O afundamento do Itapagé: Alagoas na 2ª Guerra Mundial
Após o Brasil ter aderido aos compromissos da Carta do Atlântico, em 28 de janeiro de 1942 — acordo que previa o alinhamento automático com qualquer nação do continente americano que fosse atacada por uma potência extracontinental —, submarinos alemães e italianos, em represália, iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no Oceano Atlântico.
Entre os atingidos, estes foram os primeiros: Cabedelo, que desapareceu depois de partir dos Estados Unidos em 14 de fevereiro de 1942; Buarque e Olinda (em 14 e 18 de fevereiro de 1942, respectivamente); Arabutan (7 de março de 1942); Cairú (8 de março de 1942) e Parnaíba (1º de maio de 1942).
Na costa brasileira, o primeiro ataque foi ao Comandante Lira, que foi torpedado pelo submarino italiano Barbarigo. O navio, mesmo atingido, conseguiu escapar.
Dos 1.168 submergíveis alemães que combateram durante a Segunda Guerra Mundial, pouco mais de 150 estiveram em nossas águas. O submarino que atacou o Itapagé foi o alemão U-161, comandado pelo capitão Albrecht A. Achilles.
O torpedeamento do Itapagé
O Itapagé era uma embarcação classificada como “paquete” que transportava carga e passageiros. Foi construído em 1927 no estaleiro Chantiers de Normandie, que fica próximo à cidade de Rouen na França. Seu proprietário era a Companhia Nacional de Navegação Costeira.
No dia 26 de setembro de 1943, o Itapagé navegava pelo litoral de Alagoas a 9 milhas da costa, à altura da Lagoa Azeda, em Jequiá da Praia. Foi atingido às 13h50, em plena luz do dia.
Vinha do Rio de Janeiro para Recife, sem escalas, e tinha como destino final a cidade de Belém do Pará. Embora tivesse capacidade para transportar 271 passageiros, nesta viagem trazia somente 37 passageiros e 70 tripulantes, além de muita carga. Dos 37 passageiros, cinco eram crianças. Na carga, dois caminhões de três toneladas e duas mil caixas de cerveja.
Segundo reportagem publicada na Gazeta de Alagoas de 3 de outubro de 1943, quatro minutos após as explosões, o navio já tinha submergido. Com o mar agitado, somente dois dos quatro botes salva-vidas foram utilizados, tal era o pânico e a confusão entre os náufragos.
Após o ataque o submarino alemão veio à tona bem próximo onde estavam os barcos salva-vidas. “Sobre seu bojo apareceram quatro homens loiros, sem dúvidas alemães, vestindo calções pretos, acenando, em gargalhadas, para os náufragos”, descreveu a reportagem da Gazeta de Alagoas, revelando ainda que eles também fotografaram o local da tragédia.
Durante alguns minutos, os náufragos temeram ser metralhados, como já tinha acontecido em outros afundamentos à exemplo do Baependi. O submarino emergiu mais duas vezes, mas não atacou os sobreviventes. Morreram 18 tripulantes e nove passageiros nunca mais foram encontrados, ente elas, duas crianças. Os hospitais receberam 22 feridos.
Ainda segundo a reportagem da Gazeta de Alagoas, o auxílio da tripulação e de alguns pescadores foi fundamental para diminuir o número de mortos. O segundo maquinista do Itapagé, João Soares Pinho, se “tivesse sido à noite, todos teriam perecido, mesmo os que sobrevivessem nas baleeiras, pois não contariam com o auxílio providencial dos pescadores de São Miguel dos Campos”.
Defesa reforçada
Com a crescente presença de submarinos alemães na costa brasileira, os navios mercantes passaram a receber armamento e utilizar o sistema de viagens em comboios. No campo militar a resposta foi a criação da Força do Atlântico Sul, com sede em Recife.
Bases de apoio foram instaladas, sendo as maiores em Natal e Fernando de Noronha. Os patrulhamentos aéreos começaram a ser mais efetivos já no final de 1942. Eram grupos de 6 a 8 aviões americanos e da FAB fazendo a varredura naval. Esses grupos foram reforçados com a presença de embarcações americanas.
Com estes patrulhamentos e mais a decifração das mensagens em códigos, logo vários submarinos alemães foram afundados no Atlântico Sul.
O U-161, que afundou o Itapagé em Alagoas, e que já tinha também afundado o Ripley no Ceará e o Sant Usk na Bahia, foi uma das vítimas das ações de defesa da costa brasileira.
Seu naufrágio aconteceu no dia 27 de setembro de 1943 na costa baiana. Foi atingido ao amanhecer por um Catalina PBY que tinha decolado da base aérea de Salvador para missão de patrulhamento.
Segundo o relatório do piloto, após avistar o submarino, o avião tentou se aproximar e foi recebido com um intenso fogo antiaéreo, que atingiu o interior do aparelho e feriu alguns tripulantes.
O Catalina, em resposta, despejou seis bombas de profundidade que atingiram o submarino a bombordo da popa. Em seguida, num segundo ataque, lançou mais duas cargas de profundidade. O submarino reduziu sua velocidade e alguns minutos depois submergiu rapidamente desaparecendo. A tripulação, que não escapou, era composta por 53 militares alemães.
Fontes:
– Participação de Alagoas no “Trampolim da Vitória” – 2ª Grande Guerra Mundial – 1941-1945, de Mário Carvalho Lima, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Volume XXXIII, 1977.
– Site Naufrágios. http://www.naufragios.com.br/subbra.htm.
– Wikipédia.
Estudava no Colégio Batista Alagoano e estava no 4º ano de ginásio aos 14 anos de idade . Todos nós jovens ficamos revoltados com a notícia do afundamento do Itapagé . Dias depois fomos assistir a palestra do Comandante do navio no auditório do CBA ( Colégio Batista Alagoano) ! Houve muitos alunos e alunas ( o único depois do Liceu a ser misto) que choraram copiosamente com o relato do Oficial da Marinha Mercante . Realmente o U- 161 emergiu e marinheiros de calção tomando inclusive banho de mar no tombadilho do submarino , falando em alemão gritavam as gargalhadas ! Jamais vou esquecer àquela palestra ! Meus pais já estavam apreensivos com o término da 2ª Guerra pois poderíamos ser convocados a ir para o teatro de guerra na Europa !
Maravilhoso conhecer a história