Diocese de Alagoas: alguns subsídios históricos
Texto publicado originalmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, nº 39, de 1984
D. Otávio Aguiar
Começamos por caminhar em terreno perigosamente escorregadio. A ausência de documentação tem levado pesquisadores e estudiosos a parar em conjecturas mais ou menos inseguras e sombreadas de dúvidas, não sendo raras as opiniões conflitantes entre os que se deram ao trabalho de fixar datas ou, pelo menos tentar aproximações. Os arquivos eclesiásticos, diocesanos ou paroquiais, poderiam, por sua natureza, constituir fontes preciosas de referências merecedoras de fé. Esses mesmos, infelizmente, são omissos.
Compreende-se. No período colonial, as instituições eclesiásticas, do mesmo modo que as civis, se estabeleciam ao sabor das improvisações ou das circunstâncias do momento, e, como é fácil entender, de conformidade com o espírito e a mentalidade do tempo. Mal poderiam supor, os responsáveis pelas instituições que se criavam, que a ciência histórica montada, séculos depois em dados sistemáticos e acima de quaisquer dúvidas, iria enfrentar as dificuldades que tem hoje diante de si. Ignoravam, por certo, que seus passos, iniciativas e gestões viessem a ser estudados com tanto interesse, em nossos tempos, pelos que se dedicam a recompor acontecimentos de que foram protagonistas.
Se, como escreveu J. C. de Macedo Soares, a história da Igreja Católica no Brasil ainda está por ser escrita, o mesmo deve ser dito em relação a cada Estado ou à grande parcela das circunscrições eclesiásticas. Ao enumerar as causas dessa omissão, o autor de FONTES DA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL cita os desfalques dos arquivos das cúrias e conventos que, afirma sem reservas, são fruto do “descaso dos que deveriam ser os seus principais defensores”. (1)
No que se refere especificamente à criação das dioceses, inexiste maior dificuldade, porquanto os documentos de que emanavam são rigorosamente conservados nos arquivos do Vaticano cuja organização, como se sabe, é modelar. A mesma coisa não se pode dizer da criação de paróquias que dependia, entre nós, no período colonial como no império, de alvarás, decretos, resoluções ou leis assinadas por autoridades civis, em face de normas e cláusulas que acompanhavam as relações entre os governos e a autoridade central da Igreja.
Nosso intuito inicial era fazer uma cronologia completa das paróquias das Alagoas, antes da instituição canônica da Diocese, o que só em parte conseguimos, em razão das nebulosidades e incertezas dos três primeiros séculos. Só na medida em que nós vamos aproximando dos nossos tempos é que as coisas se vão comportando diferentemente, como é natural.
AS PARÓQUIAS
Tem-se como certo que a primeira paróquia criada no território alagoano foi a de PORTO CALVO. Persistem, porém, as dúvidas em torno da data exata em que foi criada. Presume-se que remonta ao século do descobrimento, mas documentos que o confirmem não são conhecidos. Manuel Diegues Junior, no seu livro BANGUÊ NAS ALAGOAS, escreveu:
“Não se conhece com exatidão a data em que foi criada a primeira freguesia nas Alagoas. Sabe-se que foi Porto Calvo porquanto já figura na FOLHA GERAL que acompanha o alvará de 10 de junho de 1617. Quando, porém? Não há notícia exata; pode-se admitir, entretanto, que data dos últimos anos do século XVI, pois, a esta época, Cristóvão Lins tinha engenhos de açúcar na região portocalvense, mantinha capela nos seus engenhos e, em 1600, era feito alcaide-mor de Porto Calvo”. (2)
O alvará de 10 de junho de 1617, dirigido às capitanias do Brasil, a que se refere o escritor alagoano, dizia:
“Ao vigário de Porto Calvo, cincoenta mil réis anuais de ordenado. Ao seu coadjutor, vinte e cinco mil réis. De ordinária, de vinho, azeite, farinha e cera para o culto divino, vinte e três mil e novecentos e vinte reis”.
Referência não é feita aí a nenhum outro vigário nas Alagoas, sendo, portanto, lícito concluir, por exclusão, que tenha sido realmente ela a primeira que foi instituída em nossas terras.
A segunda e a terceira foram as de PENEDO e ALAGOAS, conforme opinião dos nossos historiadores. Sobre a data exata, nenhum documento é conhecido. Conjectura-se que são do início do século XVII. Diégues Junior assevera na obra supra referida que “Penedo e Alagoas já eram freguesias em 1631, quando começa a invasão holandesa”.
Que o tenham sido antes da invasão holandesa, parece não haver dúvida entre os que escreveram sobre o assunto. Cícero Vasconcelos, estudioso que foi das origens das paróquias alagoanas, situa a criação da das Alagoas entre 1616 e 1633. (3) Em artigo publicado na Revista do Instituto Histórico a propósito do assunto, afirmava o Dr. João Francisco Dias Cabral:
“Não marcam as crônicas a época em que ereta fora a freguesia, mas é provável que os emigrantes já assentes no território banhado pela Lagoa Manguaba em fins do século XVI, depois do completo desbarato dos gentios, tivessem levantado casa de oração e procurassem dar-lhes sem delongas os privilégios de primazia“. (4)
Como se vê, mera suposição.
Nossa Senhora foi dada como orago a essas três freguesias, sob os títulos de N. Senhora da Apresentação, do Rosário e da Conceição, respectivamente, tudo fazendo acreditar que tal providência havia sido estabelecida nos alvarás que lhes deram origem. Era como se procedia e ainda se procede nos atos oficiais de criação de paróquias.
Em ordem cronológica vem, em quarto lugar, SANTA LUZIA DO NORTE, embora que não se tenha podido determinar, até hoje, a data precisa de sua criação.
“Já existia no ano de 1668“, afirma Dias Cabral. A IDEIA GERAL DA POPULAÇÃO DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO, documento considerado merecedor de fé, publicado na Revista do Instituto, registra que “esta freguesia da qual não consta sua ereção e só há memória de que no ano de 1654 já era povoação e tinha vigário…” (5)
Outras referências nada esclareceram com margem maior de segurança.
À freguesia de S. Luzia do Norte, segue-se a de SÃO MIGUEL. Incerta, igualmente é a data de sua criação. “Sabe-se que é pouco anterior a 1754, quando tomou posse o vigário Caetano de Souza Avelar” diz Tomaz Espíndola. (6) A IDÉIA GERAL, já citada, assinala que é anterior a 1702, sendo já curato em 1683. Sua padroeira é Nossa Senhora do Ó.
Logo após vem CAMARAGIBE. Sob esta designação entenda-se à atual Matriz de Camaragibe. Segundo a fonte anteriormente referida, sua criação data de 1708, e tem como orago o Senhor Bom Jesus. A sede da freguesia foi transferida para o Passo pela Resolução n° 417, de 9 de junho de 1864, quando do governo do vice-presidente Roberto Calheiros de Melo. Anos depois, pela Resolução n° 1.047, de 28 de dezembro de 1888, sancionada pelo presidente da Província José Cesário de Miranda Monteiro de Barros, foi restaurada com o antigo orago, Senhor Bom Jesus.
Em ordem de antiguidade, vem IPIOCA, instituída como Santo Antônio do Meirim. Segundo a IDÉIA GERAL
“foi ereta Matriz em 17 de julho do ano de 1713, pelo visitador do sul que, então, foi o Dr. Domingos Pereira Gil, com a faculdade que tinha do ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor D. Manuel Alvares da Costa, Bispo que foi de Pernambuco”.
Transferida para São Luís do Quitunde, como se verá adiante, foi, todavia, restaurada pela Lei n° 985, de 28 de junho de 1886, ao tempo do governo de Geminiano Brasil de Oliveira Goes. Não consta que tenha sido confirmada pelo Prelado Diocesano.
Na mesma ordem vem SÃO BENTO que, ainda de acordo com a mesma fonte, foi constituída em 1718, tendo sido entretanto, sua sede transferida, posteriormente, para Maragogi, pela Resolução nº 681, de 24 de abril, de 1875, passando a ter como padroeiro S. Antônio. No “Mapa das Igrejas do bispado de Pernambuco, suas Côngruas e Rendimentos”, documento que se encontra na “Seção de manuscritos sobre a Igreja no Brasil”, da Biblioteca Nacional, há indicação de que São Bento, a princípio curato, foi criada vigararia colada pelo alvará de 30 de maio de 1717. A indicação a que nos referimos consta “do rol de 1785“. Esta data deve ser considerada mais exata do que a acima aludida.
Com diferença de tempo relativamente pequena, foi criada a de POXIM, tendo por orago a Santa Madre de Deus. Segundo alguns, em 1718. Espíndola é de parecer que em 1726. Em 23 de junho de 1886, a sede foi transferida para Coruripe pela Resolução n° 484, sancionada pelo vice-presidente Galdino Augusto da Natividade e Silva.
Continuando na mesma rota, chegamos a TRAIPU, consagrada a Nossa Senhora do Ó. Existem também divergências quanto à data precisa. Em TERRA DAS ALAGOAS, A. Marroquim escreveu sobre ela:
“Ignoramos a data da criação da freguesia. Sabe-se, porém, que o era em 1826 o que se deduz da proposta apresentada pelo Conselheiro do governo Francisco José Correia, em sessão de 9 de fevereiro daquele ano, no sentido de criar a freguesia de Sant’Ana, desmembrando-a de Porto da Folha“. (7)
Porto da Folha era, então, o designativo de Traipu. Encontramos no arquivo paroquial de Palmeira dos Índios, um manuscrito segundo o qual, em 1771, João da Rocha Pires pedia licença ao vigário de Traipu para construir a capela de Santa Cruz hoje filial da paróquia de Major Isidoro. Examinando, porém, o rol das freguesias na
“Seção de Manuscritos sobre a Igreja no Brasil”, a que já nos referimos um pouco acima, lá encontramos em relação a Traipu: “Esta igreja foi curato, depois criada vigararia colada pelo alvará de 3…….. do ano de 1733“.
O nome do mês está ilegível no documento, mas aparece claro o do ano. Em face do que, damos preferência a esta última data.
PORTO REAL DO COLEGIO é a seguinte. Segundo o autor de BANGUÊ NAS ALAGOAS, é de 1760. Tomaz Espíndola, todavia, diz simplesmente: “Ignora-se a data de sua criação”, enquanto a IDÉIA GERAL afirma: “Esta freguesia foi desmembrada da de N. Senhora do Ó em 1763“. A sede de Porto Real foi transferida para São Brás pela Resolução n° 231 de 11 de julho de 1853. A Lei n° 413 de 1 de junho de 1864 revogou aquela Resolução. Sua titular é N. Senhora da Conceição.
ATALAIA veio logo após. De acordo com a IDÉIA GERAL, sua origem é de 1763. Em 1749 já existia a Missão de Nossa Senhora das Brotas, segundo se registra.
“Ignora-se a data da elevação de Atalaia à freguesia, não passando de suposições o que a respeito dizem os nossos historiadores, e, entre ele Espíndola. Segundo esse douto investigador, o acontecimento data de 1763“.
A afirmação é de A. Marroquim em TERRA DAS ALAGOAS (8). Como se vê navegamos num mar de incertezas.
PALMEIRA DOS ÍNDIOS, que tem como padroeira Nossa Senhora do Amparo, foi a imediata.
“De um livro de assentos de casamentos consta que no dia 12 de junho de 1768 já era seu pároco o reverendo Julião Leite da Cunha, e, de outro documento consta que, de 1778 a 1780, foi construído por Frei Domingos de S. José, um templo na aldeia dos índios de Palmeira, e que em 1798 o poder competente reconheceu a necessidade da criação de uma paróquia na referida aldeia, sendo ereto em matriz nesse mesmo ano, o mencionado templo sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo.”,
escreveu Espíndola em sua GEOGRAFIA ALAGOANA. Registre-se que o livro a que se refere o historiador já não existe no arquivo daquela paróquia.
Passamos aqui para o século XIX, quando os dados são mais explícitos e mais seguros. ANADIA, desmembrada de São Miguel, é a primeira paróquia criada nesse século com o patrocínio de Nossa Senhora da Piedade. Instalou-a, em 2 de fevereiro de 1802, o visitador Joaquim Saldanha Marinho, que teve, para isso, autorização do Bispo de Olinda, D. José da Cunha de Azeredo Coutinho, o mesmo Bispo que fundara o afamado Seminário de Olinda, um dos focos das ideias liberais que se difundiram em Pernambuco nas duas primeiras décadas do século XIX, e que levaram os pernambucanos às duas revoluções de caráter republicano da época.
Em 8 de janeiro de 1821 era inaugurada a freguesia de MACEIÓ, criada em virtude do alvará de 5 de julho de 1819, desmembrada de Santa Luzia do Norte, sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres. Sua igreja matriz teve a honra de receber, no início do século corrente, a prerrogativa de Catedral. É a igreja-mãe da diocese.
UNIÃO DOS PALMARES vem logo depois de Maceió. Consagrada à Santa Maria Madalena, foi criada pela Resolução n° 8, de 10 de abril de 1835 pelo presidente José Joaquim Machado de Oliveira.
A mesma Resolução criou, também, a freguesia de VIÇOSA, antiga Assembléia, sob o patrocínio do Senhor do Bomfim.
Em seguida vem PORTO DE PEDRAS. Sob a invocação de Nossa Senhora da Glória, a freguesia foi criada no governo do presidente José Joaquim Machado de Oliveira, pela Resolução Legislativa sancionada no dia 28 de abril de 1835. Sua sede foi transferida para São Miguel dos Milagres pela Resolução n° 417 de 9 de junho de 1864, sendo restaurada, entretanto pela Resolução n° 509, de 19 de dezembro de 1868.
Em 1836, pela Lei n° 9, de 24 de fevereiro, era criada a de SANT’ANA DO IPANEMA, no governo do vice-presidente Francisco Elias Pereira, tendo por orago Sant’Ana.
Assinada pelo vice-presidente Manuel Sobral Pinto, a Lei Provincial n° 227, de 11 de julho de 1853, deu origem à de PÃO DE AÇÚCAR sob o patrocínio do Sagrado Coração de Jesus,
PILAR (antiga Manguaba), veio imediatamente depois dessa última, tendo sido instituída pela Lei n° 250, de 8 de maio de 1854, ao tempo em que dirigia a administração pública das Alagoas o vice-presidente Roberto Calheiros de Melo. Padroeira: Nossa Senhora do Pilar.
Sob o patrocínio do Senhor Bom Jesus dos Pobres, no mesmo governo de Roberto Calheiros, foi criada a de QUEBRANGULO, pela Lei n° 301, de 13 de junho de 1856.
Em seguida, obedecendo sempre à ordem cronológica, coloca-se PIAÇABUÇU que recebeu São Francisco de Borja como seu padroeiro, criada pela Lei Provincial n° 359, de 11 de julho de 1859, quando presidia a Província Agostinho Luís da Gama que lhe deu a chancela oficial.
Logo após, ou seja, em 1861, veio MURICI, desmembrada de União dos Palmares e consagrada a Nossa Senhora da Graça. A lei de sua criação levou o n° 382, de 27 de julho. Referida lei foi assinada pelo presidente Antônio Alves de Souza Carvalho,
A paróquia de ÁGUA BRANCA continua a série de criações. Ela é de 1864, tendo-se originado, em 1° de junho, da Lei n° 413, daquele ano, que foi sancionada pelo vice-presidente Roberto Calheiros de Melo. Sua padroeira é Nossa Senhora da Conceição.
PASSO DE CAMARAGIBE foi sede de freguesia em 1864, pela Lei n° 417, de 9 de junho, que transferiu para ali a sede de Matriz (Camaragibe), tomando, como orago, Nossa Senhora da Conceição. Restaurada a freguesia de Matriz, com o primitivo padroeiro, a do Passo, entretanto, foi mantida.
LIMOEIRO, antiga filial de Anadia, tornou-se sede paroquial, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, em 26 de junho de 1865, pela lei provincial n° 456, que subiu à sanção do presidente Desembargador João Batista Gonçalves Campos, naquela data.
No mesmo ano, em 27 de junho, pela Lei n° 461, foi instituída a de JARAGUÁ, com a mesma chancela presidencial. Consagrada a Nossa Senhora Mãe do Povo, foi a segunda paróquia criada em Maceió.
O núcleo paroquial seguinte foi o de SÃO BRAS, com o titular do mesmo nome. Em sua origem está a Lei n° 702 que o vice-presidente Felipe de Melo Vasconcelos sancionou em 19 de maio de 1975. Salvo algum cochilo tipográfico, parece ter havido equívoco da parte de A. Marroquim que escreveu em TERRA DAS ALAGOAS: “Mereceu predicamento de freguesia por Lei Provincial n° 702, de 19 de maio de 1873”. (9)
IGREJA NOVA é de 17 de junho de 1880 e tem por padroeiro São João Batista. Foi criada pelo presidente Cincinato Pinto da Silva, através da Lei n° 849, que a desmembrou de Penedo.
Em prosseguimento vem a de SÃO LUIZ DO QUITUNDE, ereta em 22 de junho de 1882, pela Lei n° 869, quando governava a Província o vice-presidente Cândido Augusto Pereira Franco. A lei acima referida suprimiu a sede de Ipioca, transferindo-a para São Luís. Sua padroeira: Nossa Senhora da Conceição.
Passamos, em seguida, para SÃO JOSÉ DA LAJE que foi criada sob o patrocínio de São José. Esta paróquia nasceu da Lei n° 885, assinada pelo mesmo vice-presidente Pereira Franco, em 30 de junho de 1882, só recebendo instituição canônica, todavia, do Bispo D. José Pereira Barros, em 3 de maio de 1884.
Não muito depois, em 18 de julho de 1885, foi criada BELO MONTE (antiga Lagoa Funda), com a sanção que deu à Lei n° 960, o presidente Pedro Leão Veloso Filho. Nossa Senhora do Bom Conselho é a sua padroeira. A sede de Belo Monte, entretanto, foi aos poucos sendo transferida para Batalha, sem caráter oficial, é certo, o que só aconteceu em setembro de 1968, por decreto emanado da cúria diocesana de Palmeira dos Índios a que passou a pertencer, sanando-se, dessa maneira, uma situação de fato. A paróquia passou, então, a ter o patrocínio de Nossa Senhora da Penha, padroeira de Batalha.
Apesar de não haver sido oficialmente instalada, cabe menção, aqui a COLÔNIA LEOPOLDINA, criada pela Lei n° 1.054, de 27 de junho de 1889, com o patrocínio de Nossa Senhora do Carmo, e sancionada pelo vice-presidente da Província Manuel Messias de Gusmão Lira. As mudanças políticas introduzidas no país pelo advento da República, cinco meses depois, com a separação da Igreja do Estado, talvez tenham concorrido para a ausência de confirmação canônica. Em 1918, D. Manuel de Oliveira Lopes, 2° Bispo das Alagoas, estabeleceu aí um curato, concedendo provisão de capelão, com jurisdição paroquial, ao Pe. Francisco Gerarts, sacerdote da Congregação do Sagrado Coração de Jesus. Por decreto, finalmente, de D. Ranulfo da Silva Farias, foi instituída oficialmente a paróquia em 8 de fevereiro de 1947.
Duas outras freguesias foram ainda criadas no século passado: PIRANHAS e POÇO DAS TRINCHEIRAS, pela Lei n° 964, de 20 de julho de 1885, no governo do presidente Pedro Leão Veloso Filho. A primeira, sob a invocação de Nossa Senhora da Saúde; a segunda, sob a invocação de São Sebastião, ficando ambas prejudicadas até hoje, por falta de confirmação ou instituição canônica do Bispo de Olinda.
Esse era o quadro da administração eclesiástica em terras alagoanas, no que se refere à estrutura paroquial, no período anterior à criação da diocese, no alvorecer do século atual. Trinta e cinco paróquias apenas, em todo o território do Estado.
Nosso objetivo, ao proceder às pesquisas que resultaram no ordenamento dos dados acima, foi de interesse estreitamente histórico, limitado, pois, a identificar os atos oficiais que deram origem aos diversos núcleos paroquiais, razão pela qual não descemos à análise crítica do modelo pastoral de então. Registramos, apenas, que, em referência ao tipo de atuação das paróquias, outra alternativa para as tarefas de evangelização não era sequer suspeitada. Há, nos dias que correm, os que questionam a estrutura territorial das paroquias, mas que substantivos foram apresentados até hoje, nenhum ao que saibamos. Nas grandes aglomerações urbanas da atualidade, com seus problemas próprios, tem-se pensado em paróquias de base sociológica, ideia que ainda não vem sendo posta em prática, a não ser em experiências muito isoladas. O futuro dirá de sua eficácia pastoral. No mundo rural, pelo menos não enxergamos como possa a estrutura paroquial ser modificada, a ter em conta a realidade que aí está sob o ângulo de visão de quem deseje ver as coisas menos superficialmente.
Ela continuará por muito tempo ainda, acreditamos, renovando-se, ao sopro do Espírito, e aperfeiçoando a sua capacidade de oferecer respostas às novas exigências da evangelização do nosso povo.
OS ARCIPRESTADOS
Como é fácil imaginar, as relações entre as paróquias e a sede do Bispado eram forçosamente escassas, o que se traduzia em dificuldades de toda a ordem, não somente no que diz respeito à vida pessoal dos sacerdotes, mas também às suas atividades pastorais, sentidas, como deviam ser, as carências insuperáveis dos meios de comunicação, num tempo em que o lombo do cavalo era a única solução para encurtar distâncias. Não são para admirar, menos ainda para condenar as falhas apontadas tanto no plano existencial dos sacerdotes de então, isolados que viviam dos seus Bispos e dos irmãos, quanto na própria maneira de exercer as suas funções pastorais, não raras vezes prejudicadas por atividades políticas.
Analistas e críticos apressados se dão, por vezes, ao lazer de lançar condenação sobre as figuras dos antigos párocos, enfocando-as sob os aspectos de suas deficiências tão somente, e fazendo vista grossa sobre as dificuldades do contexto humano e social em que arrastavam penosamente suas vidas até o fim. Com o enfoque pastoral de hoje, essa é que é a verdade, não se pode condenar in limine os métodos de trabalho de ontem ou as deficiências dos seus agentes. Fazemos a ressalva, não para justificar essas deficiências ou deslizes de ordem pessoal, mas para reparar injustiças que costumam ser feitas. Falhos, sem dúvida, em numerosos casos, nos seus métodos de evangelização e nas suas próprias vidas, os velhos curas dessas freguesias fizeram o que lhes permitiam a formação pobre que receberam, e as precárias condições sociais que os cercavam. Louvemos o heroísmo de muitos, compreendamos as deficiências de quase todos, e a Deus agradeçamos a herança de religiosidade que se encarregaram de transmitir de uma geração para outra.
O fato é que a vastidão territorial da Diocese de Olinda impunha uma tomada de providência de ordem administrativa destinada a facilitar o exercício das atividades paroquiais. D. Manuel dos Santos Pereira, que governou o Bispado de Olinda de 1893 a 1900. sentiu de perto essa necessidade. Portaria emanada da cúria episcopal em 13 de março de 1895, criava, então, três arciprestados: o do oeste de Pernambuco, o do oeste de Alagoas, e o do baixo São Francisco. O segundo deles, com sede em Água Branca, compreendendo as freguesias de Ipanema, Águas Branca, Mata Grande, Tacaratu (Pernambuco), Pão de Açúcar, Águas Belas (Pernambuco) e Belo Monte (parte regida pelo vigário de Pão de Açúcar). O terceiro, sediado em Penedo, compreendendo as paróquias de Traipu, Belo Monte (parte regida pelo vigário de Traipu), São Brás, Porto Real do Colégio, Igreja Nova, Penedo, Piaçabuçu e Coruripe. (10)
Não consta que Bispos anteriores tivessem tomada essa iniciativa. É possível que não, devido a que as atribuições outorgadas aos arciprestes eram exercidas de maneira centralizada pelo vigário geral forense de Alagoas (Marechal Deodoro).
Ao arcipreste eram concedidas, por delegação, diversas faculdades cujo exercício só aos Bispos competia, quer em virtude do seu poder ordinário, quer por delegação da Sé Apostólica. O arciprestado, além de constituir um elo entre as diversas paróquias e seus respectivos vigários, significava a presença do Bispo Diocesano na vida paroquial, incumbindo ao titular dar contas periodicamente, ao prelado, da situação religiosa de sua área, bem como das dispensas e licenças concedidas em benefício dos paroquianos. A providência era, sem dúvida, não só oportuna mas desejada.
O primeiro arcipreste do oeste das Alagoas foi o Pe. Joaquim de Siqueira Torres, filho do Barão de Água Branca.
VIGARARIA FORENSE
Outra modalidade através da qual o Bispo de Olinda exercia o seu pastoreio na parte da Diocese constituída pelo território das Alagoas era a vigararia geral. Quando foi criada a vigararia geral, não se sabe. Sabe-se, porém, que é anterior a 1755 e era exercida normalmente pelo vigário de Alagoas (Marechal Deodoro). Em manuscrito da Biblioteca Nacional se lê:
“Os párocos da vila das Alagoas são vigários gerais subordinados ao vigário geral do bispado por via de Apelação, tendo a mesma jurisdição que a constituição concede ao vigário geral de Sergipe del-Rei, e o Bispo Aranha, por portaria de 25 de fevereiro de 1755 lhes permitiu algumas ordens mais”.
Os dois últimos vigários gerais do território alagoano, enquanto pertencia ao Bispado de Olinda, foram o cônego Antônio Manuel de Castilho Brandão e o Pe. Manuel Antônio da Silva Lessa que ocupava o cargo ao tempo da criação da Diocese. Sua provisão rezava:
“tendo em consideração à grande necessidade que tem o Estado de Alagoas de um vigário geral forense com faculdades mais amplas do que as tem o arcipreste…” (11)
É preciso registrar que a jurisdição do detentor do ofício se estendia sobre todas as paróquias alagoanas. Para se ter ideia da amplitude de suas atribuições, basta lembrar que, entre outras tarefas, deveria
“inspecionar os M.R. párocos e coadjutores de sua vigararia geral, informando-nos se os párocos cumprem fielmente o dever de residir em suas respectivas paróquias, se administram os santos sacramentos, se socorrem os enfermos das mesmas paróquias, se pregam aos domingos e dias santos, se ensinam o catecismo e fazem os competentes assentos nos livros de sua paróquia, se trazem a tonsura e hábito talar, e, enfim se praticam os deveres de curas de almas, de sacerdotes e de que fama e conceito gozam perante o público”.
As indicações acima constavam da portaria de nomeação do Pe. Lessa para o cargo. O documento exigia ainda:
“Deve-nos informar acerca da desmembração e criação de novas freguesias na sua vigararia e mudanças de sedes das paróquias existentes”. (Do arquivo da cúria)
Por essa pequena amostra pode-se ter uma ideia da amplitude das faculdades delegadas a essa autoridade eclesiástica
OS VISITADORES
O quadro da administração eclesiástica em terras alagoanas não estaria completo se não fizéssemos alusão aos Visitadores Diocesanos que exerciam o ofício de inspetores de todas as atividades da Igreja na região. Através deles completava-se o “controle” que, em parte, era mantido pelos arciprestes e vigários gerais forenses. Registre-se, por oportuno, que a sede episcopal, inicialmente localizada na Bahia e, tempos depois a partir de 1676, em Pernambuco — esta última com jurisdição até as fronteiras do Piauí — ficava a enorme distância das sedes paroquiais, com acesso difícil e penoso, o que justificava o fato de serem as visitas pastorais realizadas, ordinariamente, por esses delegados episcopais, como se fossem as próprias pessoa do Bispos. suas faculdades eram ainda mais amplas do que as do vigário geral forense e se estendiam sobre a vida global das paróquias. Nos editais que mandavam afixar, habitualmente, as portas das igrejas matrizes, ao chegarem para a execução de suas tarefas, ficava a população cientificada do sentido de sua presença e, ao mesmo tempo, convocada a prestar-lhes informações sobre determinados assuntos relativos à conduta dos vigários locais, maneira de desempenharem suas funções, bem como às condições religiosas e morais do povo e aos escândalos públicos que por ventura se verificassem.
Relação completa dos Visitadores que por aqui passaram é quase impossível de ser feita. No volume I da Revista do Instituto Histórico de Alagoas são mencionados, na seguinte ordem, os Visitadores que passaram pela paróquia de Alagoas do Sul, devendo-se subentender que os mesmos cumpriram sua missão em outras freguesias já então existentes, uma vez que dificilmente seriam nomeados para visitar uma só paróquia:
1686 – O tesoureiro da Sé de Olinda ………) tendo como secretário o Pe. João Dias Belo.
1689 – O licenciado Francisco Martins Pereira, chantre de Olinda, secretariado pelo Pe. Manuel Lopes de Araújo.
1690 – O licenciado Simeão Rodrigues de Sá, arcediago; secretário, o Pe. Luis Gomes Pinto.
1695 – O mesmo licenciado, secretariado pelo Pe. Gonçalo Tavares Sarmento.
1696 – O Dr. Baltazar de Farias Miranda; secretário, o Pe. Francisco Lopes.
1701 – Dr. Baltazar de Farias Miranda; secretário, Pe. Antônio Dias Monteiro.
1703 – O licenciado Cônego André de Barros Cavalcanti; secretário, Pe. Fernando Brandão.
1705 – O mesmo.
1717 – Bernardino W. Lemos.
1718 – O licenciado Cônego Manuel Pereira Rebelo; secretário, Pe. Bento Bezerra de Menezes.
1719 – Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, mestre escola; secretário, Pe. Domingos de Souza Alvares.
Ao registrar a criação da paróquia de Ipioca, a IDÉIA GERAL, repetidas vezes por nós citada, faz referência a Domingos Pereira Gil que a instituiu. O Dr. José Próspero Caroatá lembra Antônio Teixeira de Lemos que foi Visitador em Penedo, em 1764. Tomaz Espíndola, em sua GEOGRAFIA ALAGOANA, e Nicodemos de Souza Jobim em trabalho monográfico sobre Anadia, publicado em 1880, mencionam os seguintes: Joaquim Saldanha Marinho, pernambucano, Cônego da catedral de Olinda, em 1802.
1806 – Dionísio de Souza Bandeira, notário do Santo Ofício. vigário de S. Antônio, no Cabo.
1809 – Francisco de Borja Acioli.
1816 – João da Silva Fonseca, vigário de S. Antônio, em Garanhuns.
1828 – Francisco José Correia.
1842 – O mesmo.
1844 e 1847 – Lourenço Correia de Sá, cearense, vigário da freguesia de São José, no Recife.
1849 e 1853 – Antônio Joaquim da Silva, alagoano, vigário de Penedo.
1855 – Francisco de Holanda Chacon, paraibano, vigário do Brejo da Areia.
1856 e 1859 – Afonso de Albuquerque Melo, alagoano.
1862 e 1864 – Camilo de Mendonça Furtado, paraibano, vigário de Igaraçu.
1866 – João Crisóstomo de Paiva Torres, natural do Rio Grande do Norte, Cônego da Sé de Olinda. (12)
No arquivo da Arquidiocese de Maceió existe documento que contém o edital e termos de visitas realizadas pelo Pe. Jonas de Araújo Batinga, em 1895, às paróquias de Anadia, Limoeiro, Palmeira dos Índios e Quebrangulo.
PRESENÇA DE BISPOS DE OLINDA
Sobre a estada de Bispos de Olinda em visita pastoral ao território alagoano, as notícias são extremamente minguadas. Nada existe registrado nos Livros de Tombo das diversas paróquias que foram pesquisadas. Os jornais editados no século passado nenhuma notícia, por seu lado, publicaram sobre qualquer visita feita a nossa terra por pastores olindenses. Aqui e acolá podemos ter conhecimento da vinda de um ou outro até às Alagoas, destacando-se, entre eles, D. João da Purificação Marques Perdigão.
O primeiro a realizar oficialmente uma dessas visitas a paróquias da região, de que tenhamos notícia, parece ter sido D. Frei Francisco de Lima, o 4° Bispo de Olinda, que governou a Diocese entre 1695 e 1704. Dentro desse período, sabe-se, ao menos, que esteve em Marechal Deodoro. E nada mais. É impossível que durante todo o século XVIII não tivesse nenhum outro estado em tão vasta parte sob sua jurisdição, mas documento indicador dessa ocorrência não chegamos a encontrar
Já de D. João Perdigão, que ocupou o sólio pontifício de 1821 a 1864 — O mais longo período de pastoreio registrado na crônica do Bispo de Pernambuco — visitou pastoralmente as Alagoas durante todo o ano de 1835. De sua permanência entre nós deixou longo relatório por ele mesmo escrito e que a REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO publicou em 1892, no tomo LV, com o título “Itinerário das Visitas feitas na sua Diocese pelo Bispo de Pernambuco“. (13)
Pormenorizado registro fez ele, naquele relatório, dos trabalhos a que se dedicou nesse itinerário, sobressaindo-se a descrição dos seus contatos com os cabanos que ainda infestavam a zona norte das Alagoas limítrofe de Pernambuco. Foi esta, certamente, a tarefa mais importante de sua estada entre nós, tarefa que realizou com tal coragem, prudência e sabedoria, que lhe valeu o título de “pacificador dos cabanos“.
A excursão pastoral de D. João Perdigão teve início na então paróquia de São Bento (Maragogi), no dia 30 de janeiro de 1835, seguindo ele no mesmo dia para Porto de Pedras e Porto Calvo, assistindo-lhe, como companheiro de viagem, o vigário de Alagoas (Marechal Deodoro), Domingos José da Silva. De Porto Calvo deslocou-se o prelado para Jacuípe, região ocupada pelos cabanos, passando depois de meses de trabalho junto a eles, para Porto Calvo, Porto de Pedras, S. Miguel dos Milagres, S. Antônio — grande, Ipioca, Maceió, Alagoas (Marechal Deodoro), Jequiá, Poxim, Coruripe, Penedo, Porto Real do Colégio, São Brás, Traipu, Brejo Grande, Piaçabuçu, Junqueiro, Limoeiro, Anadia, São Miguel, Atalaia, Santa Luzia, Coqueiro Seco, Maceió, Barra de Santo Antônio, Matriz de Camaragibe, Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres, última estação de sua longa viagem, toda ela feita a cavalo.
Curiosas e edificantes são as observações que faz no relatório, å respeito dos incômodos e sacrifícios de sua excursão. Fazem-nos lembrar até as peripécias e tribulações do ministério pastoral descritas por São Paulo em sua segunda carta aos coríntios. Sobre a viagem que fez de Jacuípe a Porto Calvo escreveu:
“Este dia de viagem foi o mais terrível que suportei no espaço de seis meses, por ser obrigado a passar alguns lagos com água até a cintura, e alguns atoleiros, em um dos quais fui carregado por dois soldados; em outro lago caiu o cavalo, e me arrojei em um pouco de junco dentro d’água, e anoitecendo antes de chegar a Porto Calvo uma légua, caminhei a pé por três vezes, calcando lama, e metendo os pés em buracos denominados caldeirões, com água até o meio das pernas por causa da escuridão, e posto que aquela defluxão não se tivesse desvanecido, contudo não senti aumento na moléstia, apesar de caminhar por muitas horas com as botas cheias d’água“.
Ao chegar a Santo Antônio — grande, suas condições físicas não eram das melhores, segundo confessava:
“E como caminhasse com grande fraqueza em razão do alimento diminuto, por falta de vontade, depois que desembarquei na barra de Camaragibe, comi alguns ovos e bananas que por acaso encontrei na casa de umas mulheres viúvas que me prestaram todo agasalho”.
Em Atalaia a erisipela o ataca:
“…e dispondo-me a crismar os homens fui acometido de uma grande erisipela na perna esquerda, e recolhendo-me na sacristia, fui para casa conduzido em uma rede…”.
Sucessos semelhantes fazem ainda parte da narrativa. Arrastou-as, porém, sem desânimo, deixando uma legenda de bondade e capacidade de servir.
Eis o que escreveu sobre ele e sobre sua atuação junto aos cabanos Tomaz Espíndola:
“No meio dessas matas, sofrendo todas as privações da vida e incômodos pessoais por espaço de meses pôde, afinal, com a palavra de Deus e com o prestígio de suas vestes e virtudes, conseguir que os rebeldes, talvez em número excedente de 15.000, depusessem as armas, e procurassem viver no seio da religião cristã e da sociedade, sob promessas de que ele, Bispo, obteria, como obteve, da regência, uma anistia terminando, assim, essa cabanada selvagem que não seria fácil de acabar com a força e o estrépito das armas“. (14)
A propósito dele escrevia também Jaime de Altavila em sua HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO DAS ALAGOAS:
“O que não fizeram as clavinas, fez a palavra do piedoso bispo que foi, na sua ausência auxiliado em tão meritória missão pelo missionário penedense Frei Domingos da Santa Cruz“. (15)
Outro que esteve em visita às Alagoas foi D Manuel do Rego Medeiros. O prelado, que tomou posse da Sé de Olinda em 21 de janeiro de 1866, visitou Maceió nesse mesmo ano. Lê-se no Livro de Tombo de São Bento (Maragogi), página 10, que tendo falecido enquanto realizava trabalhos pastorais aqui, foi sepultado na Igreja-Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres. A nota do Livro de Tombo é lacônica e nada acrescenta sobre o caráter da doença que lhe arrebatou a vida. Entretanto, Fernando Câmara, membro do Instituto Histórico do Ceará, em conferência pronunciada em 5-4-1982 naquela Casa de cultura — e que teve a gentileza de me enviar — informa-nos que o seu falecimento, ainda no início de suas atividades pastorais, teve por causa uma “terrível febre cerebral” que o acometeu em nossa capital. Era ele cearense, natural de Aracati, tendo sido, segundo Fernando Câmara, o primeiro Bispo cearense.
Diz-nos Félix Lima Júnior que D. Manuel Medeiros foi quem escolheu o local para a construção da igreja do Poço, a fim de que servisse “ao povo do Poço e Mangabeiras, pois as igrejas mais próximas eram as matrizes de Maceió e Jaraguá“. (16)
José Pereira da Silva Barros, que dirigiu a Diocese de 1881 a 1891. foi o último Bispo de Pernambuco que esteve entre nós. Consta do Livro de Tombo n° 2, da paróquia de Água Branca, ter o prelado visitado em 1883 aquela paróquia, de onde seguiu para Mata Grande.
Demorou 15 dias em ambas, seguindo para as freguesias das margens do São Francisco.
Em sua primeira carta pastoral, de saudação aos diocesanos, D. Antônio Brandão, nosso primeiro Bispo, refere que ele visitou diversas paróquias, salientando que sua passagem entre nós foi um acontecimento de alta importância e que muito lhe devemos.
*Texto publicado originalmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, nº 39, de 1984.
BIBLIOGAFIA
- Macedo Soares. FONTES PARA A HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL, S. Paulo, 1954, pág. 5.
- Diegues Júnior, Manuel. O BANGUÊ NAS ALAGOAS, ed. do IAA, Rio de Janeiro, 1949, pág. 7.
- Vasconcelos, Cícero. A ARQUIDIOCESE DE MACEIÓ E SUAS PARÓQUIAS. ed. do DEI, pág. 10.
- Dias Cabral, Dr. João Francisco. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALAGOAS, n° 2 18…
- IDEIA GERAL DA POPULAÇÃO DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO. In Revista do Instituto, 1906, pág. 365.
- Espíndola, Tomaz do Bom Fim GEOGRAFIA ALAGOANA, 2ª edição, Tipografia de O LIBERAL, 1871, pág. 147.
- Marroquim, A. TERRA DAS ALAGOAS, ed. Maglione & Strini, Roma, 1922, pág. 74.
- Ibidem, pág. 175.
- Ibirem, pág. 166.
- LIVRO DE TOMBO n° 2. Paróquia de Água Branca.
- Ibidem, pág. 82.
- Espindola, Tomaz do Bom-Fim. GEOGRAFIA ALAGONA, 2ª edição, tip. de O LIBERAL pág. 285 e ss.
- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO, tomo 1 V. pag. 27 e ss.
- Espíndola, Tomaz do Bim-Fim. Op. cit. págs. 265 e ss.
- Altavila, Jayme de. HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO DAS ALAGOAS, 6ª ed. 1975, pág. 64.
- Lima Júnior. Félix. In O SEMEADOR, set. 1964.
Na década de 60 D. Adelmo Machado reinava no Palácio Episcopal, imponente construção defronte à Estação Ferroviária da RFFFSA. Irradiava bondade e os fiéis mantinham um respeito quase obsequioso àquela figura mítica. Integrava o aparato protocolar diocesano o jornal O Semeador, acho que de tiragem diária, que dedicava boa parte de suas quatro páginas à pregação anti-comunista. Sem entender muita coisa, costumava ler um outro exemplar pq vovó nos obrigava, sob o pretexto de que dessa forma aprenderíamos a escrita culta.
Por favor, conta mais sobre a história da povoação do pequeno município sertanejo do Poço das Trincheiras, e sobre esses fatos da criação da freguesia.