Dr. Alfredo Freire Leahy, o médico que deu nome ao estádio do Sport Club Penedense
O primeiro Leahy a se estabelecer em Alagoas foi o irlandês, “tradutor e interprete juramentado”, Patrick Leahy (1840 – 1890). Era casado com Hellen Walsh Leahy (1840 – 1897), também de origem irlandesa.
Provavelmente foi atraído à Alagoas pelos mesmos negócios que trouxeram da Bahia o engenheiro inglês Hugh Wilson, que chegou a Maceió nos últimos anos da década de 1860.
Patrick Leahy, com escritório instalado na Rua da Alfandega, nº 80, em Jaraguá, tinha um dos filhos, Miguel Walsh Leahy, como agente da Empresa da Estrada de Ferro Central, de Hugh Wilson.
Além de Miguel, o casal Walsh Leahy tinha outros filhos. A pesquisa consegui identificar John (João) Walsh Leahy, Carlos Walsh Leahy (casou-se com Julieta Fiuza Leahy), Maria Alexandrina Walsh Leahy Hunter e Alfredo Walsh Leahy.
Destes quem levou o nome da família para Penedo nos últimos anos do século XIX foi o baiano João Walsh Leahy, que ali se estabeleceu como “machinista”, conforme registrou o jornal O Trabalho em 1896. Esse profissional seria algo próximo do atual engenheiro mecânico.
Sua presença em Penedo naquele período se devia à expansão do polo industrial local. O município vivia seu tempo áureo, iniciado em meados daquele século com a inauguração da fábrica de óleos purificados e manipulação de arroz do Comendador Araújo e Filhos.
Na década de 1890, a principal instalação foi a da Companhia Industrial Penedense, criada pelo Comendador Manoel da Silva Peixoto, da firma Peixoto & Cia. A fábrica de tecidos entrou em atividade em 1898. Funcionava num moderno edifício e com maquinário de última geração, empregando 500 operários entre “homens, mulheres e meninos” e utilizava matéria-prima da zona do São Francisco. Sua manufatura era capaz de produzir 1.500 peças/semana de algodão. Distribuía para o mercado de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe.
Na virada para o século XX, Penedo sediava fábricas de tecidos, sabão; vinagre, cigarros, móveis e tamancos. Produzia óleos, refinava açúcar e café, curtia couros e beneficiava arroz.
Foi em meio a esse ambiente de trabalho e desenvolvimento que João Leahy casou-se, no dia 4 de fevereiro de 1893, na Igreja de N. S. do Rosário, com a jovem sergipana Adélia Glória Freire (nasceu em Capela em 1876 e faleceu em 1940). Era filha do bacharel Francisco da Silva Freire (1846 – 15/08/1923) e de Maria Erotildes da Glória Freire (1847 – 1929).
Adélia Freire tinha os seguintes irmãos e irmãs:
1 – Maria Esmeraldina Freire Ribeiro (1872 – 1949) – casou-se, em 31 de janeiro de 1891, com Manoel Pereira Ribeiro (1869 -1906). Sua firma Silva Freire & Ribeiro explorava uma loja de fazendas e miudezas. Foi o fundador da fábrica de óleo vegetais em Penedo em 1º de setembro de 1896, no Barro Vermelho. Faleceu em Penedo no dia 31 de outubro de 1906.
2 – Elfrida Freire (1875 – 1960) – casou-se com Antônio Garcia da Rocha (1875 – 14 de agosto de 1922). Tiveram cinco filhos.
3 – Alice Freire de Menezes (1879 – 1964) – casou-se com José Joaquim de Menezes (1873 – 1945).
4 – Isaura da Silva Freire (1880 – 1950) – cas0u-se com Antônio Joaquim D’athayde (1880 – 1945).
5 – Blandina Freire (1884 – 1960) – casou-se com Eduardo Pereira (1880 – 1950).
6 – Afra da Silva Freire (Afra Freire Fortes) (25 de fevereiro de 1886 – em 1972 estava viva) – Casou-se, em abril de 1903, com Arsenio M. Fortes (17 de março de 1867 – 1940). Tiveram duas filhas: Albertina Freire Fortes (casou-se em 16 de novembro de 1931 com o engenheiro Aloísio Freitas Melro) e Angelita Freire Fortes.
7 – Honorina Freire.
8 – Maria Otília Freire.
9 – Alice Freire.
João Leahy e Adélia Freire Leahy foram pais de dez filhos e filhas (o jornal Gutenberg registra oito filhos):
1 – Elenir Freire Leahy (1893 – 1965).
2 – Alfredo Freire Leahy (19/01/1895 – 24/06/1924).
3 – Haidée Leahy (1896 – ????).
4 – Helena Freire Leahy (1897 – ????).
5 – Maria Freire Leahy, a Marieta (1899 – ????) – casou-se, em 14 de novembro de 1922, com Jonas de Menezes Ramalho. Foram pais de Rinaldo Leahy Ramalho (1923 – 1990) e de Alfredo Leahy Ramalho (1925 – 1995). Um filho de nome Rinaldo faleceu nos primeiros dias de vida em março de 1924. Jonas de Menezes Ramalho era filho do clínico dr. Frederico Ramalho. Teve um irmão: João Ramalho (foi tesoureiro do Penedense).
6 – Julieta Freire Leahy (1900 – ????).
7 – Noélia Freire Leahy (1902 – ????). Casada passou a assinar como Noélia de Lemos Lessa.
8 – Mário Freire Leahy (1903 – ????). Casou-se com Celina Menezes Leahy. Foram os pais de oito filhos: John Menezes Leahy, Charles Menezes Leahy, Francis Menezes Leahy, Anthony Menezes Leahy, Alfred Menezes Leahy, Patrick Menezes Leahy, Winston Menezes Leahy e Edward Menezes Leahy.
9 – Isaura Freire Leahy (1904 – ????).
10 – Afra Freire Leahy (28 de novembro de 1905 – ????).
Na virada do século, João Leahy via a família crescer ao mesmo tempo que se consolidava como industrial, tendo concluído em abril de 1899 (Gutenberg de 16 de abril de 1899) a montagem dos maquinismos destinados a fabricação de farinha de milho. No anos seguintes seu nome passou a ser citado como proprietário de uma unidade fabril de óleos. Quando faleceu, vítima de problemas pulmonares, em 10 de agosto de 1905, o Gutenberg o tratou como um “operoso industrial” dotado de excelentes qualidades.
Alfredo Freire Leahy
Filho de João Leahy e de Adélia Freire Leahy, Alfredo nasceu em Penedo no dia 19 de janeiro de 1895.
Seus estudos tiveram início em sua cidade natal e prosseguiram em Maceió, onde estava em 1909 nos preparatórios do renomado Ginásio Alagoano, do professor Afrânio de Araújo Jorge, instalado na Rua Senador Mendonça, atual Rua do Livramento.
Aos 15 anos de idade, ainda em Maceió, começou a despontar para o cenário musical da cidade apresentando-se ao piano, como ocorreu no dia 8 de setembro de 1910 no Teatro Maceioense. Segundo o Gutenberg de dois dias antes, era o primeiro concerto promovido pelo Círculo Musical, “importante associação de musicistas nesta cidade”. Apresentou a sinfonia “Il Guarany”, de Carlos Gomes.
No dia 4 de outubro, Alfredo Leahy estava de volta ao piano no Teatro Maceioense acompanhando a apresentação do barítono Corbiniano Villaça.
Motivado por estas experiências na capital, organizou em Penedo o grupo musical “O Cisco”, que animou vários saraus da cidade.
Como compositor, teve obras publicadas pela Casa Carlos Wehrs, do Rio de Janeiro, e muitos anos depois, em 1983, suas composições também foram divulgadas no compêndio “Compositores Penedenses”, impresso em Maceió pela Coordenadoria de Extensão Cultural (UFAL), Arquivo Público de Alagoas e Secretaria Estadual da Cultura, em 1983.
Participou ainda da “Coleção Cadernos de Compositores Alagoanos nº 6” (Edson de Silva Porto, José de Lima Lessa, Manoel Tertuliano dos Santos, Sizino Barreiros da Cunha).
São de sua autoria e publicadas as seguintes composições: o Hino ao Sport Clube Penedense, a valsa Visão Fugitiva e Viva o Sport Club Penedense.
Concluiu o curso médico na Bahia em 1918, como registrou a Revista Bahia Ilustrada, e voltou a Penedo para exercer sua profissão.
Nos jornais, são poucas as informações sobre sua atividade como médico no Baixo São Francisco, mas em 1919 seu nome é citado por ter sido designado para atender as vítimas do impaludismo em Igreja Nova e Colégio, municípios próximos a Penedo em Alagoas.
Sua projeção como bom profissional da medicina atraiu os interesses dos partidos políticos e seu nome chegou a ser cogitado para disputar a Intendência de Penedo em 1920.
Não passou de cogitação, mas em julho de 1923 foi eleito 1º secretário do “Sport Clube Penedense”, agremiação fundada em 3 de janeiro de 1909 e que recebia dele toda a dedicação e contribuição possível.
Um ano depois, mais precisamente em 24 de junho de 1924, faleceu quando tinha apenas 29 anos de idade.
Sofrendo dores e infeccionado por obstruções do fluxo de biles por pedras biliares, precisava ser operado com urgência. Como em Penedo não tinha nenhum cirurgião, o próprio dr. Alfredo Leahy se prontificou a orientar quem se habilitasse a realizar o procedimento.
Ninguém se habilitou. Desesperado teria tentado, com uma faca de cozinha, ele mesmo realizar a operação. Foi contido pela família que aguardava a chegada de um médico procedente de Aracajú. O médico chegou a Penedo três horas após a sua morte.
Dias após o seu sepultamento, o estádio de futebol do Penedense passou a homenageá-lo. O Estádio Alfredo Leahy continua a sediar as partidas de futebol do campeonato alagoano, mantendo viva a lembrança do seu dedicado sócio e médico penedense.
Seu irmão, o professor Mário Freire Leahy, também prestou serviços importantes ao município. Em Maceió foi proprietário da famosa Casa Leahy. Penedo também o homenageou com a Rodovia Mário Freire Leahy, que interliga o Trevo Bom Jesus dos Navegantes e a Av. Beira Rio.
Excelente reportagem
Grande nome para o Spot Clube Penedense porém, hoje encontra-se esquecido, principalmente dos Campeonatos Alagoano.
Por qual motivo???…..
Maravilhosa essa história dessas tradicionais famílias penedense!👋👋👋👋 Parabéns pela postagem!!!
Olá, amei essa publicação, Adélia era tia materna de Tancredo Freire Ribeiro, meu bisavô adotivo, filho de Maria Esmeraldina Freire e Manoel Pereira Ribeiro, gostaria de ter mais informações sobre ele, fotos, pois dele só possuo apenas uma fotografia, e quase nada mais sei sobre ele