Marechal Deodoro, a antiga Vila da Madalena do Sumaúma
O povoamento que deu origem a atual cidade de Marechal Deodoro surgiu na sesmaria obtida por Diogo Soares Cunha, registrou Craveiro Costa, em seu História das Alagoas. Conforme foral de 5 de agosto de 1591, se estendia por cinco léguas no litoral — entre a Pajuçara e o Porto do Francês (atual Praia do Francês) — e por sete léguas de fundo.
Adriano Jorge, em Subsídio para a História (Gutenberg de 14 de fevereiro de 1899), informa que essa sesmaria foi obtida de Pedro Homem de Castro, governador da capitania de Pernambuco, por ingerência de Jorge de Albuquerque Coelho, tio de Diogo Soares.
Diogo Soares Cunha deixou Portugal e chegou à capitania de Pernambuco em 1596, mesmo ano em que se transferiu para o povoado de “Magdalena”. Craveiro Costa indica que o lugar era, provavelmente, o atual bairro de Taperaguá, à margem do Rio Sumaúma (que recebe o Riacho Utinga) e da Lagoa Manguaba.
Esse proprietário voltou a Portugal, mas deixou como seu procurador o capitão-mor Henrique de Carvalho, que em 1602 solicitou ao governador Alexandre de Moura e ao Provedor Mor Ambrósio de Siqueira a criação de uma aldeia de índios. Segundo pesquisa de Abelardo Duarte, foram “concedidas as terras em nome de Diogo Soares da Cunha, com a condição de ser o aldeamento localizado em sítio em que não morassem brancos”.
Em 25 de novembro de 1611, Henrique de Carvalho, com os poderes que a procuração lhe dava “para repartir algumas terras pelos moradores”, fez doação de sesmaria nos limites da Alagoas, a Manoel Antonio Duro. Eram de 800 braças (1.760 m) de terra na costa da Pajuçara, 400 braças ao norte e 400 braças ao sul da casa de telha que o beneficiário tinha ali. Para o sertão, as terras doadas iam até encontrar a Alagoa do Norte (Mundaú) e o atual Rio Mundaú.
Com isenção de foro e tributos, Duro podia explorar todas as águas e madeiras, mas tinha que erguer, em um ano, uma casa de sobrado, coberta de telha, na povoação de Madalena do Sumaúma, em terreno também doado a ele.
Diogo Soares Cunha voltou ao Brasil e chegou a Madalena do Sumaúma (grafava-se Subaúma) em 1614. Não gostou do estado em que encontrou suas fazendas. Mesmo assim, solicitou ao governador Gaspar de Souza outro aldeamento, ampliando suas posses.
Com a morte de Diogo Soares Cunha, seu filho, Gabriel Soares de Pina (ou da Cunha) passou a administrar a sesmaria devidamente identificado como o alcaide-mor de Madalena do Sumaúma. Casou-se com Maria de Abreu Bezerra, filha do procurador do seu pai, o capitão-mor Henrique de Carvalho. Tiveram três filhos: Antonio de Andrada Carvalho, Mathias de Carvalho e Maria de Abreu.
Gabriel Soares de Pina, que faleceu em abril de 1660, foi o autor do Tratado Descritivo do Brasil e fundador do engenho Velho (inicialmente era o Engenho São Gabriel, depois N. S. da Conceição) e proprietário do engenho Novo (à margem do Rio Paraíba e que foi inicialmente o Engenho N. S. do Rosário. Era do seu sogro Henrique de Carvalho). O Engenho Velho, ainda no período da ocupação holandesa, foi vendido a Domingos Rodrigues de Azevedo. Foi a partir dele que se ergueu a cidade do Pilar.
Magdalena começou a entrar para a história 37 anos após ter sido criada. No dia 18 de agosto de 1633 os holandeses, guiados por Calabar, invadiram o local matando muitos dos seus habitantes e queimando casas e a pequena igreja de N. S. da Conceição, que tinha sido erguida por João Esteves, um proprietário na Massagueira.
O povoado foi reconstruído e em 12 de abril de 1636 elevado, por Carta e Lei, à categoria de vila com a denominação de Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul. Sede na povoação de Madalena. É desse período a instalação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição. Com o tempo, o nome da Vila foi reduzido para Alagoas do Sul e depois para Alagoas.
Segundo Thomaz Espíndola, em seu livro de 1871, Taperaguá tinha naquele ano a Capela do Senhor Bom Jesus do Bomfim e “alguns sobradetes antigos, de mau gosto e frágeis”.
Sede da Comarca
Após 30 anos de domínio holandeses, o território sul da capitania de Pernambuco tinha três núcleos populacionais mais expressivos: Penedo, Porto Calvo e Alagoa do Sul (Vila de Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul). Cresciam também as populações em São Miguel dos Campos, Santa Luzia do Norte, Atalaia, Camaragibe, Anadia, Poxim e Maceió.
Foi essa situação que possibilitou a criação da Comarca das Alagoas em 9 de outubro de 1706, por determinação de Carta Régia, que atendeu ao pedido do governador da capitania de Pernambuco, Francisco Caetano de Moraes. Entretanto, somente em 6 de fevereiro de 1711 ocorreu a nomeação do seu primeiro ouvidor geral. José da Cunha (ou “de Acunha”) Soares chegou à sede, em Alagoas do Sul, em 1712, dando início à atividade judiciária do território alagoano. Ali permaneceu até 1715.
Com a Cabeça da Comarca estabelecida na Vila de Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul, as vilas de Bom Sucesso do Porto Calvo e de Penedo passaram a ser seus termos.
Em 16 de setembro de 1817, após a Revolução Pernambucana ou Revolução dos Padres, Alagoas foi emancipada e a capital da nova capitania passou a ser, naturalmente, a até então sede da comarca, Alagoas do Sul.
Em 24 de fevereiro de 1823, pouco tempo após a independência do Brasil, D. Pedro I elevou à categoria de cidade todas as vilas que fossem capitais de província. Dias depois, em 8 de março, novo decreto reafirmava essa intenção: “E sendo a Vila das Alagoas capital da Província do mesmo nome: hei por bem, em conformidade do dito meu imperial Decreto, que fique erecta em cidade, e por tal seja havida, e reconhecida com a denominação de “Cidade das Alagoas” […]. Dada no Rio de Janeiro aos 8 de março de 1823, 2º da Independência do Império”.
Com a instalação da comarca, Alagoas “aumentou em prosperidade; alargou-se a área de sua atividade agrícola; dilatou-se-lhe a opulência, permitindo-se ao colono a pontualidade na satisfação dos dízimos e o pagamento regular das fintas [taxas], que, de vez em quando caíam sobre a colônia para dotes de príncipes bragantinos, que se casavam, e pretextos outros, que acudiam à vontade real onipotente”, relatou Craveiro Costa em História das Alagoas.
Esse desenvolvimento da comarca de Alagoas serviu, em 1730, para sustentar as pretensões do governador de Pernambuco, Duarte Sodré Pereira, de extinguir a capitania da Paraíba, que vivia momento de decadência. Duarte Pereira destacava que Alagoas tinha 47 engenhos de açúcar, 10 freguesias e contribuía para os cofres reais com 3:800$000. Craveiro Costa viu na criação da Comarca o primeiro passo para a emancipação.
Mudança da Capital
Quando, em janeiro de 1808, D. João VI decretou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, principalmente para os ingleses, não se imaginava as suas repercussões políticas em Alagoas.
Como os ingleses escolheram os melhores portos do país para instalar escritórios e depósitos, rapidamente o Porto de Jaraguá desbancou o do Francês, na Vila de Santa Maria Magdalena da Alagoa do Sul, sede da comarca.
Com o crescimento do movimento portuário em Jaraguá, o povoado de Maceió ampliou seu comércio e rede de serviços, passando a ser mais atrativa para os governantes, a exemplo do português Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que, em 27 de dezembro de 1818, desembarcou em Maceió e somente em 22 de janeiro de 1819 tomou posse em Magdalena da Alagoa do Sul, mas voltou o mais rápido possível a Maceió para daí administrar Alagoas. Explicava que estava futura capital por ter que acompanhar as obras de defesa do porto de Jaraguá.
Segundo Jayme de Altavila, foi em Maceió que ele implantou a Junta de Arrecadação da Real Fazenda e a Alfândega no Porto de Jaraguá. Criou ainda os fortes de São Pedro e São João, uma repartição fiscal, dois corpos militares (infantaria e artilharia), alargou as estradas próximas da vila, cuidou da instrução, comércio e dos costumes. Para coroar sua publica preferência por Maceió, fechou o porto do Francês à navegação irregular. Todas essas ações fizeram soar o alarme na cidade de Alagoas, que reagia em defesa da permanência da capital à margem da Lagoa Manguaba.
Foi para aplacar esse temor que, em 1830, o presidente da Província, Manoel Antônio Galvão, declarou que a cidade de Alagoas permaneceria como sede do governo para sempre, concordando com as reivindicações do Padre Manuel Tavares, autor da moção apresentada ao Conselho Geral da Província em 9 de janeiro de 1830:
“Sr. Presidente — Uma das primeiras necessidades que tem a província é firmar a sede do governo na capital d’ela, e por isso proponho o seguinte:
— Que a sede do governo deve ser antes nesta capital do que na vila de Maceió, pelas razões seguintes:
1º pela salubridade e frescura do clima;
2º pela superabundância de víveres, verduras, refrescos e água;
3º por ser mais defensável do inimigo externo do que a vila de Maceió;
4º pelas igrejas e templos que nela se acham edificados, onde se celebram os ofícios divinos, e os edifícios particulares de pedra e cal;
5º pelos subúrbios e margens da lagoa e Canal Grande que tem povoados de engenhos de fazer açúcar, e situações e propriedades regadas de belas águas e férteis para plantações de todo gênero, onde também se podem criar gados encerrados e soltos no Tabuleiro, que vai dessa cidade para a Barra de São Miguel e sua povoação, onde igualmente se podem refazer boiadas, que vieram de fora, e outras mais conveniências capazes de socorrer aos Povos que vieram tratar de seus negócios;
6º finalmente por estar situada no meio da Província, cômoda à concorrência dos povos do norte e sul dela” (O Centenário da Emancipação de Alagoas, de Moreno Brandão).
As animosidades entre alagoenses e maceioenses se estenderam pela década de 1830 até que, em 27 de outubro de 1839, o então presidente da Província, Agostinho da Silva Neves, atendeu à ordem administrativa do Inspetor da Tesouraria Provincial, de 12 de outubro, e autorizou a transferência do cofre dessa repartição do Império para Maceió.
Os alagoenses reagiram e entregaram uma representação com 106 assinaturas solicitando que o ato não fosse executado. Silva Neves respondeu dizendo que somente o governo Imperial poderia atender tal apelo, mas que apenas assinaria o deferimento no dia 29.
Quando o grupo de reclamantes já estava se retirando da audiência, chegou ao palácio José Tavares Bastos. O inquieto magistrado acabara de receber a informação que não mais assumiria como juiz de Direito de Vila Nova em Sergipe. Sua designação fora anulada pelo presidente daquela Província, atendendo a uma representação popular.
O historiador Moreno Brandão ponderou: “em vez de se encolerizar com a desconsideração que o atingiu […], proferiu, no meio do agrupamento, mais ou menos o seguinte:”
“Assim devem agir os administradores que amam o seu povo. Entretanto o presidente dessa Província propositadamente procura todos os modos de deixar patente seu ódio à cidade de Alagoas”.
Esse discurso açulou a multidão, que imediatamente iniciou um levante popular. Disposta a combater em defesa da manutenção da capital ali, os revoltosos procuram o Almoxarifado e o Quartel em busca de armas, mas não conseguiram diante da prontidão da Força de Polícia, que fora acionada pelo Juiz de Paz, atendendo ao pedido do presidente Silva Neves. Às 11 horas da noite, a cidade já estava tranquila.
No dia seguinte, 28, houve a prisão de um cidadão mais exaltado e a demissão de um capitão da Guarda Nacional.
Nas primeiras luzes do dia 29, Silva Neves foi acordado com o alarido em frente ao Palácio. Ao abrir a janela deparou-se com o major Manoel Mendes da Fonseca, pai de Deodoro, a mobilizar soldados de linha para sedição que indicava como a resposta à ordem de retirada do cofre.
Silva Neves tentou conversar com o major, que respondeu não ser mais tempo de falar e recomendou, em ameaça, que ele não se expusesse às vistas da multidão.
José Tavares Bastos, que era o quinto vice-presidente, foi convidado pela Câmara Municipal a assumir, mas disse que não o faria considerando que o presidente ainda estava no poder. Aprisionado no palácio, Silva Neves foi “convencido” pelo poder municipal a se demitir por não ter condições de governar. Era o que desejava José Tavares Bastos, que tomou posse em seguida.
Em Maceió houve reação. O primeiro vice-presidente, João Luiz Vieira Cansanção, futuro Visconde de Sinimbu, assumiu o governo e decretou que aquela vila passava a ser a sede provisória do Governo. Cuidou também de arregimentar forças em São Miguel e Anadia para atacar a cidade de Alagoas e recuperar a normalidade. Solicitou também para esse mesmo fim o auxílio dos governantes de Pernambuco e da Bahia.
Da cidade de Alagoas, os revoltosos acionaram a sua Câmara Municipal para que enviasse convite a Vieira Cansanção, declarando que aceitavam ele no poder, desde que o exercesse a partir de Alagoas. O primeiro vice-presidente, claramente ganhando tempo, respondeu afirmando que aceitava, mas que somente assumiria após a deposição de armas e quando houvesse tranquilidade para isso. Teria que ter plena liberdade para governar.
Sabendo que os revoltosos haviam contratado o patacho Dois Amigos para conduzir Silva Neves até Salvador, Vieira Cansanção fez embarcar nele um oficial levando uma portaria que somente deveria ser aberta quando o presidente já estivesse a bordo:
“Nº 17. O Vice-Presidente da província ordena ao mestre do patacho Dois Amigos — José Paulo dos Reis — que no caso de se apresentar a seu bordo o Exmo. Dr. Agostinho da Silva Neves, o receba como presidente desta província, pondo o navio à disposição do mesmo Exmo. Sr. Para desembarcar neste porto de Maceió ou qualquer outro da província que por ele for designado. Palácio do Governo das Alagoas, em Maceió, 2 de novembro de 1839. — (Assinado) João Lins Vieira Cansanção de Sinimbú”.
E assim aconteceu. No mesmo dia 2 de novembro, Silva Neves foi levado pelos insurgentes, contra sua vontade, até o Porto do Francês, onde o aguardava o Dois Amigos, que imediatamente navegou para Maceió, onde o presidente foi recebido às 20 horas sob aclamação popular. Reassumiu o poder no dia seguinte.
Também por solicitação de Vieira Cansanção, no dia 12 de novembro tropas pernambucanas (200 homens, com duas bocas de fogo), sob as ordens do tenente-coronel Trajano César Burlamaqui e com o apoio do brigue escuna de guerra Nicteroy (comandado pelo capitão tenente José Antônio Conrado Sabino), entraram na cidade de Alagoas sem resistência alguma, diante da fuga das principais lideranças dos rebelados.
Na embarcação, que deixou Recife às 5h da tarde do dia 7 de novembro, viajava também o coronel José Joaquim Coelho, com a orientação de assumir o comando das forças da província.
Manoel Mendes da Fonseca, que havia fugido para Sergipe, foi exonerado do cargo de juiz municipal. Em Aracaju, apresentou-se em 3 de dezembro ao comandante das Armas daquela Província, que o prendeu. Foi enviado para a Corte, onde ficou detido na Fortaleza de Santa Cruz e somente em maio do ano seguinte foi julgado pelo Conselho de Guerra, sendo absolvido e reconduzido às tropas.
Com a Tesouraria Geral transferida, Silva Neves voltou a cidade de Alagoas em 14 de novembro e no dia seguinte convocou extraordinariamente a Assembleia Legislativa Provincial, que se reuniu no dia 3 de dezembro e deliberou pela substituição dos dez deputados que haviam se insurgido em armas contra a administração provincial. À Câmara Municipal de Alagoas coube a convocação dos suplentes para essas dez vagas.
Foi nessa mesma Assembleia que o presidente propôs a definitiva mudança da capital, após exibir extenso e detalhado relatório com os motivos econômicos e administrativos.
Ao apresentar os problemas da cidade de Alagoas para continuar como sede, Neves Silva argumentou que além de ficar a sete léguas o porto marítimo, estava “isolada do resto da província, por não ter comércio algum; não subsistindo senão dos salários dos empregados públicos, com uma população dada à ociosidade, por isso mesmo que pela ausência de ocupações variadas, e úteis, está fora do círculo da atividade das outras; oferecendo poucos elementos de estabilidade, por não ter grandes coisas a perder, e vós alcançareis facilmente a causa porque todas as autoridades gerais até hoje tem sido aqui ultrajadas, e injuriadas, porque tantos elementos contrários têm eles encontrado com que lutar, e sempre com perdas de sua dignidade na maior parte das autoridades locais”.
A Assembleia, após ouvir o presidente, instituiu uma comissão especial para dar parecer sobre a proposta. Era constituída por Francisco Freire, Antônio Luís Dantas de Barros Leite, Ignácio de Barros Vieira Cajueiro, Matheus Casado de Araújo Lima Arnaud (voz contrária à mudança) e Francisco Elias Pereira.
Entre 4 e 7 de dezembro, o projeto elaborado pela comissão foi discutido e, ao final dos debates, votado. Recebeu a aprovação de 14 deputados, sendo rejeitado por 4 deles. No mesmo dia 9 de dezembro de 1839 foi promulgado e sancionado pelo presidente Silva Neves, que assinou a resolução nº 11, transferindo a capital para Maceió, mudança efetivada entre 11 e 14 de dezembro. No dia 16 de dezembro o presidente já despachava na nova capital.
O abandono da antiga capital
Segundo Thomaz Espíndola, em 1871 o município de Alagoas tinha a cidade de Alagoas e as povoações de Taperaguá e Santa Ritta. A quantidade de casas de telhas e de palhas era grande, porém muito menor que a de Maceió. Imóveis cobertos por palhas eram comumente destruídos por incêndio, como o que, em janeiro de 1885, destruiu 26 casas na Rua da Poeira.
Havia ali uma coletoria, uma agência de rendas provinciais, três escolas de primeiras letras, duas para o feminino e uma para o masculino.
Espíndola avaliava que sua “perspectiva é, bem analisada, desagradável. As poucas casas de sobrado que existem são antigas e feitas com mau gosto e sem cômodos, e piores são em geral as térreas; suas ruas são sem ordem e simetria; e sua povoação não excede a 6.000 almas. Esta cidade jaz em completa decadência, principalmente pela falta de comércio; é a residência quase absoluta de pescadores”.
Esse declínio também foi notícia no Jornal do Pilar de 27 de janeiro de 1878: “Da cidade das Alagoas nos pedem encarecidamente que pelo amor de Deus, peçamos ao Exmo. Sr. Presidente da província, se digne enviar para ali um médico com uma ambulância para curativo do povo, e dieta para a pobreza desvalida; pois o povo daquela infeliz cidade acha-se morrendo ao desamparo, sem médico, remédio e sustento!… Contado é o dia que não ouve-se dobrar os sinos, anunciando que se fina uma ou duas pessoas, que morrem ao desamparo, por não terem quem lhes receite um remédio! Exmo. Sr. Presidente da província, se digne compadecer do infeliz povo da pobre cidade de Alagoas”.
Informava ainda Espíndola, em 1871, da existência dos dois conventos, do Carmo e São Francisco, com duas Ordens Terceiras, a igreja filial do Rosário. A Matriz teve sua construção contratada em 28 de novembro de 1755 pelo “governador e capitão general da capitania Luiz José Corrêa de Sá ao licenciado Manoel Pereira de Azevêdo Tajardo. Foi reparada em 1860 sob a administração gratuita do advogado José Fernandes dos Santos.
A Igreja do Amparo teve a primeira pedra lançada pelo vigário Virissimo Rodrigues Rangel em 31 de agosto de 1757, quando era ouvidor Manoel Goveia Alvares.
A cidade de Alagoas tinha um palacete, construído em 1836, antiga residência dos presidentes e, em 1871, do juiz de Direito, além da Cadeia, Mercado Público (ambos de tijolo) e um teatro particular.
Navegação a vapor
A primeira iniciativa para viabilizar a navegação a vapor nas lagoas Norte (Mundaú) e Manguaba, entre Maceió e Pilar, foi tomada pelo presidente da Província Ângelo Thomaz do Amaral, em 30 de agosto de 1858, quando nomeou uma comissão para fazer o levantamento da planta hidrográfica, quantitativo das exportações e importações e custos para estabelecer a empresa e seu funcionamento.
Quem também incentivou a navegação a vapor nas lagoas para acelerar o desenvolvimento de suas povoações foi o imperador D. Pedro II, que as percorreu em 10 de janeiro de 1860 a bordo do Pirajá. No trajeto, repetiu ao presidente da Província, Manoel Pinto de Souza Dantas, as mesmas cobranças de dias antes em Penedo, quando tratou da navegação no Rio São Francisco.
Depois de várias tentativas com alguns empreendedores, foi a Companhia Bahiana de Navegação a Vapor, liderada pelo engenheiro civil Hugh Wilson, que ganhou a concorrência e assinou o contrato no dia 24 de março de 1866. Seu projeto sustentava que para viabilizar a exploração comercial das lagoas era necessária a construção de uma ferrovia interligando o porto do Trapiche da Barra ao porto de Jaraguá.
Hugh Wilson, além de ser o então superintendente da Companhia Bahiana de Navegação a Vapor, era também um dos sócios da Estrada de Ferro Central na Bahia e sócio-gerente da Empresa de Trilhos Urbanos da cidade de Santo Amaro, nas proximidades de Salvador.
O “tramway” teve seu trecho inicial, entre Jaraguá e a Boca de Maceió, inaugurado no dia 25 de março de 1868. O trecho até o Trapiche da Barra foi aberto ao público no dia 16 de setembro de 1868, quando também realizou-se a viagem inaugural do vapor Alagoano do Trapiche da Barra até o Pilar, com escala na cidade de Alagoas. Essa embarcação foi adquirida na Inglaterra.
Em 1871, a Companhia Bahiana de Navegação a Vapor repassou para Hugh Wilson a “estrada de ferro entre Jaraguá, Maceió e Trapiche da Barra, e bem assim da navegação das Lagoas — Norte e Manguaba”. O negócio se deu com a autorização do presidente da Província, José Bento da Cunha Figueiredo Junior, que aprovou a Lei provincial nº 596, de 20 de junho de 1871.
Foi dos passageiros dessa navegação que, em 6 de março de 1875, partiu a denúncia contra alguns pescadores e canoeiros que tinham o “costume escandaloso” de “andarem nus no serviço de suas profissões”. A nota, publicada no Jornal do Pilar de 14 de março daquele ano, era assinada pelos passageiros do vapor Hentiette. Solicitavam ao Chefe de Polícia da capital que recomendasse às autoridades da cidade das Alagoas a não consentirem com aquela prática “nas chegadas do vapor àquelas paragens”, poupando os passageiros de verem “marmotas”, indignando às suas famílias.
Em 1879, a navegação a vapor nas lagoas Norte e Manguaba foi transferida para Manoel Joaquim da Silva Leão, como consta no Decreto Imperial nº 7.525 de 25 de outubro daquele ano. de fato, somente em 1882 foi que a nova empresa assumiu esse transporte.
Três vapores atendiam as cidades lacustres, transportando passageiros e rebocando chatas com mercadorias. Leopoldina e Manguaba serviam aos passageiros e o Alagoano, construído para esse fim, rebocava lanchas e chatas. O Alagoano foi construído em Jaraguá e posto na água em 20 de julho de 1868. Todos eles sofriam com as obstruções na lagoa e canais. Em 1882 já estavam bastante deteriorados.
Naquele ano de 1879, o encalhe desses barcos nas marés baixas provocava atrasos nas viagens, que muitas vezes eram concluídas utilizando-se canoas. O único trecho que não dependia das marés era o navegado entre a cidade de Alagoas e o Pilar, na Lagoa Manguaba.
Em novembro de 1882, dias depois de assumir a empresa, o comendador Silva Leão baixou consideravelmente “a tabela dos preços de cargas e passageiros da navegação das Lagoas Norte e Manguaba”. Em seguida, o “ilustre empresário baixou mais 7 por cento sobre o frete do açúcar”, como noticiou o Diário de Alagoas de 8 de novembro de 1882, reproduzido no Diário de Pernambuco de 11 de novembro.
A partir de 1900, o transporte nas lagoas passou a ser explorada pela Companhia Pilarense de Navegação das Lagoas Norte e Manguaba.
Em 1906 os bens da Companhia Pilarense de Navegação foram adquiridos pela Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos, que também se apropriou da linha férrea do Trapiche da Barra por dação a pagamento de dívida.
Um anúncio da Companhia de Trilhos Urbanos de 22 de setembro de 1909, publicado no Gutenberg, grafou pela última vez a palavra vapor associada a navegação nas lagoas Mundaú e Manguaba. Vendia-se “a lancha a vapor, cascos de vapores e mais ferragens existentes no Trapiche da Barra”.
Nas décadas seguintes, esse serviço passou a ser realizado por lanchas particulares e, em alguns períodos, contando com a ajuda do Estado.
Em 1925, a Empresa de Navegação das Lagoas pertencia a Doclécio Xavier Accioly e as suas lanchas, em março daquele ano, enfrentavam o baixo nível das águas da Lagoa Manguaba, dificultando as viagens entre Maceió e o Pilar.
Estas embarcações funcionaram até a década de 1970.
Cidade das Alagoas no fim do século XIX
Em 1891, a cidade de Alagoas do Sul tinha 5.750 habitantes (820 residências). Taperaguá, 750, com 130 residências. Santa Rita tinha 500 habitantes em 90 casas. No Oitizeiro residiam 100 pessoas em 25 casas.
O município produzia açúcar da cana em mais de 20 engenhos, farinha de mandioca, feijão, milho, frutas, hortaliças, abastecendo o mercado de Maceió. Na ilha de Santa Rita e na Massagueira, produzia-se, no final do século 19, coco, batata, inhame, melancia, melão e as apreciadas mangas.
Seu intendente em 1891 era Joaquim Pinto da Motta Lima. O Conselho Municipal era formado por Domingos José Pinto — também delegado —, Leônidas José Barbosa e Francisco Manoel da Silva.
A freguesia de Alagoas, cujo orago era N. S. da Conceição, tinha como vigário colado o cônego Antônio Manoel de Castilho Brandão. Tinha dois sacerdotes: Padre José Cândido de Vasconcellos e padre Pedro Lins de Vasconcellos.
Naquele ano de 1891, o cônego Antônio Manoel de Castilho Brandão era o Síndico do Convento de São Francisco e Comissário do Convento de N. S. do Carmo. Não tinha mais frades em nenhum deles.
Na igreja Matriz se abrigavam as confrarias do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição. Na igreja do Rosário, a confraria do Senhor Bom Jesus dos Martírios e de Nossa Senhora do Rosário. Na igreja de Nossa Senhora do Amparo, a confraria dessa mesma senhora.
A de São Benedito ficava no convento de São Francisco. Confraria de Nossa Senhora do Carmo na igreja da Ordem Terceira. As do Senhor do Bomfim e N. S. das Dores, na Igreja do Senhor do Bomfim, em Taperaguá.
A tipografia do jornal Alagoano imprimia esse periódico para circular às quartas-feiras e aos sábados. Seu proprietário era Matheus de Araújo Caldas Xexéu.
Em 1891, os engenhos de Açúcar em Alagoas do Sul eram os seguintes:
Bento Moreira, da viúva de Bento Moreira; Cafundó, dos herdeiros de Antônio Rodrigues Lima Santos; Cobra, dos herdeiros de Nicolau Alves Rodrigues; Congó, de Manoel Marques da Rosa; Cumbe, de Francisco Leocádio Vieira; Engenho Velho, de Domingos dos Santos Lima; Fazendinha, de José Corria de Araújo Costa; Flor da Sumaúma, dos herdeiros de Lourenço Bezerra Cavalcante de Albuquerque Mello; Galhofa, dos herdeiros de Francisco Cavalcante Albuquerque; Gororoba, do Padre José Cândido de Vasconcellos; Horizonte, dos herdeiros de Aristides Arnaldo Bezerra Cansanção; Hortelã, de Jacintho Alves da Silva; Ilha do Porto, de José Leocádio Vieira; Lama, de Francisco de Hollanda Cavalcante; Linda Vista, dos herdeiros de Antõnio Plácido da Cunha; Manguinho, de João Rodrigues Pitanga; Novo Manguaba, dos herdeiros de Cândido José de Moura; Oiteiro, dos herdeiros de Antônio Pinto Teixeira de Albuquerque; Pontal, de Antônio Rodrigues Leite de Albuquerque; Prata, de Francisco de Holanda Cavalcante; Praturaes, de Joaquim José da Costa Gama; Riacho Branco, de Pedro da Rocha Cavalcante; São Bento, de Antônio Rodrigues dos Santos Lima; São Caetano, de Francisco de Holanda Cavalcante; Santa Catarina, de Antônio Francisco Maia; Sumaúma, dos herdeiros de Francisco Rogério Correia; e Tijuco, dos herdeiros de José Pinto T. de Albuquerque.
A estação telefônica da cidade de Alagoas foi inaugurada no dia 15 de outubro de 1901. O Estado investiu 4:000$000.
Município de Marechal Deodoro
No dia 15 de novembro de 1937 foi inaugurado o monumento ao Marechal Deodoro da Fonseca no Rio de Janeiro. Antecipava-se parte das comemorações do Cinquentenário da Proclamação da República, que foi festejado em 15 de novembro de 1939.
Com esse ato, Getúlio Vargas dizia inaugurar um novo período republicano. Dias antes, em 10 de novembro de 1937, havia implantado o Estado Novo, uma ditadura que se estendeu até 1945.
A imensa escultura do artista Modestino Kanto foi instalada na Praça Paris, que passou a ser a Praça Deodoro. Lá estão, desde 1950, os restos mortais do marechal Deodoro e de sua esposa.
Motivado pelo ambiente comemorativo do cinquentenário da Proclamação da República, Getúlio Vargas resolveu que todos os estados deveriam homenagear os que lideraram o movimento republicano de 1889. Para Alagoas foi dirigido o Decreto-Lei nº 1.686, de 17 de outubro de 1939. No seu Art. 1º o presidente da República determinava que os municípios de Alagoas e de Piranhas passassem a homenagear “Deodoro” e “Floriano”, respectivamente, com essas denominações.
No dia 15 de novembro de 1939, quando se comemorava a Proclamação da República, o então ministro da Justiça, Francisco Luís da Silva Campos, recebeu do interventor interino de Alagoas o seguinte telegrama:
“Tenho prazer comunicar Vossencia que, por decreto nº 2.550, de 9 corrente [novembro], dei novas denominações aos municípios de Alagoas e Piranhas, deste Estado, que passaram a ter nomes Marechal Deodoro e Marechal Floriano, respectivamente. Atenciosas saudações. — (s) José Maria Correa das Neves, interventor interino”.
Detalhe: esse Decreto Estadual denominou os municípios de Alagoas como “Marechal Deodoro” e Piranhas como “Marechal Floriano”, acrescentando as devidas graduações militares.
A velha capital manteve a homenagem ao filho da terra, mas Piranhas desistiu do Marechal Floriano com a aprovação da Lei nº 1473, de 17 de setembro de 1949. Voltou a ser Piranhas.
Patrimônio Histórico
Igreja do Senhor do Bomfim em Taperaguá
Sobre a origem da Igreja do Senhor do Bomfim e de Nossa senhora das Dores, sabe-se apenas que o terreno onde foi construída passou a ser patrimônio da Igreja em escritura datada de 30 de abril de 1755.
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Matriz de Nossa Senhora da Conceição
Em um documento datado de 1739 e publicado na Revista do Instituto Geográfico e Histórico de Alagoas em 1927 (Vol. XII), consta que naquele ano a freguesia de Alagoas do Sul já tinha sua Matriz de Nossa Senhora da Conceição — o vigário era Ignácio Rabello Marinho — e mais 9 capelas com 11 clérigos.
Segundo Moacir Santana, a Matriz destruída em 1633 pelos holandeses ainda estava em reconstrução em 1755. Em sua fachada, a data de 1783 pode assinalar o fim das obras.
Foi em sua nave que Sebastião Francisco de Melo Póvoas, diante do senado, tomou posse como o primeiro presidente da Província das Alagoas em 22 de janeiro de 1819.
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Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Surgiu de uma capela construída em 1717 com o objetivo de congregar os escravos e assim criar meios para a compra de alforrias. A capela deu lugar à igreja, que começou as ser erguida em 1834, contando com a ajuda do capitão Luiz Cerqueira Lima, Nicolau de Souza e Antônio Domingos.
O Compromisso da irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi aprovado pela Lei nº 564, de 23 de maio de 1870. Um detalhe: retirava os “homens pretos” da congregação.
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Igreja de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos
Foi erguida no local onde existia uma capela desde 1683. A pedra fundamental foi lançada em 31 de agosto de 1757 pelo vigário Veríssimo Rodrigues Rangel.
Após longa paralisação, as obras do templo foram retomadas em 1800, mas em ritmo muito lento: em 1860 ainda não tinha sido concluída.
O Compromisso da Irmandade foi aprovado pela Lei Provincial nº 224, de 11 de julho de 1853.
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Complexo Franciscano de Santa Maria Madalena
A construção do complexo foi iniciada em 1635, com a chegada de frades franciscanos à cidade. Inicialmente foi erguido um local para abrigar os frades. Em seguida iniciou-se a construção de uma pequena capela, que originou a Igreja da Ordem Primeira de São Francisco. Sua construção durou mais de um século, sendo concluída somente em 1793. Posteriormente foram erguidos, ao lado da igreja, o convento e a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.
A primeira edificação franciscana no local, que Ernani Méro identificou como sendo um “recolhimento e um pequeno oratório”, foi erguida por volta de 1635 por monges que tinham abandonado as áreas próximas a Recife após a invasão holandesa.
Quando os holandeses chegaram às Alagoas, alguns destes religiosos fugiram para a Bahia e outros foram presos. Somente voltaram a Santa Maria Magdalena após petição do vigário Antônio Vieira, do Alcaide Mor Gabriel de Souza, do vereador Antonio da Costa, e do Procurador Antonio do Couto Caldeyra, endereçada ao Frei Pantaleão Baptista, Prelado da Custódia Franciscana do Brasil na Bahia, que assinou sua concordância em 26 de agosto de 1657.
O Bispo da Bahia já havia dado a permissão para a construção do convento em 19 de março de 1657. Com a nomeação, em 4 de dezembro de 1660, do Frei Pedro de São Paulo como Prelado do Recolhimento, as obras da capela tiveram início e sequência pelo substituto, Frei Boaventura do Rosário.
A capela mor da igreja conventual foi concluída em 1689. Em 1692 foram construídos os alicerces da nave, ocupando o local da antiga capela. A torre foi erguida em 1784 e a fachada concluída em 1793.
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Convento de Santa Maria Madalena
A construção do convento foi autorizada em 19 de março de 1657, mas a construção do convento somente começou em 1684, com o lançamento da pedra fundamental dos seus corredores. A escritura foi passada pela a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, proprietária do terreno, em dezembro daquele ano.
As obras mais significativas do prédio foram concluídas em 1723, já estando finalizada a capela-mor e em curso os serviços relativos à igreja e à moradia dos frades, incluindo aí a galeria superior do claustro.
De abril de 1821 até o final de 1839, quando se deu a mudança da capital, foi quartel de um Batalhão de Caçadores. Os sérios danos provocados no prédio levaram o Frei José de Santa Engracia, guardião do Covento, a solicitar do ministro do Império recursos para os reparos necessários.
No prédio do convento, que estava em ruínas, funcionou entre 21 de abril de 1915 e 1951 (ainda funcionava), o Orfanato São José, uma sucursal do Asilo das Órfãs de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Bebedouro, Maceió.
Entre 15 de fevereiro de 1902 e 15 de fevereiro de 1904, o prédio do convento recebeu o Seminário Diocesano, enquanto se construía sua sede no Alto do Jacutinga em Maceió.
Atualmente abriga o Museu de Arte Sacra de Alagoas Dom Ranulfo Farias, criado pelo Decreto Estadual nº 4.603, de 14 de dezembro de 1984.
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Igreja da Ordem Primeira de São Francisco
O início da sua construção situa-se na segunda metade do século XVIII. Sabe-se que em 1763 já existiam seus alicerces.
Apenas em 1784, após receber o nártex, a fachada foi ampliada e avançou no terreno, sendo elevada até a altura do coro. A construção da galilé é, provavelmente, dessa época. Quando concluída, em 1793, tinha recebido um sino de bronze, de Portugal, em sua torre.
Com o tempo sofreu muitas modificações, mas sempre com a função de culto religioso.
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Conjunto Conventual do Carmo
Em 15 de julho de 1715, o Senado da Câmara de Alagoas solicitou ao rei que ali instala-se um Hospício aos cuidados dos religiosos “observantes da […] Senhora do Carmo”. Oferecia um sítio para tal fim e pediam também a “licença para que os ditos religiosos do Carmo observantes possam fundar um Conventinho nesta vila…”. (do livro “Os Carmelitas na história das Alagoas”, de Álvaro Queiróz).
O rei consultou, em carta de 2 de dezembro de 1717, o então governador de Pernambuco, Dom Lourenço de Almeida, sobre a viabilidade da licença para o “Conventinho”.
Na vila, Frei Manoel da Esperança confiava na aprovação e iniciou a arrecadação de fundos para a obra. O alvará com a permissão para a fundação do Convento do Carmo somente foi expedido em 26 de março de 1722. Essa concessão impunha algumas exigências, entre elas a proibição de ter uma porta para acesso do público. O abrigo deveria ter poucos internos.
Segundo Mello Moraes, em Crônica Geral do Brasil, o terreno para a construção e a capela de Nossa Senhora do Ó foram doados pelo coronel Francisco de Barros Pimentel.
As concessões à Ordem do Carmo somente foram efetivadas em 17 de janeiro de 1733, quando o padre superior, Frei Francisco Pégas, tomou posse desses bens, passando a ocupar uma casa próxima da capela de Nossa Senhora do Ó, onde, em 16 de julho de 1744, foi instalada a Irmandade da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo da Reforma Calçada.
Documento de 1739 registra o Hospício do Carmo da Observância da Vila das Alagoas, com dois religiosos conventuais. Eram os proprietários de uma fazenda que chamavam de Massagueira.
O Convento, também conhecido como Convento Caiado, após construído parcialmente, funcionou por pouco tempo. A disputa por esmolas e pela soberania religiosa entre os franciscanos e carmelitas inviabilizou estes últimos. Em 1816, o estado do edifício já não permitia a presença dos missionários.
Em julho de 1870, o Diário de Alagoas publicou que o presidente da Província havia entregue ao Frei Fidelis Maria Fognano, vice-prefeito do convento (hospício) da Penha em Recife a quantia de 4:000 rs para a construção do cemitério da cidade. Na mesma nota, o missionário anunciava que iria pedir a contribuição dos fiéis para também reparar as “igrejas arruinadas que se acham contiguas ao mesmo cemitério”.
A antiga capela foi reformada naquele ano, passando a servir ao Cemitério do Carmo. A igreja da Ordem Terceira do Carmo também foi “reedificada”, “tendo levantado desde a base uma das paredes laterais e a torre, e preparado todo o madeiramento da coberta”.
Os gastos com essas obras foram publicados em jornal local. Ultrapassaram os 8:500 rs. No final da construção, mais 2:000 rs foram solicitados.
As obras foram administradas pelo Frei José de Cattanicetta, que definiu a área do cemitério com 230 palmos de largura. A capela de Nossa Senhora do Carmo foi praticamente reconstruída.
O Diário de Pernambuco, de 28 de janeiro de 1871, informa ainda que “foi também construído pelo mesmo missionário o cemitério para os anacatólicos com quarenta e quatro palmos em quadro. Aproveitando os bons desejos dos habitantes e das diversas irmandades, construiu o referido missionário, em roda do muro do sul, e em parte do do leste, cento e quatro catacumbas”.
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Capela de Santa Rita de Cassia
Em registros de 1891 são citadas as capelas de Santa Rita de Cassia, na ilha de Santa Rita; a capela da Santa Cruz, no Tabuleiro; a capela de Nossa Senhora do Guadalupe, no Engenho Lama; e a de São Caetano, no engenho São Caetano.
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Teatro Conceição
Além da citação de Thomaz Espíndola, em 1871, da existência de um teatro particular, sabe-se que em 1970 sobrava dele a fachada, como fotografado por Moacir Mendonça naquele ano.
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Antigo Palácio do Governo
Foi adquirido, em janeiro de 1836 (foi construído em 1835), de Francisco Fernandes Lima, para ser a sede do governo. O presidente da Província era Antonio Joaquim de Moura. Naquele mesmo ano, a partir de 11 de abril, foi ampliado e adaptado pelo construtor Francisco Rogério Correia.
Foi sede do governo somente até 1839, quando houve a mudança da capital. Depois passou a ser a residência do Juiz de Direito.
Em 22 de outubro de 1890 ali se instalou o Colégio Orfanológico, criado pelo governo estadual pelo Decreto nº 41, de 16 de setembro de 1890. Oferecia instrução literária, agrícola, industrial e artística para órfãos e menores inválidos.
Era dirigido pelo cônego Manuel Antônio de Castilho Brandão, primeiro bispo de Alagoas. Funcionou até 29 de abril de 1896, quando do Decreto nº 29 o extinguiu. O governador considerou que tinha “deixado de corresponder ao fim para que foi instituído…”.
Atualmente é a sede do poder executivo municipal.
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Cadeia e Casa da Câmara
Sua construção foi autorizada pela Lei nº 125, de 16 de maio de 1849, no governo de José Bento da Cunha Figueiredo. O prédio foi erguido, aproveitando a estrutura do antigo armazém de sal (foi quase todo demolido), para funcionar como Cadeia, no andar térreo, e Casa da Câmara e Salão do Juri. Foi orçado naquela data em 7:536U760 rs. Sua construção teve início em 7 de janeiro de 1850.
Em 6 de julho do mesmo ano, o presidente da Província, Manoel Sobral Pinto, autorizou a Câmara Municipal da Cidade das Alagoas “a depender até a quantia de quatrocentos mil réis com móveis e asseio da nova sala em que ela tem de funcionar, assim como a quantia de cem mil réis com os móveis e asseio da sala do júri”.
Em novembro, como a construção ainda não tinha terminado, o Governo autorizou a tesouraria provincial a “por em arrematação o resto da obra da cadeia da cidade das Alagoas”.
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Casa onde nasceu Deodoro da Fonseca
Com sua construção localizada no século XVII, esse casarão, no centro de Marechal Deodoro, serviu de moradia para o casal Manuel Mendes da Fonseca e D. Rosa da Fonseca, onde nasceu o futuro marechal Manoel Deodoro da Fonseca.
Da antiga construção, mantêm-se somente a fachada. Reconstruída em 1983, perdeu suas características arquitetônicas originais.
Foi transformada em museu, com acervo composto por peças antigas e pelo busto de D. Rosa da Fonseca, o mesmo que estava na Praça Rosa da Fonseca no Centro de Maceió.
Fora ali colocado na tarde da quarta-feira, 7 de setembro de 1910, quando a praça foi assim batizada. O evento contou com a participação das colunas militares e estudantis e com a presença do então governador do Estado, Euclides Malta, e de outras autoridades.
Lazareto do Francês
Em 1º de março de 1855, cumprindo orientações do Governo Imperial do Brasil, o presidente da Província, Sá e Albuquerque, anunciou que desde o final do ano anterior havia uma epidemia de Cólera-morbo se espalhando pela Europa e que deveria adotar medidas sanitárias preventivas em Alagoas, entre elas a construção de um Lazareto em lugar conveniente.
Após receber a colaboração de uma “Comissão composta de homens habilitados” para a escolha do local, o governante se decidiu pela costa do Porto do Francês, a “três léguas ao Sul desta Capital, aonde as correntes dos ventos não podem danificar os povoados vizinhos, e podem ancorar em porto seguro os navios que trouxerem doentes a bordo, e que deverem ser infectados”.
Em maio de 1855, quando entregava o governo a Roberto Calheiros de Mello, Sá e Albuquerque apresentou relatório aos deputados informando que o Lazareto estava pronto e elogiou o encarregado de sua construção “não duvidou sacrificar o próprio interesse dando a obra mais sólida do que a que estava recomendada pela planta”.
Após o período em que recebeu doentes, não se sabe se funcionou para outros fins, mas, em 1871, Thomaz Espíndola, em sua Geografia Alagoana, descreve que o Lazareto estava em ruínas e explicou que a instituição se inviabilizou por ser de difícil acesso, principalmente por não oferecer cais para as atracações, dificultando a chegada de remédios, mantimentos e o desembarque dos pacientes e médicos.
A solidez da obra elogiada por Sá e Albuquerque ainda pode ser comprovada. As paredes do Lazareto permanecem de pé na Praia do Francês.
Boa tarde, prezado Ticianeli. Muito grato pela análise. O meu pai nasceu em Marechal Deodoro, chamava-se Taurino de Mendonça Ribeiro e seus pais Abdenago de Mendonça Ribeiro e Maria Felizbela Ribeiro. Uma sua irmã, Dalva Ribeiro, foi tabeliã do Cartório. Ambos já retornaram à Pátria Espiritual.