Como jornalista, dirigiu o Jornal de Alagoas e depois, já na década de 1940, no Rio de Janeiro, passou a escrever sobre economia e finanças para o Correio da Manhã. Assinava como José de Castro.

Em setembro de 1949 foi realizado em Petrópolis, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso Açucareiro Nacional. Castro Azevedo foi o presidente da Comissão Coordenadora do evento.

Era casado com Elodia Pitta de Castro Azevedo (∗1890 †7 de junho de 1973 no Rio de Janeiro), filha de José Francolino da Silva Pitta e de Izabel Flaviana da Silva Pitta. Tiveram os seguintes filhos: Maria de Castro Flores (∗1911 †9 de maio de 1955), casada com Arcelino Flores; Vera de Castro Azevedo (∗1º de abril de 1921), que se casou com José Ramalho Júnior em 28 de março de 1941; Acy de Castro Azevedo Costa, casou-se com José Carlos Coelho da Costa em 8 de março de 1952; Moema de Castro Azevedo (∗1º de julho de 1913); Jorge José de Castro Azevedo (∗8 de fevereiro de 1925), casado com Margarida Maria Vieira.

Após a publicação desta pesquisa, o sr. Jarbas Edson dos Santos entrou em contato com a editoria do História de Alagoas para informar que não constavam da lista acima mais alguns filhos do casal, entre eles a avó dele, Margarida de Castro Azevedo Santos, de 87 anos e ainda viva. Cita ainda Ivone, que faleceu antes da família se mudar para o Rio de Janeiro e que deixou duas filhas internadas no Convento de Marechal Deodoro, e mais os filhos José e Jonas, este já falecido.

José de Castro Azevedo faleceu no Rio de Janeiro no dia 5 de julho de 1955, meses depois de ter visitado Coruripe.

Surge a Usina Coruripe

O patriarca Manuel Antônio de Azevedo Dourado, além de comerciante e senhor de engenho, também teve participação política em Coruripe. Há registros de sua passagem pela Câmara do município em 1915 e depois como intendente, tendo renunciado em abril de 1919.

Casado com Possidônia Jesuína de Castro Azevedo, filha de Manoel Simeão Ferreira de Castro e de Thereza Maria de Jesus Lima, construiu com ela expressivo patrimônio e uma grande família. Trouxeram ao mundo:

  1. José Antônio Beltrão de Castro (1878-1934) – casou-se com Francisca de Azevedo Beltrão.
  2. José de Castro Azevedo (∗9 de junho de 1890 †5 de julho de 1955) – casou-se com Elodia de Castro Azevedo (1890-1973).
  3. Eufrosina de Castro Pacheco (1898-1976) – casou-se com Manoel Duá Pacheco (1891-1974).
  4. Pedro de Castro Azevedo – (∗1899 †10 de junho de 1917). Tinha18 anos de idade quando foi vitimado pela “febre”.
  5. Áurea Beltrão de Castro (1903-1984) – casou-se com Mário Beltrão de Castro (1885-1953).
  6. Maria Castro Azevedo.
  7. Sérgio de Castro Reis (†23 de fevereiro de 1940) – casou-se com Paula da Costa Nunes.
  8. Tereza Beltrão de Castro.

José de Castro Azevedo foi o filho que destacou-se nos estudos e depois na política. Foi também quem, acompanhando a perda de competitividade dos antigos bangues do Vale do Rio Coruripe para os chamados engenhos centrais, identificou que a salvação desse setor estava na união dos banguezeiros e dos plantadores de cana de açúcar em um empreendimento capaz de mantê-los em condições de disputar o mercado. Sabia também que o açúcar ali produzido, de cor escura, era de péssima qualidade e somente comercializado nas feiras vizinhas a preços baixos.

Nos primeiros anos da década de 1920, Castro Azevedo tinha uma posição privilegiada para chegar a essas conclusões: era o secretário Estadual da Fazenda do governo de Fernandes Lima, com acesso a informações importantes para os negócios. Assim, soube que capitalistas alemães, no pós guerra, tinham interesse em expandir seus investimentos e que em Maceió a firma Herm Stoltz, fabricante de equipamentos para usinas de açúcar, cobrava do seu representante melhor desempenho na venda dos maquinários.

A oferta da firma alemã se encaixava perfeitamente nos seus propósitos de implantar uma moderna usina de açúcar. Assim, deu forma ao projeto e convidou os principais proprietários do Vale do Rio Coruripe para discuti-lo. Naquela área, os bangues que então mais produziam eram: Genipapo, Mucambo, Riachão, Poxim Grande, Pau Ferro, Poção, São João da Praia e Coruripe.

O encontro aconteceu no Povoado de Camaçari em 5 de janeiro de 1925. Era uma reunião preparatória para a constituição da Sociedade Anônima Usina Coruripe, como deixava claro o convite publicado no Diário Oficial do Estado. A ata da reunião detalha os nomes dos presentes e os valores disponibilizados por cada um deles.

Manuel Antônio de Azevedo Dourado – 103:000$000
João Beltrão de Castro – 80:000$000
José Hygino de Carvalho Linhares – 40:000$000
Mário Beltrão de Castro – 30:000$000
José Beltrão de Castro – 5:000$000 (com os filhos, 17:000$000)
– Lair Vianna Beltrão de Castro (filha menor de José Beltrão de Castro) – 3:000$000
– José Beltrão de Castro Junior (filho menor de José Beltrão de Castro) – 3:000$000
– Nair Vianna Beltrão de Castro (filha menor de José Beltrão de Castro) – 3:000$000
– João Vianna Beltrão de Castro (filho menor de José Beltrão de Castro) – 3:000$000
João de Carvalho Souza – 15:000$000
Francisco Malta de Araújo Lima – 2:000$000 (com os filhos, 10:000$000)
– José Tavares Malta (filho menor de Francisco Malta de Araújo Lima) – 4:000$000
Jorge Tavares Malta (filho menor de Francisco Malta de Araújo Lima) – 4:000$000
Tertuliano Augusto dos Santos – 10:000$000
Francisco de Castro Azevedo – 10:000$000
Aurea de Castro Azevedo – 10:000$000
Octávio Lessa – 7:000$000
Luiz Beltrão de Castro – 5:000$000
Manoel Rolemberg de Albuquerque – 5:000$000
Luiz Antônio de Azevedo – 5:000$000
Amalilio Hygino de Carvalho – 2:000$00 (com a esposa, 4:000$000)
– Cacilda Lessa de Azevedo Carvalho (esposa de Amalilio Hygino de Carvalho) – 2:000$000
Antônio Ferreira – 4:000$000
José de Carvalho Souza – 3:000$000
Miguel Ferreira – 3:000$000
José de Castro Azevedo – 2:000$000
João Hygino de Carvalho – 2:000$000
Ignez de Castro Carvalho – 2:000$000
Manoel de Lima Castro – 2:000$000
Hermínio de Paulo Castro Barroca (representado por João Beltrão de Castro) – 2:000$000
Sérgio de Castro Azevedo – 2:000$000
Idalina de Castro Filha – 2:000$000
José Pitta Filho – 2:000$000
José Joaquim de Castro – 1:000$000
Margarida de Lima Carvalho – 1:000$000
Leopoldina de Carvalho Souza – 1:000$000
Maria de Carvalho Souza – 1:000$000
Eurídice de Souza Argollo – 1:000$000
Manuel Fracelino Reis – 1:000$000
Macário Mello Beltrão Lessa – 1:000$000
Francisco Hygino de Carvalho – 1:000$000
Fausto Ferreira de Castro – 1:000$000
José Victoriano de Castro – 1:000$000
Joaquim Ferreira – 1:000$000
Júlio Argollo de Souza – 1:000$000
Joaquim Pedro de Carvalho – 1:000$000
José Custódio Porto – 1:000$000

Total – 391:000$000

O capital social era de 550:000$000, formado por 2.700 ações ordinárias nominativas de 200$000 cada uma

Três avalistas foram nomeados para determinarem o valor da propriedade “João Padre”, localizada em Camaçari, de Manuel Antônio de Azevedo Dourado, que entraria também para a formação do capital. Foram indicados Joaquim Ferreira, Mário Beltrão de Castro e José de Carvalho Souza.

Procissão no povoado Camaçari em 1969. O povoamento foi extinto pela Usina Coruripe na década de 90 com os moradores transferidos para Coruripe.

A assembleia de constituição foi realizada dias depois, em 2 de fevereiro de 1925. Sob a presidência de Manuel Antonio de Azevedo Dourado, foi apresentado o laudo avaliando a propriedade “João Padre”, futura sede da Usina. Tinha com 80 braças de terra que se limitavam ao norte com o Rio Coruripe, ao sul com as terras do Engenho Pescoço, a leste com o Engenho Triunfo de propriedade do mesmo Manuel Antonio de Azevedo Dourado, e a oeste com o Engenho Estiva de Mário Beltrão de Castro.

Foi avaliada em 16:000$000 e incorporada à Sociedade. Em seguida foram aprovados os Estatutos e eleita a sua primeira diretoria: Manoel Antonio de Azevedo Dourado, presidente; José de Castro Azevedo, diretor gerente; João de Carvalho Souza, diretor tesoureiro; João Hygino de Carvalho, diretor secretário. O Conselho Fiscal foi composto por Francisco Malta de Araújo Lima, Mário Beltrão de Castro e José Joaquim de Castro.

Os equipamentos da usina foram adquiridos, como anteriormente tinha sido negociado, da firma Herm Stoltz, que também enviou o engenheiro alemão Edward Floering para sua montagem.

Usina Coruripe

Sem dinheiro para pagar os equipamentos e a montagem, Castro Azevedo ofereceu como garantia a própria usina. A hipoteca foi aprovada na assembleia realizada no dia 10 de maio de 1925. Assim conseguiu-se um empréstimo, com o próprio fornecedor do maquinário, de 420:000$000.

Sem cana própria e enfrentando dificuldades, a Usina realizou sua primeira moagem somente na safra 1927/28. Produziu 16.040 sacos de açúcar de 60 quilos. As produções nas suas primeiras safras foram as seguintes:

SAFRA      SACOS DE 60 kg

27/28                   16.040
28/29                   37.582
29/30                   44.774
30/31                   41.536
31/32                   46.549
32/33                   39.271
33/34                   18.776
34/35                   43.297
35/36                   44.686
36/37                   31.195
37/38                   35.989
38/39                   55.755
39/40                   71.949

A safra de 40/41 já foi colhida sob a administração de Tércio Wanderley.

Num relatório sobre o período que vai de 1º de julho de 1929 a 30 de junho de 1930, publicado no Diário de Pernambuco de 20 de agosto de 1930, a diretoria informa que tinha feito “elevadas e urgentes despesas” com o aparelhamento da indústria, deixando-a em ótimas condições para funcionar e produzir.

Entre os melhoramentos destacava-se a ampliação da sua estrada de ferro em 14 km. Era trafegada por 60 vagões e duas locomotivas. Cada vagão transportava cinco toneladas de cana.

Uma das antigas locomotivas da Usina Coruripe

Sobre o capital da Sociedade, informaram que aguardavam uma melhor oportunidade para o seu aumento do capital, mas parte do existente, tratado como “importantes quantias que não vencem juros”, já era aporte de alguns acionistas, “que, abnegada e desinteressadamente nos auxiliaram e nos encorajaram dessa maneira”, registrou o relatório.

O empreendimento era tratado como “um daqueles que se acham destinados ao mais auspicioso futuro”. E apontavam as razões para essa constatação:

  1. “Montado num vale assombrosamente uberioso, onde a cana doce possui uma riqueza mirifica. Analisada por um químico abalizado, a cana doce produzida às margens do Coruripe deixou-o assombrado e duvidoso do acerto das operações feitas. Para se tirar de dúvidas, o mesmo químico remeteu exemplares da famosa gramínea para outro laboratório, que confirmou plenamente o resultado de suas pesquisas”.
  2. “A Usina Coruripe tem [a vantagem] de poder fazer comodamente e com pequeno dispêndio o transporte de seus produtos por via fluvial ou marítima.
  3. Situava-se “bem perto de uma região que não produz açúcar de que se abastece Sergipe” e podendo “granjear os mercados dos municípios austrais de Alagoas, bem como dos municípios centrais”. “Com um pequeno esforço ela poderá alargar o seu raio de ação pela zona sertaneja da Bahia e de Pernambuco, onde se faz o mais largo consumo de grosseiras rapaduras, preparadas nas engenhocas existentes em lugares menos flagelados pelas secas”.

Em 1933 já existiam no Brasil 298 usinas de açúcar, com 176 delas funcionando no Nordeste e destas, 23 em Alagoas. Conviviam ainda com 587 engenhos bangues.

Usina Coruripe

Tércio Wanderley compra a Usina Coruripe

No início de 1940, quando José de Castro Azevedo perdeu o irmão Sérgio de Castro Azevedo, deixou a usina aos cuidados de Juvêncio Lessa e foi morar no Rio de Janeiro. No final daquele ano, como a empresa enfrentava sérias dificuldades financeiras e precisava urgentemente de maiores investimentos para sua atualização tecnológica, Castro Azevedo resolveu vendê-la e a ofereceu a Tércio Wanderley. Transferiu para ele 1.051 ações, das 1.061 que detinha, recebendo Rs 210:200.000, 200.000 por cada uma delas.

Sérgio de Castro Azevedo era prefeito de Coruripe quando foi assassinado em 23 de fevereiro de 1940. Caiu numa emboscada ao passar pela Rua Dr. Oliveira a caminho de casa. Havia assumido o cargo pela segunda vez, em 12 de agosto de 1939 — foi também prefeito em 1934. Substituía o irmão, José de Castro Azevedo que fora nomeado presidente do Departamento Administrativo do Estado.

Sérgio de Castro era casado com d. Doninha de Castro Azevedo (solteira era Paula da Costa Nunes) e deixou 14 filhos.

Sérgio de Castro Azevedo

Em 27 de março de 1940 o Diário da Manhã (PE) noticiou que tinha se encerradas as diligências da comissão judiciária designada pelo Governo do Estado para proceder o inquérito que apurou a responsabilidade dos assassinatos do prefeito de Coruripe, Sérgio de Castro Azevedo, e do coletor federal Enéas de Araújo Castro, este em 26 de agosto de 1933. Eram da mesma família e os crimes aconteceram em Coruripe.

O promotor em comissão, Alfredo Gaspar de Mendonça, no dia 27 de março ofereceu denúncia contra o Manoel Duá Pacheco, casado com Eufrosina de Castro Pacheco, indicando-o como autor do assassinato do seu cunhado Sérgio de Castro Azevedo e também o indiciou como mandante do crime que vitimou Enéas de Araújo Castro. Os executores deste crime também foram incriminados: Antônio Correia, vulgo Antônio Piancó, e Manoel Germano.

Esse episódio foi determinante para afastar Castro Azevedo de Alagoas e levá-lo a vender da Usina em 8 de janeiro de 1941. Foi oferecida a Tércio Wanderley por influência do seu administrador Juvêncio Lessa, que o conhecia por ser um bem-sucedido comerciante de secos e molhados e responsável pela venda de boa parte da produção de açúcar da Usina em Penedo.

Tércio Wanderley e seus filhos Rubens, Victor e Vilma

Ao saber da indicação de Juvêncio Lessa, Castro Azevedo autorizou o início das negociações e pediu para marcar uma reunião entre ele e Tércio Wanderley. Se encontraram na Usina Coruripe, em Camaçari, onde ouviu inicialmente do futuro proprietário o desinteresse por não ter dinheiro suficiente para a aquisição.

O diálogo a seguir, como outras informações aqui publicadas, está no celebrado livro “Comendador Tércio Wanderley”, de Aurino Vieira da Silva.

“ — Ô Tércio, você sabe que Nero incendiou Roma, não sabe?!

— Sei dr. Castro. Sei. Sei pelo menos de ouvir dizer.

— Pois bem, Tércio, somente você poderá comprar a Usina Coruripe. Somente você, porque eu não vendo a usina pra mais ninguém! Vendo não!

— Mas, dr. Castro

— Olha, Tércio, não tem saída não. Eu tenho aqui, no bolso, 120 mil réis. Pois bem, vou mandar saber agora mesmo se o barracão tem gasolina ou querosene, e aí você vai presenciar o incêndio da usina. É, porque eu vou tocar fogo nela. Isso agora só depende de você. Quer ou não quer comprar a usina?!

O dr. Castro Azevedo não estava brincando não. Estava não! E, olhe o Tércio encurralado! E aí o Tércio resolveu comprar a Usina Coruripe. Tava feito o negócio. O Tércio era o novo dono da usina! Sem dinheiro no bolso! Nem um tostão furado!”.

Para honrar a hipoteca, Tércio Wanderley tentou empréstimo junto ao Banco de Alagoas, mas lhe foi negado. Quem o socorreu foi Artur Machado, proprietário da fábrica União Mercantil, que tinha dinheiro aplicado no mesmo Banco de Alagoas. Retirou de lá 400:000$000 para ceder ao amigo, sem cobrar juros.

Ainda em janeiro de 1941, a nova composição societária da Usina elegeu a seguinte diretoria: Tércio Wanderley, diretor presidente; Frederico Esperon, diretor gerente; dr. Sigismundo Machado Wanderley, diretor técnico; Juvêncio Lessa, diretor tesoureiro; e João de Carvalho Souza, diretor secretário.

Sob nova direção, o empreendimento se expandiu e em 26 de fevereiro de 1973 foi inaugurada a Nova Usina Coruripe.

A nova Usina Coruripe

Em 13 de fevereiro de 1977, a Usina Coruripe anunciou nos jornais que, em meio a moagem, tinha atingido a produção de um milhão de sacos de açúcar. Era a primeira vez que isso acontecia na história da Indústria do Açúcar de Alagoas. Em abril, no final da moagem, o número de sacos de açúcar ultrapassava 1,3 milhão.

No final da safra 2022/2023, a Coruripe informou que havia registrado “faturamento líquido total recorde de R$ 3,66 bilhões, 23% superior ao apurado na safra anterior (R$ 2,99 bilhões). O lucro líquido na safra encerrada em março deste ano alcançou R$ 511 milhões, o que representa um aumento de 22,5% em relação aos R$ 417 milhões reportados na safra 2021/2022”.

Tércio Wanderley

Em sua página na internet, o Grupo Tércio Wanderley detalha a dimensão do empreendimento que começou em 1925 com a ousadia de José de Castro Azevedo e que continuou sob a firme gestão de Tércio Wanderley.

“É a maior empresa do setor sucroenergético no Norte/Nordeste. Está também entre os maiores grupos do setor em Minas Gerais e é uma das maiores do Brasil. Com quatro  unidades em Minas Gerais (em Iturama, Campo Florido, Carneirinho e Limeira do Oeste), uma em Alagoas (Coruripe) e um terminal rodoferroviário  próprio em Iturama, a Usina Coruripe possui capacidade de moagem de 15 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, produz mais de 1 milhão de  toneladas de açúcar, cerca de 500 milhões de litros de etanol, com capacidade de armazenagem de cerca da metade dessa produção, e comercializa  energia renovável produzida a partir da queima de biomassa. Atualmente, a Coruripe emprega diretamente 7,7 mil colaboradores”.

12 Comments on José de Castro Azevedo e a criação da Usina Coruripe

  1. Grandes empresários com seriedade se vai longe.

  2. Vanderlei Farias // 23 de julho de 2024 em 17:01 //

    ISSO SIM É EMPREENDEDORISMO

  3. Claudio de Mendonça Ribeiro // 23 de julho de 2024 em 17:45 //

    Muito grato, prezado Ticianeli.

  4. Muito bom o texto! Parabéns… envolve muita história.

  5. Antonio de Padua // 24 de julho de 2024 em 11:03 //

    Que história de sucesso espetacular, não canso de ler.

  6. Parabéns pelo texto muito vem detalhado .

  7. Excelente trabalho!!! Parabéns aos envolvidos nesta tão rica pesquisa.

  8. Há muito tempo que não lia uma matéria tão bem escrita e com a riqueza de detalhes merecida! Parabéns !!!!!
    A história desta usina, de seus mentores e continuidade é um orgulho para Alagoas!

  9. Grande indústria com um potencial tremendo.
    Seus fundadores são homens íntegro e sinceros inteligentes.
    A usina coruripe trouxe o progresso pra Alagoas.

  10. Jarbas Edson dos Santos // 25 de julho de 2024 em 22:50 //

    Faltou falar os outros filhos. O Senhor José de Castro Azevedo teve a minha vó Margarida de Castro Azevedo Santos de 87 anos e que está viva, Ivone falecida ele antes de ir morar no Rio de Janeiro deixou as duas filhas internadas em um convento em Marechal Deodoro, e teve mais dois filhos José e Jonas já falecido …

  11. Tomás Paiva // 28 de julho de 2024 em 19:31 //

    Excelente. Muito completo, parabéns

  12. Como falar de usina Coruripe sem falar de João Beltrão de Castro e sua esposa, filha de Manuel Antônio de Azevedo Dourado. Não eram os maiores acionistas conjuntamente? É possível falar de Usina Coruripe sem falar de João Beltrão de Castro?

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