O filho do Padre Roma foi “herói das duas Américas”
A revolta que entrou para a história como Revolução Pernambucana teve início em 6 de março de 1817 com o assassinato do militar português Manoel Joaquim Barbosa. Ele teria dado voz de prisão ao capitão José de Barros Lima por envolvimento em conspiração. Cumpria determinação do governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro. O capitão, mais conhecido como Leão Coroado, reagiu à prisão e o matou.
O movimento se alastrou e recebeu apoio do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Era estratégico que a Bahia também se rebelasse. Foi com esse objetivo que os revoltosos enviaram para lá o dr. José Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma, apelido que ganhou por ter se ordenado em Roma, na Itália.
Filho de uma família abastada, o Padre Roma nasceu em Recife (1768) e ainda muito jovem entrou para o Convento de Goiana, onde se ordenou em 1784. Passou a ser o Frei José de Santa Rosa. Continuou os estudos em Portugal, na Universidade de Coimbra, de onde saiu bacharel em Teologia. Ao retornar a Pernambuco em 1807, já havia abandonado a vida religiosa, dedicando-se à advocacia.
Na viagem para a Bahia, em 1817, o Padre Roma esteve rapidamente em Alagoas, onde conseguiu mobilizar o comandante das armas, tenente-coronel Antônio José Vitorino Borges da Fonseca. Esse mesmo comandante, dias depois (14 de março) enviou carta ao Conde dos Arcos, na Bahia, tentando explicar que aderira ao movimento por não ter distinguido, na confusão, se era uma rebelião ou motim. A resposta do Conde levou Vitorino Borges a fugir, desertando.
O Padre Roma chegou no porto de Itapoã, na Bahia, em 26 de março de 1817. Foi preso ainda embarcado. Seu julgamento foi sumário. Em três dias a Comissão Militar o condenou à morte. Foi fuzilado no Campo da Pólvora em 29 de março de 1817. Tinha 49 anos de idade.
O filho do Padre Roma
José Ignácio de Abreu e Lima nasceu em Recife, Pernambuco, em 6 de abril de 1796. Como era filho natural de um padre, não ficou registrado o nome de sua mãe. Tinha irmãos: Luiz Ignácio Ribeiro Roma, João Ignácio Ribeiro Roma e Francisco Ignácio Ribeiro Roma.
Sabe-se sobre a sua educação que cursou a Academia Militar do Rio de Janeiro a partir de 1812. Quatro anos depois saiu como capitão da artilharia e foi para Recife, onde foi preso por insubordinação e levado para cumprir pena na Fortaleza de São Pedro, na Bahia.
Estava lá em 29 de março de 1817 quando seu pai foi preso, julgado e fuzilado. Antes da execução teve permissão para conversar e se despedir dele.
Quando conquistou a liberdade, exilou-se nos Estados Unidos. Foi lá que tomou conhecimento das lutas de Simón Bolívar pela independência da América hispânica. Ainda nos EUA se correspondeu com ele, oferecendo seus serviços militares. Foi aceito e em 1818 iniciou sua peregrinação pela então Grã-Colômbia, atual Venezuela, Colômbia e Equador.
Bolívar viu nele um bom estrategista e lhe concedeu a patente de general e o título de Libertador da Nova Granada. Chegou a ser chefe do estado-maior do Exército Libertador.
Em 1831, já estava há 12 anos na América hispânica quando faleceu Bolívar. Não demorou a Abreu e Lima se desentender com as outras lideranças e foi expulso. Foi morar na Europa e naquele mesmo ano conheceu em Paris D. Pedro I, que abdicara ao trono. Prestou solidariedade a ele e desde então se aproximaram.
Fruto dessa conversa, Abreu e Lima passou a tratar o monarca como um Bolívar português. Quando voltou ao Brasil, em 1832, externou essa avaliação, passando a ser motivo de chacota.
Requereu e foi-lhe restaurada a cidadania brasileira, perdida por haver combatido sob bandeiras estrangeiras e delas recebido honrarias e pagamento. O ato que o reintegrou ao país foi assinado em 23 de outubro de 1832. Dias depois, uma portaria, baixada em 12 de novembro, permitiu que continuasse a usar os títulos e distinções conquistados nas repúblicas vizinhas.
E assim, reconhecido como general, Abreu e Lima continuou a defender a monarquia e a volta de D. Pedro I.
Nesse período também se envolveu com a pesquisa historiográfica, levando-o a publicar em 1843 um compêndio sobre a história do Brasil, obra envolvida em polêmica. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a considerou plágio de um estudo de Alphonse Beauchamp, acusado de copiar esse trabalho de Robert Southey.
No ano seguinte, seu nome surge como um dos envolvidos na Cabanagem em Pernambuco. Foi acusado de estimular os seus irmãos a liderarem os revoltosos. Também teve participação na chamada Revolução Praieira de 1848. Ficou conhecido como o General das Massas e Herói das Duas Américas.
Sua última grande polêmica foi com o Clero pernambucano, a quem acusava de perseguir os protestantes, negando a liberdade de culto. Sob o pseudônimo de Cristão Velho, polemizou nos jornais com o monsenhor Joaquim Pinto de Campos. Defendias ideias liberais, mas sem negar os fundamentos do catolicismo.
Quando faleceu, em 8 de março de 1869, o bispo de Olinda, D. Francisco Cardozo Ayres, proibiu o sepultamento do seu corpo no cemitério público da cidade, considerado como solo sagrado. Não sabia o bispo que antes de morrer o general Abreu e Lima havia recomendado aos amigos que seu enterro fosse sem pompa alguma e que houvesse somente a encomendação rezada na capela do cemitério. Foi enterrado no Cemitério dos Ingleses, em Santo Amaro. Seu pai, o Padre Roma, após fuzilado como rebelde em 1817, também foi impedido de ser enterrado em cemitério católico.
José Ignácio de Abreu e Lima foi homenageado pelos pernambucanos em 1948, quando o então governador Barbosa Lima Sobrinho fez aprovar a Lei Estadual n.º 421, de 31 de 31 de dezembro, denominando de Abreu e Lima o distrito de Maricota no município de Paulista.
Abreu e Lima foi elevado à categoria de município pela Lei Estadual n.º 4.993, de 20 de dezembro de 1963.
O General das Massas foi autor também de outras obras:
Sinopse cronológica da história do Brasil (1844), a primeira coleção de efemérides brasileiras (1550-1842); História universal, em dois volumes (1847); O socialismo (1855); As Bíblias falsificadas (1867) e O Deus dos judeus e o Deus dos cristãos (1867).
Parabéns, prezado Ticianeli.
Parabéns, muito boa contribuição a história. A título de colaboração, observo que o texto fala em restauração da Monarquia no Brasil quando sabemos que a República só encerrou a Monarquia em 1889
Caro Júlio, agradecemos pela correta observação. Corrigimos o texto. Uma das fontes expõe que pretendia, com a volta de D. Pedro I, restaurar a monarquia portuguesa. Mas não não ficou claro isso.
Um excelente trabalho de pesquisa que nos trás muitas informações a respeito da trajetória de vida de José Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima, o padre Roma (1768 – 1817 ) e do seu filho José Ignácio de Abreu e Lima ( 1796 – 1869). Dois grandes revolucionários , padre Roma pela defesa do Brasil, o seu filho Abreu e Lima em defesa da libertação da América do Sul . Dois grandes vultos da história brasileira e universal
Informação segura e verdadeira. Parabéns por esse espaço de informação e cultura.