O Circo em Alagoas
Consta nos registros históricos que foi na Roma Antiga que surgiu o primeiro grande circo, o Circus Maximus. É do quarto século antes de Cristo e tinha capacidade para receber 150 mil pessoas. Atraía multidões para suas corridas de carruagens, lutas de gladiadores, animais ferozes e até para quem tivesse algum talento incomum.
Foi destruído por um incêndio em 40 a.C. e em seu lugar foi erguido o Coliseu, dimensionado para um público menor.
O circo semelhante aos que conhecemos hoje surgiu em 1768, em Londres, por iniciativa de um oficial da Cavalaria Britânica de nome Philip Astley. Era fixo, tinha picadeiro e uma estrutura funcionando como arquibancada.
O Anfiteatro de Astley apresentava inicialmente números com cavalos, mas em pouco tempo incorporou malabaristas e palhaços nos intervalos. Esse empreendimento articulava as milenares artes circenses em um único espetáculo. Agradou e foi copiado em todo o mundo.
No Brasil, os primeiros praticantes das artes circenses foram os ciganos que fugiam da Península Ibérica e que, por aqui, de cidade em cidade, faziam apresentações com ursos, cavalos, alguns números de ilusionismo e teatro de bonecos em tendas.
O circo com lona e picadeiro somente chegou ao Brasil em 1830. Teria sido o Circo Bragasse que abriu as portas para que famílias circenses europeias e norte-americanas percorressem o país, de porto em porto até Buenos Aires na Argentina.
Logo surgiram os circos montados no Brasil, que não tinham a pretensão de percorrer o mundo. Essa orientação definiu que os maiores investimentos não se dessem em equipamentos, mas privilegiassem o elemento humano, com sua habilidade e capacidade de aprender com os espectadores o que lhes agradava mais.
Foi assim que o palhaço ganhou papel de destaque nos circos brasileiros. Diferentemente dos palhaços europeus, que utilizavam a mímica, os brasileiros falavam muito e exibiam esperteza ou até mesmo malandragem.
Outra característica do circo no Brasil, nascida do interesse do público, foi a valorização das apresentações de risco para os artistas, como as evoluções no trapézio sem rede e o controle sobre animais ferozes.
Roberto Ruiz, em seu livro Hoje tem espetáculo? As origens do circo no Brasil (Rio de Janeiro: INACECEN, 1987), relaciona cronologicamente os circos que percorreram o Brasil de 1833 até os primeiros anos do século XX:
“Sucessivamente eles foram chegando e ficando: Albano Pereira, português (1833); Alexandre Lowande, americano (1861); Manoel Fernandes, chileno (1887); Tomás Landa, peruano (1887); os Nelson, ingleses (1872); José Rosa Savala (1887); Juloi Seyssel, francês (1887); os Palácios, argentinos (1884); os Ozon, franceses (1887); Leopoldo Temperani, italiano (1884); João Bozan, argentino (1881); Franck Olimecha, japonês (filho do patriarca Torakine Haytaka) (1888); Takasawa Mange, também japonês (1887); Francisco Azevedo, português (1874); José Ferreira da Silva Polidoro, português (1873); os Alciati, italianos (1893); Francisco Stringhini, italiano (1892); Antônio das Neves, português (1889); os Casali, argentinos (1874); Jean François, francês (1881); os Robatini, italianos (1892); os Stevanowich, iugoslavos (1892); os Queirolo (1910) e os brasileiros Antônio Carlos do Carmos, Manuel Pery, Galdino Pinto (pai do famoso Piolim), Sévula Rocha, João Alves, José Pantojo, Narciso de Abreu, a família Nogueira, Nestor de Freitas, Luiz Gonzaga, Hilário Maria de Almeida, Orlandino Leite, Isidoro Gonçalves, Juvenal Pimenta, a família Martinelli, Fred Villar, George (o Carequinha), a família Spinelli. Os Cardona e os Teresa merecem citações à parte”.
A pesquisa “Entre lonas e picadeiros: um estudo sobre as artes circenses”(1), de Thalita Costa da Silva e José Willington Germano, identifica ainda a origem do Circo Nerino, em 1913, como surgido a partir da união entre a família francesa de “tradicional ascendência circense, Armandine Ribolá (1897- 1977) e o descendente de italianos, Nerino Avanzi (1884-1962), que não pertencia à família tradicional de circo como Armandine que, porém desenvolveu grande apreço pelas artes desde a infância”.
Os primeiros circos em Alagoas
Não se conseguiu precisar quando o primeiro circo se apresentou em Alagoas, entretanto, considerando que algumas das companhias que se apresentavam em Recife na década de 1840 também fizeram espetáculos em Maceió, podemos tomar esse período como o do início das atividades circenses na capital.
O circo era um evento recente também para os pernambucanos nesse período. Algumas das publicidades citavam as apresentações sem mencionar que era um Circo.
Em 28 de janeiro de 1843, o Diário de Pernambuco anunciou a programação para o dia seguinte do “AMPHI-THEATRO NA RUA DA FLORENTINA” como sendo um “extraordinário espetáculo equestre e ginástico” proporcionado pela família e companhia de João Bernabó”.
Somente a partir de 14 de fevereiro foi que os anúncios deste jornal passaram a titular a programação como do “Circo Olympico”, que permaneceu em Recife até o dia 30 de abril. Nesse mesmo ano, a capital pernambucana recebeu o Circo Americano e o Circo New-York.
Foi esse mesmo Circo Olympico, de Antônio Carlos do Carmo, que 27 anos depois se instalou na Praça D. Pedro II em Maceió, com acomodação para 660 pessoas. Seu primeiro espetáculo da “companhia equestre ginástica” foi no dia 20 de outubro de 1870, como informou o jornal O Conservador dois dias depois.
Penedo também era rota dos primeiros circos que se apresentaram em Alagoas. Um deles, o Grande Circo de Penna & Bastos (Companhia Penna), estava naquela cidade em dezembro de 1878, conforme anúncio no Jornal de Penedo. Tinha oito cavalos e se apresentava com acrobacias equestres e “alta pilhéria, grossa galhofa e gaiatices do palhaço”.
Quatro anos após há o registro da presença de uma “companhia equestre” em Maceió, que tinha como destaque um urso: “O terror das selvas asiáticas executou trabalhos que dificilmente se podem imaginar, atenta a ferocidade do animal”, avaliou O Orbe de 10 de novembro de 1882.
Em outubro do ano seguinte esteve na capital o circo zoológico de João Gomes Ribeiro (Circo Americano). Pela nota publicada n’O Orbe de 28 de outubro de 1883, não era a primeira vez que essa companhia se apresentava em Maceió: “O snr. João Gomes já é muito conhecido por seu gosto artístico e merece nossos aplausos”. Permaneceu até dezembro.
Segundo o Gutenberg de 22 de fevereiro de 1885, naquela data encontrava-se em Maceió um circo equestre e zoológico de uma companhia inglesa. Sua propaganda dizia que tinha artistas que poderiam fazer rir as pedras e outros equilibristas que arrancariam admiração e espanto até de um gato.
Revelando que na época já se vendia “Gato por Lebre”, o jornal alertava para possíveis propagandas enganosas: “já estamos bem prevenidos contra companhias congêneres à que aludimos, as quais depois de anunciarem possuir um número fabuloso de hienas, camelos, búfalos, etc., distribuem cartazes colossais com emblema desses quadrupedes, tendo a cautela de escrever por baixo de cada um deles: — morreu no Peru, em Montevideo, na China ou no Japão!… E assim ficamos logrados”.
Depois de passar pela Bahia e Sergipe, estava em Maceió a Companhia Maravilhas, de José Ovídio Barbosa Lobo, em fevereiro de 1886. Por anúncio no Gutenberg de 14 de fevereiro, tinha mais de duas dezenas de profissionais, com 16 artistas, 12 cavalos e um jumento. Em março ainda estava na capital.
No dia 19 de fevereiro de 1887, o Gutenberg anunciou a chegada de uma companhia equestre em Maceió. Se instalou na Praça D. Pedro II e apresentou o primeiro espetáculo naquele mesmo dia. Esse Circo pertencia a Hilário de Almeida. A renda do espetáculo do dia 1º de março foi destinada ao diretor da orquestra que acompanhava o circo em Maceió, Josias Soares Mostardeiro, que se exibia ao bombardino.
Em julho desse mesmo ano, o Circo Olympico, de Antônio Carlos do Carmo, estava de volta a Maceió e segundo o Gutenberg de 23 de julho de 1887, o seu palhaço Virgílio — também equilibrista, ginástico e acrobata — faria no dia seguinte em Fernão Velho, ao ar livre, uma apresentação oferecida “à classe caixeral em regozijo de execução da lei que manda fechar aos domingos as casas comerciais”. O espetáculo foi abrilhantado pela Filarmônica Minerva.
Continua a divulgação: “O artista Virgílio e seus companheiros executarão os mais arriscados e extraordinários trabalhos de trapézio em equilíbrios os mais difíceis. Será executada uma tercia pelo artista Virgílio uma peça de harmonia ao descer do trapézio. Grandes trabalhos de contorcionismo para os quais chama a atenção da medicina. Terminará o espetáculo com os nunca vistos trabalhos Japoneses cujos aparelhos chegaram há pouco da Europa”.
Os bilhetes foram fornecidos pela Estação Central, que colocou “às ordens do respeitável público um trem expresso todo embandeirado, pintado de novo e máquina nova”.
O Circo Chileno, com a “troupe de Honório Palácios” também esteve em 1887 em Maceió, iniciando suas apresentações na quinta-feira, 20 de outubro, na Praça da Constituição, antigo Largo das Princesas e futura Praça Deodoro.
Essa companhia fez muito sucesso. Era formada por Daniel Castro na corda bamba; a equilibrista Joanna Palácios no trapézio; a gaúcha Franqulina Palácios, que fazia evoluções sobre uma pirâmide de garrafas; e o palhaço era João José do Nascimento, que, com certeza, não era chileno.
O ingresso geral para o espetáculo, que começava às 20h30, custava 1$000 Rs e solicitava-se “às Exmas. famílias que mandem suas cadeiras com antecedência, para evitar desordens na entrada e mesmo obter melhor lugar”.
Para a terça-feira, 25 de outubro, foi anunciada uma grande novidade: a exposição durante o intervalo da cabeça mumifica do “primeiro guerreiro indígena, chefe Huambisa Peruana, tribo do Jamas no alto Purús, afluente do Amazonas, morto em batalha há cem anos”.
A existência da múmia era explicada como sendo resultado da sua decapitação pelos inimigos, que preservaram sua cabeça. Foi adquirida em Manaus por 90 libras esterlinas a um médico e Palácios tinha a intenção de presenteá-la ao presidente do Chile.
Em 19 de junho de 1892 foi a vez do Circo Pavilhão Português, de Almeida & Coelho, voltar à Praça da Constituição (Praça Deodoro). Vinha de Pernambuco. Trazia como novidade o índio Red Heart (o Hércules) das ilhas Filipinas. Era dirigida por João Coelho, mais conhecido como o palhaço Bequadro.
Em 25 de julho, esse Circo sofreu enorme prejuízo ao ter o “pano da circunferência” rasgado por indivíduos forçaram a entrada por baixo dele.
Quem também teve prejuízo durante a estadia desta Companhia foi um morador da Rua 1º de Março (atual Av. Moreira Lima) que contratou um menino para levar quatro cadeiras para o Circo e ele desapareceu com esse mobiliário. Um anúncio no jornal Pátria, edição de 27 de julho, informava que havia uma gratificação para quem desse notícia das cadeiras.
Quando deixou Maceió, o Pavilhão Português foi se instalar no município de Pilar.
No final do século XIX, os jornais de Alagoas revelam que o interior do estado também passou a ser percorrido pelas caravanas circenses, a exemplo do Orbe de 30 de maio de 1897, que anunciou a presença do Circo Português em Marechal Deodoro. Era de propriedade de Medeiros & Lobo. Depois foi para São Miguel e no final de setembro estava em Penedo.
Ainda em 1897, esteve em Maceió a companhia equestre de Antônio Felix e instalou seu “pavilhão” na futura Praça Deodoro (Orbe de 20 de julho de 1897)
Naquele ano, cada circo pagava ao município uma taxa de solo de 50$000 rs pela primeira noite. Todas as outras custavam 40$000.
O Circo Fenomenal, do português Cristovão José Mendes (trapezista), chegou a Maceió em março de 1898 e no mês seguinte já estava em Pernambuco.
Voltou a se apresentar em Maceió no dia 3 dezembro. O principal artista da companhia era o jovem Eduardo Mendes. No dia 13 anunciava sua última função e a estreia da “célebre” família Jerônymo Colon, “com extraordinários trabalhos ainda desconhecidos”. No dia 16 seguiu para o Pilar.
Nesse mesmo dia já se anunciava a chegada em Maceió do Circo Zoológico Francês dos senhores Pierre & Cia. Vinha de Pernambuco. Estreou no sábado 17 de dezembro. Como quase todos, apresentava números no trapézio, exercícios sobre cadeiras equilibradas uma sobre a outra, duas “senhoras” realizando “saltos rápidos”, trabalhos com os animais, equilibristas com vara e palhaços com “agradáveis pilhérias”. A atração principal foi um artista que se exibiu na corda.
No final de dezembro, o Pavilhão Português, de Avelino de Cerqueira Lobo, estava em Rio Largo e se preparava para ir a Atalaia.
Século XX
No início de abril de 1905 o Circo Lusitano, de Henrique Lustre, solicitou à Intendência autorização para se instalar na Praça Montepio no Centro de Maceió. Ainda estava em Recife e por lá permaneceu após desentendimentos entre seus sócios.
Quem chegou a Maceió um mês depois foi a companhia de outro Lustre, o Alfredo H., com seu Circo Popular, que se instalou na Praça do Montepio e estreou no dia 11 de maio tendo como principal atração os irmãos Martinelli, que haviam chegado do Rio de Janeiro no dia anterior.
A senhorita Maria Lustre era uma das mais aplaudidas no Circo Popular. Suas “voltas equestres”, com equilíbrio, agradavam bastante aos espectadores, destacou a imprensa, que também elogiou a família Martinelli, “nota predominante do espetáculo”. A banda de música era a do Batalhão Policial.
Houve crítica à Mulher Vulcão por parte de um jornalista, que pediu ao sr. Lustre para não mais ocupar “a simpática artista Florippe Canto em um trabalho arcaico e tão… fora de termos”.
Solicitou ainda “ao digno cavalheiro sr. Lustre” que não consinta “que sejam colocadas cadeiras à frente das tribunas do governador e da imprensa e que proíba também que pessoas alheias às redações invadam a tribuna destinada unicamente aos representantes dos jornais”.
Uma das atrações chamou a atenção do jornalista do jornal Evolucionista. Era um dueto de guizos executado “por um rapaz e uma linda rapariga”. Eles tinham “guizos afinados presos à cabeça, aos pulsos e artelhos e agitava-os com movimentos expressivos”.
O Gutenberg de 21 de maio revelou os nomes de alguns artistas desta troupe: Roldão Martinelli no “trabalho de barras”; sra. Leonor Martinelli no “volteio a cavalo”; acrobacias com Roldão e Leopoldo Martinelli; a aramista era Florippe Lustre; “jogos icários” envolvia toda a família, mas destacava-se José Martinelli; e por último, três meninas não identificadas que atuaram no pierrots.
Em 21 de junho de 1905 essa companhia levou sua trupe ao Pilar, onde fez várias apresentações. Depois de 18 de julho, foi a Viçosa. Em outubro estava em União e por lá teve o seu pano de coberta rasgado por um forte vento. No dia 18 deste mês foi para São José da Lage.
Uma nota no jornal Evolucionista de 11 de agosto de 1905 revela que os irmãos Martinellis não mais trabalhavam no Circo Popular e que no dia seguinte se apresentariam no Polytheama Alagoano, uma casa de espetáculos na Praça Euclides Malta, atual Praça Sinimbu.
No ano seguinte, 1906, já excursionava pelo Norte do país o Circo Martinelli. Partindo de Recife chegou a Maceió no dia 1º de maio de 1907. Anunciava como atração “o impagável clouw Nerino Franco (o Avance). Armado na Praça do Montepio, seu primeiro espetáculo foi no dia 8 de maio. O Gutenberg avaliou que o circo possuía “artistas de relativo mérito”.
Em 25 de janeiro de 1908 estreou o Circo Valparaíso do italiano Sfringlin. Foi montado na Praça Montepio. Recebeu vaias e foi muito criticado. Apresentava trabalhos equestres. No final de fevereiro, seguiu para o interior do estado sem a família Régis, que se desligou da companhia.
O Circo Popular esteve novamente em Maceió, na Praça Montepio, a partir de 12 de março de 1909. Dias depois da primeira apresentação, o Gutenberg pediu ao palhaço Dario para ser menos pornográfico em suas chulas, “porque o circo também é frequentado por famílias que se constrangem, de certo, com as banalidades destas chulas indecentes”.
Outro incidente com o palhaço do Circo Popular, na tarde de 27 de abril, revelou que o forte dele não era fazer rir. Em pleno Centro de Maceió, na Rua do Livramento, o comerciante Francisco Silva, estabelecido naquela via, atirou de revólver contra o palhaço. Errou o alvo (a bala foi cravar-se na residência do dr. Eraldo Passos) e o artista circense reagiu ferindo o comerciante a facadas. Os dois foram levados para a Casa de Detenção. O motivo da tentativa de crime não foi noticiado.
Em 31 de dezembro de 1910 estreou na Praça Montepio o Circo Olimecha, uma companhia acrobática japonesa dirigida por Franck Olimecha, japonês filho de Torakine Haytaka. O Olimecha estava em Penedo em janeiro de 1913.
Outra companhia a percorrer o interior de Alagoas foi o Circo Hermosa, que em abril de 1922 estava em Palmeira dos Índios. Era dirigido por Júlio Hermosa, filho de Nicácio Hermosa. Em agosto, nesta mesma cidade do agreste alagoano, se instalou o Circo Leão do Norte, dirigido pelo repentista Luiz Pontes, com destaque para o cômico Francisco Clemente. Edson Pontes era o acrobata principal.
Em 1926 esteve em Maceió pela segunda vez o Grande Circo Equestre Internacional (Circo Internacional), da empresa Coimbra & Cia de Salustiano Barboza. O jornal O Progresso elogiava a atuação das senhoritas Jane e Coracy Alciati.
Na sexta-feira, 23 de abril de 1948, estreou em Maceió o histórico Circo Garcia, a maior companhia circense brasileira da época. Foi fundado em 1928 por Antolin Garcia, que tinha sido ator no circo de Benjamim de Oliveira.
A Revista Mocidade assim avaliou o Circo: “composto de uma troupe de acróbatas, de bons equilibristas, e um sem número de animais amestrados os quais estão empolgando o público maceioense. Apesar dos preços serem exorbitantes, todas as noites ficam superlotados os lugares do Circo Garcia. Mas para onde ir; o que queira divertir-se em Maceió?…”.
O Garcia, que naquela década havia deixado para trás o circo-teatro, era tratado como uma empresa milionária. Uma das mais bem sucedidas no país. Foi o circo brasileiro de maior longevidade, baixando suas lonas pela última vez somente em 2002, quando completaria 75 anos de atividade.
Em abril de 1950 outra grande companhia estava em Penedo, o Circo Nerino: “Além da parte de acrobacias espetaculares, o repertório do Circo Nerino é enriquecido de um interessante conjunto teatral”. Entre as peças apresentadas estavam: “A Filha do Mar” e “Mãe Mártir”. Dirigido por Gaston Ribold e Roger Avanzi. Dias depois de iniciada jornada, o artista Roger Avanzi publicou uma declaração no Jornal do Penedo desmentindo ter recebido qualquer carta de uma senhorita da cidade.
Arrebentando corações
A relação entre artistas circenses e pessoas da cidade já serviram de roteiro para várias histórias, com algumas delas não tendo final feliz. Entretanto, o que ocorreu no dia 28 de maio de 1897 em Maceió não se enquadra como uma dessas aventuras.
Era o último espetáculo do Circo Martinelli e logo após as acrobacias da jovem Guiomar Martinelli, um grupo de rapazes de Maceió interrompeu o espetáculo para oferecer a ela um buquê de flores naturais e lhe prestar homenagens, gesto muito aplaudido pela plateia.
Além do buquê, ofereceram à bela artista um “diploma” com dizeres elogiosos e uma medalha de ouro, onde estava escrito em um dos lados: “Guiomar Martinelli — XIX — V — MDCCVII [19 de maio de 1907]”. No outro: “Honra ao Mérito, que perpetuará o apreço dos que admiram e lhe servirá de estímulo à conquista de outras muitas glórias”. O fã clube masculino da artista assinava a medalha: “Farmacêutico João Nunes Filho, Paulo Ribeiro, Romualdo Jucá Filho, A. P. Guimarães Filho, Joathan Soares, Mário Araújo e José Rozendo da Silva”.
Locais de armação de circos em Maceió
A partir da década de 1960, os circos passaram a viver a crescente crise da queda de arrecadação em suas bilheterias, resultado das transformações econômicas e sociais ocorridas no país, além das modificações nos meios de comunicação em massa.
Essas companhias sofreram alterações importantes e algumas delas sobreviveram às dificuldades, principalmente os circos de grande porte, com suas estruturas gigantescas, o que determinava a viabilidade de suas montagens somente nas cidades mais populosas.
Os médios e pequenos circos foram para a periferia destas cidades e também passaram a percorrer com mais intensidade o interior do país. Algumas dessas empresas se regionalizaram, restringindo suas apresentações, muitas vezes, a um único estado.
O Circo Birinho, por exemplo, passava enormes temporadas somente na periferia de Maceió, armando sua tenda nos terrenos disponíveis.
Para entender como se deu esse fenômeno, basta ver os locais historicamente ocupados pelos circos em Maceió.
No levantamento realizado, a Praça Montepio, a 200 metros da Rua do Comércio, foi por mais tempo a área utilizada pelos circos. Nessa zona central da cidade, também foram ocupadas as praças D. Pedro II e Praça da Constituição, antigo Largo das Princesas (Praça Deodoro).
Há testemunhos sobre circos armados na Praça da Cadeia, Praça Emílio de Maya (hoje ocupada por barracas), Praça do Pirulito, Praça São Benedito (onde construiu-se a Secretaria de Educação ao lado do antigo Mercado Modelo), Largo do Bom Conselho (futura Praça do Pirulito) e Praça da Faculdade.
No Vergel do Lago (atual Colégio Municipal) existia o Campo do Vasco da Gama, que também era utilizado por circos. A Praça Santa Tereza, na Ponta Grossa, também já cedeu seu campinho de futebol para circos e festas natalinas.
Carlito Lima recorda que nos anos 50 os circos eram armados no prolongamento da Praça Sinimbu, em um descampado que surgiu atrás do prédio que veio a ser o Museu Théo Brandão. Essa área foi resultante do aterro do antigo curso do Riacho Salgadinho.
A partir dos anos 60, o terreno mais utilizado era o que hoje está ocupado pelas Lojas Americanas, na esquina da Av. da Paz com a Barão de Anadia.
Também foram endereços de circos em Maceió a área situada na esquina da Rua Dias Cabral com a Av. da Paz e o terreno ao lado da Av. Cícero Toledo em Jaraguá, onde hoje está o estacionamento daquele bairro.
Nestes últimos estiveram, além do Circo Garcia, os circos Orlando Orfei, Gran Bartolo, Tihany e outras grandes companhias.
Você sabia?
Em 27 de março é comemorado o Dia do Circo no Brasil. A data foi escolhida por ser o dia do aniversário do palhaço Piolin, nascido no ano de 1897.
O dia 10 de dezembro é o Dia do Palhaço e o 31 de janeiro é o Dia do Mágico.
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(1) https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/13629
Olá, gostaria de saber as referências bibliográficas do artigo. Obrigada!