Não foi o professor Domingos Moeda quem deu nome ao famoso beco de Maceió
O registro mais antigo encontrado por esta pesquisa sobre a Rua Professor Domingos Moeda é de 11 de junho de 1931. Antes, aquela via foi tratada como Beco, Travessa e até Avenida do Moeda.
A ampliação da denominação de “Moeda” para o nome deste antigo mestre alagoano se deu, provavelmente, após a sua morte em 15 de dezembro de 1923.
Assim consagrada, a ligação entre a Rua do Sol e a Rua do Comércio ficou mesmo conhecida como Beco do Moeda. Alguns insistem em se referir a ele, erroneamente, como o Beco da Moeda.
O professor Moeda
Domingos Bento da Moeda e Silva nasceu em 4 de agosto de 1839 no Sítio Flamenguinha de Baixo, povoado da Barra de Santo Antônio, então pertencente ao município de São Luiz do Quitunde, onde concluiu o primário. Augusto Vaz Filho, em seu livro Alagoanos Ilustres, localiza o seu nascimento em Maceió.
Seu pai, Antônio Ferreira Chaves, foi escrivão da agência da Tesouraria Provincial em Santa Luzia do Norte até 1851. Faleceu em 8 de julho de 1858. Era filho de Manoel da Silva Barbosa e de Maria Barbosa.
Sua mãe, Maria Rosa Orminda Chaves, faleceu em 16 de dezembro de 1875. Era filha do comerciante espanhol Domingos Bento da Moeda e de Antônia Rosa dos Prazeres.
Ainda menino, foi morar em Maceió para continuar os estudos. Passou a residir com seus tios Antônio da Silva Aboim e Luiza Joaquina de Aboim, que cuidaram de sua formação. Em 1853 já frequentava o Liceu Alagoano, onde concluiu os preparatórios em 1857.
Como percebeu que não teria condições de alcançar o ensino superior, dedicou-se à preparação para ser professor e assim, com apenas 23 anos de idade, fundou na capital o Colégio São Domingos, que entrou em funcionamento no dia 3 de agosto de 1863.
Em 30 de maio de 1867 casou-se com Ana Cândida Cotrim Moeda, que nasceu em 29 de julho de (aproximadamente) 1845 e faleceu em 11 de fevereiro de 1924, em Maceió. Era filha do comerciante Manoel da Costa Pereira Cotrim e de Cândida Francisca Pereira Cotrim.
Ana Cândida teve os seguintes irmãos: José da Costa Pereira Cotrim (faleceu em 1899); Isabel da Costa Pereira Cotrim (nasceu em 12 de janeiro de 1855) e João da Costa Pereira Cotrim (1843 – 18 de maio de 1910).
Domingos Moeda e Ana Cândida tiveram nove filhos: Amando, Laura e Maria Moeda faleceram ainda crianças.
1. Maria Moeda, que nasceu em 6 de agosto de 1877 e para quem seu pai comprou um piano em 1869;
2. Anna Moeda Bittencourt nasceu em 1º de junho de 1868. Casou-se, em 19 de fevereiro de 1887, com o advogado e deputado dr. Francisco Paula Bittencourt. Moraram na Rua do Moeda, nº 8, sobrado, entre 1887 e 1891. Em 1890, quando o professor Domingos Moeda, seu sogro, pediu demissão da cadeira de Português do Liceu Alagoano, foi ele nomeado em seu lugar
Ana Moeda Bittencourt dava aulas de música, canto e piano em 1909, na Rua Boa Vista. Em 1914 já estava em Bebedouro até 1926. Autora da polca “Como é suave!”, impressa e vendida em 1897 pela Tipografia Trigueiros.
3. Major Syndulpho Moeda.
4. Domingos Moeda Filho. Nasceu em 15 de dezembro de 1879. Era cirurgião-dentista.
5. Dr. Sylvio Moeda. Nasceu em 5 de março de 1873 e faleceu em 31 de agosto de 1909. Iniciou curso de Medicina em 1891 na Bahia. Formou-se em 19 de dezembro de 1896. No ano seguinte foi nomeado pelo governador Manoel Duarte Inspetor de Higiene Pública de Alagoas. Permaneceu até a morte nesse cargo. Ainda estudante serviu na guerra de Canudos e nos últimos anos de vida era médico do Asilo das Órfãos em Bebedouro. Era solteiro e residia com os pais.
Resultado também da união entre Domingos Moeda e Ana Cândida foi o surgimento na capital, em 1869, do Colégio Santa Ana, “dirigido pela senhora Anna C. C. Moeda”.
O professor Domingos Moeda foi também membro do Conselho Fiscal da Caixa Econômica e do Monte Socorro da então Província, nomeado em 1879 pelo imperador Dom Pedro II. Eleito vereador em Maceió, tomou posse em 7 de janeiro de 1887 (mandato até 1891). Presidiu a Câmara por algum tempo.
Foi ainda um dos artífices da fundação do Orfanato São Domingos, sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, provedor da Santa Casa e do Asilo de Mendicidade.
O outro Moeda
O interesse em encontrar o Moeda que foi patrono da via surgiu ao se encontrar, no Diário de Alagoas de 9 de abril de 1860, um anúncio em que Rafael Archanjo de Moura Mattos, professor de francês e geografia de passagem por Maceió, se oferecia para dar aulas particulares. Quem precisasse podia procurá-lo “em sua casa, rua do Moeda, n. 5 para tratar”. Essa nota foi republicada por vários dias.
Como em abril de 1860 Domingos Moeda tinha 20 anos de idade e havia concluído os preparatórios no Liceu Alagoano pouco tempo antes, dificilmente teria o seu nome projetado como professor a tal ponto de servir como referência para uma rua, mesmo que morasse ali ou desse aulas particulares em uma de suas casas.
Então, quem seria o outro Moeda, tão conhecido na cidade a ponto de ser essa referência?
O Diário de Pernambuco de 11 de fevereiro de 1843 dá uma pista ao informar sobre um escravo desaparecido de nome José e que pertencia, em Maceió, a “Domingos Bento da Moeda e Companhia“. A mesma nota se refere ao “Sr. Moeda e Companhia“, revelando que era conhecido pelo sobrenome.
Domingos Bento da Moeda voltou a ser citado em 1848, quando divulgou no mesmo Diário de Pernambuco que tinha dissolvido amigavelmente a sociedade numa loja de fazendas, em Maceió, com Antônio da Silva Aboim.
Como já informado acima, o espanhol Domingos Bento da Moeda era o avô de Domingos Bento da Moeda e Silva e Antônio da Silva Aboim o seu tio, o mesmo que o encaminhou na educação quando ainda criança em Maceió.
Percebe-se, pelas evidências, que o Beco do Moeda recebeu essa denominação em alusão ao comerciante Domingos Bento da Moeda. Entretanto, não foi possível identificar se ele residiu ou teve negócios ali.
Não foi também localizada a Lei Municipal que oficializou a denominação da Rua Prof. Domingos Moeda no final da década de 1920, mas como em 1972 a Prefeitura da capital colocou placas nas vias da cidade, é de se supor que exista tal Lei. Na placa afixada naquele ano, a denominação do antigo Beco do Moeda surge com outro erro: Rua “Dr.” Domingos Moeda.
Dúvidas: o legislador sabia que o Beco do Moeda se referia a Domingos Bento da Moeda e não ao seu neto Domingos Bento da Moeda e Silva e resolveu trocar de homenageado? Ou simplesmente acrescentou o “professor Domingos” para precisar a quem se rendia o tributo?
Enquanto não se colhe mais informações, fica a indicação que o antigo Beco ou Travessa do Moeda fazia alusão ao antigo comerciante Domingos Bento da Moeda e não ao seu neto, Domingos Bento da Moeda e Silva, nascido em 4 de agosto de 1839.
Muito grato, prezado Ticianeli, pela publicação de mais esta análise focando a nossa Alagoas.