Destruição e morte no temporal de 1928 no porto de Jaraguá em Maceió
A violenta borrasca que varreu o litoral brasileiro do sul para o norte nos últimos dias do mês de julho de 1928, atingiu Maceió entre às 10h30 da noite de 24 de julho e a madrugada do dia seguinte.
Considerada como uma das mais violentas tempestades do mar da história da cidade, provocou o naufrágio de quase todas as embarcações fundeadas no porto de Jaraguá e danos em vários prédios da capital, principalmente aos próximos ao litoral.
Na enseada de Jaraguá, onde os prejuízos foram maiores, os fortes ventos sul agitaram o mar e provocaram o naufrágio das 26 alvarengas carregadas de mercadorias que faziam o transbordo entre os navios e as pontes de embarque e desembarque, além de inutilizar um rebocador.
A firma Peixoto & Cia perdeu onze dessas alvarengas; a Companhia de Armazenagem e Transportes Gerais, nove; e a Transportes do Porto, seis. Foi possível encontrar o nome de algumas delas: Marieta, Deusdedit, Veado e Alice.
Algumas baleeiras tentaram ajudar, mas os barcos e escaleres que estava na área do porto também se espatifaram. O rebocador Carlos Broad, o único que não procurou abrigo na Pajuçara, ficou bastante avariado ao se chocar com uma ponte quando prestava socorro a uma embarcação.
Os vapores que estavam ali ancorados, se desgarraram e apitaram pedindo socorro aos rebocadores, como foi o caso do Itaipú, que foi acorrentado à ponte de embarque.
O Borborema, do Lloyd Brasileiro, foi salvo de ser empurrado para a praia pela perícia do prático do porto, Ulysses Rodrigues de França, que orientou o comandante desse vapor numa hábil manobra, incluindo cortar as amarras das alvarengas presas ao seu costado. Contou também com o apoio do vapor Itaipú, do Lloyd Nacional.
Agradecido, o comandante do Borborema redigiu o seguinte elogio: “Atesto que o prático Ulysses R. de França praticou esse navio em condições especiais, na noite de 24, do corrente mês, em que fundeado nesse porto, foi o navio acossado por violento temporal, garrando e indo à praia, não tendo ficado perdido graças à sua perícia e competência, aliada à calma e pleno conhecimento do local”. — (a.) Oscar Miranda.
Sofreram prejuízos em suas cargas os vapores: Itapuhy, que somente salvou a terça parte dos seus 1.230 volumes transportados; Rodrigues Alves, que perdeu 289 volumes; Orania, que viu ser inutilizado o carregamento de bacalhau com 8.000 barricas importadas para a firma Brasileiro, Galvão & Cia, que também perdeu mercadorias transportadas pelo Baron Elcho (caíram na água 2.600 latas de gasolina e 4.000 de querosene), além de grande quantidade de açúcar, algodão e aguardente.
As embarcações da Williams & Cia escaparam ilesas por terem, preventivamente, buscado refúgio na enseada da Pajuçara.
As pontes de descargas da Great Western e da Brasileiro, Galvão & Cia foram atingidas por alvarengas desgarradas e sofreram sérias avarias.
Às duas horas da madrugada, centenas de pessoas se achavam no cais prestando socorro aos salvos das alvarengas. Como desde uma hora a energia elétrica do bairro havia sido desligada pela Companhia Força e Luz por precaução, essa ajuda foi prejudicada.
Horas depois as areias da praia de Jaraguá, do fundo da Escola Aprendizes Marinheiros até as pontes de Goulart & Cia, estavam entulhadas de destroços de embarcações e pilhas de mercadorias inutilizadas.
Esse material teve que ser vigiado pela polícia, que manteve à distância os que normalmente procuram sinistros para recolher mercadorias.
Às 9h da manhã, surgiu na praia o corpo do “lancheiro” Antônio S. Miguel, que fora engolido pelas ondas quando tentava ajudar no salvamento das embarcações. Houve registro, não confirmado, do desaparecimento de mais três marinheiros.
Episódio semelhante aconteceu no mesmo local em 7 de julho de 1907. Na noite daquele domingo, também um violento temporal causou destruições no porto, deixando avariadas as barcaças Anna Leite e Laura Silva e as lanchas Carolina e Laurentina sofreram grandes danos. Os botes Adamastor e Brazil ficaram em pedaços e naufragaram os botes Voador e Baliza.
Os prejuízos não foram maiores porque todas as pequenas embarcações, lanchas, alvarengas e barcaças foram fundear no porto da Pajuçara, onde ficaram mais protegidos das ondas. Até a lancha a vapor do serviço de Saúde do Porto procurou abrigo ali.
Até os navios ancorados em Jaraguá tiveram problemas, mesmo com amarras sobressalentes. Em um deles, essas amarras se partiram. O vapor Honorius, ainda pela manhã, tentou entrar no ancoradouro, mas não conseguiu por recomendação do prático.
Os prejuízos provocados por essas duas tempestades foram utilizados largamente pelo comércio alagoano na reivindicação da construção do cais de atracação no porto da cidade, algo que somente começou a ser concretizado quando Getúlio Vargas baixou o Decreto nº 23.469, de 16 de novembro de 1933.
Com essa medida, a União, finalmente resolvia uma velha disputa de interesses pela construção. Autorizou o governo do Estado de Alagoas a realizar as obras e o aparelhamento do porto de Maceió e explorar seu tráfego durante sessenta anos.
No dia 31 de janeiro de 1935, um despacho do interventor de Alagoas encerrou outra polêmica histórica sobre onde deveria ser construído o porto, se na Pajuçara ou em Jaraguá. Escolheu uma das duas propostas vencedoras da concorrência pública realizada pelo Ministério da Viação.
Para a construção do porto na Pajuçara somente o Consórcio Companhia de Construções Civis e Hidráulicas (Cobrazil – Civilhidro) se habilitou. O porto de Jaraguá recebeu proposta das duas firmas, mas foi vencedora a Companhia Geral de Obras e Construções S.A. (Geobra), principalmente por estabelecer que somente receberia qualquer pagamento depois de concluídos os trabalhos e o equipamento experimentado.
A inauguração do Porto de Maceió ocorreu em 20 de outubro de 1940 com a presença do presidente Getúlio Vargas.
Excelente matéria. Parabens
Parabéns pelo trabalho. A história de um povo deve ser sempre lembrada e você se propôs a isto.
Como é bom saber sobre nossa história.
Simplesmente empolgante conhecer.