Morre o cineasta José Wanderley Lopes, da Caeté Filmes do Brasil
Edberto Ticianeli
Em 1963, José Wanderley Lopes, um intrépido sergipano, inaugurou na sala nº 808 do Edifício Breda, Centro de Maceió, a Caeté Filmes do Brasil, uma empresa cinematográfica que se propunha a atuar no mercado alagoano de documentários e reportagens.
O primeiro trabalho da Caeté foi na produção de um jornal cinematográfico local, exibido nas principais salas de cinema da capital antes do início dos filmes. O governador Luiz Cavalcanti foi um dos seus clientes e teve algumas de suas inaugurações e viagens pelo interior do estado documentadas.
Nascido no dia 11 de novembro de 1934, em Carmópolis, Sergipe, o filho do alagoano José Bezerra Lopes (de Olho d’Água das Flores) e da pernambucana, de Bom Conselho, Aurora Araújo Wanderley mudou-se para Maceió ainda muito jovem.
Tentou estudar Direito, mas as adversidades o obrigaram a interromper o curso em 1956, quando já casado com Deunice Alves Wanderley foi tentar a vida em São Paulo, onde começou trabalhando nos escritórios da DIPA, Distribuidora Paulista de Filmes.
Esteve por dois anos na TITAN Filmes e em seguida foi para a Produtora e Distribuidora Campos Filmes, onde teve contato pela primeira vez com uma câmera, estimulado por seu amigo Sérgio Campos.
De volta a Maceió em 1959 e morando na Rua Santo Antônio, 366, Ponta Grossa, conheceu Pedro Onofre por indicação de um técnico em revelação de filmes de nome Jackson (tinha laboratório na Rua do Comércio, próximo à Praça dos Martírios). Foi com o apoio de Onofre que criou a Caeté Filmes do Brasil.
Cinema
A primeira tentativa da empresa em produzir um filme foi tornada pública em 1º de novembro de 1967, quando a Caeté apresentou, no Clube Fênix, o projeto de filmagem do romance “Sidrônio”, então um livro de sucesso do escritor alagoano Adalberon Cavalcanti Lins.
O evento era também o início das vendas de cotas de coprodução. José Wanderley anunciou na oportunidade que a produção seria de grupos do Sudeste vinculados à Herbert Richers.
Até o governador Lamenha Filho prestigiou o evento e garantiu que o secretário de Segurança, coronel Adauto Barbosa, forneceria os equipamentos utilizados pelos “policiais” do filme.
A equipe técnica foi divulgada: diretor de fotografia, Antônio Thomé; diretor de produção, José Wanderley; diretor de cinegrafia, Paulo Abbott; assistente de direção, Adnor Pitanga; produtor executivo, José Wanderley; produção associada, Maceió, Rio e São Paulo.
Em fevereiro de 1968, José Wanderley divulgava que os preparativos para filmagem continuavam e que o cineasta Adolfo Chadler estaria envolvido com a produção. A captação de recursos atingiu 70% do esperado, mas como contratualmente o filme somente seria rodado com o orçamento fechado, o projeto foi interrompido e os recursos devolvidos, com juros, aos investidores.
O segundo projeto cinematográfico da Caeté surgiu em 1971 com A Volta pela Estrada da Violência. A expectativa era de se conseguir retorno comercial com esse empreendimento, mas isso não aconteceu. Alguns estudiosos identificam que o problema residia nos exibidores, que somente aceitavam filmes coloridos.
Em 1982, a Caeté Filmes do Brasil Ltda estava envolvida com o seu segundo longa-metragem, Mulheres Liberadas, dirigido por Adnor Pitanga.
Eram três histórias eróticas: “O Pneu” (executivo italiano viaja à noite e pede socorro a uma bela garota que estava com seu carro parado no meio-fio por causa de um pneu furado); “O Telefone” (mulher rica, casada e insatisfeita recebe telefonemas obscenos de um estranho, com quem passa a ter fantasias eróticas); e “A Curra” (Marcinha é atacada por dois assaltantes quando está numa praia deserta).
O filme, que foi locado em Maceió e em Rio Bonito no Rio de Janeiro, teve o seguinte elenco: Rossana Ghessa (Elisa), Ana Maria Kreisler (Luiza), Tânia Moraes (Márcia), Arlindo Barreto (Júlio), Arthur Roverdder (Pietro Boticelli), Reinaldo Genes, Ivan de Almeida, Luiz Oliveira, Carlos Sammero e Wellington Wanderley.
O último projeto de longa-metragem da Caeté foi apresentado à Ancine em 16 de novembro de 2001. José Wanderley conseguiu a autorização para captação pela Lei Rouanet do filme “Alexandrita – Olhos de Fogo”. O orçamento era de R$ 3.452.920. Filme de longa-metragem pretendia abordar a riqueza oculta nas entranhas da terra, na área de mineração de esmeraldas na Bahia. Em 12 de janeiro de 2005 foi cancelada a autorização, após uma prorrogação em 2004.
Em 22 de abril de 2005, o projeto foi reapresentado como “Alexandrita – Olhos de Fogo I”. O orçamento era de R$ 3.938.754,15. Foi cancelado em 17 de julho de 2009, após uma prorrogação em 30 de janeiro de 2008.
José Wanderley não desistiu e, em 16 de novembro de 2009, novamente “Alexandrita – Olhos de Fogo” estava autorizado a captar R$ 3.679.670,75. Teve uma prorrogação em 26 de janeiro de 2010, mas foi cancelado em 8 de março de 2013.
A Caeté Filmes do Brasil não mais produziu filmes. José Wanderley Lopes, pai de nove filhos, aposentado, faleceu hoje (21). Guardava mágoas da falta de investimentos oficiais para os seus projetos, mas se orgulhava de ter presenteado o povo alagoano com o histórico filme “A Volta pela Estada da Violência“.
Este grande homem foi o meu avô, sinto orgulho de telo como parente ❤️
Meu Sogro, de um coração enorme!
Cheio de sonhos, uma pessoa maravilhosa!
Obrigada por tudo que o senhor fez por nós!❤️
Meus sentimentos a toda família…
Sou primo de segundo parentesco, realmente tinha seus ideais mais sem apoio dos grandes governantes, trb com ele em uma loja que tinha de discos na época de Vinil na rua do Comércio!!! Eu ia a Recife comprar os discos se não me lembro era a Rosenblit
Bah! uma pena que somente hoje tomei conhecimento do falecimento do meu estimado Amigo Wanderlei. Desejo que ele esteja bem onde estiver, com a proteção de um anjo bom. Embora tardiamente, deixo aqui registrado minhas sinceras condolências, ao mesmo tempo que me solidarizo com os meus queridos amigos esposa e filhos, dos quais tenho saudades.
Naelson Queiroz – SP (naelson@vicenziadvogados.com) 01/12/2023