Gênese e Evolução da pintura em Alagoas

Teixeira da Rocha e Rosalvo Ribeiro — os maiores pincelistas da província

A Carga, de Rosalvo Riveiro, foi premiado no Salão de Paris em 1898. Acervo do Palácio Marechal Floriano Peixoto

Carlos Rubens

*Publicado na Revista Vamos Lêr! de 11 de fevereiro de 1943, Rio de Janeiro.

A pintura em Alagoas nasceu tardiamente. Todas as forças espirituais, desde a criação das aulas de gramática pelos franciscanos, em 1719, até o fim da monarquia, souberam ascender e esplender. As artes plásticas, não.

O mais antigo, verdadeiro pintor, que se conhece em Alagoas é Manoel Teixeira da Rocha, nascido na cidade de São Miguel dos Campos, a 15 de outubro de 1863. Veio para o Rio em 1870, estudando humanidades no mosteiro de São Bento e no Liceu de Artes e Ofícios, em cuja aula de desenho teve por mestres José Maria de Medeiros e Victor Meirelles; em 1881 matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes.

Teixeira da Rocha faleceu em 1941, no Rio de Janeiro

Concluiu brilhantemente o curso e começou a ensinar desenho na Escola Naval, ao mesmo tempo que se exercitava no pincel fazendo paisagens, pinturas de costumes e na litografia.

Excelente caricaturista, criou nome na especialidade. Era de esfuziante “verve” e malícia.

Sua paleta era de cores sadias e sua arte, com sólidas bases clássicas, equilibrada e perene. Foi medalhado várias vezes no Salão, tendo feito o quadro de interior, o retrato, a paisagem, a decoração e trabalhando tenazmente em 1938 expondo no Salão “Os primeiros pardais”, “No trabalho” e “Retrato de criança”, tendo falecido em 1940 e deixado um nome que honrará sempre o pintor alagoano.

Aldeia da Bretanha de 1894, França

Dois anos após o nascimento do eminente pintor de “Paisagem com figuras”, quem surge ao mundo na velha cidade das Alagoas, aos 26 de novembro, é Rosalvo Alexandrino de Caldas Ribeiro, a mais pujante organização artística da terra de Sinimbu e Tavares Bastos.

Começou cedo a caricaturar, a traçar figuras e executar paisagens, caoticamente, sem mestres. Como se quisesse revelar uma predestinação.

Levado para Maceió, conclui alguns preparatórios e expõe trabalhos a óleo e a “crayon”. Em 1885, graças ao auxílio votado pela Assembleia Provincial, consequência de um projeto do qual foi relator na Comissão de Instrução Pública o hoje notável advogado e jurista dr. Manoel Clementino do Monte, que o admirou sempre, partiu para o Rio, matriculando-se na Imperial Academia de Belas Artes, destacando-se como aluno e talento especial. Três anos depois seguia para a Europa, matriculando-se na Academie Julien.

Em Paris, Rosalvo Ribeiro revela a sua tendência pelos assuntos militares e entra de visitar quartéis, assistir desfiles de tropas, observar toda a vida da caserna. Toma por mestre, o mestre do assunto: Edouard Debaille. E não tarda que no Salão Oficial surja o nome do jovem pincelista alagoano assinando triunfalmente “Juocencia”, “La Soumission” e “La Charge”.

Pintor Rosalvo Ribeiro

Durante onze anos, Rosalvo Ribeiro viveu na França, cercado de admiração e cheio de entusiasmo, fazendo a obra prima “O pequeno tambor”, “Cochet”, “Sansiuci”, “Sentinela perdida”, “Avançar” e tantos outros.

Regressando à sua terra, fez ainda o retrato e a paisagem, mas o meio foi pequeno para ele. Cortou-o de melancolia e desencanto, estiou-se os sonhos de rever Paris e realizar grandes telas. Morreu em 1915, elevado à glória incontestável de maior dos pintores alagoanos.

Os que surgem depois do mestre de “La Soumission” não lhe empanam o brilho da nomeada.

Dois foram até seus discípulos: Joaquim Brígido e Cortes Leão Xavier. Aquele nascido em 1870 e este em 1881.

Brigído era dotado de muita inteligência e vontade. Observava a natureza e procurou pintar com realidade e beleza. Fez paisagens dos arredores de Maceió, todas com muita cor local e retratos. Deixou obra pequena, mas honesta e segura.

Cortes Leão apareceu em 1897 com pintura sobre vidas, processo exclusivamente seu, fazendo também a paisagem e o quadro de “Gênero”.

Era de clara inteligência, tendo ensinado desenho e pintura e colaborado na imprensa local.

Dos melhores paisagistas alagoanos, com um sentimento real da natureza conterrânea, é de destacar-se José Paulino de Albuquerque Góis, nascido em 1893 e que infelizmente nunca deixou o Estado para mais ver e aperfeiçoar-se.

Com ele veem Miriam Falcão Lima, Ana Sampaio Duarte Gondim, trabalhadora e estudiosa, aqui [no Rio] tendo estudado com Lucilia de Albuquerque e Mr. Broces, modesto e esforçado, falecido em 1937; Maria Alice Moraes Sarmento, primeira caricaturista alagoana; José Menezes, já laureado no Salão oficial, Maria Costa, Eurico Maciel e outros.

Conclui-se que de artistas de grande mérito, capazes de ombrear-se com os maiores do país, Alagoas possui Teixeira da Rocha e Rosalvo Ribeiro.

Os outros não se elevaram ainda à glória imortal de ambos, mas concorrem para o bom nome da pintura na terra de tantos heróis iluminados.

2 Comments on Gênese e Evolução da pintura em Alagoas

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 6 de setembro de 2022 em 17:12 //

    Mais uma vez, imensamente grato, caro Ticianelli, pela publicação desta magnífica reportagem. Fraternal abraço, Claudio Ribeiro

  2. Marcos Flores // 14 de setembro de 2022 em 12:00 //

    Obrigado. Sou pincelista: Marcos Antonio Correia flores

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