José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca embolador

Jararaca e Ratinho

José Luiz Rodrigues Calazans, o Jararaca, foi um violonista, cantor de emboladas, compositor e emérito letrista brasileiro. Nasceu em Maceió no dia 29 de setembro de 1896 e faleceu aos 81 anos na cidade do Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro de 1977.

Era filho de Ernesto Alves Rodrigues Calazans, poeta e professor muito conhecido, e de Amélia Alves Rodrigues Calazans. Começou a tocar sua viola aos oito anos de idade, inspirado em seus irmãos que também eram violeiros e seresteiros.

Ainda criança conviveu muito com os boiadeiros que vinham das Minas Gerais, ouvindo diversas histórias, que mais tarde iriam influenciar a sua música.

Jararaca

Aos 18 anos de idade, foi morar em Penedo, onde seu irmão era proprietário do jornal O Vila-Nova. Nomeado para o cargo de Fiscal da Recebedoria, foi transferido para vários municípios alagoanos.

Nessa peregrinação, estabeleceu contatos com artistas locais e começou a participar de vários grupos de teatro amador, atuando em Matinha de Água Branca, Mata Grande, Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema e Piranhas.

Entre 1917 e 1918, refugiou-se em Pernambuco após sofrer perseguição política. Instalou-se em Recife e começou compor. Foi nesse período que surgiu a embolada “Espingarda – pá! Faca de ponta – tá“, sucesso gravado pelos “Oito Batutas”.

Jararaca e Ratinho

Jararaca e Ratinho

No início da década de 20 resolveu tentar a carreira artística e formou com Ratinho uma das duplas mais conhecidas da música brasileira. Ratinho era Severino Rangel de Carvalho, que nasceu em Itabaiana, PB, no dia 13 de abril de 1896, e faleceu em Duque de Caxias, RJ, no dia 8 de setembro de 1972.

Severino Rangel, o Ratinho, começou a tocar ainda criança na Banda Musical de Itabaiana, no Estado da Paraíba, em 1914 mudou-se para Recife onde integrou a orquestra sinfônica local tocando trompete, saxofone e ainda dava aulas numa escola de aprendizes.

Por volta de 1919, Ratinho e Jararaca se conheceram quando passaram a integrar o Bloco dos Boêmios e, em 1921, formaram o grupo Os Boêmios. Tempos depois o grupo passou a ser conhecido como Os Turunas Pernambucanos e cada um dos integrantes adotou o nome de um animal. Foi quando José Luiz resolveu adotar o nome de Jararaca.

O apelido surgiu após o músico ter carimbado um comerciante em Recife como Cobrinha. Houve o revide e o pernambucano rebatizou ele como Jararaca. Como já trabalhava com o Ratinho, percebeu que o apelido lhe caia como uma luva. “Já senti no ouvido Jararaca e Ratinho“, revelou em entrevista à revista Manchete em 1977.

Os Turunas Pernambucanos

Com o novo conjunto, cantando “cocos” e “emboladas” com seus trajes típicos, percorreram diversos estados e, incentivados por Pixinguinha, acabaram indo para o Rio de Janeiro em 1922, período em que se comemorava o Centenário da Independência.

Em 1924, o grupo se desfez no Uruguai, durante uma excursão pelo sul do continente.

Jararaca montou outro grupo no Rio Grande do Sul. Estava em Santo Ângelo, em outubro daquele ano, quando o capitão Luiz Carlos Prestes iniciou a revolta que se transformaria na coluna Prestes.

Tentou atravessar a linha de combate, mas foi impedido. Fez vários shows para os soldados em armas.

Com Os Turunas Pernambucanos desfeito, José Luiz e Severino Rangel resolveram formar a dupla Jararaca e Ratinho e conheceram o sucesso quando passaram a cantar emboladas, fazendo apresentações satíricas e humorísticas, em São Paulo.

Seus principais sucessos foram Saxofone, por que choras? (1930), choro de Ratinho; Meu pirão primeiro (1932), batucada da dupla; e Mamãe eu quero (1937), marcha carnavalesca de autoria de Jararaca.

Mamãe eu quero

Seu primeiro disco aconteceu em 1929, na gravadora Odeon. Em 1937, Jararaca compôs a clássica Mamãe Eu Quero em parceria com Vicente Paiva e seu sucesso foi tanto que ultrapassou as fronteiras brasileiras.

Em depoimento a Ronaldo Bôscoli em 1977 para a revista Manchete, Ratinho conta como surgiu o clássico Mamãe eu quero.

“Conheci o Vicente Paiva no Cassino da Urca. Lá fizemos uma grande amizade. Ele ainda era solteiro. Então a gente almoçava quase todo dia juntos. Mostra uma musiquinha daqui, mostra uma letrinha de lá e acabamos parceiros. Fizemos quatro músicas: Vamos Maria Vamos, outra que não me recordo e Lá Vai Ela. Depois de Lá Vai Ela dissemos um para outro: taí o sucesso. Vai ser um estouro. Vamos pensar já na música do outro lado (do disco) porque isso vai vender tudo.

— Olha, Vicente, eu tenho uma ideia e já tenho o título: Mamãe Eu Quero.

— Mas a ideia, a ideia, o tema da música?

Tranquilizei o parceiro.

— Olha, ontem eu joguei um caco no show e todos morreram de rir, quando eu disse mamãe eu quero mamar.

— Mas onde foi isso, Jararaca?

— No Teatro Olímpia. Estou trabalhando lá. A peça já tem um título picante, Meu Pai é Meu Filho!, e para picar mais um pouco nada melhor que Jararaca. Um cabra gordo que perdido no meio da trama dizia “não sei mais se o pai do meu filho é meu pai. O que fazer?”. Aí eu entrei com o caco. Abracei-me ao ator e dei um sábio conselho: “O jeito é você abraçar com seu pai e dizer: mamãe eu quero mamar”. Aí foi uma gargalheiro de cinco minutos. Com esse estribilho só falta a gente encher o resto… entendeu Vicente?

Nem tomamos o cafezinho de praxe. Fomos para o piano, papel, lápis e na correria criamos Mamãe Eu Quero. Ora meu filho, nem vaca holandesa deu tanto leite…”.

Jararaca e Ratinho

Jararaca e Ratinho

Mamãe eu quero caiu na graça dos ianques a partir da versão da cantora portuguesa naturalizada brasileira Carmem Miranda, famosa no cinema de Hollywood.

A música ganhou mais de 21 versões em inglês, especialmente a difundida internacionalmente na voz de Bing Crosby.

Jararaca e Ratinho deixaram mais de 800 discos de 78 rpm e dois LPs onde alternavam números musicais com vasto anedotário.

Além de cantores e compositores, eram também humoristas. A dupla protagonizou o filme No Trampolim da Vida, de 1946 e Loucos por Música, lançado em 1950.

Em 19 de janeiro 1947, ocorreram as eleições municipais e, no Rio de Janeiro, eleições distritais. Jararaca estava na chapa do Partido Comunista do Brasil, PCB, mas não conseguiu êxito, ficando nas primeiras suplências.

Nos anos 60 e 70, a dupla participou de alguns programas de televisão, como Balança mas Não Cai, Uau e Alô Brasil, e Aquele Abraço. Depois da morte de Ratinho, Jararaca trabalhou no programa Chico City, na Rede Globo, no papel do cangaceiro Sucuri e assim continuou atuando até a sua morte em 1977.

Fonte principal em http://www.cultura.al.gov.br.

4 Comments on José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca embolador

  1. Sonia Maranhão Calazans Fireman // 20 de julho de 2015 em 00:26 //

    Muito feliz e orgulhosa de saber que a história desse alagoano que tanto amava esta terra não está esquecida. Espero um dia poder transformar um sonho seu em realidade criar um memorial em sua homenagem, na terra que ele não esquecia.

  2. Alberico martins // 26 de fevereiro de 2017 em 18:21 //

    Foi um grande compositor ate porque compor estava no seu DNA

  3. Anita Stromboli // 14 de julho de 2017 em 18:03 //

    Caí por acaso aqui, ao pesquisar sobre o imortal Calazans, e achei um excelente espaço para as ricas memórias das Alagoas.

    Precisamos de mais interesse na verdadeira e inestimável cultura do país, que está se perdendo pelo desconhecimento das novas gerações. Não necessitamos de Funk ou Rap, ou gêneros importados que só incentivam à violência e à lascívia e bestificação das massas. Aliás, por que não o nome “História das Alagoas”, a este tesouro de portal? Daria um ar mais histórico ainda.

    Parabéns a todos que fazem este formidável espaço acontecer, existir. E que viva a nossa cultura ancestral!

  4. Eriberto Lessa // 28 de dezembro de 2021 em 00:33 //

    Jararaca precisa ser lembrado todo ano. Montar um projeto cultural sobre o gênero musical misturado com humor que ele e ratinho divulgaram com maestria.

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