Tibúrcio Valeriano de Araújo, o primeiro governador da Alagoas republicana
Nasceu em Alagoas, atual município de Marechal Deodoro, no dia 11 de agosto de 1831. Era filho de Francisco Canuto de Araújo (∗1807 †1850) e de Izabel Efigênia Cândida de Bulhões (∗1805).
Sobre sua formação sabe-se apenas que cursou humanidades no Liceu Alagoano. Como esta instituição de ensino foi criada em 5 de maio de 1849, quando ele tinha 18 anos de idade, pode-se deduzir que não teve estudos regulares.
A tragédia
Em Maceió, no dia 12 de outubro de 1850, um sábado, o oficial maior da Tesouraria Geral da Província de Alagoas, Francisco Canuto de Araújo, então com 43 anos de idade, reuniu a família e às 11h embarcou, no porto da Levada, para Coqueiro Seco em duas canoas. Pretendia testemunhar um casamento. Com ele estavam um irmão, sua esposa D. Izabel, mais 12 filhos (foram 13), um genro e uma nora.
Quando as embarcações já se aproximavam do porto da pequena povoação, um “tufão de vento” fez emborcar a canoa que transportava Francisco e parte de sua família. Desesperadamente, Francisco se empenhou, sem sucesso, em retirar da água uma menina de três anos, outra de 12 e um menino de seis anos, que desapareceram rapidamente nas águas. Quando nadou até sua filha de 19 anos, que se debatia, já estava sem forças e morreu afogado, abraçado com ela. Na outra canoa, os dois filhos maiores e o genro conseguiram retirar da água seis pessoas.
Izabel salvou-se e ficou com nove filhos para criar: Tiburcio Valeriano de Araújo, José Cândido Canuto de Araújo, Feligonio Avelino Jucundiano de Araújo, Cordulina de Araújo Maciel, Antônia Rosa de Araújo, Francisco Canuto de Araújo Jr., Francisco José de Araújo, Justiniano Antônio de Araújo e Manoel de Araújo.
Em 20 de outubro do mesmo ano, o jornal Correio Maceioense informava que o Chefe de Polícia da capital havia aberta uma subscrição para ajudar a viúva a cuidar da família.
Chefe de Seção
Quando se instalou o Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano em 2 de dezembro de 1869, lá estava o órfão Tiburcio Valeriano de Araujo, devidamente qualificado como “chefe de seção”. Há registros dele, de 1862, como 1º oficial da Secretaria do Governo de Alagoas.
Ainda nessa mesma assembleia foi eleita a diretoria, que teve como presidente Silvério Fernandes de Araújo Jorge. O ilustre funcionário público foi indicado como um dos dois secretários adjuntos.
Sua maior contribuição para o atual IHGAL foi a Compilação das Leis Provinciais das Alagoas, realizada em parceria com Olympio Euzébio de Arroxelas Galvão. Seus seis volumes foram impressos na Tipografia Comercial entre 1870 e 1872. Um Apêndice à Compilação das Leis Provincias das Alagoas. De 1835 a 1872 circulou a partir de 1874.
Nesse mesmo período surge também como liderança política, sendo eleito deputado provincial, pelo Partido Conservador, para as legislaturas 1870-71, 1872-73 e 1874-75.
Com divisas de capitão da Guarda Nacional, em 1876 já era Oficial Maior, equivalente a Diretor, da Secretaria de Governo. Morava na Rua do Macena, nº 47.
Em novembro de 1888 recebeu a Ordem da Rosa, o que o qualificou para ser tratado como Comendador.
Casamentos
Seu primeiro casamento foi com Eudocia (ou Eudoxia) Georgina de Araújo, que faleceu em 10 de setembro de 1876. Provavelmente ocorreu em 1863. Os filhos desse casal são os seguintes:
Maria Valeriano de Araújo – batizada em 16 de junho de 1864.
Francisco Valeriano de Araújo – nasceu em 1º de fevereiro de 1865.
Augusto Valeriano de Araújo – batizado em 11 de novembro de 1868 – faleceu em 11 de novembro de 1868.
Arsenio Augusto de Araújo (foi deputado) – irmão gêmeo de Augusto Araújo, foi também batizado em 11 de novembro de 1868.
Leovigildo Valeriano de Araújo – batizado em 10 de outubro de 1869. Faleceu em dezembro de 1886.
Manoel Valeriano de Araújo – nasceu em 12 de junho de 1870.
Maria Valeriano de Araújo – nasceu em 10 de setembro de 1871.
Maria Eudocia (ou Eudoxia) Valeriano de Araújo – nasceu em 2 de maio de 1875 e casou-se com Francisco Pedro de Almeida.
Augusto Cincinato de Araújo – nasceu em 1859 e faleceu em 28 de novembro de 1894. Casou-se com Marieta de Carvalho Piragibe.
Tiburcio Valeriano de Araujo, após ficar viúvo, casou-se novamente. Desta feita com Constança Carolina Duarte de Araújo, que nasceu no dia 12 de agosto de um ano não identificado e faleceu em 14 de outubro de 1935.
Deste casamento nasceram:
José Valeriano de Araújo – nasceu em 11 de julho de 1880.
Orlando Valeriano de Araújo – nasceu em 22 de novembro de 1881 e faleceu em 8 de setembro de 1953.
Primeiro governador republicano
Após os festejos e manifestações públicas em apoio à República, no dia 18 de novembro de 1889 assumiu o poder em Alagoas uma junta governativa formada pelo major Aureliano Augusto de Azevedo Pedra — comandante do 26º Batalhão de Infantaria —, Manoel Ribeiro Barreto de Menezes e Ricardo Brennand Monteiro. Este último também assumiu a intendência da capital. Para garantir a ordem pública, este triunvirato convidou o dr. Leite e Oiticica para exercer interinamente o cargo de chefe de polícia.
No dia 21 de novembro tomou posse o primeiro governador do Estado de Alagoas — antes era presidente da Província. Por nomeação do governo federal, datada de 19 de novembro, Tibúrcio Valeriano de Araújo, do Partido Republicano Democrático, assumiu provisoriamente. Aguardava a chegada em Maceió de Pedro Paulino da Fonseca, nomeado dois dias antes e que somente tomou posse em 2 de dezembro. Tibúrcio Valeriano permaneceu no cargo por apenas 12 dias.
Durante esta pesquisa, o História de Alagoas se questionou sobre como se deu a escolha de Tiburcio Valeriano se ele, como um republicano, não esteve à frente das manifestações que levaram à derrubada da monarquia.
No levantamento de dados sobre seus filhos apareceu uma pista de como isso se deu.
Augusto Cincinato de Araújo, que seguiu a carreira militar no Rio de Janeiro, casou-se, em 9 de outubro de 1890, no Rio de Janeiro, com Marieta de Carvalho Piragibe, filha do general Antônio Carlos da Silva Piragibe e de Francisca Rosa de Carvalho. Em 1889 era 2º tenente (promovido em 6 de junho de 1888). Em 1891 já era capitão.
Segundo o escritor e jornalista Laurentino Gomes, horas antes do episódio que derrubou a monarquia, o marechal Deodoro da Fonseca foi acometido de uma crise de dispneia, falta de ar produzida por arteriosclerose. “Atirado sobre o sofá, envolto em um roupão, o marechal sequer reunia condições para vestir a farda. O peito arfava e ele mal conseguia falar”.
Ao amanhecer do dia 15 de novembro, “fraco e cambaleante, Deodoro vestiu a farda, pediu que colocassem o selim de sua montaria dentro de um saco e tomou uma charrete em companhia do alferes [2º tenente] Augusto Cincinato de Araújo, seu primo, para ir se encontrar com as tropas do exército”. (https://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/09/opinion/1389266670_104355.html).
O tenente Augusto Cincinato de Araújo foi um ativo militante da causa republicana e um dos poucos militares que em 11 de novembro de 1889 assinaram a seguinte nota: “Os oficiais abaixo assinados declaram ao ilustre chefe Dr. Benjamim Constant Botelho de Magalhães, tenente-coronel do Estado-Maior de 1ª classe, que o acompanharão em suas deliberações até o terreno da resistência armada”.
É provável que essa relação de proximidade entre o filho de Tiburcio Valeriano e o marechal Deodoro tenha influenciado na escolha do representante do poder republicano no governo de Alagoas durante o curto período de instabilidade.
Com a convocação da Constituinte, Tiburcio Valeriano se candidatou ao senado federal nas eleições de 15 de setembro de 1890, mas não conseguiu ser indicado. Os senadores por Alagoas foram Floriano Peixoto, Pedro Paulino e Tavares Bastos.
Com a permissão da Constituição Federal de 1891, Alagoas e mais nove estados optaram por ter dois poderes legislativos estaduais, com deputados e senadores. Essa opção foi oficializada pela Constituição do Estado de Alagoas, promulgada em 11 de junho de 1891. Alagoas passou então a ter 15 senadores estaduais.
Uma dessas cadeiras foi ocupada por Tiburcio Valeriano de Araújo nas legislaturas 1891-92; 1893-94 e 1895-96. Sua primeira eleição para esse poder se deu em 3 de fevereiro de 1891, quando obteve 9.906 votos. Ainda em 1891 foi escolhido como vice-presidente daquela casa.
Nesta época morava na Rua Cincinato Pinto (do Macena), nº 63 – Sobrado, e era o presidente da Sociedade Dramática Thalma e da Sociedade Recreio Phylarmonico Artístico.
Foi aposentado no serviço público, no cargo de diretor da Secretaria de Estado, por um decreto de 10 de outubro de 1894. Quem o afastou foi o governador interino Tiburcio Valeriano da Rocha Lins.
Retornou ao cargo com a anulação da aposentadoria por decisão do governador José Vieira Peixoto, que baixou Decreto em 4 de maio de 1896 sustentando que o servidor não poderia ter sido aposentado sem se verificar a invalidez arguida pelo Estado.
Participou pela última vez como candidato das eleições de 12 de fevereiro de 1900. Era o vice-governador na chapa de Miguel Palmeira, pelo União Republicana. Foram derrotados por Euclides Malta e Miguel Tavares.
Manteve-se na política como líder partidário. Em outubro de 1917 era o presidente do Partido Republicano Conservador.
Faleceu em 18 de outubro de 1918, aos 87 anos de idade.
Em Maceió, logo após o seu curto período no governo do Estado, foi homenageado com a alteração da denominação do antigo Beco de São José para Rua Tiburcio Valeriano.
Voltou a ser Beco São José com a aprovação da Lei nº 4070 de 29 de outubro de 1991, de autoria do então vereador Enio Lins.
Muito grato, prezado Ticianeli.