Cinquenta anos depois o Grupo Seis volta a se apresentar no Iate

O conjunto formado por estudantes do Colégio Marista de Maceió no final da década de 1960 vai se apresentar na inauguração da nova sede do Iate Clube Pajussara, no dia 16 de setembro próximo

Thunder's Boys no Teatro Deodoro: Dedel na bateria; Ivan, substituiu Lauro, na guitarra solo; João Nobre no contrabaixo; Alanio na guitarra base e Danúbio no sax substituindo Lauro

Por Edberto Ticianeli

Considerada como a década da popularização do Rock and Roll, os anos 60 também souberam manter viva a tradição dos bailes nos clubes dançantes. Em Maceió, nesse período, surgiram vários grupos musicais, a maioria formada por jovens estudantes dos principais colégios da capital. Foram responsáveis pela  trilha sonora do encontro de muitos casais.

Um dos mais importantes surgiu no Colégio Marista quando João Nobre, Danúbio, Alanio e Dedel, inspirados nos grupos musicais estrangeiros, criaram os Thunder’s Boys. O sucesso do conjunto foi tal que logo foram contratados como o grupo oficial do Jaraguá Tenis Club, onde passaram a ser os Tenis Boys, com a seguinte formação: Lauro (guitarra solo), Dedel (crooner – começou como baterista), Jason (baterista), Lauro (guitarra solo), Danúbio (sax), João Nobre (contrabaixo) e Alanio (guitarra base).

Formação original dos Thunder Boys: da esquerda para a direita, em pé: Lauro (guitarra solo), Dedel (bateria e depois crooner), Jason (bateria). Agachados: Danúbio (sax), João Nobre (contrabaixo) e Alanio (guitarra base).

Depois de uma temporada no Tenis, o grupo se transferiu para o Iate Clube Pajussara, voltando a ser o Thunder’s Boys. No novo palco, atenderam aos pedidos dos diretores e resolveram aportuguesar o nome e assim surgiu o Grupo Seis. Eram inicialmente seis componentes.

Thunder’s Boys no Teatro Deodoro: Dedel na bateria; Ivan, substituiu Lauro, na guitarra solo; João Nobre no contrabaixo; Alanio na guitarra base e Danúbio no sax

Wilson Protásio, o sétimo do Grupo Seis

Wilson Protásio começou a cantar, ainda estudante do Colégio Estadual de Alagoas, graças ao incentivo do amigo Zenildo Sarmento. Lá se constituiu o embrião do grupo Os Corujas, que ficou vinculado à Faculdade de Filosofia, onde também acompanhava um grupo vocal.

Foi ainda no Estadual que conheceu o Ivan Cardoso. O Alanio e o João Nobre eram mais próximos por morarem na mesma rua. Foram eles que convenceram o Coruja Wilson Protásio a participar do Grupo Seis, que tinha então a seguinte formação: Antenor Fernandes (substituiu Dedel na bateria), João Nobre (contrabaixo), Alanio (guitarra base), Ivan Cardoso (substituiu Lauro na guitarra solo) e o naipe de metais com Danúbio no sax e Ferreirinha no trompete.

Grupo Seis nos anos 70, já no Iate: da esquerda para direita: Antenor Fernandes (bateria), Alanio (guitarra base), Ferreirinha (trompete), Danúbio Lacerda (sax), Wilson Protásio (vocal). Sentados: Ivan (guitarra solo) e João Nobre (contrabaixo).

Nessa fase já eram quase todos universitários e à medida que foram concluindo os cursos, deixaram a música profissional em segundo plano.

Nos primeiros anos da década de 1970 começaram as mudanças no grupo, com João Nobre deixando o contrabaixo para Valdemir “Ling”, que o repassou, em seguida, para Nélber Jatobá. Ivan Cardoso, um excepcional guitarrista, também saiu; foi substituído por João Pinheiro Lyra, tecladista.

Nos metais, Ferreirinha passou o trompete para Eduardo, e Danúbio, envolvido com sua formatura, entregou o sax para Egildo. Outra aquisição importante foi a entrada do tecladista Zé Maria, liberando João Pinheiro Lyra para a guitarra.

Wilson Protásio, que precisava concluir o curso de Direito, também se afastou e, convencido pelo amigo Sula (teclados), passou a cantar no LSD. Eduardo foi com ele. Lá encontrou Djavan (vocal e guitarra base), Tante (guitarra solo), Luiz AntônioPacuã” (contrabaixo) e Abelardo Cahet Bulhões (bateria).

Encerrou a carreira no LSD, mas nunca esqueceu sua trajetória com os jovens que saíram do Marista para o sucesso nos bailes das Alagoas: “O Iate era o território sagrado do Grupo Seis e os seus frequentadores guardaram em seus corações os sons magníficos do nosso Grupo”.

Nélber Jatoba, o cover de Renato e seus Blue Caps

Nélber Jatobá chegou ao Grupo Seis em uma das suas últimas formações. Tinha iniciado sua carreira musical em 1967 no The Jet Stone Junior. O conjunto estreou naquele ano no Clube Fênix Alagoana com a seguinte formação: Dorton Dória (bateria), Fernando Jacaré Dourado (crooner), César Sapinho (guitarra base e crooner), Nélber Jatobá (contrabaixo), Manoel Saci (guitarra solo).

The Jet Stones Júnior na Fênix em 1967. Primeira apresentação pública: Dorton Dória (bateria), Fernando Jacaré Dourado (crooner), César Sapinho (guitarra base e crooner), Nélber Jatobá (contrabaixo), Manoel Saci (guitarra solo) e José Dias, o empresário

Antes de chegar ao Grupo Seis, o filho do viçosense, multi-instrumentista e compositor Nélson Almeida ainda esteve nos Bárbaros do Carlos Moura e com Os Corujas. Em seguida foi para os Diamantes, da Rádio Difusora. Este conjunto, a partir de 1970, passou a ser o grupo oficial da Churrascaria Massayó, no Trapichão, estádio inaugurado naquele ano. Os Diamantes brilharam ainda por algum tempo na boite do Zinga Bar, em Riacho Doce.

No Grupo Seis, em uma de suas últimas formações, Nélber Jatobá (contrabaixo e vocal) dividiu os palcos com Carlos Bala (bateria); com Atenor, deslocado para a percussão (influência dos sucessos de Santana); Eduardo no trompete; Egildo (sax); João Lira (guitarrista solo); Alanio (guitarra base) e Zé Maria (teclado).

Com uma voz parecida com a de Renato Barros, Nélber Jatobá foi o responsável por memoráveis arranjos para os sucessos do conjunto Renato e seus Blue Caps. Fã dessa banda, continua a gravar suas músicas, com novas leituras dos clássicos da Jovem Guarda (https://www.youtube.com/@TheNelber).

Veja aqui o arranjo para a música “Quando a Cidade Dorme”, que tem letra e música de Leno e foi gravada inicialmente por Renato e seus Blue Caps em 1969.

Para o História de Alagoas, Nélber revelou que sua entrada  no Grupo Seis foi o ápice de sua carreira musical: “Foi um momento muito especial. Tive o privilégio de tocar com grandes nomes da música alagoana e alguns, até hoje, continuam em evidência acompanhando grandes cantores da música brasileira. Foi um sonho realizado fazer parte daquela banda, que era exclusiva dos embalos dos sábados à noite no Iate Clube Pajussara, além de ser a mais requisitada, pela maioria dos municípios alagoanos e dos estados vizinhos, para tocar nos bailes da época”.

Lembra de Mim

Em 1998, o Grupo Seis voltou a tocar e cantar os sucessos de sua longa história. Por dois anos se apresentaram em Maceió, com destaque para a abertura do Show Jovem Guarda no Ginásio do Sesi, com Jerry Andriani e Wanderléa.

Nessa formação estavam João Nobre, Zé Barros, Neto, Antônio do Carmo, Beto Batera, Danúbio e Wilson Protásio.

Grupo Seis de 1998, com João Nobre, Zé Barros, Neto, Antônio do Carmo, Beto Batera, Danúbio e Wilson Protásio

Um novo reencontro está marcado para a noite de 16 de setembro próximo, quando será inaugurada a nova sede do Iate Clube Pajussara. Para esse momento histórico, cinquenta anos após a primeira apresentação do grupo, estarão no palco Danúbio, Nélber e Wilson Protásio, da velha guarda; Zé Barros, que esteve na formação de 1998, e, da nova geração, Silvano Queiróz, Jailson Rego e Marcos, filho de Antenor.

Sabendo do evento comemorativo, Chico Elpídio, aplaudido músico alagoano, disse para o História de Alagoas que o Grupo Seis lhe fazia voltar ao passado, de grandes e boas lembranças. “Foi uma época efervescente da música alagoana, com muitas bandas e eu tentando tocar em uma delas. Sabendo que ainda tinha muito a aprender, me inspirava no Grupo Seis e no LSD. Ainda muito jovem, ia para os bailes e entre uma dança e outra ficava na frente da banda aprendendo a tocar, “roubando as bolachas” (acordes). Fizeram sucesso porque eram muito bons”.

Moacyr Albuquerque, comodoro do Iate e responsável pela modernização de suas estruturas, lembra com saudade das boites aos sábados com o Grupo Seis: “Eram noites agradáveis, com muita música boa e diversão. Quando um casal dançava muito colado e algum diretor percebia, ele ia até a caixa de energia e acendia as luzes do salão, alertando os mais fogosos“. O comodoro diz ainda que no final da década de 1990 promoveu uma festa com o Grupo Seis e que sente-se feliz em trazê-lo novamente. Revelou também que após anunciar o histórico conjunto como a atração da festa, vendeu todas as mesas e que vai colocar mais 40 mesas no mezanino para atender aos sócios e aos fãs do Grupo.

Wilson Protásio e Nélber Jatobá atualmente trabalham juntos no Projeto Lembra de Mim, que vem gravando os sucessos cantados por Wilson Protásio em sua carreira artística. Esses dois ícones da música alagoana já registraram 26 canções das 30 que o Projeto pretende eternizar em um canal do Youtube.

Aqui vai uma amostra de Wilson Protásio interpretando San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair), uma canção composta por John Phillips do The Mamas & The Papas:

3 Comments on Cinquenta anos depois o Grupo Seis volta a se apresentar no Iate

  1. GERARDO Rocha Fortes // 28 de agosto de 2023 em 13:44 //

    Boa tarde amigo Nélber, que bela compilagem, e um gostoso quebra cabeça.!
    Nós sabemos Nélber, que o seu arquivo, e suas lembranças são bem maior de que tudo isso que vc.acabou de apresentar nesta reportagem íntima, digamos assim.. desta forma com tudo isso que vc nos brindou,apresentando alguns detalhes com muita memória, logicamente dotado desta esplendorosa “cabeça”, desejamos muito sucesso aos novos integrantes desta banda musical, logicamente tendo a batuta em suas mãos.! Felicidades com muito sucesso amigo de sempre. Forte abraço..!
    Dudu – GERARDO Rocha Fortes.

  2. Saudade não tem idade! Muito boa a iniciativa do Iate Clube Pajuçara, agora de sede nova, nesse seu retorno as noites maceioense, presentear aos seus jovens frequentadores membros do quadro social das décadas de 60 e 70, com momentos de boas músicas aos acordes do eterno Grupo Seis. Parabéns!!

  3. Marilena Doria // 30 de agosto de 2023 em 00:22 //

    Sou dessa época, reviver é viver novamente, parabéns.

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